O céu sobre o deserto de Gorafe tingia-se de âmbar e carmim conforme o sol mergulhava no horizonte seco. A paisagem árida reverberava o calor acumulado do dia, mesmo com a brisa noturna já se insinuando sobre as rochas. Ali, isolada de tudo, uma casa envidraçada parecia brotar da terra como uma miragem — moderna, fria, feita de ângulos agudos e promessas silenciosas. Cada parede de vidro refletia a vastidão do deserto e escondia seus segredos atrás do brilho.
Dentro da casa, Pietro Ferrara agitava a coqueteleira com precisão. Seus olhos, escuros como vinho envelhecido, estavam fixos na pista de pouso ao lado da piscina — uma faixa circular de concreto marcada por luzes embutidas no chão. Ele usava uma camisa branca com os botões abertos até o peito, e as mangas enroladas deixavam à mostra os antebraços definidos. As pedras de gelo tilintaram contra o copo, e ele sorriu.
Era o tipo de lugar onde ninguém vinha por acaso. Ali não se faziam perguntas — se enterravam respostas.
O som das hélices começou a vibrar na atmosfera como um trovão contido. Pietro finalizou os dois drinques com raspas de limão e saiu, atravessando a porta deslizante para a área externa, onde o vento jogava areia dourada contra os vidros. O helicóptero desceu num rugido abafado, o ar girando em redemoinhos quentes. Quando o piloto abriu a porta de trás, Pietro viu a silhueta da mulher que esperava.
Ela desceu com leveza, como se o salto fino não tocasse o chão. O vestido preto fluía ao redor de suas coxas bronzeadas, marcando com perfeição o desenho da cintura e abrindo-se e terminava estrategicamente, revelando a curva generosa de suas nádegas. Seus cabelos loiros caíam em ondas largas até o meio das costas. Ela ajeitou a bolsa no ombro, os olhos escondidos por óculos escuros, e desceu com uma elegância felina. Não precisava tentar. Ela já sabia o efeito que causava.
Pietro estendeu o drinque.
— Bem-vinda ao refúgio — disse com um meio sorriso.
Ela tirou os óculos, revelando olhos verdes que brilhavam com malícia, e pegou o copo, roçando os dedos nos dele.
— Obrigada — respondeu, o sorriso insinuante.
Pietro deu um passo mais perto, o calor do deserto subindo pelo seu corpo.
— Tenho certeza de que vamos aproveitar muito este lugar.
O piloto pigarreou.
— Que horas devo retornar?
Pietro olhou para a loira, um canto da boca se erguendo.
— E então?
Ela deu um passo à frente, fitando o helicóptero com desdém e depois voltando os olhos para Pietro, cheios de provocação.
— O quanto você puder pagar.
Pietro riu, um som baixo e predatório, e virou-se para o piloto.
— Quatro horas.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Audacioso — murmurou, tomando um gole do drinque.
O piloto assentiu e retornou à aeronave. Quando o helicóptero decolou novamente, o vento soprou contra os dois, fazendo o vestido da loira ondular e revelar ainda mais. Pietro passou o braço pela cintura dela e a puxou, beijando-a com uma fome latente, mais exigente do que carinhoso.
Ela aceitou o beijo com olhos fechados, entregando-se ao jogo, e não se moveu quando a mão dele deslizou para dentro do vestido, traçando a pele macia, e ele sentiu o corpo dela ceder sob seu toque. Cego de desejo, agarrou sua b***a com força, um aperto bruto que fez a loira soltar um gemido abafado. Ela fechou os olhos, inclinando-se contra ele, enquanto ele explorava, as mãos rudes, como se quisesse marcá-la.
Então o celular vibrou em seu bolso. Pietro suspirou, encostando os lábios no ouvido da mulher.
— Espera por mim lá dentro.
Ela o beijou, mordendo seu lábio inferior com força o suficiente para deixar um aviso, e caminhou em direção à casa, o quadril balançando em um convite silencioso. Ele a observou até ela desaparecer por trás do vidro. Só então olhou o visor do telefone.
