Quando terminei de comer, me despedi de Venisha e subi as escadas tentando achar o quarto de Karol, tendo como base a indicação que Veni me deu. Quando achei o quarto, bati na porta e a garota me autorizou a entrar.
– veio fazer o que?_ me olha confusa.
– vim ver como você está_ dou de ombros_ posso me sentar?_ aponto para a cadeira de estudos e ela assenti, me permitindo sentar e observar o quarto.
Seu quarto era repleto de rosa, sendo as paredes, os lençóis e até as portas do banheiro e do armário na mesma cor, tinha uma daquelas camas ou sofás, sei lá eu, que ficam próximas a janela, uma pequena prateleira com uns 5 livros e uma mesa de estudos com alguns aparelhos eletrônicos.
– gosta assim tanto de rosa?_ pergunto focando a atenção na morena que fazia sei lá o que com o portátil.
– nem por isso, eu até já teria mudado as cores desse quarto mas não fiquei tanto tempo assim para me importar muito com as cores_ deu de ombros sem me olhar_ acho que até o quarto de hospital era mais a minha cara_ essa parte ela falou mais baixo.
– você pode dar seu toque no quarto ué, a menos que outras coisas te impeçam de fazer isso, como ficar se cortando e tal_ me sento melhor e ela me encara, escondendo suas mãos como um acto involuntário_ disse que não queria falar disso com uma desconhecida, mas pode falar disso com sua nova médica.
– olha só, obrigada, mas não obrigada_ volta sua atenção ao portátil_ continuo não querendo falar sobre isso, é algo extremamente particular.
– está bem, mas isso significa que como sua nova médica eu vou ter que ficar aqui praticamente o dia todo, sabe, só pra garantir que você não tentará novamente se machucar_ dou de ombros.
– você nem é psicóloga, pra que fingir que se importa hein? Se eu morrer você acaba rapidamente com esse trabalho e de certeza que meu irmão te pagaria bem antes de você ir embora, pra que o drama?_ me olha irritada.
Solto um suspiro_ não é bem assim que funciona, por mais que você parta dessa para pior, porque já agora, suicídio é pecado e o inferno é pior até que esse lugar, o seu irmão não me deixaria ir embora, logo, não vou permitir que você se machuque_ argumento.
– e por que ele não permitiria que você se vá?_ cruza os braços me analisando.
– ai meu senhor_ olho para o céu (ou nesse caso o teto) com certa indignação_ eu literalmente pertenço ao seu irmão, se esqueceu?
– como você pertence ao meu irmão hein? Isso não faz sentido_ me olha indignada.
– ok, deixa eu explicar de uma forma que sua cabecinha vai entender, meu pai fez um monte de dívidas com o seu irmão, aí ele foi cobrar e meu pai ofereceu uma das filhas, eu sou a azarada da história e seu irmão me obrigou a assinar um contrato que oficializou isso, simples assim_ explico.
– ele colocou uma faca em sua garganta?_ arquiou a sobrancelha.
– não.
– então ele não te obrigou a nada, você assinou por opção, podia ter se recusado, seu pai é quem se endividou, não você_ dá de ombros.
– exatamente, seu irmão deveria ter essa lógica também mas ele infelizmente não teve, eu falei que não era minha obrigação pagar por nada e que meu pai deveria pagar mas sabe o que ele disse?_ pergunto, mas nem deixo a garota responder_ ou eu assinava, ou ele resolveria com meus irmãos, acredita nisso? Meus irmãos nem podem pagar, somos praticamente pobres, meu irmão inclusive está na cadeia, eu achei um absurdo, mas como adoro rir da cara do perigo eu fui lá e puff, assinei_ sorri para ela.
Ela me olha incrédula_ tá, eu acho que isso foi bem premeditado viu, ele usou até seus irmãos? Para que ele queria especificamente você?
– eu sei lá, seu irmão é um psicopata, isso te espanta? Ele é o chefe da máfia, espero qualquer coisa dele_ falo óbvia.
– aí, meu irmão é uma pessoa incrível viu_ defende o homem.
– pessoa incrível? Desculpa, ainda estamos falando do Lorenzo?
– você pode não ver e até julgá-lo por fazer o que ele faz mas se você soubesse de tudo o que ele já fez, com certeza não falaria isso dele_ argumenta.
– sério? Tipo o que?_ cruzo os braços.
