Você queimou o espaçamento do tempo de um para sempre quebrado, e agora meu lugar, será eternamente ao lado. Thor Telles
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Escalei minhas montanhas com as próprias mãos sem nenhum material de segurança, dessa vez a diferença é que a altura elevada já não atinge o intelecto, se vier à queda cairei de bom grado. Chega uma fase que de tanto apanhar, você se acostuma com a dor. E isso não é de todo r**m. Por que dai nascerá à força. Alguém o qual nunca se partiu e colheu seus próprios cacos é despreparado para este mundo, onde sonhos são vislumbres distantes demais para se tocar com a ponta dos dedos.
Dentro da sua cabeça, seu interior inteiro vai pedir trégua. O conforto de estar feliz é aceitável, lutar para ter esse sentimento estabilizado é um caminho que poucas pessoas percorrem. Eu o escolhi.
Enfrentei meu escuro particular. Descobri a força na fraqueza, porque nem sempre a montanha estará perto, ou talvez eu nunca chegue até ela caindo muito próxima do fim. Mas se por um acaso conseguir chegar, do topo a visão será suprema. Valerá o esforço.
Estou tão perto e ainda tão distante, você nunca perceberá tudo o que mudei por nós dois. Nunca conheceria de verdade quem eu sou, se continuasse a me esconder atrás da sua força. Sob a sua p******o quis fazer morada, entretanto teto caiu sobre meus pés, e molhei com meu perigo sua vida; são injustos os quilômetros nos separando, fujo somente para te encontrar de verdade, sei o quanto estará assustado, dizendo que desperdicei minha vida e o seu coração, amantes se machucam, se ferem e se amam o tempo todo.
Você precisa saber que não vou te rasgar quando tudo acabar, no fim estará comigo. Se não acontecer, ainda assim meu amor estará vivo.
– Eu tive um milhão de motivos para desistir doutora.
– O amor por ele falou mais alto, não é mesmo? – Na décima quinta seção com a melhor psicóloga de Sitori, situada a quinhentos e trinta quilômetros longe de Longine, já posso entender muito da anarquia nauseante à qual fui. Rumar minha vida, usufruir do verdadeiro eu, guardado bem no fundo da alma, foi isso a resposta que somente aqui pude achar, estarei levando comigo para todos os lugares quais pisarei.
– De um jeito que nem mesmo o anjo me fez sentir!
– Muito bem acho que já perdeu o porte de menina amedrontada e confusa de quando nos encontramos a primeira vez. Hoje na minha frente tem uma mulher apaixonada e disposta a enfrentar tudo pra impor seus desejos seus sonhos. Dona das suas próprias decisões e não menos importante, de suas vontades! Sem se deixar influenciar pela mãe. Essa a qual você prometeu trazer para que eu possa fazer uma análise, por tudo que me contou Layla o caso dela é grave.
Precisei respirar fundo e engolir o gosto amargo. Toda vida pensei que eu não me encaixava nos padrões da sociedade, que o m*l estava em mim e o escuro também. E no fundo foi tudo implantado pela minha própria mãe. Descobrir a minha personalidade revelaria tudo sobre quem gostaria de ser, quem vou me tornar e quem sou. É um misto quente de escolhas. Só basta degustar.
– Obrigada... Vou trazer nem que seja amarrada. Imaginei que sem Thor e Rafael jamais sobreviveria. Longine é um ringue, à pancadaria corre por todo lado, é bom saber que não vou precisar mais de um super herói.
– Você é o seu próprio centro do universo, ao redor dele existem várias construções, cada uma dela em sua devida rua sem bagunça, sem desespero, combinado?
– Combinado! Obrigada por tudo que fez por mim nesse meio tempo, darei algum jeito de vir pelo menos uma vez por semana.
– É necessário que venha, ou eu vou até você. Estamos indo muito bem até aqui Layla, estou orgulhosa de fazer parte da sua evolução. Estarei sempre aqui...
–Algum conselho doutora?
– Lembre-se de quem você é. E não do que as circunstâncias te pediram pra se tornar.
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Dois meses se passaram, foi o tempo necessário que precisei para espairecer, ou melhor, tratar os meus problemas psicológicos. Fiquei totalmente desligada de tudo e todos, sem internet, sem televisão, sem celular.
Ninguém sabia o paradeiro de Layla Gianini, e eu não tinha noticias de nenhuma pessoa. A saudade ardia aqui dentro, mas havia demônios que precisavam ser mortos, somente eu mesmo poderia fazer com que acontecesse.
Quando pedi para Rafael um carro emprestado, que cuidasse de Luana, o loiro enlouqueceu. Supôs que toda minha sanidade tinha escorrido pelo ralo, discutiu e falou um milhão de abobrinhas até perceber que nem mesmo seu discurso composto por menos palavrões do que esperado me manteriam naquele lugar.
