Acordar cedo havia se tornado rotina para mim. Nos últimos meses, desde que tive de assumir a frente dos negócios da serraria em Portland, não tinha mais tempo para quase nada. Falava muito pouco com Kori e Jerry.
Já havia tomado a decisão de vender a casa de papai, depois tudo o que aconteceu, não suportaria permanecer nela por tanto tempo.
Mudar para Portland, foi consideravelmente a melhor decisão que poderia tomar, uma vez que unia o útil – coordenar de perto a Wood’s – empresa deixada por Lawrence para mim em seu testamento, ao agradável, respirar novos ares.
Rolo para o lado e deparo-me com a mesma imagem dos últimos meses. Eric ainda estava dormindo, e um dos motivos para acordar antes dele, era fato de poder apreciar tamanha beleza com mais calma.
— Bom dia — diz sorrindo.
— Bom dia meu amor — aproximo-me e uno nossos lábios.
Levanto e sigo para o banheiro.
Depois de vinte minutos, encontro Eric vestido apenas com um microsshort que ele usava para dormir. Sorrio diante de tamanha beleza.
— Estarei de volta as 19hr00min.
— Porque tão tarde? — pergunta se aproximando com uma xícara na mão.
— Reunião — tomo um gole do café e lhe devolvo a xícara — amo você — lhe dou um beijo rápido e saio.
Pego o elevador e desço até a garagem.
Entro na minha Mercedes, que por sinal era uma das preferidas de Lawrence. Em alguns momentos ele parecia ser apenas um homem comum que tinha seus objetivos, sendo um deles ter a maior coleção de carros. Tinha que admitir, Lawrence tinha bom gosto.
Ligo o rádio e passo algumas faixas músicas, até encontrar algo que me agradasse – TKO – do Justin Timberlake. Estava com um humor tanto que extasiado e sensual. Depois que passei a morar com Eric, vi o quanto ele ainda tinha para me mostrar.
Depois de vinte e cinco minutos, já podia avistar a enorme placa “Wood’s”.
— Bom dia senhorita Gurney — cumprimento Gilbert, o manobrista.
— Savana. Me chame de Savana — entrego-lhe a chave e sigo para a porta giratória de vidro.
Passo pelo saguão e cumprimento a todos que passam.
Pego o elevador e subo até o último andar.
Meu celular toca. Era Jerry.
— Pensei que não fosse retornar minha ligação — digo.
— Desculpa, estive ocupado. Chegamos há algumas horas.
— E aí, gostou da viagem?
— É realmente incrível. Você precisa ir lá.
— Irei sim — respondo sorrindo — mas, me diga, como estão as coisas entre você e Sarah?
— Estão bem. Decidimos que morarmos juntos, seria a melhor decisão, já que queremos algo mais sério.
— Algo mais sério? Por acaso falaria em…
— Não sei. Ainda tenho aquele anel guardado e… — Jerry guardara o anel que ele usaria para me pedir em casamento.
— Porque não compra outro? Venda esse que tem e compre um maior.
— Ei, virei sócio de Mark, não dono da empresa — rebate rindo.
— Mas está ganhando consideravelmente melhor.
— É, mas quem sabe se minha melhor amiga rica me fizer um empréstimo, eu poderia comprar o quanto antes o anel…
— Faço questão de ajudá-lo — digo rindo.
— Mas, falo sério. Estou pensando seriamente em firmar meu compromisso com Sarah. Sei lá, desde quando ele chegou aqui de surpresa, dizendo que sentia algo por mim, tudo mudou. Nunca me senti tão bem e tão feliz com alguém, em toda minha vida.
— Não faz ideia do quanto fico feliz por você Jerry — saio do elevador e vejo algumas pessoas na sala de reuniões — façamos o seguinte, entrarei em reunião agora, assim que acabar, retorno pra você. Tive uma ideia, acho que vai gostar.
— Tudo bem. Até mais.
— Até.
Desligo o celular e cumprimento Samantha, minha mais nova secretária.
— Bom dia senhora.
— Savana, Samantha. Já lhe disse inúmeras vezes.
Vou até minha sala e coloco a bolsa em cima de minha mesa.
— Os diretores de exportações estão a sua espera.
— Certo. Diga que estou indo.
Sento a minha mesa e ligo o computador.
Checo meu e-mail e para minha felicidade, vejo uma mensagem.
Quando podemos nos encontrar?
Digito rápido algumas palavras e espero uma resposta.
Ótimo. Estarei lhe esperando. No mesmo lugar de sempre?
Assim que respondo, Samantha entra novamente na sala.
— Aquele senhor que ligou para cá outro dia, acabou de retornar a ligação.
— Qual?
— Aquele que mencionou ter o funcionário que a senhora está procurando.
— Não sei porque ele faz tanta questão que eu receba esse rapaz — respondo impaciente.
Recolho alguns papéis que usaria na reunião.
— E então, o que digo?
— Diga que o receberei amanhã, mas diga que é bom valer a pena, e que não seja perda de tempo. Estamos com desfalque de um especialista há quase três meses. E já estou cansada de receber essa garotada inexperiente que só quer ganhar dinheiro fácil.
— Tudo bem — Samantha conclui e sai da sala.
Recosto-me na cadeira e tento exalar toda tensão que sentia. Não fazia ideia do quão difícil seria administrar uma empresa do porte da Wood’s, mas ao menos tinha o apoio dos sócios e clientes. Todos gostavam do meu empenho, principalmente pelo fato de eu estar sempre presente, coisa que Lawrence raramente fazia.
Respiro fundo algumas vezes, solto os cabelos, agora mais curtos e claros, e sigo para a sala de reuniões.
— Bom dia… — cumprimento assim que entro na sala.
***
Na hora do almoço, chamei Samantha para me acompanhar até um restaurante próximo.
Samantha fez questão de almoçar rápido, apesar de eu lhe dizer que não precisava de pressa. Assim que terminou, voltou para o escritório.
Fico mais algum tempo no restaurante.
Ao voltar para, encontro Samantha ao telefone.
Entro em minha sala e sento-me na cadeira.
Começo a folhear alguns papéis sobre a mesa, quando sinto uma presença.
Levanto um pouco a vista e vejo uma silhueta sentada no sofá de visitas bem na minha frente.
Seu sapato prato bem engraxado, seu terno branco bem passado e seu cabelo bem penteado eram traços que jamais esqueceria.
Sinto meu coração disparar quando seus olhos encontram os meus.
— Lawrence? — levanto lentamente de minha cadeira.
Ele sorria para mim.
— A senhora me chamou? — Samantha aparece na porta.
— Eu… — olho rapidamente para ela. Rápido o bastante para Lawrence sumir de minha vista.
— Tudo bem?
Fico alguns segundos observando o sofá.
— Preciso respirar — pego meu celular e saio rapidamente da sala.
Pego o elevador para o térreo.
Saio do prédio sem olhar para trás. Sigo para uma cafeteria e sento-me em uma das cadeiras.
Visões com Lawrence tinham se tornado comum. Por mais que eu tentasse, não conseguia tirá-lo de minha mente. Desde o momento em que ele falara sobre um suposto filho, minha vida mudou completamente. Estava errada quando pensei que matando ele, tudo se resolveria.
— Savana — o rapaz se aproxima e fica em pé ao meu lado — posso sentar?