Flora jamais imaginou ver aquilo. Dimitri estava sendo um cavalheiro com elas, algo difícil de imaginar ao se olhar para o seu tamanho. Ela observava o colar no pescoço da sua filha com um sorriso no rosto. A pequena estava gostando daquele dia de compras, e, por mais que Flora tivesse insistido que não precisavam de tudo aquilo, Dimitri não a havia escutado.
Loja após loja, eles entravam comprando de tudo, desde roupas e calçados até vestidos de festa. Tudo o que Dimitri achava que elas poderiam precisar, ele comprava, sem deixar nada de fora. A última parada de Dimitri foi em uma loja infantil, onde, além de comprar várias coisas para Nina, ele ainda adquiriu uma cadeirinha para o carro, afinal, seria necessária agora que elas fariam parte de sua vida.
Dimitri as levou de volta para a casa onde moravam, contrariado. Se dependesse dele, elas jamais colocariam os pés naquele lugar novamente, mas ele sabia que precisava ser paciente. Em breve, estariam seguras ao seu lado. Ele descarregou todas as compras, amontoando-as na sala de Flora.
— Preciso que você pense no que quer fazer com a casa, Flora — disse ele, com sua expressão séria, olhando para ela.
— Como assim? — perguntou ela, assustada. Mesmo que aquele lugar representasse uma parte r**m da sua vida, ainda era o único lugar que Flora tinha para voltar.
— Não iremos morar aqui. É muito pequeno e apertado. Então, precisa decidir o que quer fazer com ela — explicou Dimitri. Mas aquilo ainda não a tranquilizava; conhecendo a fama dele, Flora temia que Dimitri as levasse para algum lugar onde, de preferência, não houvesse testemunhas para ver o que ele poderia fazer com elas.
— Onde vamos morar? — perguntou ela, mesmo temendo a resposta.
— Perto do Dom. Não posso me afastar muito. Você vai gostar; a casa é bem grande — as palavras dele a fizeram relaxar um pouco. Afinal, o Dom havia dito que não aceitaria que ela fosse agredida. Estando perto dele, seria mais seguro para ambas.
— Vou ter um quarto só para mim? — perguntou Nina, puxando a roupa de Dimitri e chamando a sua atenção.
— Claro, Nina. E você vai poder decorar com o que quiser — respondeu ele. Se havia algo em que Dimitri não economizaria, seria nas coisas para as duas. Nina era uma criança animada e merecia um quarto confortável para começar aquela nova fase das suas vidas.
— Dimitri, eu... — começou Flora, desviando o olhar dele. Dimitri já sabia o que ela queria perguntar, mas, na frente da criança, aquele não era o momento para a conversa.
— Eu volto amanhã, quando a pequena estiver na escola. Será melhor para conversarmos — disse ele, com os olhos fixos nos dela. Flora apenas assentiu.
Ele via nos olhos de Flora o medo que rondava o seu semblante. A forma como ela se assustava sempre que ele falava algo ou fazia um movimento brusco deixava claro que precisava esclarecer as coisas com ela. Ele a desejava na sua cama como nunca havia desejado outra mulher na sua vida, mas jamais a tomaria contra a sua vontade. Sabia que precisaria de tempo e que a conquistaria aos poucos.
Dimitri pegou uma caixa do seu terno e entregou a Flora. Ela olhou curiosa para o objeto e, ao abrir, encontrou um celular.
— Meu número e o do Dom já estão cadastrados. Se precisar de algo, basta me ligar — disse ele antes de sair.
Flora olhou para as costas de Dimitri, sem entender o que havia acontecido. Ele nem sequer esperou que ela agradecesse antes de partir. Ao olhar para tudo o que ele tinha feito por elas naquele dia, os seus sentimentos se misturavam. Ela já não sabia mais o que esperar daquele homem enorme que havia passado a maior parte do dia com elas em um shopping. Ele não reclamou em nenhum momento nem a apressou durante as compras.
Parecia que fazia anos que Flora não se sentia tão leve. O seu falecido marido havia sido um peso que ela carregou por muito tempo. O casamento tinha sido insistência do seu pai, grande amigo do pai do seu marido. Mas o que o seu pai não sabia era como ele gostava de espancá-la sempre que podia.
Flora se lembrava de que, no início, ele temia a represália de Oksana, irmã do Dom. Oksana não tolerava agressões e punia com a morte quem praticava tais atos. Mas seu falecido marido era cuidadoso, mantendo Flora em locais onde ninguém pudesse ver e a mantendo refém em casa para não levantar suspeitas.
Ela já não tinha esperanças de dias melhores. Com o tempo, ele começou a usar a própria filha para chantageá-la. O dia em que ele quebrou o braço de Nina foi porque pegou Flora escrevendo uma carta para ser entregue ao Dom pedindo ajuda. A pequena tentou intervir, ficando entre eles, e acabou se machucando. Naquele dia, Flora pensou que iria morrer, o que só não aconteceu porque alguém chegou à sua casa informando que havia trabalho a ser feito.
No dia seguinte, ao receber a notícia de que ele havia morrido, o seu peito se encheu de alívio. Flora pensava que finalmente estava livre de tudo aquilo. Mas a liberdade durou pouco; uma semana depois, ela estava ali, comprometida com o homem mais c***l e sanguinário da máfia russa.
Olhando para todas as embalagens espalhadas pela sala, Flora percebia que Dimitri havia gastado uma pequena fortuna com ela e a sua filha, o que a deixava apreensiva. Outra questão era o que fazer com a casa onde moravam. Aquele lugar só lhe trouxe dor e sofrimento ao longo dos anos, mas ela ainda não sabia se queria vendê-lo.
Flora não sabia o que esperar daquele casamento maluco em que estava metida, mas tinha uma certeza: jamais permitiria que algo acontecesse com a sua filha. Nunca mais deixaria ninguém machucar a sua pequena, nem que precisasse morrer para protegê-la.