"Giulia"
A última pessoa em que pensava. A última pessoa que deveria estar na sua cabeça.
Atendeu.
— Já chegou? — perguntou a voz da mulher do outro lado, com um tom doce demais para aquele lugar.
Pietro limpou a garganta.
— Já. Estou no ponto de encontro. Só esperando os outros.
— Você não avisou nada… — a voz carregava uma ponta de mágoa. — Eu já estou com saudades.
Pietro respirou fundo.
— Vai ser rápido. Logo estarei aí, com uma surpresa.
— Mesmo assim… estou com saudades.
— Devem ser os hormônios — murmurou, tentando manter o tom leve. — E o nosso meninão?
— Se mexendo — respondeu Giulia com um sorriso audível. — Acho que está sentindo falta do pai.
Pietro fechou os olhos por um segundo. A imagem da barriga dela piscou como uma lâmpada fraca na sua consciência. Depois, sumiu.
— Eu volto segunda. Fica tranquila.
— Estou tentando.
Ele olhou em direção à casa de vidro. Sua pele já ardia de t***o.
— Preciso desligar.
Desligou antes de ouvir o adeus.
Dentro da casa, a loira explorava os ambientes como uma pantera solta no meio de um museu. Cada passo deixava um rastro de perfume e tensão. A cozinha aberta brilhava em aço e mármore. Sofás brancos como ossos, uma TV tão grande quanto uma parede. Ela observou as câmeras, discretas mas presentes, como olhos silenciosos.
Deixou a bolsa e o drinque sobre a mesa de vidro e seguiu adiante, passando pelos quartos — todos modernos, frios, impessoais. Quando chegou à suíte master, parou. Uma única câmera ali dentro, voltada diretamente para a cama com lençóis cinza escuro. Sorriu de canto e se deitou lentamente, os olhos fixos no ponto onde sabia que a lente a observava.
Quando Pietro entrou, parou na porta.
— Pensei que tivesse perdido minha acompanhante — disse, com um tom de falsa surpresa.
Ela deu dois tapinhas na cama.
— Ainda não, mas você está atrasado.
Pietro aproximou-se, deslizando o corpo sobre o dela, o cheiro da bebida ainda fresco em sua respiração. Beijou-a de novo, e então a puxou da cama num movimento firme, guiando-a até a parede de vidro. Lá fora, o deserto parecia assistir em silêncio.
Ela apoiou as mãos contra o vidro frio. Pietro a forçou a se curvar, a b***a empinada em uma oferta que o deixou sem ar. Suas mãos esmagavam a carne alva, memorizando cada curva, cada pedaço dela. Ele se ajoelhou, a cabeça entre suas pernas, a língua explorando seu sexo com uma fome voraz, chupando e lambendo até que os gemidos dela encheram o quarto. Ela estava molhada, pronta, e Pietro se levantou, o pênis pulsando, pronto para possuí-la ali, contra o vidro. Ele se aproximou por trás, as mãos deslizando com avidez, como se mapeasse território. Um sussurro, um gemido contido, e então — o barulho.
Uma batida seca.
Vinda da frente da casa.
Os dois congelaram. Ela virou o rosto, os olhos perguntando o que ele não soube responder.
— Você convidou mais alguém?
Pietro franziu o cenho, recobrando o autocontrole.
— Não… que eu me lembre.
Vestiu a camisa, ainda desabotoada, e saiu com passos rápidos, os sentidos em alerta. O som era real. Não era o vento. Não era o helicóptero. Era alguém. Ou algo.
Ele caminhou para a sala, enquanto ela se recompunha, o vestido caindo de volta no lugar. Ao chegar à sala, Pietro parou, o coração disparando. Dois homens estavam lá, vestidos com roupas de caçador, rifles nas mãos, o olhar frio e profissional.
— O que estão fazendo aqui? — perguntou, a voz tensa.
A loira apareceu atrás dele, o nervosismo evidente em sua postura.
— Quem são eles? — perguntou, a voz tremendo.
