Tire suas mãos dela - PARTE I

2148 Words
Lilian e Felipe curtiram uma noite inteira de risadas, filmes, nuggets e muita conversa. É como eu disse no capítulo anterior: quem pode afirmar que eles não se amam ou não namoram? Quem pode afirmar que não existe amor ali? Conversaram e estiveram juntos desde que a noite estrelada tomou conta do céu, até o exato momento em que a luz forte do amanhã tingiu o céu noturno. Lilian precisava retornar à sua rotina, enquanto Felipe voltaria a esperar ansiosamente pelo próximo encontro com sua amada. Lilian se retira do quarto sem notar a presença dela, a nossa protagonista do capítulo. Aliás, ninguém realmente presta muita atenção nas camareiras do hotel, certo? Lilian sequer cruzou olhares com Valentina, nossa nova h*****a e fundamental para os próximos acontecimentos da história. "Ufa, consegui escapar daqueles olhos". — pensou Valentina. Valentina começa a arrumar o quarto com toda sua delicadeza suavizada de sempre. — Não aguento mais esse gerente que vive passando a mão na cabeça daquele filho i****a. Se ele não fosse sub-gerente e seu pai o dono do lugar, nunca arrumaria emprego em lugar algum. — disse enquanto arrumava o quarto. Olhando bem encima do criado mudo, Valentina notou um livro que lhe prendera atenção. "Sussurros de amor". — leu com a mente. — Zoe Venta Belgarum, eu adoro essa autora. Nossa! Os últimos capítulos da webnovela que ela vem escrevendo estão incríveis. — comentou Valentina. — Tem bom gosto, não? — respondeu Lilian. — Perdão! É seu livro, né? — respondeu entregando-o. — Já leu? — A autora? Claro! Acompanho os livros físicos e as webnovelas que ela faz. — os olhos de Valentina brilham ao falar de literatura. — Estou doida pra ver a série que vai adaptar o primeiro romance dela! — os olhos de Lilian se comportam da mesma maneira. — Mas eu quero mesmo é saber do próximo conto dela junto do Edmundo! — Você também gosto do Edmundo? Valentina e Lilian entraram numa conversa literária maravilhosa que somente quem ama os livros, entenderá. Contudo, Lilian tinha de voltar para sua rotina e Valentina ainda estava em horário de trabalho. Elas até trocaram os números de celular, mas cada um teve de seguir sua vida. Valentina arrumou tudo da forma impecável que sempre faz e assim que saiu do quarto, notou o gerente lhe encarando no corredor. — O seu horário acabou à vinte e cinco minutos, sabe disso, não? — comentou ele. — Já estava aqui, qual foi o problema de arrumar? — A hora extra, nós só pagamos quando solicitamos, entendeu? — Sim senhor... Valentina saiu do corredor e caminhou em direção ao saguão. "Ele não me assusta, ser um superior b****a e mão de vaca, não é problemático. O que realmente me assusta é". Valentina cortou o pensamento ao ver que o sub-gerente olhava para a b***a de Lilian. — Que nojo! — Cuidado. — comentou a outra camareira que passava ao seu lado. — Falei isso alto? — Valentina se assustou. — Não muito, mas aqui, onde precisamos de dinheiro, seria r**m perder o emprego por conta disso, não? — sorriu. — Cl... Claro. Desculpe. — É lógico que eu queria enfiar a mão na cara do Alberto, mas ele nunca me fez nada. — Como não? — Valentina, somos mulheres, sempre despertamos olhares, sussurros, comentários e interesses. Olhar não arranca pedaço, isso eu aturo, mas o dia que ele ousar tocar em mim, conhecerá o que é uma mulher de verdade. — Porque ninguém o enfrenta? — Emprego. — Como assim? — questionou Valentina. — Ele só arrumou gracinha com garotinha como você. O coração de nossa h*****a disparou. — Foi o que aconteceu com a Solange. Ela afirmou que Alberto passou a mão em seu corpo, mas o irmão o encobriu e a demitiu. — Nossa... — A vida não é justa, eu sei, mas para nós, mulheres, é ainda pior, não? "Jeovana é sempre uma mãezona para mim". — pensou. Vamos, já passou da hora de sairmos. — disse Jeovana. Valentina ficou pensativa, mas deixou pra lá. "Ele que não tente nada comigo". — pensou. Ela caminhou até o vestiário feminino e se deparou com Alberto de pé, diante da porta. "Esse cara está em todo o lugar". — Valentina? Oi! — disse o crápula. — Já estou de saída, não