E cá estou eu, com minha barriga de tamanho estupendo, seis meses foi tempo suficiente para que ela ficasse exposta e bem espertinha. Iniciei o pré-natal com a ginecologista indicada por Adriana, fiz a ultrassom, mas não quis saber o s**o do bebê, nem nada assim! Isso seria apenas quando o pai estivesse ao meu lado. O que posso dizer é que essa ou essa pimentinha mexe muito e o tempo todo.
Estaciono o carro na velha cabana dos Austin's, está ainda mais encantadora e florida do que recordava. A tinta agora azul cor de céu pintava toda sua fachada, o telhado também estava pintado de branca, gramado bem aparado, novas plantações formavam uma aquarela intrigante de flores. O cheiro de bolo sendo assado cinge meu olfato ainda no primeiro degrau da pequena escadinha de madeira, m*l toquei as mãos na porta à linda senhora já estava ali.
– Ah minha menina, quase morri de saudade. – Nesse momento estaria sendo enlaçada, mas minha barriga se tornou o centro das atenções, agora o pequeno ser escondido lá dentro recebe beijinhos. – Oi meu amor, sou eu a vovó. – Após a conversa com meu filho, recebo o tão esperado abraço caloroso.
– Também senti sua falta titia.
– Vem menina vamos entrar.
Um ato de titia me incomodou, quando já estava dentro da casa, ela permanece do lado de fora esticando o pescoço, como se preocupada procurasse por algo, ou alguém.
– Como estão as coisas por aqui? – Me sento no confortável sofá, a casa tem cheiro de lavanda, e gosto de como ela já deu sua decoração tão única ao lugar. Flores colhidas do próprio jardim estão presentes sob a mesa de centro dentro de um jarro transparente com água.
–Muita coisa mudou. – Luana senta ao meu lado no sofá, segurando minha mão. – Mas primeiro quero saber o que esta diferente dentro de você? Sua aura nem parece a da minha menina.
– Sim titia, posso dizer que cresci... Talvez não seja mais sua menina.
– E isso pode não ser bom. – Torce os lábios num fino sorriso.
– Fiz o que tinha que ser feito.
– Tudo bem, entendo, você precisa saber que... – A porta se abre. E um menino muito bonito passa por ela, a me ver as sacolas que carregava em seus braços caem no chão, fazendo o barulho de vidro se quebrando, seus olhos esbugalham revelando fisicamente sua surpresa.
– Doce.
– Anjo.
Levanto para abraça-lo e então me dou conta, a barriga já não é mais disfarçável pela roupa, esticou tão rápido. E seus olhos espantados parecem que vão sair do rosto. Sua pele fica transparente dado à palidez.
Preparei um milhão de maneiras de contar a ele. Nenhuma foi assim.
– Você está... Está?
Engole a seco com dificuldade apontando o dedo para o grande montinho.
– Grávida.
–Esse filho é...
Novamente noto sua dificuldade de engolir. Algo pende na sua garganta. O anjo está diferente fisicamente um bocado mais magro, cabelos curtos no estilo militar, olheiras fundas e o brilho confuso no belo par de olhos verdes.
–Meu? – Conclui a frase interrogativa.
Faço que sim com a cabeça, e aguardo sua reação. Qualquer coisa, como gritar, xingar. Ou enlouquecer por não ter contado antes. Confesso que tinha um discurso preparado para me defender e falar sobre toda atribulação a qual passei nos últimos meses. Porém o homem fica petrificado na porta, nem mesmo o gesto de sua respiração move seu corpo.
– Jesus Rafael você parece doente, vou buscar um copo de água pra você...
– Pode deixar Layla eu busco – Luana usa a desculpa para escapulir da cena.
O homem passa por mim sem dizer nada, senta-se no sofá. Curva o corpo sobre os joelhos, e segura o rosto com ambas as mãos, vermelho como se fosse explodir. Quando ergue pra mim as esmeraldas sinto um frisson percorrer. E tremo. Brigar com Rafael no meu primeiro dia de volta a Longine não seria uma escolha, se é que eu pudesse fazê-las.
– Há quanto tempo você sabe?
– Tempo suficiente.
– Por que não me contou Layla?
– Tentei. Mas nunca tivemos oportunidade para isso, então... Depois de tudo que aconteceu, só precisei de um tempo.
– Sua fuga foi para esconder meu filho? – Eleva o seu tom.
– Se o mundo girasse em torno de você eu faria. Mas isso foi sobre mim, sobre me encontrar. Respirar calmamente longe de toda essa loucura, a sua vida é difícil, sinto muito, no entanto a minha também é. Poderia discursar, e pensando bem seria jogar palavras ao vento, por que você acompanhou tudo Rafael e sabe exatamente os motivos pelo qual não te contei antes. – O nervoso emana em minha voz. – Estou aqui agora não estou?
– Sinto muito Lay, eu não devia... Caramba! Vou ter um filho? – Levanta. E caminha até mim.
– Tecnicamente dois.
– São gêmeos também?
– Rafa o que aconteceu com seus neurônios nesse meio tempo? Estou falando do bebê de Karen. E por que também?