Um dos homens, o mais encorpado, deu um passo à frente, o rifle ainda apontado para o chão, mas a ameaça era clara.
— Surpresa... — disse, a voz calma, quase amigável.
Pietro Ferrara, os ombros rígidos, encarava os dois homens na sala: Matteo Ricci, baixinho, com um nariz proeminente que parecia farejar problemas, e Alessandro Belluschi, corpulento, os olhos estreitos brilhando com algo entre curiosidade e perigo. Ambos seguravam rifles, vestidos com roupas de caçador, o olhar frio de quem já enfrentou o deserto — e coisas piores. Eram amigos de Pietro, sócios em negócios que ele preferia não discutir ali no momento, mas agora estavam ali, inesperados, quebrando o roteiro que ele havia traçado com cuidado.
Pietro, ao vê-los, deixou o cenho franzido suavizar-se. Tentou sorrir, embora seus músculos estivessem tensos.
— Matteo, Alessandro... Que surpresa.
Alessandro, o gordo, desviou o olhar para a loira parada atrás de Pietro, os cabelos dourados caindo sobre os ombros, o vestido preto curto revelando mais do que escondendo. Seus olhos se estreitaram, um brilho predatório neles.
— Surpresa foi a nossa — disse o gordo, a voz arrastada, baixa, quase acusatória. — Ver você... acompanhado.
Pietro deu de ombros, mantendo a voz leve, como se o coração não estivesse acelerado.
— Pensei que vocês só fossem chegar amanhã.
Matteo, confuso, franziu a testa, o nariz proeminente projetando uma sombra na parede de vidro.
— Esse era o plano, mas o piloto ligou. Disse que você pediu pra gente vir antes por causa do mau tempo.
— Deve ser algum engano. — Pietro coçou a nuca, tentando parecer relaxado. — O piloto... ele deve ter entendido errado. Eu não pedi pra vocês virem hoje. Talvez tenha sido algum engano.
Matteo não respondeu. Limitou-se a lançar um olhar que deixava claro: ele não acreditava. A loira, por sua vez, caminhou até o sofá de couro branco com uma graça felina. Sentou-se, cruzando as pernas de forma que o vestido subiu um pouco mais, revelando a pele macia das coxas. Ela deslizou os dedos pelo copo de vidro que repousava na mesa baixa, pegando o drinque com uma lentidão quase performática. Quando levou o copo aos lábios, o leve inclinar do corpo fez o decote de seu vestido preto ceder ainda mais. Alessandro e Matteo acompanharam o movimento como predadores observando um cervo se abaixar para beber água.ietro pigarreou, tentando recuperar o controle da situação.
— Já que chegaram, é melhor se acomodarem.
Alessandro desviou o olhar da loira, fixando-o em Pietro com um meio sorriso.
— Não vai apresentar sua amiga?
Pietro olhou para a loira, que agora brincava com o copo, os olhos verdes brilhando com uma mistura de diversão e desafio.
— Uma amiga. Convidei para conhecer o refúgio. Vai embora ainda hoje.
Matteo soltou um grunhido.
— Amiga de quem? Sua... ou da Giulia?
O nome da esposa pairou como uma faca afiada na sala. Pietro não respondeu de imediato.
— Vamos lá, vou mostrar os quartos pra vocês se acomodarem.
A loira terminou o drinque, os lábios úmidos brilhando sob a luz suave da sala. Ela lançou um sorriso provocador para os três homens antes de se recostar no sofá, como se fosse a dona do lugar. Pietro gesticulou para Matteo e Alessandro, conduzindo-os pelo corredor de paredes envidraçadas, o deserto lá fora parecendo engolir o mundo. O silêncio entre eles era pesado, quebrado apenas pelo som dos passos no piso polido.
— Essa loira — disse Alessandro em voz baixa — é problema.
— Está tudo sob controle — retrucou Pietro, tentando manter a calma. — Eu não esperava vocês hoje, por isso chamei alguém para me fazer companhia.
