Rubí
Estou saindo da cozinha com o pote de pipoca, levando para sala pra mim e minha amiga Carol. Claro que antes de vir aqui, tive que aceitar suas zoações sobre o meu fracasso encontro com o meu namorado. Deixo a pipoca na mesa de centro junto com as cervejas.
— O que você está fazendo? Está colocando dublado? Achei que não gostasse? — digo, pegando a cerveja na mesa e dou um gole.
— Sim, mas uma garota que dei uns pegas mandou o trailer dublado. Menina, que voz é aquela, rouca e muito sexy do protagonista, minha calcinha ficou até molhada, acredita? — caçoa, encostando-se no sofá, apontando o controle na tv para começar a série.
— Que isso, hein? Carol, você está começando a gostar de garotos? — Olho para minha amiga e começamos a rir.
— Até parece, o meu negócio é com garotas, você sabe disso. E espera começar que você vai ver — diz, e aponta o controle para mim.. Quando ia zoar o meu celular vibra, noto que é um número desconhecido. Quem está me ligando às nove da noite numa sexta-feira?
— Alô? Quem fala? — sigo, irritada.
— Gostaria de falar com Rubí Oliveira? — pergunta.
— É ela — respondo, minha amiga diminui o volume da tv e olha pra mim.
— Aqui é Carla do RH da empresa Montenegro Company, lembra que foi chamada para uma entrevista semanas atrás? — Dou um salto no sofá. Não pode ser, levo a mão no rosto.
— Rubí, o que houve? Está tudo bem? — Carol vem na minha direção, pega no meu braço e começa sacudir.
— Hã? Oi? Sim Carol, estou bem. Para de me balançar que estou ficando tonta — peço, ela solta o meu braço.
— Alô? Senhorita Oliveira está aí? Está me ouvindo? — Escuto uma voz no celular. Droga! Fiquei tão em choque que esqueci a mulher do RH do outro lado da linha.
— Sim, estou aqui. — Minha amiga começa perguntar querendo saber quem é, afasto-a pedindo pra fazer silêncio. — Desculpa, pode falar... — Vou para o sofá e me sento, Carol também se senta fazendo gestos, mas a ignoro.
— Como estava dizendo, entreguei o seu currículo para senhor Montenegro e ele gostou muito, ele perguntou se você tinha alguma experiência, eu disse que não. — Escuto tudo, na parte da experiência fico preocupada. Ai, ai meu Pai do céu! Bato a ponta do pé freneticamente. — E ele disse tudo bem, a senhorita vai começar na segunda-feira às nove horas da manhã, vou enviar o endereço...
— Eu sei onde fica! — grito, dou um pulo no sofá. A mulher fica em silêncio por um momento — digo... Sei onde fica... — Carol ri da minha atitude, lanço um olhar de reprovação, ela para na mesma hora.
— Tudo bem. — Escuto uma risada no fundo da linha. — Aguardo você para explicar e mostrar a empresa. Ah... Não se atrase, senhor Montenegro detesta atraso — orienta a mulher.
— Ok, ok. Não vou me atrasar, pode deixar. — Confirmo, parecendo séria, mas no fundo pulando de alegria. Agradeço a oportunidade e ela desliga. Começo a pular e gritar sem parar, parecia que estava em Salvador.
— Rubí? Rubí? — Carol se levanta e me fita em entender o porquê comecei a pular. — Ei, você está me ouvindo, mulher? — Segura o meu braço me fazendo parar de pular.
— Hã? Oi? O que foi? — Ergo a minha mão até seu para ela me soltar.
— O que foi? Primeiro você ficou aí toda parada e imóvel, parecia que viu alguém morrer, agora está pulando que nem uma louca. Isso porque deu um gole nela. — Pega a cerveja e começa analisar. — Só falta ter vindo batizada. — Olho para a minha amiga e começo a rir.
— Carol, a cerveja não está batizada. — Pego a cerveja da sua mão, colocando na mesa. — Vamos nos sentar que te explico o que aconteceu, ok.
— Está bem... Mas se você tiver mentindo... — Aponta o dedo pra mim.
— Não estou. — Sorrio. — Posso contar? — Balança a cabeça que sim. — Se lembra que mandei o currículo e duas semanas depois fui chamada para uma entrevista?
— Claro que lembro, você só ficou falando isso durante uma semana. Que tal mulher do RH ia levar seu currículo para o tal Monteiro, se ele gostasse você seria chamada — diz a minha amiga.
— Isso, amiga, não é Monteiro e sim Montenegro. — Ela balança os ombros, tipo," tanto faz". Não aguento e começo a rir. Logo paro e continuo. — Vou trabalhar na Montenegro Company como secretária executiva! — revelo, ela fica imóvel ali na minha frente, faço gestos e nada, começo a ficar preocupada com a minha amiga. Então dou um beliscão no seu braço que ela dá um salto do sofá gritando de dor. Ufa, ela está bem.
— Merda, Rubí! Que diabos você fez isso! — Alisa o braço, gemendo de dor do beliscão que dei.
— Era o único jeito, você ficou paralisada no sofá — digo, me levantando do sofá e ficando na sua frente.
— Que exagero, mas esquece isso. É sério mesmo? Você vai trabalhar naquela empresa que você sonhou tanto? — Balanço a cabeça confirmando. — Caramba, Deus ouviu suas preces, hein? — ela diz, voltando a se sentar no sofá.
— Sim... Estou tão feliz, sabe? Um sonho sendo realizado... Vai ser tudo... — Ela me corta.
— Tudo de bom? — completa ela, nos olhamos e começamos a rir.
— Sim e mais um pouco... — O meu rosto chega a doer de tanto sorrir. Ela se vira e me fita.
— Mudando de assunto, Bruno sabe que você mandou o currículo? Melhor, qual vai ser a reação dele saber que você vai trabalhar nessa empresa e se me lembro, ele não gostou nadinha dessa ideia — relembra Carol, me fazendo lembrar quando falei para o Bruno que queria muito trabalhar no Montenegro Company. Fez um drama para eu não mandar o meu currículo, me proibiu de fazer isso. Até parece. Ele tem que entender que é o meu sonho.
— Ele pensa assim porque acha que vou trocá-lo por bilionário engravatado sadomasoquista. — Na hora, a Carol começa a gargalhar. E lembramos quando nós três fomos para o cinema assistir ao filme cinquenta tons de cinza, ver aquela delícia do Christian Grey. Confesso que ia amar trocar de lugar com aquela mocinha do filme.
— Até que não seria m*l, né? — Pisca pra mim. Finjo que nem escutei esse comentário dela. Ela acha que estou perdendo tempo numa relação sem futuro, tipo, estamos juntos faz cinco anos, ele não para em serviço nenhum e sempre tá pedindo dinheiro e quando sairmos eu que pago. Eu gosto do Bruno, foi o primeiro a quem me entreguei, vamos dizer assim. E sei que ele sente alguma coisa por mim... Mas demonstra de um jeito diferente, só isso...
— Ei, já está começando — avisa Carol, me cutucando com o cotovelo, que tira dos meus pensamentos. — Está tudo bem? — Me fita.
— Sim. — Ergo meu braço para pegar a cerveja. Ela aproveita e pega a sua.
— Vamos comemorar! Brindar que você conseguiu esse emprego, que você merece — comenta minha amiga.
— Sim, sim. — Concordo logo tomamos um gole e começamos assistir a série. Não vejo a hora de chegar segunda-feira para começar trabalhar.