PRÓLOGO

994 Words
PRÓLOGO O Coronel Dutch Adams olhou para o seu relógio ao passar por Fort Nash Mowat e viu que eram 05:00 em ponto. Era uma manhã vigorosa e sombria de abril no Sul da Califórnia e tudo estava no seu devido lugar. Ouviu uma voz de mulher dizer de forma acentuada… “O comandante da guarnição está presente!” Virou-se a tempo de ver um pelotão de treino atento ao comando da sargento de instrução. O Coronel Adams parou para responder à sua saudação e continuou o seu caminho. Caminhou um pouco mais rapidamente do que antes, esperando não chamar a atenção de outros sargentos de instrução. Não queria interromper mais pelotões de treino ao reunirem-se nas suas áreas de formação. Após tantos anos, ainda não se habituara a ouvir vozes de mulher em situações de comando. Até o próprio avistamento de pelotões mistos por vezes o assustava um pouco. O Exército tinha mudado muito desde os seus tempos enquanto recruta e ele não gostava de muitas dessas mudanças. Ao prosseguir o seu caminho, ou viu as vozes de outros sargentos de instrução, tanto homens como mulheres, apelando à formação dos pelotões. Já não é como antigamente, Pensou. Nunca se esqueceria dos abusos sofridos às mãos do seu próprio sargento de instrução há tantos anos – as invetivas selvagens contra a família e antepassados, os insultos e as obscenidades. Sorriu um pouco. Aquele filho da mãe do Sargento Driscoll! Driscoll morrera há muitos anos, relembrou o Coronel Adams – não em combate como teria preferido, mas de um ataque cardíaco como consequência da hipertensão. Naquele tempo, a tensão arterial alta era um risco profissional dos sargentos de instrução. O Coronel Adams nunca se esqueceria de Driscoll e no que lhe dizia respeito, era assim que devia ser. Um sargento de instrução devia deixar uma marca inapagável na mente de um soldado para o resto da sua vida. O Sargento Driscoll tivera em definitivo esse tipo de impacto duradouro no Coronel Adams. Será que os formadores sob o seu comando ali em Fort Nash Mowat deixariam esse tipo de impressão nos seus recrutas? O Coronel Adams duvidava. Demasiado politicamente correctos, Pensou. A maciez até já fazia parte do manual de treino do Exército… “O stress criado por a***o físico ou verbal não é produtivo e é proibido.” Zombou ao pensar naquelas palavras. “Mas que grande porcaria,” Murmurou. Mas o Exército direcionava-se nesse sentido desde a década de 90. Ele sabia que já devia estar habituado, mas a verdade é que nunca estaria. De qualquer das formas, não teria de lidar com aquilo por muito mais tempo. Estava a um ano da reforma e a sua ambição final era tornar-se Brigadeiro-General antes dessa altura. De repente, Adams foi distraído dos seus pensamentos por um avistamento surpreendente. Os recrutas do Pelotão #6 estavam à deriva na sua área de formação, alguns a fazer ginástica, outros apenas a conversarem de forma descontraída entre si. O Coronel Adams deteve-se e gritou. “Soldados! Onde raios está o vosso sargento?” Atrapalhados, os recrutas colocaram-se em sentido e saudaram o Coronel. “À v*****e,” Disse Adams. “Alguém vai responder à minha pergunta?” Uma recruta falou. “Não sabemos onde se encontra o Sargento Worthing, senhor.” Adams m*l conseguia acreditar no que ouvia. “O que quer dizer com não sabem?” Perguntou. “Ele não apareceu na formação, senhor.” Adams mostrou-se exasperado. Não parecia coisa atribuível ao Sargento Clifford Worthing. Na verdade, Worthing era um dos sargentos de instrução mais úteis a Adams. Era um apologista da velha escola. Várias vezes ia ao gabinete de Adams queixar-se de como certas regras o frustravam. Ainda assim, Adams sabia que Worthing contornava as regras o máximo que podia. Às vezes os recrutas queixavam-se do seu rigor e abusos verbais mas essas queixas agradavam a Adams. Mas onde estava Worthing? Adams passou pelos recrutas dirigindo-se à caserna onde passou pelas filas de camas até chegar ao gabinete de Worthing. Bateu à porta asperamente. “Worthing, está aí?” Ninguém respondeu. “Worthing, sou o seu Comandante e se está aí, espero bem que me responda.” Mais uma vez não sobreveio qualquer resposta. Adams virou a maçaneta e abriu a porta. O gabinete está imaculadamente organizado – e ninguém se encontrava no seu interior. Onde se meteu ele? Perguntou-se Adams. Será que Worthing tinha aparecido na base naquela manhã? Então Adams reparou no sinal de p******o FUMAR na parede do gabinete. Lembrou-se que o Sargento Worthing era fumador. Será que o instrutor tinha feito uma pausa para fumar? “Não, n******e ser,” Pensou Adams em voz alta. Não fazia sentido. Ainda assim, Adams saiu do gabinete e dirigiu-se para a porta traseira da caserna. Abriu a porta e fixou a luz ténue da manhã. Não teve que olhar durante muito tempo ou com muita atenção. O Sargento Worthing estava agachado de costas contra a parede da caserna com um cigarro apagado a pender-lhe da boca. “Worthing, mas que raio…?” Disse Adams. Depois recuou perante o que viu. Ao nível dos olhos de Adams estava uma grande mancha húmida e n***a na parede. Daquela mancha, um rasto contínuo desembocava no local onde Worthing estava agachado. Depois Adams viu o buraco n***o no meio da testa de Worthing. Era uma ferida de bala. A ferida de entrada era pequena, mas a ferida de saída tinha-lhe arrancado grande parte do crânio. O homem tinha sido morto enquanto fumava um cigarro. O tiro fora tãio limpo que o sargento de instrução morrera instantaneamente. Até o cigarro permanecera intocado na sua boca. “Jesus Cristo,” Murmurou Adams. “Não outra vez.” Olhou à sua volta. Um grande campo vazio estendia-se atrás da caserna. O tiro tinha sido disparado a grande distância. Tal significava que tinha sido disparado por um atirador habilidoso. Adams abanou a cabeça, descrente. A sua vida, sabia-o bem, ia complicar-se.
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