— E se nossas mulheres descobrirem? — resmungou Matteo.
— Só vão descobrir se alguém contar. — Pietro lançou um olhar firme aos dois.
Alessandro levantou as mãos como se dissesse “tudo bem”.
— Eu não conto nada.
Entraram no quarto de hóspedes, ainda intocado, com duas camas de solteiro e janelas panorâmicas dando vista para o horizonte ondulante de areia e rochas.
— Afinal... — Matteo puxou a cadeira da penteadeira e sentou-se — quem é ela?
Pietro fechou a porta com cuidado antes de responder:
— Na agência chamam ela de Allegra.
Alessandro, que estava tirando o casaco, parou, os olhos arregalados.
— Agência? Você quer dizer... agência de acompanhantes?
Pietro deu um leve sorriso, como se fosse óbvio.
— Claro. De onde mais seria?
Matteo esfregou o rosto com as mãos.
— Isso ainda pode dar problema.
— Relaxa — disse Pietro, tentando manter o tom leve. — Vai dar tudo certo. Ela vai embora hoje à noite, e ninguém vai descobrir. Eu paguei muito bem ao piloto para apagá-la dos registros.
— Ainda assim temos um problema — disse Alessandro, agora com um tom mais direto.
— Que problema? — Pietro revirou os olhos, a paciência começando a se esgotar.
Alessandro lançou um olhar enviesado para Matteo, depois voltou-se para Pietro com um sorriso ladino.
— Você só contratou uma. E nós somos três.
Matteo ergueu a sobrancelha, apoiando o queixo no punho.
— É. Como vai ser isso?
Pietro os encarou, parando por um momento. O silêncio foi preenchido pelo distante barulho do vento batendo nas vidraças.
— Espera... — ele disse, lentamente, a voz baixa, quase incrédula. — Vocês também querem… participar?
Os dois sorriram como hienas famintas.
— p***a, Pietro — disse Alessandro — você viu aquela mulher? Só de vê-la tomando o drinque, com aquele jeitinho...
— Uma deusa — completou Matteo. — E você queria ficar com tudo sozinho?
Pietro passou a mão pelos cabelos, frustrado.
— Eu não esperava ninguém hoje. A ideia era ela vir, a gente passar umas horas e depois ela ia embora.
— Mas agora estamos aqui — disse Alessandro, dando dois tapinhas nas coxas. — E se você quiser que a gente fique de boca fechada, vai ter que compartilhar.
Pietro franziu a testa, a mente acelerada. Ele não esperava isso, não agora. O plano era simples: uma noite com Allegra, longe dos olhos de Giulia, longe das responsabilidades de casa. Mas agora, com Matteo e Alessandro ali, o jogo havia mudado.
— Vou falar com ela — disse, tentando manter o controle. — Mas, acreditem, Allegra não é barata.
— A gente paga — Matteo respondeu na hora. — Quanto ela cobra?
Pietro fez uma careta.
— Cinco mil euros a hora.
Alessandro soltou um assobio.
— Caramba... Mas vale cada centavo, ou melhor, a gente faz valer.
— Beleza então — disse Pietro — Mas não esperem que ela tope sem que tudo esteja claro.
— Claro — disse Matteo.
— Óbvio — repetiu Alessandro, já se levantando. — Vamos falar com ela.
Pietro assentiu, respirando fundo. Sabia que estava entrando em terreno perigoso. Não apenas por estar ali, com uma acompanhante de luxo no meio do deserto, traindo sua esposa grávida, mas também porque agora havia duas testemunhas. E testemunhas podiam ser compradas, mas nunca apagadas completamente da memória do perigo.
Quando voltaram à sala, a loira — Allegra — não estava mais no sofá. A taça de cristal ainda repousava na mesinha baixa, com os vestígios carmesins do drinque que ela bebera, mas a loira estava de pé — os dedos longos e perfeitamente esmaltados deslizavam com lentidão por um dos rifles deixados sobre a bancada de carvalho escuro.
