Após o café e com tudo pronto para o teste do sistema de segurança da Fênix, Nerone desceu para o laboratório. Apesar da construção de um novo complexo, os projetos mais importantes ainda eram desenvolvidos no subsolo da residência de Ricardo. Agora, no entanto, havia um barracão separado para outros projetos. A Fênix estava desenvolvendo muitos projetos tecnológicos, alguns que lidavam diretamente com espionagem, o que tinha sido um trunfo para eles.
Um sorriso cruzou o rosto de Nerone ao pensar na pequena Amália. A menina tinha algo que o atraía, e ele não resistia a provocá-la sempre que tinha uma oportunidade. Era raro que Nerone conversasse com outras pessoas, mas com Amália havia sido diferente. Na primeira vez que viu os seus olhos castanhos e bochechas rosadas, o seu coração deu um salto, mas ele atribuiu isso apenas à aparência dela. Apesar de agir como um homem, no fundo, Nerone ainda era apenas um garoto que não entendia as coisas do coração.
Quando as portas do laboratório se abriram, ele a encontrou concentrada em um computador. Os seus cabelos pretos caíam soltos sobre as costas, e a suas sardas estavam bem aparentes no rosto de porcelana. Assim que percebeu a sua presença, ela o olhou com desdém.
— A ralé chegou — disse, virando-se para ele e cruzando os braços sobre o peito. Ele já esperava por aquilo, era difícil um dia em que não implicavam um com o outro.
— Olha só quem fala, o bichinho de estimação da Alicia — respondeu Nerone com um sorriso. Ele sabia que Amália odiava ser chamada assim, mas não conseguia resistir. Tinha a necessidade de vê-la com raiva.
— Não me chame assim! — disse ela, irritada, mas sua expressão mudou, e um sorriso surgiu no rosto. — O que foi, capitão pirata? Ainda não arrumou um papagaio? Porque o tapa-olho você já tem.
Os dentes de Nerone trincaram com o comentário. Amália gostava de provocá-lo por não ter o olho esquerdo. No começo, ele realmente ficava irritado a ponto de os outros precisarem intervir, mas, à medida que a desafiava, ela insistia no assunto. Com o tempo, ele percebeu que não adiantava ficar bravo.
— Talvez eu deva usar você como papagaio, já que fala tanto — respondeu Nerone, com um sorriso de canto. Ele viu com prazer as bochechas de Amália corarem de raiva.
— Você...
— Parece que cheguei na hora certa — disse Alicia, entrando no laboratório.
— Eu estava no meu lugar, Alicia! Ele que me provocou — justificou-se Amália, ainda irritada.
— Sabe que não pode ficar provocando a minha aprendiz, Nerone — disse Alicia, ajustando os óculos e o encarando. — Ricardo já te avisou.
— Desculpe, Alicia — respondeu ele, tentando segurar o riso. Alicia suspirou. Sabia que não adiantava repreender. Não era cega e percebia o interesse de Nerone em Amália, mas ele não sabia como agir perto dela. A forma mais fácil de chamar a sua atenção era provocando-a.
— Amália, preciso que mostre as alterações no sistema de segurança para o Nerone. Ele vai testar a eficiência dele — disse Alicia, observando o sorriso que se formava no rosto da menina. — Armamento não letal, Amália.
— Mas assim não vai ter graça — respondeu Amália, rindo. Nerone a fuzilou com o olhar, mas antes que pudesse responder, Alicia interveio, fazendo-o recuar.
As próximas horas de Nerone foram no laboratório. Como Alicia havia pedido, ele não provocou mais Amália, concentrando-se apenas no trabalho. Quando tudo estava certo, subiu para encontrar os outros. Oksana já havia sido transferida para um quarto na casa de Ricardo, e a doutora Simone estava com ela, ajudando com os pequenos.
— Finalmente veio me ver — disse Oksana quando ele abriu a porta do quarto.
— Desculpe — disse ele, indo até ela e lhe dando um beijo na testa. — Você fez um bom trabalho, Oksana.
— Espero que esteja pronto para cumprir os seus deveres de tio — disse ela, sorrindo.
— Pode apostar nisso.
— Então, o que acha do seu primeiro desafio? — perguntou Simone, entregando um dos gêmeos a Nerone. Com cuidado, ele pegou o bebê, apoiando a cabeça. Simone entregou uma fralda e lenços umidecidos, assistindo-o colocar o pequeno no trocador. Minutos depois, Nerone segurava o sobrinho limpo e trocado.
— Devia ensinar o seu irmão — disse Oksana, rindo. Ela não imaginava que seu cunhado sabia trocar uma fralda. — Como aprendeu a fazer isso?
— Vi alguns vídeos na internet — respondeu ele, dando de ombros enquanto embalava o pequeno.
Nerone era um garoto de poucas palavras, e ouvir aquilo significava que ele se importava muito com ela, a ponto de aprender a trocar uma fralda para ajudá-la.
— Oi — disse Sofia, parada à porta.
— Venha, Sofia. Precisa conhecer os seus sobrinhos — disse Oksana, fazendo-a corar.
— É difícil me acostumar com isso, mas pode contar comigo para ajudá-la, Oksana — disse ela, abraçando-a antes de se voltar para os berços. — Como podem ser tão parecidos com o Aurélio?
— Só espero que não tenham herdado o gênio dele — respondeu Oksana, sorrindo.
— Desculpe, cunhada, mas o seu também não é fácil — disse Nerone em voz baixa. Simone, que ouvia, começou a rir.
— Ele está certo, senhora. Então sabemos que esses pequenos serão furacões dentro da organização.
— Vocês terão ajuda, Oksana. Sempre podem contar conosco — disse Sofia.
Oksana olhou para Sofia com atenção, surpreendendo-se com o fato de ela estar tão falante. Suspirou. Estava na hora de terem uma conversa. Oksana desejava a felicidade do irmão e também de Sofia, pois podia ver o quanto ela era amável.
— Poderiam nos dar licença por algum tempo? — perguntou, olhando para Nerone e Simone.
— Claro. Se precisar, basta chamar — respondeu Simone, saindo.
— Não se estresse, você ainda está se recuperando — advertiu Nerone antes de sair.
Sofia olhou fixamente para Oksana e se aproximou, sentando-se aos pés da cama. Sabia bem o que ela diria e estava pronta para terem aquela conversa.