– Karen não estava grávida Lay. E o também eu explico depois.
De joelhos na minha frente e sem permissão ergue o vestido até o b***o, esticando o tecido para que eu possa segurar. Iria começar a reclamar de sua audácia ao entender o seu gesto sem e******o algum. O menino beija a barriga em sua frente e encosta o rosto abraçando-a.
Sinceramente esperei outra reação dele, mais essa parece bem descomplicada. E por mais que tente guardar meus sentimentos, e controlar meus hormônios, meu coração está todo aquecido, como se pudesse ter acendido uma lareira.
– Sou eu filho, o papai! – Uma lágrima escorre dos seus olhos molhando a minha pele. E respiro fundo, para controlar o soluço mudo.
O mundo de repente ficou pequeno demais e o espaço sucumbiu bem diante dos meus pés. Uma alegria gigantesca invade todo meu ser. Levo meus dedos entre os fios loiros e acaricio.
– O papai está aqui, o papai está aqui – um soluço escapa do seu choro emocionado – o papai estará sempre aqui para você...
As suas promessas para ele começaram ali, no ventre.
– Esse papai é um babão meu amor, mas a mamãe emprestará uma fraldinha sua nessas ocasiões.
– Esse foi o melhor presente que você me deu. – Diz sem nem se quer erguer os olhos para mim, continua abraçado ao filho simbolicamente.
– De nada. – Foi tudo que disse, mas queria te dizer tantas outras coisas anjos, apenas não cabiam naquela hora. O tempo foi corrompido como você sempre fazia comigo, só que agora, era seu e do nosso filho. Apenas emprestei uma parte do meu corpo para você adorar, conversar e beijar naquelas longas horas...
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Jantávamos nós quatro. Luana, Rafael, eu e o meu pequeno.
– Dizem que grávidas comem por dois, realmente é verdade Layla, parabéns viu.
– Não seja desagradável menino. – Titia defende.
– Ele esta doido pra ganhar uns tapas, só não sabe como... – Rimos.
– Tem sobremesa? – Pergunto ao retirar os pratos da mesa e me dirigir a pia na intenção de lavar a louça.
– Tem bolo de chocolate, fiz uma fornada por que Rafael queria.
– Você não está o mimando titia, está? Vai deixar m*l acostumado, vou logo avisando que é um folgado.
Ele se posiciona ao meu lado jogando água nas louças ensaboadas por mim. Meu peito infla de um orgulho. Esse prazo longe todo nos fez crescer o que tanto tempo juntos não conseguiu. Servíamos de apoio emocional um pelo o outro e hoje sei o quanto isso nos fez m*l. Duas metades quebradas nunca se encaixariam.
– Olha como fala comigo doce, meu filho vai te chutar por maltratar o papai.
E o bebê o faz, dito e feito como se pudesse ouvir sua voz.
– Caramba, ele está chutando mesmo.
Titia e Rafael colocam a mão sobre a barriga, e assim que o fazem, ele para. Caio numa gargalhada.
– Esse menino ou menina, é mesmo seu filho Rafael, espero que não dê tanto trabalho.
– Mexe de novo neném, por favor.
– Mexe para vovó. – Eles insistem, mas o bebê não o faz.
– Não adianta, ele não é corrompido tão facilmente. Pronto, terminamos, agora preciso comer esse bolo e correr para casa de Thor.
Luana e Rafael se entre olham como se guardassem entre si algo, muito desagradável.
– O que aconteceu? Podem ir me contando. – Relembro sem querer de Thor e Julia flagrados juntos no programa de fofocas.
– Querida talvez você não encontre o mesmo Thor que você deixou... O homem ficou...
– Destruído – Rafael continua – isso que você fez não se faz com um namorado. Se fosse eu ainda não sei como seria. Mas com certeza faria pior.
– O que o Thor fez?
– Na verdade, ele não fez! A vida dos Telles está bem, diferente.
Uma angustia me toma por completo e até a vontade de comer o bolo se vai. Corro para chave do carro o mais rápido que posso.
– Titia, não sei se voltarei essa noite.
– Rafael vai com ela.
– Não!
– Você não pode sair sozinha, as coisas mudaram Lay. – Sua voz é dura, e usa esse tom somente quando tem a razão.
– Preciso vê-lo.
– Venha, vou te levar para ele.
Amargo foi o som do tintilar de seu coração. Mas ansiosa como estava Rafa, naquele momento eu só me preocupei com o meu. Egoísta ou não, pela primeira vez eu realmente te deixaria pra depois.
Luana beija minha testa e sorri ao fechar a porta do novo carro de Rafael assim que acabo de me sentar no banco de couro, o loiro da partida. O camaro n***o parece bem atraente como todas às luzes colorida no painel extenso, quando recuperar o meu grandão vou pedir para dirigi-lo, mas agora tudo o que quero e preciso é chegar o quanto antes nos braços do meu príncipe e mostrar ele, o quanto mudei. E dessa vez foi pra melhor, ao menos foi o que imaginei.
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