Capítulo 6. Fim de expediente

522 Words
O Blue Raven já não tinha mais a mesma energia. As luzes pareciam mais suaves, a música mais lenta, e o bar estava quase vazio apenas alguns clientes dispersos, bêbados demais para perceber a hora. Harry e Brooks ainda estavam na mesa, rodeados por garrafas vazias e conversas que iam e voltavam entre desabafos, provocações e longos silêncios reflexivos. — Três da manhã… — Brooks murmurou, olhando o relógio. — Isso é oficialmente um recorde. Nem na época da faculdade você ficava acordado até essa hora sem xingar alguém. Harry nem respondeu. Seu olhar estava distante, preso a um ponto qualquer até que um movimento chamou sua atenção. Ela. A garçonete apareceu de novo, mas agora… diferente. Sem uniforme. Sem bandeja. Sem o bloquinho de pedidos. Ela estava indo embora. Harry se endireitou na cadeira quase sem perceber. O cabelo cacheado estava solto, caindo pelos ombros. Usava um vestido floral que parecia dançar a cada passo, algo leve, fresco totalmente contrastando com o ambiente escuro do bar. O rosto estava visivelmente cansado, mas ainda assim… leve. Aquele tipo de leveza natural, que não se ensina. Enquanto caminhava em direção à porta, algumas pessoas que a conheciam talvez funcionários, talvez clientes frequentes a cumprimentavam. E ela sorria para todos. Sorrisos verdadeiros. Sorrisos que pareciam iluminar um pouco o caminho. Quando passou perto da mesa deles, levantou os olhos por um instante e… sorriu. Um sorriso pequeno, gentil, como se reconhecesse dois rostos que estiveram ali a noite toda. Harry sentiu algo estranho apertar o peito ,curiosidade, interesse, uma sensação que ele não sentia fazia anos. Mas antes que pudesse reagir, ele percebeu que ela falava ao telefone. E então ouviu. Aquela voz. Aquele ritmo. Aquele idioma desconhecido, mas melodioso demais para ignorar. — Mainha, eu já tô indo, pra casa.Chego lá num instantinho… não, mainha, eu comi sim, relaxa… — ela dizia, rindo baixinho. — deixe de besteira… Harry ficou imóvel. A língua… parecia deslizar, cantar, balançar entre palavras que ele não entendia, mas queria entender. Tinha um calor, uma musicalidade, uma alegria escondida. Era tão diferente do inglês cortado, rápido, frio de Londres. Era como ouvir um país inteiro caber em uma frase. — Ela tá falando de novo… — Brooks disse, observando Harry com um sorrisinho. — Você vai acabar decorando esse idioma sem saber de onde é. Harry ignorou a provocação. Sua atenção estava totalmente nela. Ela segurava o telefone entre o ombro e a orelha, rindo de algo que a pessoa do outro lado disse. E então, com um último sorriso para alguém da equipe, empurrou a porta e desapareceu na rua, sumindo na madrugada como se deixasse um pedacinho de verão para trás. Harry acompanhou com os olhos até o último segundo. Brooks soltou um suspiro teatral. — Ja tá soando obcecado já. Harry tomou um gole lento da cerveja, sem desviar da porta por onde ela saiu. — Brooks… — disse, baixo, pensativo. — Que idioma é esse? — Sei lá, cara. — Brooks riu. — Mas você quer descobrir. Harry não respondeu. Porque a verdade era muito simples: Sim. Ele queria. Queria descobrir tudo sobre ela.
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