Capítulo 42

1000 Words
Após a surpresa do seu Dom, Dimitri entra no seu carro e se dirige à pequena casa onde Flora morava com a sua filha. Ao se lembrar que era ali que seu falecido marido morava, sentiu a raiva dominar seu corpo. Não via a hora de tirá-la daquele lugar; não queria nada que lembrasse a existência do canalha que a havia machucado. O bairro onde ela morava ficava mais afastado de onde os membros mais importantes da máfia moravam. Era um bairro apenas de funcionários, e as casas eram vendidas a um preço baixo aos soldados e as suas famílias. Aquela manhã estava fria, e ele já sentia o inverno se aproximando. Contudo, era um dia bonito, nublado, com uma leve garoa que caía molhando as plantas. No momento em que sai do carro, Dimitri se prepara para enfrentar a mulher que em breve seria sua esposa. Ele não sabia como ela reagiria à sua presença, considerando o que havia passado com o seu falecido marido, mas faria o que estivesse ao seu alcance para mostrar a ela que ele não era quem ela imaginava. Ele caminha até a porta e bate, afastando-se um pouco. Alguns segundos se passam até que a porta se abre lentamente. Os olhos de Dimitri fixam-se na expressão chocada da mulher à sua frente. Quando ele olha para baixo, encontra os olhos da pequena o observando atentamente, enquanto ela se agarrava mais à perna da mãe. Aquilo faz o peito de Dimitri doer ao se perguntar o que aquela pequena já havia presenciado. — Bom dia, Flora — diz ele, chamando a sua atenção. — B-bom dia, senhor — responde ela, desviando o olhar do de Dimitri, algo que o incomoda profundamente. — Olhe para mim — diz de forma mais firme, mas se arrepende imediatamente ao vê-la tremer, agarrada à porta. Lentamente, Flora ergue os olhos para encará-lo. Dimitri podia ver que os seus olhos ainda carregavam muita dor, e a sua raiva apenas se acende. — O médico já a examinou? — pergunta. — Sim, senhor — responde ela em voz baixa. — Me chame de Dimitri, Flora. Vou ser seu marido no final de semana — diz ele, vendo os olhos dela se encherem de medo. Dimitri tenta esconder o quanto aquilo o incomodava, mas sabia que precisaria ter paciência com ela. Aquele tipo de trauma levava tempo para ser superado. — Senhor... — Flora... — Oi — diz a pequena, sorrindo para Dimitri, que relaxa ao olhar para aqueles olhinhos curiosos. Ele se abaixa e estende a mão para ela. — Olá, pequena, como vai? — pergunta, sorrindo para ela. Um tanto relutante, a menina pega na mão de Dimitri. — Bem — responde ela, então passa as suas mãozinhas pelo casaco de Dimitri, alisando os pequenos pelos que havia na gola. — É bonito. — O que acha de ganhar um igual? — pergunta ele, vendo o brilho surgir nos olhos da pequena. — Mamãe, eu posso! — diz, puxando a roupa da mãe e sorrindo. — Olha, querida... — Posso entrar, Flora? Precisamos conversar — diz Dimitri, levantando-se e olhando fixamente para ela. Sabia que ela iria recusar o presente à menina, e precisava deixar claro que não permitiria que as duas passassem necessidades. Um tanto relutante, Flora abre a porta. Ela não esperava a visita de Dimitri um dia após o pedido do seu Dom, mas não havia nada que pudesse fazer sobre aquilo. Quando o Dom dava uma ordem, ela tinha que ser cumprida, independentemente da vontade da pessoa. Assim que Dimitri entra, observa a situação da casa: havia apenas um sofá na sala com uma televisão sobre uma cadeira. Os móveis eram quase inexistentes, e ao olhar para Flora e a pequena, ele percebe que as roupas que usavam também não eram das melhores — estavam puídas e gastas pelo uso. — Sente-se — diz ela, recolhendo um brinquedo da sua filha do sofá. Assim que Dimitri se senta, ela pega uma cadeira e senta-se à sua frente, usando todas as suas forças para não fugir da sua presença. — Vim hoje para que você escolha seu anel de noivado e casamento. Não é porque não teremos um noivado que deixarei de dar um anel a você — diz ele, surpreendendo-a. — Olha, senhor... — Dimitri, Flora. Me chame apenas de Dimitri — insiste ele. Sentia-se incomodado quando ela o chamava de "senhor", pois era como se estivesse se referindo a qualquer pessoa. Ele se sentia um estranho. — Dimitri — diz ela, um tanto relutante. — Não acho que eu seja a pessoa certa para você. Não tenho bens, nem influência, e ainda tenho uma filha para criar. Não quero prendê-lo a nós e aos nossos problemas. Dimitri sabia o que ela estava tentando fazer, e era até engraçado vê-la tentar convencê-lo a desistir. Mas ele já havia feito a sua escolha e não desistiria dela. Ele a queria. — Deixe-me dizer algo — responde ele com voz firme. — Eu escolhi você. Sei tudo sobre a sua vida e a forma como aquele desgraçado as tratava. Não sou ele, Flora, e sei do compromisso que estou assumindo, não só com você, mas com a pequena também. Vocês estarão sob a minha proteção, e farei de tudo para cuidar de vocês. — Mas... — Não tem "mas". Você é minha — os olhos de Flora se arregalam com as palavras de Dimitri, e ela engole em seco ao ver a sombra que cobre os seus olhos. — A partir de hoje, cuidarei de todas as suas necessidades. Não quero que você leve deste lugar nada, nem mesmo as suas roupas. Fui claro? — Sim, mas... — Hoje vamos ao shopping. Compraremos tudo novo para vocês duas. A minha família não vai andar como mendigos. — Aquelas palavras deixam Flora chocada. No fundo, ela queria acreditar nas palavras de Dimitri, mas algo na sua mente sempre a levava ao mesmo lugar escuro onde costumava se refugiar.
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