As caminhadas da tarde 

1409 Words
Seguindo as recomendações de mamãe, tenho feito as minhas caminhadas, que se resumem a ir a um ponto distante o suficiente para que mamãe não veja que estou aproveitando para ler e fazer um lanche tão farto que às vezes fica difícil fazer o caminho de volta até o castelo. Hoje Matilde trouxe torta de carne e limonada para acompanhar. E, eu trouxe um romance que estou lendo a alguns dias. Estamos embaixo de uma árvore, o sol está propício para um piquenique. Você acha que o Príncipe Alfonso vai gostar de mim? É claro minha menina, quem não vai gostar de você? Você é a garota mais inteligente e especial que ele vai conhecer na vida. Mas, e quanto a aparência física, será que vou agradar? Você não conhece os homens, minha querida, no primeiro momento eles até se importam com a aparência, mas depois, se você não tiver cérebro, eles não se importam de verdade com você. Como vou saber se ele gostou de mim, Matilde? Simplesmente você vai saber querida, na verdade não existe fórmula para o amor. Decido seguir com a minha leitura, mas essas questões não me abandonam. Quando de repente uma sombra paira acima de nós, levanto a vista e vejo um jovem cavaleiro muito belo. Fico muda, mas ele não parece nada afetado com a minha presença. Bom dia minha jovem. Poderia me dizer se estou próximo ao castelo de Aberlon? Apenas fico olhando para ele, sem conseguir dizer uma palavra. Eu nunca estive tão perto de alguém de fora do castelo e ainda mais alguém tão bonito. Ele tem os olhos azuis como a cor do oceano nas pinturas, o cabelo loiro e fino. Seu rosto tinha traços bem desenhados como apenas um homem pode ter, mesmo em cima do cavalo posso ver que ele possui uma alta estatura. É Matilde quem responde: Não sabe que não é educado dirigir- se a uma moça solteira, mocinho? Quando ela diz isso fico vermelha instantaneamente, não sei porquê, mas fiquei com vergonha de Matilde, me tratando feito criança em frente a esse desconhecido. Me desculpe senhora, realmente tem razão. - Ele olha de um lado para outro. - Acredite, se não estivesse perdido realmente, não incomodaria damas tão distintas. Está desculpado meu jovem, mas não há motivo para se preocupar, está no caminho certo, só seguir em frente. Ele me dá um breve sorriso e apeia o cavalo, segue em frente e eu fico feito uma boba olhando para ele. Não perguntou o nome dele, Matilde. Não precisa saber o nome dele, minha querida, o único nome que te interessa saber você já sabe. E qual seria esse nome? Príncipe Alfonso. Sei que o que Matilde diz está certa, não adianta me iludir, o meu destino é apenas um e foi decidido no dia em que eu nasci. Mas isso não impediu que o meu coração pulasse uma batida quando vi esse desconhecido. Quero voltar para o castelo. Algum problema com o passeio, querida? Não, apenas, cansei desse livro. Não se engane querida, se enganar é a pior coisa que você poderia fazer. Não se preocupe Matilde, eu já sei há muito tempo que sonhos são apenas isso, sonhos. Chego ao castelo e parece que algo importante está acontecendo, mas mais uma vez eu estou fora, quando chego à porta, já tem um guarda me esperando, com ordens diretas do rei para que eu me dirija diretamente ao meu quarto e não sair de lá sem as ordens do rei. Espero que Matilde venha trazer minha refeição para que ela me dê alguma luz do que está acontecendo. - Então Tilde, o que está acontecendo? - Se acalme menina, tenho ordens apenas para deixar o prato e ir embora. - Não me deixa assim, me diz qualquer coisa. - Está bem, era uma mensagem do Rei About, parece que tem uns rebeldes ameaçando invandir um dos reinos durante o casamento dos seus primos. Minha vontade é perguntar se ela sabe quem é o cavaleiro que nos abordou, ou se ao menos ela o viu novamente, mas sei que não é adequado demonstrar o mínimo interesse que seja em um outro homem, mesmo que seja só para minha ama, no entanto Tilde