Fênix IV Yuri

Capítulo 23

Oksana via a apreensão nos olhos de Sofia enquanto aguardava que ela começasse a falar. Vendo a forma como seu irmão amava a mulher à sua frente, tudo o que Oksana desejava era que Sofia compreendesse a profundidade dos sentimentos de Yuri e lhe desse uma chance.

— Imagino que queira falar sobre Yuri — disse Sofia, olhando fixamente para Oksana.

Oksana admirava a coragem de Sofia. Ela não era do tipo que recuava em uma conversa, e naquele momento, Oksana podia ver a mesma intensidade nos olhos de Sofia que via em Ricardo.

— Sim, Sofia. Achei que seria bom que soubesse de algumas coisas. Quero que vocês sejam felizes. Amo o meu irmão com tudo o que sou e desejo vê-lo feliz ao seu lado, assim como espero que você também seja feliz com ele.

Sofia sorriu ao pensar que aquela conversa que Oksana queria ter com ela era parecida com a que ela mesma teve com Xavier quando Mel se comprometeu com ele. Por isso, conseguia entender o que Oksana sentia naquele momento.

— Posso perguntar por que está rindo? — perguntou Oksana.

— Fiz o mesmo com Xavier quando ele se comprometeu com a Mel. Sei o que você está sentindo, Oksana: a incerteza se isso dará certo, se o seu irmão sairá com o coração partido. Isso eu entendo bem.

Oksana não esperava ouvir aquilo, mas sentiu-se mais aliviada por Sofia compreender o que ela queria dizer. A conversa seria mais fácil.

— Acho que o meu irmão já disse que está apaixonado por você — disse Oksana.

— Sim, ele me disse isso — respondeu Sofia, esperando que Oksana continuasse.

— Não é apenas isso, Sofia. Tenho visto o meu irmão cuidar de cada passo que você dá desde que ele e Ricardo fizeram aquele acordo para protegê-la.

As palavras de Oksana surpreenderam Sofia. Ela sempre achou estranha a quantidade de seguranças que a acompanhavam, mas pensava que era apenas excesso de preocupação de Ricardo, sem imaginar que Yuri estava envolvido.

— Eu não sabia disso — respondeu Sofia.

— Posso ver. Yuri é apaixonado por você desde que te viu pela primeira vez. Estou bem com o fato de você não sentir o mesmo por ele, mas preciso te pedir algo — disse Oksana, respirando fundo. — Não brinque com ele, Sofia. O meu irmão te ama mais do que você pode imaginar. Se você sente que não pode amá-lo como ele merece, não brinque com os sentimentos dele. Seja honesta.

Sofia entendia aquilo. Era o mesmo que desejava para Mel. Saber que estava naquela posição agora fazia o seu corpo gelar. Ela não queria ser responsável por trazer sofrimento à vida de Yuri.

— Dê uma chance a ele, Sofia. Permita-se sentir ao lado dele. O meu irmão pode ser terrível para os de fora, mas para você, ele sempre dará tudo de si — disse Oksana, com os olhos marejados. Ela abria o seu coração e esperava que Sofia soubesse valorizar o seu irmão.

— Já conversei com ele, Oksana. Não quero um casamento de aparências como os de outras organizações. Quero ter o que todos aqui têm: alguém leal que cuide de mim — disse Sofia, com um brilho diferente nos olhos. Oksana percebeu que ela, como qualquer outra mulher, apenas desejava um amor verdadeiro. — Prometi a ele que tentaria, e realmente estou disposta a isso. Se descobrir que não o amo, não vou enganá-lo. Pode ter certeza disso.

E ela acreditava. Olhando nos olhos de Sofia, Oksana não via mentira, apenas a verdade em cada palavra que ela dizia.

— Fico feliz em ouvir isso. Você me deixa mais tranquila — disse Oksana, estendendo a mão para apertar a de Sofia. — Quero que nos demos bem, Sofia. Agora somos família.

— Desejo o mesmo, Oksana. Sempre poderá contar comigo — respondeu Sofia, com sua voz gentil.

— Estou interrompendo algo? — perguntou Yuri, entrando no quarto.

— Estávamos tendo uma conversa de mulher. Nada que seja da sua conta — disse Oksana, mostrando a língua para ele. Sofia riu daquele comportamento infantil.

— Continua chata, irmã. A maternidade não mudou isso — provocou Yuri.

— É impressionante como essas coisas não mudam — disse Sofia, balançando a cabeça.

— O que quer dizer? — perguntou Yuri.

— Implicância de irmãos. Independente de quem sejam, isso nunca muda — respondeu Sofia.

— Você ainda não viu nada, Sofia — disse Oksana, rindo da expressão de Yuri.

— Chega de perturbar a minha mulher, vocês dois — disse Aurélio, entrando no quarto.

— Você é quem mais a perturba, Aurélio — respondeu Yuri, arqueando a sobrancelha.

— Mas ele pode, Yuri. É meu marido — retrucou Oksana.

— Por que isso não me surpreende? — respondeu Yuri. — Vamos, Sofia. Vamos deixar ela descansar um pouco.

— Se precisar de algo, basta chamar, Oksana — disse Sofia.

— Vamos ficar bem. E, se eu fosse você, russo, cuidava das costas — disse Aurélio, rindo da expressão zangada de Yuri.

— Sem graça — respondeu Yuri antes de sair do quarto.

Sofia acompanhou Yuri com um sorriso no rosto. Sempre era divertido ver aquelas discussões bobas entre eles. Estava distraída e nem percebeu quando esbarrou em Yuri. Rapidamente, ele a segurou nos seus braços, observando os seus olhos arregalados.

— Desculpe, não percebi que tinha parado — disse ela, segurando com força os braços de Yuri.

— Está tudo bem — respondeu ele, com os olhos azuis fixos nos dela.

Sofia sentiu o seu corpo se arrepiar com aquele olhar. Era como se Yuri desnudasse a sua alma, procurando algo além da superfície. Yuri, por sua vez, queria que o tempo parasse para poder sentir o calor do corpo de Sofia por mais tempo. O ar ao redor deles estava carregado, e ele percebia a tensão que pairava entre os dois.

— Quer soltar a minha irmã ou prefere perder o braço? — perguntou Ricardo, aproximando-se. Sofia largou Yuri rapidamente, afastando-se.

— Desculpe, Ricardo. Estávamos descendo quando vi um brinquedo das crianças no corredor — disse Yuri, abaixando-se para pegar o ursinho de pelúcia que estava no chão. — Ela não percebeu que eu havia parado e acabou esbarrando em mim. Apenas a segurei.

— Espero que tenha sido só isso mesmo. Estou de olho em você, russo — disse Ricardo, pegando o ursinho da mão de Yuri antes de descer. Yuri suspirou, aliviado. Seria difícil conquistar a confiança de Ricardo.