Lisa Hernandez
CINCO MESES DEPOIS
Cinco meses.
Cinco meses desde a noite em que o meu mundo desabou por uma única palavra:
Divórcio.
Desde então, nada voltou a ser como antes.
Tentei de tudo para convencer Arthur a mudar de ideia.
Me humilhei. Supliquei. Chorei.
Mas nada adiantou.
Ele já estava decidido.
E eu... não tive escolha. Aceitei. Mesmo com o coração destroçado.
Esses meses foram os mais escuros da minha vida.
Afundei numa tristeza tão profunda que comparo com a abstinência de um viciado.
Arthur era a minha droga.
Sem ele, entrei em colapso.
Perdi peso.
Perdi o brilho.
E quase... perdi a vida.
Sim, eu tentei.
Tentei ir embora de vez.
Mas Louise me encontrou a tempo.
Ela foi a minha luz no fim do túnel.
A única pessoa que não soltou minha mão.
— Terra chamando Lisa! — a voz dela me arranca dos pensamentos.
— Oi… desculpa. Tava longe.
— Longe e, aposto, com nome e sobrenome: Arthur Ford.
— Não, Lou. Eu não penso mais nele. — minto.
— Espero mesmo.
— O que você quer?
— Tem alguém querendo falar com você.
— Não me diga que é…
— Nem vem. Não é aquele i****a. Até porque ele não teria coragem de aparecer aqui.
— Então quem é?
— Vem até a sala e descobre. Vai, mas se arruma direito, hein? Passa uma maquiagem nessa cara de zumbi.
— Também não precisa esculachar… — murmuro, tentando conter um riso fraco.
— Não demora!
Ela sai deixando o quarto com seu furacão particular.
Suspiro. Me levanto.
No meio do caos, ela ainda me faz rir.
Abro o guarda-roupa e, depois de uns minutos em dúvida, escolho um vestido longo azul-claro. Algo suave, simples... mas bonito.
Me olho no espelho. Ainda sou eu. Mesmo ferida, ainda sou.
Desço.
E congelo ao ver quem me espera na sala.
— Felix? — digo surpresa.
Era o amigo do Arthur. O último rosto que eu esperava ver.
— Oi, Lisa. Tudo bem?
— Dentro do possível, sim. A que devo a surpresa?
— Vim te fazer uma proposta. Direto ao ponto.
— Que tipo de proposta?
— Quero que seja minha advogada. Estou montando uma empresa e quero você na minha equipe.
Fico em choque.
— Advogada? Eu? Você tá falando sério?
— Nunca falei tão sério na vida.
— Felix, isso deve ser uma brincadeira…
— Você acha que minha cara é de quem tá brincando?
— Não… não é.
— Então por que esse tom irônico?
— Porque eu nunca atuei. Me formei, sim, mas nunca exerci. Você pode ter qualquer advogado renomado ao seu lado.
— Eu posso. Mas eu não quero qualquer um. Quero você.
— Isso é loucura. Eu não sou qualificada.
— Lisa, eu te vi. Vi como você se entrega, como é intensa. Você só precisa acreditar em si mesma.
— Não posso aceitar.
— Tudo bem. Não vou insistir mais hoje. Só quero que você pense. E se aceitar, esse é meu cartão. Pode me ligar a qualquer hora.
Ele sorri, educado, e vai embora.
Louise, claro, aparece segundos depois.
— E aí? O que o gato do Felix queria?
— Me ofereceu um trabalho… quer que eu seja advogada dele.
— E você disse não?! Tá maluca?!
— Eu não sei, Lou… eu nunca trabalhei. Eu... não tenho experiência.
— Lisa. Escuta: isso não é só um trabalho. É a vida te dando uma segunda chance. Se joga. Vai doer. Vai ser difícil. Mas vai valer a pena.
Mais tarde, estou sentada na cama, o cartão do Felix entre os dedos.
Como se algo dentro de mim soubesse: isso muda tudo.
Fiz faculdade com Arthur.
Nos formamos juntos.
Mas só ele seguiu carreira, impulsionado pela influência da família.
Eu… fui engolida pelo papel de esposa perfeita.
Quantas vezes pedi para atuar ao lado dele? Quantas vezes fui ignorada?
Agora... talvez seja a hora de corrigir o erro.
Lou entra novamente no quarto:
— E então? Decidiu?
— Sim. Eu vou aceitar a proposta do Felix.
— Aleluia! Finalmente uma decisão sensata! Tô tão orgulhosa!
Pego o celular e disco o número do cartão.
Coração acelerado. Mãos trêmulas. Mas determinada.
Ligação — ON
— Felix?
— Sim. Quem fala?
— Lisa.
— Lisa! Desculpa, não reconheci sua voz.
— Tudo bem. Você disse que eu poderia ligar a qualquer hora…
— E eu mantenho minha palavra. A que devo o prazer dessa ligação?
— Já tenho sua resposta.
— Sério?
— Sim.
— E qual seria?
— Eu aceito. Serei sua advogada.
— Você tá falando sério?
— Sim.
— Lisa, isso é maravilhoso! Eu prometo que você não vai se arrepender.
— Só espero que você também não se arrependa por me contratar.
— Nunca. Confio em você.
— Obrigada… pela oportunidade. Agora que estou separada, vai ser bom ocupar a cabeça.
— E trabalho é o que não vai faltar.
— Ótimo. Então… até amanhã.
— Até. Beijos.
Ligação — OFF
Encosto o celular no peito.
Fecho os olhos.
Pela primeira vez em muito tempo, sinto um fio de esperança correr nas veias.
Ainda estou frágil.
Ainda estou machucada.
Mas hoje... dei um passo.
Hoje… recomecei.
Recusar o dinheiro do Arthur foi uma escolha difícil, mas certa.
Não quero nada que venha dele — ou da bruxa que atende por Antônia.
Agora, é só por mim.
Por mim, pela mulher que um dia deixei para trás.
E que agora… está voltando.