me conhece mais do que eu mesma . - Sei que deve estar ansiosa para saber mais do cavaleiro, mas eu não o vi mais. Creio que ele era apenas um mensageiro. - Nem me lembrava mais de tal pessoa Tilde. Nesse momento o guarda bate na porta e diz: - Precisa se apressar senhora Matilde. Ela me dá um abraço, um beijo e vai embora, eu fico sozinha novamente. Eu, meus pensamentos e a lembrança de um cavaleiro que não saiu da minha cabeça, nem mesmo quando dormi, na verdade eu sonhei com ele. Já se passaram alguns dias e eu estou enlouquecendo dentro desse quarto. Quando vem uma serva, me buscar para mais uma prova de vestido. Estou tempo demais sozinha e a companhia, não importa de quem seja, parece água, para quem está a dias no deserto, não sou tagarela, mas eu perdi até a conta dos dias. Tento puxar conversa com a garota, mas ela apenas acena com a cabeça, nenhuma palavra sai da boca dela, me irrito. - Perdeu a língua ou o quê? Por que não me responde? - Deixe Astrid em paz, Stacie. - É minha mãe quem diz. - Você sempre tem que arrumar problema, não pode simplesmente obedecer? Estremeço por dentro, eu sempre estou buscando a aprovação de minha mãe, mas parece que não importa o que eu faça, só consigo decepcioná-la. - Me desculpe mamãe, não era minha intenção, apenas que foram longos dias dentro do quarto sozinha. - Nunca está contente, não é mesmo Stacie? Como acha que vai cativar seu futuro marido dessa maneira. Dizendo isso ela entra no provador e me deixa no corredor sozinha. Uma lágrima cai no meu rosto, eu a enxugo, pois não me é permitido chorar apenas por uma bronca de minha mãe, pois isso demonstra fraqueza e fraqueza não é digno de uma rainha. A costureira hoje trouxe o vestido praticamente pronto e também trocou palavras mínimas comigo, apenas o essencial. Eu achei até bom, porque depois das coisas que mamãe me disse, qualquer palavra m*l posta, poderia me levar a um pranto incontrolável. Enquanto eu mantiver a minha respiração controlada, posso me manter composta. Toda a minha empolgação com esse vestido se acabou, se pudesse, o rasgaria em mil pedaços. Quando a costureira termina de marcar os ajustes que serão feitos mamãe me diz. - Vire para cá princesa. - Obedeço, é o que me resta. Ela me avalia de cima a baixo. - Sorria princesa. - Forço o pior sorriso de todos os tempos. Por fim ela diz. - Acho que vai servir. Tire o vestido e volte para o seu quarto Stacie. - Sim senhora. Depois que visto a minha roupa de antes eu corro, volto para o meu quarto, mas serão nos meus termos. Quando entro, tranco a porta e não consigo mais controlar o choro. Não consigo entender como pode uma mãe tratar a filha dessa maneira sem motivo aparente. E, agora me casarei com um completo estranho, alguém que provavelmente é igual ou até pior que meus pais e o pior, sem nunca ter conhecido o amor verdadeiro, minha vida é realmente patética. Passadas algumas horas papai aparece em minha porta. Eu imediatamente me levanto e o reverencio. - O que está acontecendo Stacie. - A que se refere Vossa Alteza. - Sua mãe veio trazer reclamações sobre você, sobre seu comportamento. - Não há o que contestar, eles não querem ouvir minhas demandas, é caso perdido. - Me desculpe, papai, não vai mais se repetir. - Nós já dissemos a você Stacie, o quão honrada você é por ser a futura rainha de dois reinos, você terá tudo isso aos seus pés. O que mais deseja Stacie. Muitas coisas papai, mas não direi nenhuma delas a você. Apenas aceno e continuo a escutar tudo o que ele diz. Quando estou sozinha novamente, choro, a ponto de quase perder a consciência. Queria dizer ao meu pai que nada dessas coisas me importam, quero apenas uma coisa, amor. Esse sentimento insubstituível e fundamental para a existência do ser humano, mas que fui negligenciada a vida toda. Que pode o amor superar? O valor de todas as riquezas do mundo.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD