PRÓLOGO

1156 Words
PRÓLOGO Courtney Wallace sentiu um calor familiar nos pulmões e nas coxas. Abrandou o ritmo até parar, curvou-se com as mãos nos joelhos e tentou recuperar o fôlego. Era uma boa sensação – uma forma de acordar muito melhor do que através de uma chávena quente de café, apesar de dali a nada ir beber café com o pequeno-almoço. Ainda tinha tempo suficiente para tomar banho e comer antes de ir para o trabalho. Courtney adorava o brilho da primeira luz da manhã entre as árvores e a humidade que pairava no ar. Em breve seria um dia quente de Maio, mas agora a temperatura estava perfeita, sobretudo ali na incrível Belle Terre Nature Preserve. Também gostava da solidão. Quase não encontrara outra pessoa a correr naquele trilho – e nunca naquele momento do dia. Apesar da sua satisfação em r*****o ao que a rodeava, começou a apoderar-se dela uma sensação de desilusão ao recuperar o controlo da respiração. O seu namorado, Duncan, tinha mais uma vez prometido ir correr com ela – e mais uma vez recusara acordar. Provavelmente só acordaria muito depois dela ir trabalhar, talvez só à tarde. Será que alguma vez vai acordar para a realidade? Interrogou-se. E quando é que arranjaria outro trabalho? Começou a caminhar lentamente, esperando sacudir aqueles pensamentos negativos. Dali a nada começou a correr e aquele calor revigorante nos pulmões e nas pernas fez desaparecer a preocupação e a desilusão. Depois o chão cedeu debaixo dela. Estava a cair – um momento estranho e suspenso que parecia agonizantemente lento. Caiu de forma brutal. A luz do sol desapareceu e os seus olhos tinham que se ajustar à nova luminosidade. Onde estou? Interrogou-se. Viu que estava no fundo de uma vala estreita. Mas como fora ali parar? Sentiu uma dor h******l na sua perna direita. Olhou para baixo e viu que o tornozelo estava dobrado num ângulo pouco natural. Tentou mexer a perna. A dor agudizou-se e ela gritou. Tentou manter-se em pé, mas a perna colapsou. Conseguia sentir os ossos partidos a embaterem uns nos outros. Um assomo de náusea subiu-lhe à garganta e quase desmaiou. Ela sabia que precisava de ajuda e tentou alcançar o bolso para pegar no telemóvel. Mas não estava lá! Devia ter caído. Devia estar algures por ali. Tentou encontrá-lo. Mas estava parcialmente entrelaçada numa espécie de cobertor áspero e pesado juntamente com terra e folhas. Não conseguia encontrar o telefone. Começou a ocorrer-lhe que tinha caído numa armadilha – um buraco com um pano bem disfarçado para o esconder. Seria aquilo uma piada? Se fosse o caso, não tinha piada nenhuma. E como é que ela ia sair dali? As paredes do buraco eram direitas, sem apoios para pés ou para mãos. Incapaz de se colocar em pé, nunca conseguiria sair dali sozinha. E não era provável que alguém passasse por aquele trilho nas próximas horas. Então ouviu uma voz vinda de cima. “Ei! Teve um acidente?” Respirou mais facilmente ao ouvir o som. Olhou para cima e viu um homem de pé por cima dela. A sua figura estava contra a luz por isso não lhe via o rosto. Ainda assim, m*l acreditava na sua sorte. Depois de tantas manhãs sem ver ninguém naquele trilho, naquela manhã alguém passara por ali precisamente quando ela precisava de ajuda. “Acho que tenho o tornozelo partido,” Disse ela ao homem. “E perdi o meu telemóvel.” “Isso parece mau,” Disse o homem. “Como é que aconteceu?” Que raio de pergunta é essa? Questionou-se. Apesar de haver um sorriso na sua voz, Courtney desejava ver o seu rosto. Ela disse, “Estava a correr e… estava aqui este buraco e…” “E o quê?” Courtney já se estava a sentir impaciente. Disse, “Bem, obviamente que caí.” O homem ficou imóvel durante alguns instantes. Depois disse, “É um grande buraco. Não o viu?” Courtney libertou um urro de exasperação. “Ouça, só preciso de ajuda para sair daqui, OK?” O homem abanou a cabeça. “Não devia vir correr para lugares que não conhece bem.” “Mas eu conheço este lugar!” Fritou Courtney. “Então como é que caiu neste buraco?” Courtney estava perplexa. Ou o homem era um i****a ou estava a brincar com ela. “É o i****a que escavou este buraco?” Disse ela. “Se é, não tem graça nenhuma raios. Tire-me daqui!” Ficou chocada ao perceber que estava a choramingar. “Como?” Perguntou o homem. Courtney esticou o braço o máximo que conseguia. “Aqui,” Disse ela. “Agarre na minha mão e puxe-me.” “Não tenho a certeza se consigo ir tão fundo.” “É claro que consegue.” O homem riu-se. Era um riso agradável e amigável. Ainda assim, Courtney ainda gostava de poder ver o seu rosto. “Eu trato de tudo,” Disse ele. Afastou-se e desapareceu. Depois ouviu sons metálicos a surgirem atrás de si. Quando se apercebeu, sentiu um enorme peso a cair em cima de si. Demorou alguns instantes a perceber que o homem acabara de largar uma carga de terra em cima dela. Sentiu as mãos e as pernas a esfriarem – sinais de pânico, percebeu. Não entres em pânico, Disse a si própria. O que quer que se estivesse a passar, ela tinha que se manter calma. Viu que o homem segurava num carrinho de mão. Mais alguns pedaços de terra caíram na sua cabeça. “O que é que está a fazer?” Gritou ela. “Descontraia,” Disse o homem. “Tal como eu disse, vou tratar de tudo.” Ele afastou o carrinho de mão. Depois ela ouviu um tamborilar de terra contra metal outra vez. Era o som do homem a carregar o carrinho de mão com mais terra. Ela fechou os olhos, respirou fundo, abriu a boca e soltou um longo e penetrante grito. “Socorro!” Depois sentiu um pedaço de terra a atingi-la no rosto. Alguma da terra entrou na boca e ela engasgou-se e cuspiu-a. Com uma voz ainda amigável, o homem disse… “Receio que vá ter que gritar muito mais alto do que isso.” Depois acrescentou com uma risada… “Eu m*l a ouço.” Ela soltou outro grito, chocada com a amplitude da sua voz. Então o homem largou o conteúdo do carrinho de mão em cima dela. Não conseguia gritar outra vez. A sua garganta estava coberta de terra. Sentiu-se avassalada por uma assustadora sensação de déjà vu. Já experimentara algo assim – aquela incapacidade de fugir do perigo ou até de gritar. Mas essas experiências haviam sido pesadelos. E ela sempre acordara deles. Com certeza que se tratava de outro pesadelo. Acorda, Disse a si própria vezes sem conta. Acorda, acorda, acorda… Mas não conseguia acordar. Não era um sonho. Era a realidade.
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