Ela se movia com uma lentidão estudada, quase felina, deixando que a seda do vestido n***o escorregasse com sensualidade ao longo das curvas. Seus olhos não estavam mais nos homens. Estavam no rifle. Como se aquela arma fosse uma extensão de sua própria presença. Como se ela mesma fosse uma ameaça camuflada de luxúria.
Matteo estacou, engolindo seco. Alessandro ficou com os olhos presos no modo como Allegra apoiava o cabo do rifle contra a coxa e passava os dedos pelo cano polido com uma carícia que beirava o indecente.
— Que porra... — murmurou Alessandro, baixo.
— Está brincando com fogo — sussurrou Matteo, mas não tirou os olhos dela.
Pietro, por outro lado, franziu o cenho. Seu maxilar ficou rígido enquanto caminhava até ela com passos firmes, controlados. Allegra sorriu ao vê-lo se aproximar, mas seus olhos continuavam dançando com um brilho enigmático.
— Allegra... — ele murmurou ao chegar perto. Sua mão agarrou o rifle com firmeza, tomando-o das mãos dela. — Cuidado com isso.
— Com o quê? — ela perguntou, fingindo inocência, mas o tom era provocador. Quase um desafio.
— Com armas — Pietro respondeu, o olhar duro. — Você deve sempre conferir se estão carregadas antes de tocar.
Para ilustrar, ele abriu o compartimento do rifle com um movimento seco. Estava, de fato, carregado. Uma bala brilhante reluziu sob a luz da lareira, como uma verdade exposta tarde demais.
— Viu? — ele disse. — Podia ter se machucado.
— Ou machucado alguém — murmurou Matteo, ainda olhando para ela, hipnotizado.
— Não brinque tanto com armas, ragazza. — Falou Alessandro — Um dia alguém pode apertar o gatilho só pra ver se você geme ou grita.
Allegra deu de ombros com elegância e voltou ao sofá. Sentou-se como se fosse a dona do lugar, cruzando as pernas com lentidão, revelando mais da pele clara sob a f***a generosa do vestido. Ela estendeu o braço, pegou novamente a taça vazia e virou-a para os rapazes.
— Alguém me serve outro drinque? — perguntou com um sorriso preguiçoso, como uma rainha entediada com os plebeus.
Pietro entregou o rifle a Alessandro sem dizer nada e atravessou a sala em direção ao bar. O gelo tilintou no copo enquanto ele preparava outro drinque para Allegra, sentindo os olhos dela queimando em suas costas. Ele sabia que ela estava testando os limites. E sabia também que Matteo e Alessandro estavam cada vez mais enfeitiçados.
Enquanto Pietro voltava, Alessandro se aproximou do sofá e sentou-se na poltrona ao lado, o olhar descaradamente cravado nas pernas dela. Ela levantou os olhos para os três homens e arqueou uma sobrancelha.
— Acomodados?
Matteo fez que sim, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Alessandro tomou a frente.
— Allegra, não é? — disse ele, com a voz aveludada, o charme do velho tarado polido. — Pietro nos falou maravilhas de você.
— Só maravilhas, espero — ela respondeu, deslizando o olhar dos olhos dele para o corpo de Matteo, depois para Pietro.
— Allegra... — repetiu Matteo, agora apoiado no batente da porta, os olhos semicerrados. — Isso combina com você. Leve, bonita... mas perigosa.
— Perigosa? — ela ergueu uma sobrancelha, divertida. — Isso parece um elogio ou um aviso?
— Pode ser os dois — Matteo respondeu, o tom mais escuro agora. — A maioria dos acidentes acontece quando alguém subestima o que tem nas mãos.
— Ou quando pensa que está no controle — disse Allegra, olhando diretamente para Pietro.
Por um instante, o silêncio se instalou. A tensão na sala era quase palpável. Pietro apoiou o copo na mesa e ajeitou a gravata com um gesto rápido. Ele conhecia aquele olhar.
— Alessandro, Matteo — Pietro disse, tentando retomar o controle. — Por que não tomam um banho quente? vocês devem estar cansados do voo.
