As palavras de Sofia trazem alívio a Ricardo. Finalmente, eles teriam algo para buscar sobre a pessoa que a tinha machucado. Havia uma promessa de dor nos olhos de Ricardo. Fosse quem fosse, a pessoa pagaria, e com juros, pelo que tinha feito.
— Diga, Sofia. Do que se lembrou? — insistiu Ricardo.
— Ele tinha uma marca na mão — respondeu ela, com olhos assustados. — Lembro-me de vê-la quando ele tapou a minha boca. Fica na mão esquerda.
Ricardo suspirou com um pouco de alívio. Finalmente, tinham algo para usar, uma pista para encontrar a pessoa que a tinha levado.
— Como era essa marca? — perguntou Hideo.
— Parecia de nascença, uma mancha escura entre o polegar e o indicador.
— Isso é bom, Sofia. Se lembrar de algo mais, nos avise — disse Ricardo, com a esperança de resolver aquilo borbulhando em sua mente.
— Ricardo? — chamou Sofia.
— Sim?
— E a Estela? — Depois que o frenesi do ocorrido havia passado, Sofia lembrou-se de que tinha um sobrinho a caminho e que seu irmão não deveria estar ali.
— Está em casa com Vito e Isabel — respondeu ele. Ricardo viu os olhos de Sofia se escurecerem com as suas palavras.
— Não o quero aqui. Volte para Estela, Ricardo. O meu sobrinho não vai nascer sem você por perto — disse ela com um olhar determinado.
— Você precisava de mim, e Estela insistiu para que eu viesse — respondeu ele.
— Eu sei que você e ela se preocupam comigo, mas Yuri está aqui e pode cuidar de mim. Você cuide dela, irmão. Ela precisa mais de você do que eu — disse ela com a voz mais suave.
— Já está me trocando por ele? — perguntou ele, emburrado.
— Jamais. Você sabe que o seu espaço no meu coração nunca será preenchido por outra pessoa. Ele é seu — respondeu ela com um pequeno sorriso.
— Quando foi que a minha irmãzinha cresceu tanto? — disse ele, puxando-a dos braços de Yuri e apertando-a contra o seu peito.
— Você é que nunca percebeu antes — respondeu ela, sorrindo.
— Vamos ouvir o médico primeiro. Se ele disser que você está bem, eu volto — disse ele, cedendo.
— Não se preocupe, Ricardo. Temos um casamento para ir hoje, e ela vai ficar bem — disse Yuri. Ricardo apenas resmungou, abraçado a Sofia.
Ricardo lembrava-se de uma época em que Sofia se afastava dele e não gostava muito de contato, mas, para ele, era tão natural chegar em casa e dar um beijo na testa de cada uma das suas irmãs que ela acabou relaxando com o tempo e percebeu que essa era a forma dele demonstrar afeto. Tê-la naquele momento, vulnerável, nos seus braços, fazia todas as tentativas de aproximação valerem a pena.
— Pelo que vejo, a minha paciente está melhor — disse o médico, entrando alguns minutos depois.
— Sim, doutor, já estou bem — respondeu ela.
— Quem vai dizer isso sou eu, Sofia — disse Ricardo.
O médico se aproximou, fez um exame rápido nela, verificou o seu prontuário médico e percebeu que tudo estava normal, sem nenhuma alteração.
— Pelo que vejo, o tombo que você teve foi apenas um susto. Os seus exames estão bons, e os seus reflexos também — disse ele, por fim.
— Então posso ir embora? — perguntou ela, animada.
— Se me prometer que vai tomar os remédios e fazer o curativo na cabeça de forma correta, eu posso liberá-la — respondeu ele, para alívio de todos.
— Temos uma viagem, doutor. Há alguma restrição? — perguntou Yuri.
— Não, Don. Desde que ela siga o que acabei de dizer e descanse como deve, ficará tudo bem — respondeu ele. Yuri respirou aliviado, com um largo sorriso se formando no rosto.
— Obrigado, doutor — disse Yuri antes que o médico se retirasse.
— Viu, irmão? Estou bem. Já pode voltar para minha cunhada — disse Sofia. Ricardo fechou a cara ao ver o sorriso de Yuri.
— Vou quebrar os seus dentes se aprontar, Yuri — disse ele, fulminando-o com o olhar.
— Qual é, Ricardo? — respondeu Yuri, frustrado. Ele ainda tinha vários hematomas no rosto do encontro com Ricardo na noite anterior e não desejava repetir a dose tão cedo.
— Vá e se divirta, irmã — disse Mel, animada.
— Mas não se divirta demais — disse Ricardo.
— Irmão! — respondeu ela, corando.
— Falo sério. Já decidi que vou adiantar o casamento de vocês — disse ele, surpreendendo a todos. — Mas precisa contar a ela nossa condição.
Ricardo olhou atentamente para Yuri e sabia que o russo ainda não tinha contado a Sofia sobre o combinado entre eles.
— Eu vou contar. Não se preocupe — respondeu Yuri.
— Ótimo. Assim que fizer isso, voltamos a conversar — disse Ricardo. — Já que não me quer aqui, Sofia, eu já vou. Lembre-se de que estou a uma ligação de distância.
— Eu sei, irmão. E obrigada. Cuide bem de Estela e do meu sobrinho — disse ela, abraçando Ricardo.
— Espero que aquele garoto resolva aparecer logo. Ele está me matando de ansiedade — respondeu ele, com um olhar frustrado.
— Ele vai. Só está esperando por você — disse Sofia.
— Cuide-se, irmã. E divirta-se — disse Ricardo, abraçando-a.
— Vou ficar bem — respondeu ela.
— Cuide-se, Sofia — disse Xavier de longe. Sofia apenas assentiu para ele. Ela sabia que havia uma regra não dita entre eles: nenhum homem tocava a mulher de outro, e, para Xavier, fazê-lo seria apenas caso a vida dela estivesse em risco.
Assim que saiu do quarto de Sofia, Ricardo não foi para a pista de pouso. Pelo contrário, ele e Xavier deixaram Mel na casa de Sofia e partiram com Hideo para a cidade. Estava na hora de deixar um recado para quem tinha tocado em Sofia, e não foi nenhuma surpresa encontrarem Yuri esperando por eles perto do primeiro alvo. Ricardo sorriu. É claro que o russo não perderia aquilo.