– ele abriu mão de tudo, seus sonhos, vontades e até ambições, só para cuidar de tudo e todos aqui, ele constantemente dá a vida para proteger todo mundo, se ele faz coisas ilegais? Claro que faz, mas ele também faz coisas espectaculares e nem você e nem ninguém pode falar dele assim_ fala brava.
– olha só, eu entendo seu ponto de vista, mas ele destruiu minha vida, acha que eu queria estar aqui tão longe de casa e sem saber se vou acordar na manhã seguinte, e ainda por cima ter que conquistar a confiança de um cara que nem em meus piores pesadelos eu quereria?
– você bem disse, seu pai fez as dívidas, ele é quem arruinou sua vida, não o Enzo.
– e meu pai deveria pagar, não eu no lugar dele_ rebato_ quer saber, eu nem sei por que estou argumentando contra você, eu vim pra cuidar de você_ suspiro.
– e como vai cuidar se odeia o meu irmão?
– eu não o odeio, acho eu, mas eu fiz um juramento e não vou machucar uma garota inocente, meu dever é salvar e não matar_ me levanto da cadeira.
– tá, eu não confio em você, mas se o Enzo deixou, eu vou confiar na decisão dele_ suspira.
– ok, eu só vou me certificar que você está bem e vou vazar_ falo me aproximando dela.
– não disse que ia ficar aqui pra se certificar que eu não me machucaria?_ arqueia a sobrancelha.
– e vou, então isso quer dizer que você vai vazar comigo_ declaro simples_ vamos respirar um ar puro e ler um livro_ olho para a pequena prateleira_ algo diferente de os 3 porquinhos_ menciono o nome de um dos livros ali presentes.
– oh engraçadinha, vou pensar no seu caso_ revira os olhos.
– não tem no que pensar, eu sou a médica, eu sou a mais velha, logo eu quem mando_ declaro começando a ver se ela realmente estava bem, enquanto a garota reclamava de mim.
•••
– oi, como você está?_ Vilma pergunta se sentando do meu lado na cozinha.
– estou bem e você?_ coloco meu marca página no livro e o fecho.
– eu estou óptima_ sorriu.
– humm, quanto bom humor hein? Seu cabelo não estava assim antes de sair_ analiso a mesma.
Ela sorriu ainda mais_ para de viajar Gabie, meu Deus_ reclama_ eu não transei hoje, diferente de você_ me olha acusadora enquanto eu esboço uma cara de muita falsa surpresa.
– que papo é esse garota, tá doida? Com quem eu transaria nesse lugar?_ me faço de sonsa e ela riu.
– eu sei, você sabe e todo mundo sabe, principalmente as paredes finas que dividem nossos quartos_ se eu estivesse bebendo água, teria cuspido tudo na hora de tão pasma que eu fiquei_ vocês me fizeram sair do quarto mais cedo cara, eu tive que fugir de vossa luta/tranza intensa_ reclama.
– nós não estávamos transando_ minto mas ela me olha com a sobrancelha arqueada_ está bem, mas isso é um segredo, você não pode falar para mais ninguém_ falou a encarando.
Ela passa a mão nos lábios como se fechasse um zíper_ minha boca é um túmulo_ sorriu_ mas está me parecendo que você está fazendo evoluções com o Enzo hein_ suas sobrancelhas foram para cima e para baixo.
– nenhuma evolução, foi só algo casual_ dou de ombros_ Lorenzo é uma peça desconhecida para mim, uma evolução não é algo que se espere tão já_ argumento.
– aí que você se engana mocinha, eu acho que ele age diferente com você, sei lá, ele nunca agiu dessa forma com nenhuma outra pessoa desconhecida, nunca deixa uma mulher ficar muito próxima e com você ele está quase sempre grudado, isso é bem estranho na verdade_ dá de ombros.
– como assim?_ pergunto confusa.
– deixa pra lá_ ela desvia o olhar_ e como foi com a...
– olá meninas, desculpa interromper vocês, só vim saber se você está pronta_ Desmond entra na cozinha e termina sua frase olhando para mim.
– bem, eu vou subir, nos vemos amanhã_ Vivi toca meu ombro e sobe as escadas sem nem olhar para o loiro.
– o que aconteceu?_ aponto dele para a escada onde deveria representar a Vilma.
– pelos vistos ela não está falando comigo, outra vez, pra variar_ suspira_ enfim, vai com o livro?_ aponta para minhas mãos.
– não, eu só vou deixar ele lá em cima_ me levanto_ eh, o Lorenzo está por aqui?
– no escritório.
– obrigada, eu volto já_ saio da cozinha e sigo primeiro o caminho que vai até o escritório de Enzo.