prec... — foi interrompida. — Se acalma. — comentou enquanto colocava a mão em seu ombro. Todos os pelos no corpo de Valentina se arrepiaram. — É que andei sabendo que está sozinha, sua mãe viajou, quero saber se não deseja uma carona. Irei para aquelas bandas hoje. — sorriu. Alberto era certamente um rapaz bonito. Cabelo arrumado, olhos claros, uma roupa social cafonérrima junto do pior par de sapatos que arrumou. O hotel não é muito luxuoso, mas para a região, cobra o suficiente para tudo o que tem. Se você deseja se hospedar bem, de forma digna, Madureira Hostel é a solução. Porque disse isso? Porque os trajes de Alberto realmente não o ligam com o lugar. Seu irmão, Adalberto, o gerente. Está sempre bem vestido, mas Alberto anda desleixado. — Não, obrigado, mas não irei pra casa hoje. — E por onde que uma gracinha como você vai sem a mãe em casa? — brincou passando a mão em seu rosto. — Faculdade. — Então eu... — Alberto foi interrompido por Jeovana. Nossa querida camareira empurrou a porta com violência, fazendo-a bater nas costas dele com força. — Desculpe. — disse debochada. Valentina correu para dentro do vestiário, batendo a porta com força. "Vai que ele entra aqui? Preciso me arrumar rápido para conseguir sair com Jeovana, esse t****o vai querer me alisar novamente". Ela arruma suas coisas e mistura tudo na mochila. Mas ao abrir a porta do vestiário, pode ver a cena que fora alertada mais cedo. Jeovana deu um t**a na cara de Alberto. O som do t**a ecoou longe, alguns poucos hospedes, como o Sr. Geraldo que é frequentemente visto por ali, bem como Adalberto, o gerente, assistiram de camarote. — O que vocês pensam que estão fazendo? — reclamou Adalberto. — Se acalme. — respondeu Sr. Geraldo. — Ele tentou me... — Jeovana foi empurrada por Alberto. — Essa sonsa quis que eu a levasse para um quarto desses, mas quando disse que era casado, se revoltou e me agrediu. — Assim como a Solange fez? — perguntou Adalberto. — Sim irmão! — Esse caso outra vez... — disse Sr. Geraldo. A confusão estava armada. — Ele que tento... — Jeovana mais uma vez foi calada. — É por isso que não gosto de vocês, você é suja, sua imunda! — Cale a boca Alberto! — exclamou Adalberto. — Está falando da minha cor? Seu racista! A confusão escalonara estruturas impensáveis. — Se acalme não a nada que não possa ser resolvido aqui. — esclareceu Adalberto. — A Valentina viu tudo. — disse Jeovana. Alberto a encarou. Jeovana continuou. — O que você viu? Anda, conte a eles. Alberto, Adalberto e Sr. Geraldo lhe encararam. — Eu... Bom... Não... A porta estava fechada... E... — Valentina não encontrou forças para reagir. Jeovana sabia que isso poderia acontecer algum dia. — Vamos, deixe disso. Creio que todos nós podemos chegar num acordo, certo? — comentou Adalberto. Ele a segurou num dos braços e os três caminharam até outra sala. Sr. Geraldo ficou olhando de longe, enquanto Valentina se retirava da situação e corria para casa com todas as suas forças. "Aconteceu de novo. Aconteceu de novo. ACONTECEU DE NOVO". Os pensamentos de Valentina pareciam gritos durante a madrugada em filmes de terror, de tão ensurdecedores. "d***a, d***a. d***a! Agora preciso ficar nesse ponto de ônibus deserto. E se o Alberto passar? E se alguém mexer comigo?" A vida de uma mulher é realmente pavorosa em muitos sentidos, não? Valentina é moradora de Oswaldo Cruz. Outro bairro na Zona Norte do Rio de Janeiro. Além de ser um dos mais perigosos da região com altos números de ocorrências, não se tem muito o que falar do lugar. É conhecido por ser o berço da Portela, a maior campeã do Carnaval carioca. É extremamente fatiado pela linha férrea, sendo um bairro tipicamente residencial, com aproximadamente 40 mil habitantes. Faz parte integrante da região administrativa de Madureira. Nossa h*****a mora num apartamento com a mãe, mas pra chegar até lá, precisa enfrentar um ônibus lotado e um trem entupido de pessoas. Mas relaxa, isso faz parte do cotidiano carioca. Um carro vermelho aproximou-se do ponto de onde Valentina estava. O vidro era fumê, não dá pra saber quem dirige. Para lhe assustar, seu telefone vibrou, era