Capítulo 60

1000 Words
Aquele era o último dia de Sofia na universidade. O seu tempo lá tinha sido bom, e ela sentiria falta das amizades que tinha feito. A sua visão sobre a educação havia mudado, e agora ela percebia bem a burocracia que envolvia aquele trabalho. Por mais que tivesse gostado de lecionar, não era algo que faria no futuro. Ela tinha acordado e não encontrou Yuri em casa. Ele havia deixado apenas um recado com Nora, avisando que tinha um trabalho para resolver. Sofia sabia bem que tipo de trabalho era, mas, como as outras mulheres da máfia, preferia não se envolver naquele mundo sombrio que as organizações criminosas frequentavam, o que incluía, é claro, seu noivo. Na hora do almoço, Sofia recebeu uma mensagem de Yuri informando que eles tinham um casamento para ir. Ela sorriu ao ver o nome de Dimitri brilhar na tela. — Vejo que alguém está feliz — disse o professor Nilton, sentando-se no sofá ao lado dela com um sorriso no rosto. — Um amigo vai se casar — respondeu ela, sorrindo. — Isso é algo bom, mas, ao que parece, ele não será o único — disse ele, apontando para o anel no dedo dela. Sofia olhou o anel e sorriu. Gostava de Yuri, e a cada dia ele a cativava mais. — Sim, naquele dia não pude apresentá-los. O nome dele é Yuri. Ele é muito gentil — comentou. Nilton observava o sorriso de Sofia ao falar do noivo, sentindo uma pontada no coração. Ele podia ver que ela tinha sentimentos por Yuri. — E possessivo, ao que parece — disse com um bufo. — Um pouco, mas na minha família a maioria dos homens é assim. Eles gostam de proteger quem amam — respondeu Sofia. Ela não sabia o motivo, mas não gostou daquele comentário do professor. Yuri podia ser possessivo e até mesmo exagerado às vezes, mas era seu noivo e em breve seria seu marido. Não aceitaria que ninguém falasse m*l dele. — Então as mulheres da sua família devem viver presas — disse ele com um sorriso que não agradou Sofia. Os seus olhos se escureceram, e a sua boca se fechou numa linha rígida, um sinal claro da sua irritação com aquele comentário. — Não, professor. Pelo contrário, as mulheres da minha família são livres, estudam, trabalham e levam a suas vidas como desejam. A diferença é que existem homens de verdade ao lado delas para protegê-las do m*l que cerca o mundo — respondeu. A suas palavras trouxeram Nilton à realidade. Quando ele percebeu o olhar de Sofia, arrependeu-se na mesma hora por seu comentário infeliz. — Me desculpe, Sofia. Não tinha o direito de falar o que falei. Estou apenas tendo um dia r**m — disse, suspirando. Um pouco da tensão de Sofia diminuiu, mas não o suficiente para ter uma conversa amena com ele. — Todos temos dias ruins, professor, mas nem por isso descontamos em quem está à nossa volta — disse ela de forma serena. Os seus olhos, no entanto, denunciavam a tranquilidade que ela lutava para manter diante dele. — Tem toda razão. Mais uma vez, me perdoe, Sofia — disse ele antes de se levantar e sair. Sofia observou Nilton partir com um misto de sentimentos. Ela nunca o tinha visto tão agitado antes, e aquilo a confundia terrivelmente. O dia de Sofia se arrastou, e, depois do episódio em que o professor falou demais, ela não o viu novamente. Era sua última aula, e ela estava conversando com um dos alunos que havia ficado na sala. Ele estava em dúvida sobre uma atividade, e ela tinha ficado um pouco mais para ajudá-lo. — Senhorita, preciso atender uma ligação. Pedirei para que o Felipe fique na sala com você — disse Nolan, olhando para o aluno. — Não precisa, Nolan. Já estamos terminando — disse ela, sorrindo. — Mas o senhor… — Eu me entendo com o meu irmão depois, Nolan — disse ela, arqueando a sobrancelha. Não querendo discutir na frente de estranhos, Nolan apenas assentiu e saiu da sala. Sofia continuou explicando, animada ao perceber que o seu aluno finalmente havia entendido o conteúdo. Alguns minutos depois, ele deixou a sala, agradecendo pela ajuda. Vendo alguns livros espalhados pelas mesas, Sofia começou a recolhê-los para devolvê-los à biblioteca da faculdade. Eles sempre pegavam livros lá e, às vezes, por causa do horário, não dava tempo de os alunos fazerem a devolução. Então, ela mesma recolhia tudo e levava até lá. Quando estava recolhendo a última fileira de livros, Sofia sentiu uma mão tampar a sua boca enquanto uma faca era apontada para seu pescoço. Ela congelou no lugar, o medo tomando conta do seu corpo. — Se gritar, eu te mato — disse o homem. Sofia deixou os livros caírem e ergueu as mãos, tentando manter a calma, mas o medo dominava os seus pensamentos ao se lembrar do que tinha acontecido dias atrás com uma das suas alunas. — Você é uma coisinha difícil de conseguir, mas não impossível — disse o homem, rindo. Sofia se encolheu diante daquela risada, amaldiçoando-se por não ter aceitado o conselho de Nolan. — Vamos sair daqui em silêncio. Se disser qualquer coisa, eu corto a sua garganta. Com toda certeza, aquilo não era o que Sofia esperava do seu último dia na faculdade. O homem a obrigou a sair por uma das janelas da sala de aula que dava na escada de incêndio, um lugar onde não havia seguranças para ajudá-la. Eles começaram a descer a escada e entraram, mais abaixo, por outra janela. Sofia viu uma oportunidade de fugir do sequestrador ao passar por uma mesa e ver uma caneta. Ela pegou a caneta e a segurou com força. Quando o homem desviou da mesa, Sofia cravou a caneta na perna dele e começou a correr. A sua fuga foi curta. Antes que Sofia alcançasse a maçaneta da porta, sentiu algo atingi-la por trás, e tudo ao seu redor escureceu.
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