— Estamos, sim — disse Alessandro, mas não se mexeu. Continuou com os olhos presos em Allegra. — Mas não tenho certeza se quero perder o que está acontecendo aqui.
— Vocês parecem... animados.
— Estamos. — Matteo respondeu, dando um passo à frente. — Mas queríamos conversar sobre... uma possível extensão dos seus serviços.
Ela sorriu, dessa vez com ironia, mas não com desdém.
— Uma extensão?
Pietro pigarreou.
— Eles estão dispostos a pagar. Alegra, eu sei que não foi isso que combinamos, mas a situação mudou.
Allegra colocou o copo na mesa, cruzou as pernas e se recostou no sofá como uma rainha no trono.
— E quanto valeria essa extensão?
Alessandro e Matteo trocaram um olhar cúmplice. Pietro respondeu:
— Eles pagam o mesmo valor. Cinco mil por hora. Cada um.
Ela inclinou a cabeça.
— Três homens. Quinze mil por hora?
— Isso mesmo — respondeu Alessandro.
— E quantas horas?
Matteo sorriu.
— Isso a gente pode discutir.
Allegra se levantou com elegância. Caminhou até Pietro, parando a poucos centímetros dele. Passou os dedos pelo colarinho de sua camisa.
— Você devia ter me avisado, Pietro.
Ele engoliu em seco.
— Eu sei. Não achei que eles viriam hoje.
Ela virou-se para os outros dois.
— Tudo bem. Mas com uma condição: nada sem proteção.
— Óbvio — disseram os dois quase ao mesmo tempo.
Allegra sorriu, um brilho predador no olhar.
— Então vamos começar.
***
O som da televisão preenchia a casa com uma batida grave e envolvente. Alessandro havia colocado em um canal de música eletrônica, criando um clima quase onírico na sala de estar rústica. As chamas da lareira dançavam refletidas nos vidros das janelas escuras, e a garrafa de uísque repousava vazia sobre a mesinha de vidro.
Pietro se aproximou de Allegra, seus dedos enlaçando os dela com firmeza calculada.
— Vamos dançar — ele disse, a voz baixa, o olhar penetrante.
Ela não respondeu com palavras. Levantou-se com um meio sorriso, o vestido preto colado ao corpo se ajustando ao movimento. Seus cabelos loiros balançaram de leve enquanto aceitava o convite, deixando-se guiar pela mão dele até o centro da sala.
A música ditava o ritmo e, aos poucos, Allegra passou a mover o corpo com mais liberdade. Seus quadris deslizavam em movimentos suaves, fluidos, um rebolado natural que parecia alheio à intenção, mas tinha o poder de incendiar qualquer homem naquela sala. Ela ria de forma contida, os olhos semicerrados, como se o álcool tivesse começado a torná-la mais leve.
Alessandro, já mais solto, tomou o lugar de Pietro na próxima música. Suas mãos pousaram na cintura dela com um pouco mais de firmeza. Dançaram juntos, próximos demais. Quando ela virou de costas para ele, rebolando contra seu corpo, Alessandro não resistiu a sussurrar algo em seu ouvido. Ela riu, mas não respondeu.
De repente, os três estavam ao redor dela, a música os unindo em um círculo de desejo. Pietro, Alessandro e Matteo dançavam colados a Allegra, as mãos deles passando pelo seu corpo, traçando a pele exposta, apertando, explorando. Um deles — Allegra não viu quem — pegou sua mão e a guiou até a protuberância em sua calça, o tecido esticado sob seus dedos. Ela sentiu o calor, a pulsação, e não recuou. Outro a beijou, os lábios rudes invadindo os dela, a língua exigente. Uma mão encontrou seus s***s, apertando-os por cima do vestido, o toque bruto arrancando um gemido abafado dela. Allegra fechou os olhos, o corpo cedendo à loucura do momento, à adrenalina que corria por suas veias.