Sr. Geraldo. Um amigo muito prestativo, aliás. "Quer que eu peça um Uber?" — estava escrito na mensagem. "QUERO!" — respondeu. Por sorte, um uber parou próximo dela. — Entra aí. — comentou Sr. Geraldo. Valentina aquietou o coração e entrou. — Obrigado Sr. Geraldo, irei te pagar assim que der. — Se acalme menina, estou indo para perto de onde mora ver minha adorável filha e o arrogante do seu filho. — É que fiquei preocupado por hoje. — Eu gostava da Jeovana, a ajudava também, mas não podia imaginar que ela seria capaz daquilo. — Ela não fez nada Sr. Geral, acredite, foi o Alberto! — O Alberto? — Sr. Geraldo olhou meu desconfiado. — Ele já fez isso antes, logo, logo, irá concentrar sua atenção em mim. — comentou inquieta. — Hmmm, não esperava isso daquele pirralho. — coçou os cabelos brancos. — Não tem problema nenhum em ser um b****a, mas a******r? Ficarei de olho nele. — completou. — Não Senhor, irá me complicar mais. Só tenho esse emprego. — Ok, ok... Sr. Geraldo não deixaria isso de lado, acredite, sua amizade com Valentina vai muito além de uma simples carona. — Me julgue, mas tudo o que eu queria era estar num lugar onde não exista tanta gente me obrigando a interagir de verdade com alguém. Eu prefiro meus livros, eles não me machucam nem vou me abusar. Sinto orgulho de ser introvertida dessa maneira. Valentina era decidida. — Se acalme. Mas olhe, outra hora falamos desse assunto. Separei uns pãezinhos do buffet e outro guloseimas. Aquele infeliz do meu filho não foi me visitar, então sobrou. Os olhões de Valentina brilharam. A gerência do hotel é muito rígida e os funcionários não podem usufruir de nada. Se Valentina pudesse ao menos comer no lugar, certamente conseguiria guardar um dinheiro a mais e ajudaria na casa com a mãe. O que ela ganha, m*l dá pra comprar os livros que deseja. Lilian já estava no quinto livro de Zoe, enquanto Valentina ainda buscava juntar dinheiro para comprar o primeiro em algum sebo carioca. — Se acalme querida, as coisas ainda vão dar certo, se acalme. Valentina abraçou Sr. Geraldo antes de partir. — Obrigado Senhor! — Até amanhã querida. Valentina subiu até o quinto andar e entrou no confinamento de seu maravilhoso quarto. Ela tratou de ligar o notebook e caçar a webnovela de Zoe, mas infelizmente leu uma mensagem não muito boa. "O capítulo dessa semana atrasou. A autora anda ocupada com problemas pessoais, mas acompanhe o trailer da série baseada em sua webnovela". — Mas que d***a, hem? Agora vou ter que caçar outra coisa. — reclamou. Valentina fez um delicioso macarrão ao alho e óleo simples, viu uns episódios de uma série que curte, orou e dormiu. Nossa h*****a tem uma vida simples, mas não se engane, de uma hora pra outra, tudo pode mudar. Uma vez mais, o véu noturno deu lugar ao amanhecer ensolarado. Valentina acordou um tanto encima da hora, como sempre, mas mesmo que enfrentasse os transportes lotados, conseguiria chegar á tempo. O grande empecilho do dia era mesmo aquilo que ela não conseguia enfrentar, o que fazia todo o seu corpo se arrepiar. Alberto. Valentina estava passando pelos corredores quando se deparou com Alberto. Ela imediatamente deu meia volta. Alberto apertou os passos atrás de Valentina. — Ou? — ela fingiu não escutar. Alberto se apressou atrás dela que havia cruzado outro corredor, mas ela esbarrou bem de frente num homem de costas que conversava com Geraldo. Alberto, como um rato, se escondeu numa das sombras do hotel e desapareceu. — Desculpa... — Valentina encarou o homem em sua frente. — Bem a tempo querida, este é Pedro, meu filho mais novo.  Pedro estava muito bem trajado, de terno e gravada, extremamente social. Com sapatos refinados, combinando lindamente com suas roupas escuras. Havia uma barba por fazer, mas nada que desmerecesse o seu charme. Cabelos e olhos no mesmo tom escuro. Um porte atlético invejável. Enquanto Valentina era pequena e fraca, Pedro é grande, forte e poderoso. Ele esticou a montanha que chama de mão e cumprimentou Valentina. — É um prazer finalmente conhecer a mocinha que encantou meu pai. — Pr... Prazer.
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