Capítulo 4. De onde ela é?

564 Words
Brooks ergueu o braço no instante em que ela passou de novo pelo corredor entre as mesas. — Moça! — chamou com a naturalidade de quem já tinha observado o suficiente para saber que ela não se incomodava com clientes simpáticos. — Traz mais dois copos de cerveja pra gente? Ela parou ao lado da mesa com aquele sorriso que parecia iluminá-la por dentro. — Claro, trago sim. Dois copinhos bem gelados, né? — perguntou enquanto anotava no bloquinho. Harry tentou parecer indiferente, mas os olhos dele levantaram quase sozinhos para observá-la. O sotaque dela deixava cada frase leve, dançante… ele não sabia por que aquilo o intrigava tanto, mas parecia que estava ouvindo uma música cuja letra não entendia, ainda assim gostava. Antes que ela terminasse de anotar, porém, algo aconteceu ao lado. Uma das outras garçonetes, apressada demais, virou a curva entre as mesas e deixou a bandeja escorregar das mãos. O barulho de vidro estilhaçando no chão ecoou alto, arrancando gritos curtos e sustos. A garçonete diante deles se sobressaltou no mesmo instante o corpo deu um pequeno pulo, a mão apertou o bloquinho e, antes que pudesse se conter, ela murmurou algo rápido: — Vixe, Maria! A expressão escapou tão espontânea que ela mesma pareceu notar tarde demais. Harry franziu o cenho imediatamente. Não era inglês. Não era nada que ele reconhecesse. O som da frase tinha o mesmo ritmo melodioso que ele vinha percebendo… mas era completamente novo aos seus ouvidos. Ela percebeu o susto e riu, meio envergonhada, tocando o cabelo cacheado atrás da orelha. — Desculpa, gente. É que eu me assusto fácil… — explicou, rindo de si mesma. — É mania minha mesmo. Brooks riu junto, achando graça. — O que foi que você disse? — perguntou ele, divertido. — Soou tipo… sei lá… francês? Italiano? Ela deu um sorriso pequeno, quase travesso. — Ah… nada demais. — desviou o olhar de forma leve, simpática, mas claramente não quis se estender. — Foi só um jeito meu de falar. Já trago as bebidas, tá bem? E saiu caminhando rápido, ainda com um sorrisinho tímido preso nos lábios. Brooks tirou sarro: — Pronto, agora a moça fala línguas alienígenas e você vai querer descobrir qual planeta ela veio. Mas Harry não riu. Estava pensativo. Muito. As palavras dela "Vixe, Maria" ecoavam na cabeça dele. Era um idioma que ele nunca tinha ouvido de perto, mas o som era bonito… e tinha algo de familiar, quase caseiro, mesmo que ele não soubesse por quê. — …De onde você acha que ela é? — Harry perguntou, olhando para o caminho por onde ela tinha desaparecido, os olhos semicerrados de curiosidade. Brooks levantou as sobrancelhas. — Ah, então agora você realmente quer saber. — Ela não parece daqui — Harry murmurou, mais para si do que para o amigo. — O jeito de falar… o jeito de sorrir… é diferente. Brooks apoiou o queixo na mão, observando Harry como se acabasse de encontrar ouro. — Amigo… eu nunca te vi tão curioso assim desde… Ele parou antes de dizer o nome proibido. Harry também não completou. Mas continuou olhando na direção dela, intrigado, como se tentasse montar um quebra-cabeça cujas peças ele nem tinha. E no fundo bem no fundo uma nova pergunta começava a surgir na mente dele: Quem era aquela mulher? E de onde, exatamente, ela tinha vindo?
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