Capítulo 70

1015 Words
Aquelas palavras de Yuri acenderam um alerta na mente de Ricardo. Não era preciso ser um gênio para perceber que algo estava errado em tudo aquilo. Havia muitas lacunas que não estavam sendo preenchidas, o que incomodava terrivelmente Ricardo. — Desculpe a demora, estava tentando fazer a Mel comer algo — diz Xavier, entrando na sala. No meio dos amigos, ele não se preocupava em esconder quem era, e todos ali sabiam o quanto ele era apaixonado pela irmã de Ricardo. — Ela está melhor, Xavier? — pergunta Ricardo. — Sim, chefe. Está com Sofia agora — responde, sentando-se ao lado dos outros. — O que sabemos? Ricardo rapidamente faz um resumo do que haviam discutido até aquele momento. Ele podia ver a ruga na testa de Xavier se aprofundando à medida que analisava a história. — Espere, você disse que Sofia foi encontrada com um professor? — pergunta. — Sim. — Você lembra o nome dele? — questiona novamente. — Sim, é Nilton Gomes, mas, como disse, ele tem outro nome além desse — respondeu Ricardo, observando o choque no rosto de Xavier. Ele finalmente havia encontrado a conexão que faltava, e Charles estava certo: o professor era a chave para aquele mistério. — O que foi? — pergunta Hideo, ao perceber a expressão de Xavier mudar. — Lembra dos caras que roubaram aquela carga? — pergunta Xavier. — Sim, os que estão com você — responde Ricardo. — Isso. Estávamos investigando o sumiço da irmã deles e, na época em que ela desapareceu, ela estava tendo aula com esse professor — os olhos de todos se arregalam diante daquela informação. — Não... Será que ele está envolvido nisso? — pergunta Hideo. — Eu não duvidaria. Vi a forma como aquele canalha olhava para ela — diz Yuri, irritado. — E tem o fato de que nenhuma organização sabe de nada. Para isso acontecer, só se a pessoa que fez isso não tivesse ligação alguma com elas — observa Hideo. Ricardo praguejou ao pensar que poderiam ter deixado escapar o responsável por machucar Sofia. Todos estavam apreensivos, e mil coisas passavam por suas cabeças. — Nós o investigamos, Ricardo. Odeio esse cara, mas, fora o fato de ter dois nomes com o mesmo sobrenome, não há nada de estranho nele — diz Yuri. — Isso é verdade. Depois do que aconteceu, eu verifiquei o local onde ele mora. Está tudo limpo, não há nada de errado com ele — acrescenta Hideo. — Não. Ele está apenas se escondendo bem. Precisamos investigar isso melhor — afirma Xavier. — Estamos de olho nele. Já o grampeamos. Se ele fizer algo suspeito, saberemos — garante Hideo. — Aí é que está. Ele não vai fazer nada agora que sabe que estamos observando — responde Ricardo, massageando os olhos. Já sentia uma dor de cabeça se aproximando. — Vamos intensificar a verificação. Vamos ter que cavar mais fundo. — Sei quem pode nos ajudar com isso — diz Xavier. — Quem? — Os dois homens daquele dia. Eles estão loucos para saber o que aconteceu com a irmã deles. Podemos usá-los para verificar lugares e falar com pessoas que conhecem o professor. Ninguém sabe que eles têm envolvimento conosco, será perfeito — sugere Xavier, satisfeito. — Isso é uma boa ideia, mas tem certeza de que vão colaborar? — questiona Ricardo. — Vão. Eles querem respostas sobre a irmã, e, se souberem que investigando o professor conseguirão essas respostas, farão isso sem problemas — assegura Xavier. Por sorte, ele havia mandado os dois homens para o acampamento, então sabia que não estariam tão indefesos. Eles já tinham uma base de como se cuidar. — Tudo bem, Xavier. Por mais arriscado que seja, vou confiar em você. Pode liberá-los para essa missão — decide Ricardo. — Vou cuidar de tudo, chefe. Você não terá nenhum problema — garante Xavier, saindo da sala com o celular na mão. — Acho curioso isso — diz Hideo, com um sorriso de canto. — O quê? — pergunta Ricardo. — Ele é um Don, mas ainda o chama de chefe — observa Hideo, com uma expressão serena. Ele não estava criticando Xavier com aquelas palavras, apenas admirava o fato de que, apesar do poder, Xavier não havia mudado. Pelo menos, era o que todos diziam. — Vai por mim, já tentei fazer ele parar de me chamar de chefe, mas Xavier leva a lealdade a outro nível — responde Ricardo. — Isso é porque ele te respeita e é grato por tudo o que tem. Jamais mudará esse lado dele — completa Yuri. — Eu sei. E, no fundo, não quero que ele mude. Xavier é um bom amigo e é da família — diz Ricardo, fazendo uma careta. Hideo ri ao ver os olhos chateados dele. Parecia que esse era um lado de Ricardo que jamais mudaria. — Se quiser ir, Ricardo, eu cuidarei de Sofia — oferece Yuri. — Não sei. Preciso conversar com ela primeiro, Yuri. Ter absoluta certeza de que ficará bem — responde ele, suspirando, com os olhos perdidos em memórias de tudo o que havia acontecido. — Já escolheu o padrinho? — pergunta Hideo. Ricardo se vira, encarando-o com um sorriso de canto. — Vai me dizer que entrou na onda dos outros com essa história de concorrer a padrinho? — questiona Ricardo, com a sobrancelha arqueada. — Achei que seria interessante — responde ele, passando a mão pelos cabelos. — Você sabe que tem alguém que vai jogar sujo desta vez — comenta Yuri, com um sorriso. — Aurélio? — pergunta Hideo. — Ele mesmo — confirma Yuri. — Vamos ver quem leva essa. Não é possível que Aurélio continue jogando sujo — diz Hideo. — Você acha? Ele deu um jato de presente para as crianças da última vez. Quero saber até onde vai a criatividade dele — provoca Yuri. — Se ele quer guerra, guerra ele terá — diz Hideo, sem se deixar abalar. Ricardo, do seu canto, observava a conversa com um olhar divertido. Ao que parecia, a competição para padrinho havia começado.
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