Xavier estava sentado diante de um monte de documentos. Uma ruga se formava no meio da sua testa enquanto analisava as informações à sua frente. Ele havia feito uma pesquisa intensa sobre os homens que estavam presos sob a sua custódia. O que eles haviam falado era a verdade; mesmo aprofundando as buscas, nada mais foi encontrado.
— Conheço essa cara. O que houve? — perguntou Charles, entrando no seu escritório.
— Fiz mais buscas sobre aqueles dois, e, ao que parece, a história deles é verdadeira. Também pesquisei sobre a irmã deles e encontrei pouca coisa sobre ela — respondeu, pensativo.
— O que descobriu?
— Coisas básicas. Ela é uma boa aluna, aparentemente não dá nenhum trabalho e estava participando de um curso de extensão quando desapareceu. — Para Xavier, aquelas informações eram inúteis. Ele precisava de mais detalhes sobre o que havia acontecido; só aquilo não preenchia as lacunas que se formaram na história.
— Que curso de extensão? — perguntou Charles.
— Ela fazia extensão em linguagens, estava aprendendo francês junto com outros alunos — respondeu.
— E os outros alunos que estavam com ela? Conseguiu alguma informação? — Charles era especialista em encontrar pessoas, e a sua empresa ganhava uma pequena fortuna fazendo isso. Coisas que para outros poderiam não significar nada, para ele eram pistas viáveis.
— Já os interrogamos. Eles não tinham nada contra ela; na verdade, gostavam bastante dela — disse Xavier, frustrado.
— E quem era o professor que estava trabalhando com eles?
— O nome dele era Nilton Gomes. Ele é alguém muito importante no meio acadêmico, já ganhou vários prêmios, e a sua agenda é sempre bem apertada. — Aquilo chamou a atenção de Charles, o que, pela forma como Xavier falava, parecia não ter chamado a atenção dele.
— Está aí a sua pista — respondeu Charles, sorrindo.
— Como assim? — perguntou Xavier.
— Se todas as outras pessoas falharam, comece novamente por ele, Xavier. Talvez ele seja a chave para sua busca.
— Eu não tinha pensado nisso ainda — disse Xavier, já abrindo o computador e começando uma pesquisa.
— Pesquise se houve mais algum ataque em lugares onde ele esteve. Se ele não for nosso homem, pode ser que alguém esteja seguindo ele. — Aquilo fazia sentido, e Xavier se recriminava por não ter pensado nisso antes.
— Obrigado pela dica, ainda não tinha pensado sobre isso — respondeu enquanto mexia no computador.
— Não por isso, sou acostumado a reparar nessas coisas — respondeu, dando de ombros.
A empresa de Charles crescia a cada dia mais. Ele tinha boas pessoas trabalhando para ele, antigos colegas de trabalho que ainda gostavam de estar na ativa. A ideia dele havia surgido em boa hora. Agora, a cada dia que passava, os pedidos por seus serviços se acumulavam na sua mesa e, apesar do valor cobrado, ele ainda era o mais requisitado naquele ramo.
— O que vai fazer com aqueles dois? — perguntou Charles.
— Vou liberá-los e mandá-los para o acampamento — respondeu.
— O acampamento? — perguntou, surpreso. Aquele era o lugar onde Xavier treinava os seus soldados, então ele não imaginava que o amigo fosse mandar os dois homens para lá.
— Sim. Preciso de pessoas de olho neles, e lá é perfeito. Eles estarão cercados pelos nossos. É impossível aprontarem alguma coisa. — O raciocínio de Xavier surpreendeu Charles, mas aquilo era algo pequeno; o seu amigo era brilhante em tudo o que fazia.
— Então você realmente vai usá-los? — Charles já sabia a resposta, mas queria ouvi-la mesmo assim.
— Vou. Eles já sabem demais. Não posso correr o risco de informações importantes vazarem, então vou fazer uma pequena troca — disse ele, virando-se para Charles com um sorriso no rosto.
— Posso imaginar o que seria — respondeu Charles com um sorriso de canto.
— Vou trocar o nosso serviço pela vida deles — disse com tranquilidade. Charles riu ao perceber a perspicácia do amigo.
— Não acha que é muito? — Pergunta com a sobrancelha arqueada.
— Não. Eles sabiam que o serviço tinha um preço. Não é problema meu se nunca perguntaram quanto — respondeu. — Vou encontrar a irmã deles. Se ela estará viva, é outra história. Farei justiça por eles e, em troca, eles vão trabalhar para mim.
— É uma troca justa. Eles jamais conseguiriam pagar por esse tipo de serviço.
— Exatamente. Se não fosse pela minha interferência, nem vivos estariam — disse Xavier. Ricardo estava pronto para dar fim aos dois quando Xavier interferiu. Mas ele nunca fazia algo sem um bom motivo, e em breve os dois homens perceberiam isso, mais especificamente quando chegassem ao acampamento.
— O Ricardo já sabe disso? — Por mais que Xavier não fosse mais um funcionário de Ricardo, ele respeitava o antigo chefe e agora cunhado, e jamais faria algo sem que ele soubesse. Era uma questão de respeito.
— Sim, ele sabe — respondeu.
— Talvez não seja tão r**m assim tê-los ao seu lado. Com um bom treinamento, eles podem ser uma mão na roda. — Se tinha algo que a Fênix não fazia, era dispensar mão de obra competente. E o que os dois haviam feito merecia atenção; havia poucas pessoas que ousavam roubar de Ricardo.
— Pensei nisso. Mas, antes, eles vão passar pelo processo. Preciso ter certeza da lealdade deles antes que possam trabalhar para mim. — No ramo deles, todo cuidado era pouco.
— Faz bem — disse Charles, levantando-se. — Vou indo. Qualquer coisa, me avise.
— Pode deixar — respondeu Xavier, voltando a sua atenção para o computador.
Agora, Xavier tinha uma missão e não descansaria enquanto não a executasse. Com as novas observações de Charles, ele lançou-se na busca por mais informações sobre o desaparecimento da jovem. Para ele, aquilo era pessoal. Alguém havia cometido um crime no seu território e pagaria por isso. Estava na hora dê o assassino saber quem era Don Xavier.