Capítulo 12. Yara decide

1070 Words
Yara entrou em casa empurrando a porta com o quadril, cansada, o moletom pendurado no braço e o cabelo preso num coque torto que estava prestes a desabar. O cheiro de alho frito e cebola dourando tomou seu nariz — sinal claro de que Beatriz estava cozinhando. — Chegou, desgraçada! — Beatriz gritou da cozinha, sem nem olhar. — Tenho arroz, feijão e bife. Senta aí antes que esfrie. Yara soltou um suspiro longo, jogou o moletom no encosto da cadeira e desabou na outra. — Bia… você não vai acreditar. — disse ela, passando a mão no rosto. Beatriz se virou, uma colher de p*u na mão, a expressão imediatamente alerta. — O quê? Te mandaram embora? Te xingaram? Cliente i****a? O gerente falou merda? — Não… quer dizer, quase. — Yara fez uma careta. — Derrubei três copos, vou ter desconto no salário, quase chorei de raiva. Beatriz revirou os olhos. — Normal. O extra que eles descontam dá pra comprar uma mansão, né? Mas não é isso que você tá querendo contar. Tô vendo nessa sua cara. Fala. Yara respirou fundo, como quem tenta acreditar no que está prestes a repetir. — O cara de ontem. O loiro de terno preto que te falei. — O bonitão? — Beatriz interrompeu, abrindo um sorrisão malicioso. — O de olho azul que parecia propaganda de perfume caro....suas palavras — Esse mesmo. — Yara apontou pra ela. — Ele apareceu hoje de novo. No meu intervalo. Beatriz parou, ainda segurando a colher, surpresa. — Como assim? Ele te viu ou ele foi te ver? — Sei lá! — Yara levantou as mãos. — Ele disse que queria me fazer uma proposta. Beatriz arregalou os olhos. — Ah não, Yara… não me vem com proposta indecente de gringo achando que brasileira é… — EU TAMBÉM PENSEI ISSO! — Yara jogou o corpo pra trás na cadeira, exasperada consigo mesma. — Fiquei brava, quase mandei ele tomar no cu. Mas não era isso. Beatriz se sentou em frente a ela, agora 100% investida no drama. — Então o que era? Yara hesitou um instante, porque ainda era estranho até pra ela. — Ele disse que é uma proposta de trabalho. Como atriz. Beatriz piscou. Depois piscou de novo. — Amiga… você fumou alguma coisa no intervalo? — NÃO! — Yara respondeu, indignada. — Ele falou sério. Disse que queria me explicar num jantar. Me deu o número dele. Disse pra eu ligar se eu aceitasse. Beatriz soltou um assobio impressionado. — Hummm… suspeito, mas interessante— Ela inclinou o corpo para frente. — E você? Vai? Yara mordeu o lábio inferior, pensativa. — Eu não sei, Bia. Pode ser golpe. Pode ser coisa estranha. Ou pode ser só… sei lá… uma oportunidade. Mas eu não sei no que tô me metendo. Beatriz ficou alguns segundos quieta, depois sorriu daquele jeito que só amiga íntima sabe sorrir: cúmplice, mas provocador. — Yara, você atravessou um oceano pra ganhar a vida. Você limpa mesa com cliente te tratando como se você fosse invisível. Se existir qualquer chance disso ser real, você tem que pelo menos ouvir. Mas… — ela levantou o dedo — a gente vai investigar esse homem até descobrir se ele existe mesmo. Yara riu, um riso pequeno, mas aliviado. — Ele existe. — Maravilha. — Beatriz levantou da mesa. — me dá as informações que tem.E depois a gente fuça o f*******:, i********:, LinkedIn, tudo. Se esse homem for serial killer, a gente descobre. Yara riu mais alto agora. — Você não presta. — Eu presto sim. Presto atenção. — disse Beatriz, piscando. — E amiga… se for seguro? Vai ao jantar. Quem sabe? Yara encarou o prato à frente dela, mexendo no feijão, pensando na vida, no aluguel, na mãe, nas irmãs, na falta de oportunidade… e naquele homem de olhar elegante e voz calma. Talvez… talvez valesse a pena tentar. Talvez. Yara terminava de tomar banho no banheiro pequeno do apartamento quando Beatriz apareceu encostada na porta, de braços cruzados, com o celular na mão. — Achei ele. — anunciou, triunfante. Yara arregalou os olhos, secando o rosto com a toalha. — Achou? Como assim? — Sua amiga é uma CSI do subúrbio, meu amor. Eu só joguei “Harry + Londres + e o número dele de telefone” no Google e pronto. — Beatriz virou o celular para Yara. — Olha isso. Na tela, a foto de Harry num terno impecável, em um site corporativo luxuoso. “Harry Harold Bakserville— CEO da Bakserville Contábil.” Yara piscou, surpresa. — Meu Deus… ele é rico assim? Eu achei que era só um cara metido a arrumadinho de bar! Beatriz sorriu, balançando a cabeça. — Rico ? Ele é milionário fia, esse homem paga o aluguel de três apartamentos desses só com o troco do café. E ó… tem até entrevista dele aqui. — Ela clicou em um vídeo. — A voz é a mesma. O rosto também. Não é fake. Yara sentou na cama, meio atordoada. — Então… ele realmente pode ter um “trabalho” pra mim? — Sim, mas qual trabalho? Ele disse ‘atriz’… isso é estranho. — Beatriz sentou ao lado dela. — Mas olha pra mim, Yara. Você não vai sozinha sem falar comigo. E me manda localização ao vivo do início ao fim. Se sentir qualquer coisa esquisita, você sai correndo. Yara riu, porque só a Beatriz conseguia ser dramática e sensata ao mesmo tempo. — Tá bom, mãe. — E outra coisa. — Beatriz segurou o rosto dela entre as mãos. — Não abaixa sua cabeça pra nenhum rico desses. Ele não tá te fazendo favor nenhum chamando você pra jantar. Você é linda, inteligente, educada… e trabalha mais que ele na vida inteira. Yara sorriu de canto. — Obrigada, Bia — Agora… — Beatriz levantou com um pulo e abriu o armário dela. — Vamos escolher roupa pro quase-jantar-de-trabalho-que-talvez-seja-proposta-esquisita. — Beatriz! — Yara protestou, rindo. — Shhh! Confia na estilista aqui. Você vai impecável. Não pra ele, pra você mesma. Enquanto Beatriz revirava cabides, Yara olhava o número dele.Seu coração batia rápido demais. Ela respirou fundo. Talvez ela realmente devesse ligar. Talvez esse fosse o tipo de oportunidade que mudava vidas ou pelo menos, o tipo de história que só acontece na Inglaterra, bem longe do calor de Salvador e do barulho do Rio. E decidiu. Ela ia ligar
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