Alessandro a empurrou contra os assentos de couro branco, levantando o vestido com um movimento rápido, expondo a calcinha preta. Sem hesitar, puxou a peça para o lado e mergulhou entre suas pernas, a língua explorando sua v****a com uma precisão que a fez arquear as costas. Allegra gemeu alto, as mãos agarrando os cabelos dele, o prazer a consumindo como fogo. Pietro e Matteo se posicionaram ao lado dela, um de cada lado, revezando-se entre sua boca e seus s***s. Ela sentia os lábios de um deles em seu pescoço, os dentes roçando a pele, enquanto o outro chupava seus m*****s, o vestido agora amassado em sua cintura. A língua de Alessandro era implacável, lambendo e chupando com uma intensidade que a deixava à beira da loucura. Ela estava em chamas, o corpo implorando por mais.
— Quero um de vocês dentro de mim — sussurrou, a voz trêmula, quase suplicante.
Pietro, já com a calça desabotoada, posicionou-se entre suas pernas, pronto para atender ao pedido. Mas Allegra ergueu a mão, parando-o.
— Na cama — disse, os olhos brilhando com uma mistura de desejo e controle. — Quero terminar isso na cama.
Pietro não hesitou. A pegou nos braços, colocando-a sobre os ombros como se fosse um troféu. Ela riu, o som leve e quase musical, e os outros dois os seguiram, abrindo os botões das camisas pelo caminho, deixando peças de roupa espalhadas como pegadas de um ritual.
No quarto, Pietro a jogou com cuidado na cama. Ela caiu rindo, os cabelos loiros emaranhados sobre os lençóis brancos. Matteo e Alessandro não perderam tempo. Começaram a despir-se completamente, ansiosos como garotos em parque de diversões. Eles se jogaram na cama, as mãos e bocas voltando a explorar Allegra, beijando sua pele, mordendo, lambendo.
Foi então que algo mudou.
Allegra sentou-se devagar na beira da cama, o sorriso ainda nos lábios.
— Só um segundo... preciso pegar a proteção. Vocês sabem — disse, com o dedo apontado como uma professora divertida. — Regras são regras.
— Vai rápido — murmurou Pietro, já sem camisa, as veias do pescoço saltadas de excitação.
— Não comecem sem mim — ela disse, piscando, e saiu do quarto.
O silêncio caiu como uma cortina pesada assim que a porta se fechou.
— Quem vai primeiro? — perguntou Matteo, com um sorriso de canto.
— Eu — respondeu Pietro, firme. — Eu que a trouxe.
— Tudo bem pra mim — disse Alessandro, se jogando de costas na cama. — Desde que eu tenha minha parte.
Eles riram. Por alguns instantes, foram só três homens rindo entre si, despidos, vulneráveis e certos de que controlavam o jogo. Pietro franziu a testa, olhando para a porta.
— Tá demorando. Tudo bem aí, Allegra?
Do corredor, a voz dela veio, calma, quase divertida.
— Já tô voltando.
Então, Allegra reapareceu na porta, mas não estava segurando camisinha nenhuma. Em suas mãos, um dos rifles que Matteo e Alessandro haviam deixado na sala. O cano apontava para eles, firme, e seus olhos verdes brilhavam com uma frieza que fez o sangue de Pietro gelar.
— Que merda é essa? — exclamou ele, erguendo as mãos instintivamente.
Allegra deu um passo à frente, o rifle ainda apontado, movendo-o lentamente como se escolhesse um alvo. Ela sorriu, mas agora o sorriso era uma lâmina.
— Pietro — ela disse, com a voz calma como um tiro abafado. — Você devia se perguntar: quem está realmente no controle aqui?
E então puxou o gatilho.
Click.
A arma estava carregada. Allegra sorriu. Pietro não.
***
O céu alaranjado do entardecer parecia derreter sobre a vastidão do Deserto de Gorafe, tingindo a areia dourada com tons de sangue e cinza. Um silêncio absoluto dominava a paisagem, quebrado apenas pelo som agudo e distante que cortava o ar: o rotor de um helicóptero.
Tac-tac-tac-tac-tac...
