Aurélio levantou-se num salto, limpando a boca com as costas da mão e observando Hideo com um olhar afiado, como um predador que acabava de identificar a sua presa. Hideo sorriu de canto, satisfeito por ter conseguido tirá-lo do sério. O silêncio no tatame foi quebrado por murmúrios animados dos amigos que assistiam à cena, acompanhados de provocações e gargalhadas. Todos estavam ansiosos para ver quem ganharia a aposta.
— Comecem! — disse a voz de Vito, tirando-os daquele transe.
Aurélio deu dois passos em direção a Hideo, fingindo calma, mas em um instante avançou com uma velocidade que poucos esperavam. Os seus punhos eram certeiros, mas Hideo bloqueava os golpes com movimentos ágeis, usando os antebraços como escudos. Eles trocavam golpes rápidos, as forças equivalentes transformando o embate em um espetáculo de pura adrenalina. O som dos corpos chocando-se e das respirações pesadas ecoava pelo ginásio.
— Está com muita sede ao pote, j**a — disse Aurélio, rindo. Hideo apenas o ignorou.
Aproveitando um deslize de Aurélio, Hideo conseguiu agarrá-lo pela cintura e empurrá-lo para o chão. Mas Aurélio era habilidoso demais para ficar preso. Ele usou a própria força de Hideo contra ele, girando o corpo e escapando da imobilização. Agora, ambos estavam ajoelhados no tatame, encarando-se, suados e ofegantes, mas com sorrisos desafiadores nos rostos.
— É isso que tem pra hoje, Hideo? — zombou Aurélio, sua voz carregada de sarcasmo. — Eu esperava mais de você.
Hideo não respondeu com palavras. Lançou-se novamente, seu corpo uma linha de pura determinação. O impacto foi tão forte que os dois caíram juntos, rolando no tatame. Nenhum cedia espaço ao outro, cada movimento calculado para ganhar vantagem.
Os amigos, agora em alvoroço, gritavam sugestões e provocações de fora do tatame.
— Finaliza, Aurélio! — berrou Nico, erguendo os braços como se estivesse assistindo a uma luta de campeonato.
— Cala a boca, Nico! — gritou Hideo, com um sorriso no rosto, antes de se concentrar novamente no adversário.
A disputa tornou-se ainda mais intensa. Aurélio e Hideo estavam grudados, as forças se igualando em um cabo de guerra físico e mental. Era como se o mundo tivesse parado, e tudo o que importava era aquele momento. Ninguém queria perder aquela luta. Era o momento de se resolverem, assim como Ricardo desejava. Aurélio ainda não tinha saciado a sua sede de dar uns tapas em Hideo pelas provocações constantes.
— Fala sério, Aurélio! Tá ficando fraco! — gritou Nico de longe, rindo.
— Vai se f*der, Nico! — gritou Aurélio, levantando-se rapidamente. Hideo podia ver um brilho diferente no rosto dele. Ao que parecia, ele tinha irritado o "Dom Aurélio".
Finalmente, a voz firme de Vito ecoou pelo ginásio, interrompendo seja lá o que fosse que Aurélio planejava fazer com Hideo.
— Empate! Já chega, vocês dois!
Mas nenhum dos dois cedeu. Ainda estavam agarrados, os rostos a centímetros de distância, as testas coladas e os olhares ardendo com a mesma intensidade. Havia respeito ali, mas também uma determinação teimosa. Para Hideo, era mais do que apenas uma luta: era sua forma de mostrar aos homens ali presentes que ele tinha habilidades valiosas. Sempre que estava com a Fênix, Hideo tinha esse desejo de se provar, de mostrar que poderia ser bem mais do que apenas "o j**a do grupo".
— Eu não vou ceder — murmurou Hideo, sem desviar o olhar.
— Nem eu — respondeu Aurélio, com um sorriso desafiador.
A tensão foi cortada por uma risada alta de Vito. Os dois olharam surpresos para o velho Dom.
— Tudo bem, vocês são teimosos como mulas. Mas o empate está declarado. Agora, soltem-se antes que eu jogue vocês dois na piscina!
— Acho que as suas costas não conseguem nos carregar até lá, velhote — disse Aurélio, com um sorriso de canto. Hideo ouviu aquilo e começou a rir, soltando Aurélio.
— Seu filho da mãe! — disse ele, aproximando-se com o seu canivete na mão.
Os dois finalmente relaxaram, soltando-se. Fugir de Vito era mais importante que a luta deles. Quando se afastaram, ainda havia algo não dito no ar, uma espécie de promessa silenciosa de que aquela luta não terminaria ali. Todos podiam ver que os dois estavam mais relaxados; parte da tensão havia ficado no tatame durante a luta.
Hideo passou a mão pelo cabelo molhado de suor e olhou para Aurélio, que ainda ofegava. Era um olhar de respeito pelas habilidades do seu amigo desbocado, mas que prometia uma revanche no futuro.
— Um dia vou te derrotar de verdade — disse ele, apontando o dedo para o rival.
— Vai sonhando, j**a — respondeu Aurélio, com um sorriso largo, antes de sair do tatame, seguido de aplausos e vaias dos amigos.
E ali, em meio às provocações e risadas, ficou claro que aquela rivalidade estava longe de acabar. E isso era algo que os homens da Fênix gostavam bastante.
— Fala sério, isso não tem graça — disse Nico, quando os dois se sentaram no chão à frente deles.
— Aposto que você apostou em mim, não foi, Nico? — respondeu Aurélio, rindo.
Aurélio observou o olhar de Nico e sabia que algo havia acontecido.
— O que foi? — perguntou, interessado.
— Alguém ganhou a aposta — disse Nico, fazendo os olhos de Aurélio se arregalarem.
— Quem mais apostou? — perguntou Hideo, sem entender a cara triste dos homens à sua frente.
— Todos nós apostamos, mas teve alguém que levou essa na pura sorte — disse Ricardo, sorrindo.
— Para de drama e conta logo! — disse Aurélio, curioso.
— O Max levou essa — disse Charles, rindo. — Ao que parecia, vocês dois eram tão ruins que ele não se arriscou.
A risada de Charles encheu o lugar, sendo seguida pelas dos outros. Aurélio e Hideo olharam para Max, que estava sentado de forma tranquila no banco, observando a conversa.
— Filho da mãe! — disse Aurélio, com um sorriso de canto.
— Ele é esperto, isso sim. Vai levar uma pequena fortuna da gente — disse Hideo, deixando-se cair no chão.
— Sabem o número da minha conta pessoal. Podem fazer a transferência — disse Max, sorrindo. A resposta foi o dedo do meio que Aurélio e Hideo mostraram a ele.