Lisa Hernandez
Mais uma noite de chuva…
Justamente o que eu não queria.
Assim que ouço os trovões lá fora, minhas pernas começam a latejar, como se os ossos gritassem de dentro pra fora. A dor vem forte, me forçando a sentar no sofá com as mãos trêmulas nas coxas.
— Não me diga que suas pernas já estão doendo? — a voz venenosa de Antônia ecoa pela sala.
— Sim… — respondo com dificuldade.
— Com certeza é só frescura. Coisa pra chamar a atenção do meu filho.
Francamente, não sei onde o Arthur estava com a cabeça quando resolveu casar com você… uma completa ninguém.
Silêncio.
Engulo seco.
Meus olhos procuram o Arthur, que continua no celular, como se nem tivesse ouvido. Ele me lança apenas um olhar breve, quase impessoal, e volta a atenção para a chamada.
Sem dizer uma palavra, me levanto com esforço e subo para o quarto, arrastando a dor física e a outra… que não tem nome.
Deito na cama e deixo que as lágrimas caiam em silêncio.
Elas já nem queimam mais.
A dor nas pernas se intensifica. Maldição.
Amaldiçoo o dia do acidente — ironicamente, outro dia chuvoso.
Estava atrasada para a universidade, dirigia rápido demais, desesperada para não perder a última prova do semestre. Foi aí que um animal apareceu na pista. Em vez de atropelar, desviei — e não vi o carro vindo no sentido oposto.
A batida foi brutal.
A frente do meu carro ficou irreconhecível. Fiquei presa nas ferragens.
O cheiro de gasolina invadiu tudo e eu achei que fosse morrer ali mesmo.
Até que ele apareceu.
Arthur.
Meu amor secreto na época.
Meu herói.
O homem que entrou no caos e me arrancou da morte.
Nunca esqueci daquele momento. Nunca esqueci de como ele me olhou, como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo. Como se me amasse.
Um barulho me traz de volta ao presente.
A porta se abre. Arthur entra no quarto.
— Desculpa. — diz ele, com a voz baixa.
— Pelo quê?
— Por tudo que minha mãe falou… ela não quis dizer por m*l.
— Tudo bem — minto. — Já estou acostumada.
Ele caminha até a cama e se senta ao meu lado. Silenciosamente, começa a massagear minhas pernas. Me surpreendo.
Fazia tanto tempo que ele não me tocava assim...
Seus dedos são firmes, cuidadosos.
Um gemido suave escapa da minha garganta, involuntário.
Ele continua, suas mãos subindo devagar pela parte interna das minhas coxas. Arqueio as costas, fecho os olhos. Seu toque ainda tem poder sobre mim.
Muito mais do que eu gostaria de admitir.
Quando seu polegar desliza sobre minha i********e por cima da calcinha, minhas pernas se abrem por reflexo.
Ele a puxa para o lado, e começa a me estimular com maestria.
Estou quase lá… arfando, gemendo baixo…
Mas ele para.
— Arthur… — murmuro, frustrada.
Ele se levanta, puxa o zíper da calça e coloca seu desejo pra fora. Em segundos, me penetra com força, me preenchendo inteira, como se fosse seu direito — como se eu fosse dele.
Seu corpo sobre o meu.
Seu beijo urgente.
Minha boca corresponde com a mesma necessidade, com a mesma fome de pertencimento.
Levanto o quadril, pedindo mais.
As estocadas aumentam de ritmo, de intensidade.
Eu g**o, tremendo sob ele, e ele vem logo em seguida, se desfazendo dentro de mim com um gemido rouco e abafado contra o meu pescoço.
Ficamos ofegantes.
Suados.
Pela primeira vez em muito tempo… me sinto viva.
Na manhã seguinte
Acordo com um sorriso que m*l cabe no rosto.
Preparo o café com carinho, cuidando de cada detalhe.
Hoje é o meu aniversário. E depois da noite de ontem… algo em mim ousa acreditar que talvez, só talvez, ainda exista esperança.
Arthur entra na cozinha.
Está lindo. Impecável. Seu perfume invade o ambiente, me atingindo em cheio.
Sorrio, caminhando até ele com o coração disparado, pronta para lhe dar um beijo.
Ele vira o rosto.
Desvia.
Segue direto para a mesa, abre o jornal como se nada tivesse acontecido.
Fico paralisada.
Ontem fizemos amor.
Ontem ele foi meu de novo.
E hoje… hoje ele volta a ser o estranho gelado que tem dormido ao meu lado?
Sento à mesa, empurrando um pedaço de pão no prato.
A fome morreu.
O coração? Trincando de novo.
— Não voltarei pra casa hoje. — ele diz, sem tirar os olhos do jornal.
— Como assim?
— Tenho uma viagem de negócios.
— Arthur… hoje é o meu aniversário.
Ele apenas toma mais um gole do café, se levanta e sai.
Sem uma palavra.
Sem um parabéns.
Sem um olhar.
Fico ali…
Sozinha.
Com a mesa posta, o bolo ainda por cortar…
E um amor que insiste em me ferir, mesmo quando finjo que ele ainda me faz feliz.