O barulho se intensificava, ganhando força contra o silêncio sepulcral do deserto. A aeronave se aproximava rápido, uma sombra cortando o sol em seu mergulho preciso sobre o heliponto improvisado entre os desfiladeiros rochosos.
Allegra permanecia parada, imperturbável. Seu corpo elegante envolto por um vestido preto justo, os saltos fincados na areia como estacas de desafio. Na mão direita, um cigarro aceso. O vermelho do batom, intacto. O olhar estava fixo no horizonte, indiferente ao vento quente que soprava contra seu rosto.
O helicóptero tocou o solo com suavidade. A poeira levantou-se em espirais frenéticas ao redor das pás giratórias.
O piloto desceu, ajeitando os óculos escuros sobre o nariz. Caminhou até ela, avaliando-a de cima a baixo.
— Está pronta, senhorita?
Ela deu uma tragada lenta, soltando a fumaça com languidez antes de responder com a voz firme, quase entediada:
— Estou, sim.
O piloto olhou em volta, o olhar curioso.
— E o senhor Ferrara? Ele deveria estar aqui, não? Ele pediu para eu voltar mais cedo...
Allegra sorriu de canto, sarcástica.
— Está lá dentro. Se divertindo... com os amigos dele.
O piloto arqueou uma sobrancelha.
— Preciso saber quando venho buscar o grupo.
Ela deu a última tragada e jogou o cigarro no chão, esmagando-o com o salto.
— Pela quantidade de droga e bebida que vi entrando, acho que só segunda-feira. Se saírem vivos.
O piloto soltou um assobio baixo, resignado.
— Entendido.
Ele estendeu a mão, ajudando-a a subir na aeronave. Ela entrou com leveza, a saia do vestido ondulando no vento quente do deserto.
***
O helicóptero pousou discretamente em uma das áreas reservadas do pequeno aeroporto. Um jatinho particular, de pintura preta e prata, já aguardava com as luzes acesas e escada estendida.
Sem falar com ninguém, a loira desceu da aeronave com a mesma postura imponente, cruzando a pista como se o mundo girasse ao seu redor. A brisa fria da noite andaluza agora acariciava sua pele. Seu celular vibrou na bolsa, mas ela ignorou. O tempo dela era contado em silêncio, não em chamadas.
Ao subir no jatinho, foi direto para a suíte privativa nos fundos. Trancou a porta atrás de si. O ambiente luxuoso era decorado com tons suaves de creme e dourado, um contraste com a brutalidade do lugar de onde vinha.
Diante do espelho de corpo inteiro, ela começou a desmontar sua fachada.
Primeiro, o vestido preto deslizou por suas curvas e caiu aos seus pés. Depois, a calcinha. Seu corpo nu refletido no espelho parecia mais verdadeiro agora, mais livre. Uma pequena pinta surgiu no pescoço dela. Sangue seco. Um lembrete.
Com dedos experientes, ela alcançou as lentes de contato e as retirou. Os olhos castanhos — os verdadeiros — surgiram, desarmando a personagem que fingira ser. Segundos depois, soltou os ganchos escondidos na base da nuca e retirou a lace loira. Os fios castanhos caíram pesados sobre os ombros. Despenteados. Autênticos.
TOC TOC.
Uma batida seca na porta a trouxe de volta.
Ela pegou uma toalha felpuda e se enrolou com eficiência. Abriu a porta com a postura de quem nunca fora vulnerável.
Do outro lado, a comissária de bordo — elegante, discreta — deu um leve sorriso.
— Senhorita Amorielle, o piloto pediu para avisar que decolamos em cinco minutos.
— Estou terminando. Diga a ele que pode preparar tudo.
— Sim, senhora. — A comissária inclinou levemente a cabeça e se afastou.
Ela caminhou até a cabine e deu duas batidas formais. O piloto abriu a porta.
— Só para informar, senhor. A senhorita Donna Amorielle já está a bordo.
O piloto sorriu e confirmou com um gesto.
— Então vamos levá-la para Roma.