— Você deu uma arma de presente para ela? — perguntou Dimitri, sentando-se à frente de Yuri, o seu rosto expressando choque pelo que o seu Dom havia feito.
— Sim. Não entendo essa cara de espanto — respondeu Yuri, dando de ombros. Para ele, era apenas uma arma. Qual era o problema?
— Pelo visto, alguém não entende muito sobre a arte da conquista — retrucou Dimitri, balançando a cabeça.
— É só uma arma! — exclamou Yuri, frustrado. — Qual o problema?
— O problema, meu Dom, é que Sofia é uma dama. Não acha que está exagerando ao lhe dar uma arma? — perguntou Dimitri, arqueando a sobrancelha.
— Ao que parece, não — disse Yuri com um sorriso, virando o celular para Dimitri e mostrando a mensagem de agradecimento de Sofia.
— Ela pode estar apenas sendo educada — insistiu Dimitri, mas Yuri não estava disposto a deixar o mau humor do seu subchefe estragar o dia.
— Não vai estragar o meu dia com essa cara azeda, Dimitri — respondeu Yuri, levantando-se. — Vamos trabalhar, que é melhor. Quem sabe assim você muda esse humor.
— Eu não estou azedo! — retrucou Dimitri, fazendo bico. Yuri olhou para aquilo e não conseguiu segurar o riso, dobrando-se de tanto rir. Não entendia por que Dimitri estava tão zangado.
— Esqueceu do que temos para hoje? — perguntou Dimitri, encarando-o.
— O de sempre — respondeu Yuri dando de ombros. As vezes o seu trabalho era pura rotina o que lhe entediava bastante.
— Parece que o amor cegou você e apagou a sua memória também — disse Dimitri, irritado. Yuri fez um grande esforço para não responder, percebendo que o subchefe estava realmente chateado.
— Seja mais direto — pediu Yuri.
— Temos o enterro de um dos nossos. Ele morreu em uma ação na semana passada — respondeu Dimitri. Mas Yuri percebeu que havia algo mais. O olhar de Dimitri entregava que ele não estava contando tudo.
— O que houve? — perguntou Yuri, fixando o olhar nele. Sabia que Dimitri só falaria quando se sentisse confortável.
— Foi uma emboscada. Ele levou um tiro na cabeça — respondeu Dimitri. Yuri praguejou ao ouvir aquilo, o seu rosto escurecendo. Não precisou perguntar quem havia matado um dos seus. A resposta estava estampada no rosto de Dimitri.
— Droga, Dimitri! — exclamou Yuri, passando a mão pelos cabelos. — Ele tinha família? Alguém que dependia dele?
— Tinha. Uma mulher e uma filha pequena — respondeu Dimitri. Yuri virou-se bruscamente para ele, seus olhos sombrios. Não gostava de enigmas, e era exatamente isso que Dimitri estava lhe dando naquele momento.
— Conte tudo. Não gosto de histórias pela metade — ordenou Yuri.
Dimitri suspirou antes de continuar:
— Todos sabiam que ele espancava a esposa, Dom. Nos últimos dias, estava mais violento, a ponto de quebrar o braço da filha de cinco anos — revelou Dimitri.
Aquelas palavras acenderam a ira de Yuri. Se havia algo que ele odiava, era violência doméstica, especialmente entre os seus próprios homens. Todos sabiam como ele lidava com essas situações — ou, melhor, como Oksana costumava lidar com isso. Pensar na sua irmã só aumentava a sua raiva. Os seus homens achavam que, agora que ela não estava, poderiam fazer o que quisessem. Engano deles.
— Tem algo mais que eu não sei? — perguntou Yuri, não querendo mais surpresas.
— Sim. Como ela é jovem, terá que se casar novamente. Um dos nossos já pediu a sua mão — respondeu Dimitri, com os dentes trincados de raiva. — Mas eu a quero.
Yuri olhou atentamente para Dimitri, surpreso com as suas palavras. Nunca imaginou que o subchefe, tão reservado, se interessaria por alguém. Mas, ao ver o olhar determinado de Dimitri, percebeu que ele estava irredutível na sua escolha.
— Então vamos resolver isso de uma vez — disse Yuri, saindo pela porta.
Do lado de fora, os seus homens já o aguardavam. Vários carros estavam alinhados para o cortejo. Yuri não faria uma cena no enterro, mas sabia que o que Dimitri havia feito poderia custar-lhe a vida entre os outros. Ninguém matava alguém da família, mas Dimitri claramente perdera a paciência para lidar com aquilo de forma convencional.
O cortejo seguiu até o cemitério da máfia, onde todos que trabalhavam para a organização russa eram enterrados. Apenas pensar que um canalha seria sepultado entre bravos irritava Yuri, mas ele decidiu guardar esse sentimento para si.
Chegando ao cemitério, Yuri observou uma mulher descer de um dos carros. Ela vestia um longo vestido preto, com mangas compridas, luvas cobrindo as mãos, óculos escuros e um chapéu surrado. No colo, carregava uma menina pequena, cujo vestido também era longo. O braço esquerdo da criança estava engessado, e a visão daquele gesso fez a raiva de Yuri ferver. Queria tirar o homem do caixão só para matá-lo novamente.
Quando o padre passou por ele, Yuri segurou o seu braço.
— Do que precisa, Dom? — perguntou o padre, evitando o olhar de Dimitri.
— Quero que seja rápido. Vou marcar dez minutos no relógio e espero que não passe disso — respondeu Yuri, ríspido.
— S-sim, Dom — respondeu o padre, apressando-se até o caixão.
Durante o breve discurso, Yuri percebeu como o padre consultava o relógio a cada poucos minutos. Finalmente, ele terminou. Quando perguntou se a família queria se despedir, a mulher negou, e Yuri compreendeu bem o motivo. Não havia culpa na sua recusa.
Enquanto o caixão era lacrado e enterrado, Yuri viu a mulher se preparar para ir embora. Ele a deteve, colocando-se à sua frente.
— Qual é o seu nome? — perguntou, observando-a tremer.
— Flora, Dom — respondeu ela, a voz embargada.
— E a menina?
— Nina, Dom — respondeu, apertando a filha contra o peito.
— Na próxima semana, você se casa com Dimitri, Flora — disse Yuri.
As palavras a chocaram, e ela ergueu o rosto rapidamente, encarando-o.
— O quê? — balbuciou ela.