A Marrenta e a Dona do Morro

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Karina...

Acordei bem tarde,acho que passavam das onze da manhã, então me levantei e fui fazer minha higiene pessoal e em seguida desci pra tomar um café reforçado antes de ir me encontrar com o Sávio. Ele ficou de resolver os lances com o colégio,mas eu meio que insisti pra poder ir junto,e como ele não me n**a nada acabou aceitando.

-- Pensei que só iria acordar depois do meio dia__ Lia comentou sorrindo assim que me viu entrar na cozinha.

-- Só se fosse pra me juntar em carne e osso com a cama__me sentei já pegando um copo de suco__ Preciso me encontrar com o Sávio,a gente ficou de ir fazer a matrícula hoje.

-- De boa,mas quando você chega em casa?__perguntou se sentando a minha frente.

-- Não faço idéia,tem muita coisa pra se fazer nessa cidade e pode ser que eu passe a noite na casa dele__virei todo o suco__ Por que? Aconteceu alguma coisa?

-- Não exatamente, é que tem uma pessoa querendo te conhecer__disse aparentemente nervosa. Não entendi, mas também não me importei.

-- Tenho certeza de que essa pessoa pode esperar__sorri me levantando__ Até porque não tô aqui pra agradar ninguém,não é mesmo?__comentei voltando ao meu quarto com ela em minha cola,precisava de um banho antes de sair.

-- Quem dera as coisas fossem fáceis assim Kar__a olhei curiosa,será que é algum parente do presidente e eu não tô sabendo?__ Ela é a dona de tudo aqui,e não acho que seja uma boa ideia você ficar tirando uma com a cara dela assim.

-- Qual é Lia,eu nasci assim e vou morrer assim__sorri__ Não vou mudar por causa de ninguém__peguei uma toalha e segui até o banheiro__ Fica tranquila,eu sei me cuidar.

-- Se é o que você diz__disse se jogando na cama e eu fui definitivamente tomar o meu banho.

Não demorei muito,até porque marquei com o meu brother as onze e meia, e já estava me atrasando. Sai do banheiro enrolada na toalha e fui até o guarda roupa pegar algo pra vestir,acabei escolhendo um shorts jeans claro acompanhado de uma regata preta, calcei meu tênis da Adidas também preto,fiz uma make básica e já estava pronta. Peguei uma bolsa de ombro,onde coloquei meu celular e o que fosse precisar pra fazer a matrícula.

-- O que achou?__perguntei a Lia que não deixou de me olhar um instante que fosse__ Pareço eu?

-- Não tem nem como tentar dizer o contrário__riu me acompanhando até o andar de baixo__ Só espero que não decida ir assim pras aulas.

-- Acho que não me deixariam entrar no prédio__falei e ambas rimos__ Se eu não for voltar, te aviso antes.

-- Acho bom__advertiu__ E toma cuidado,aqui não é Brasília, é mais perigoso.

-- Fica de boa Lia,esqueceu quem são os meus pais?__negou com a cabeça e eu saí em definitivo.

Assim que sai do morro chamei um táxi, já que eles não passam desse ponto e eu não iria a pé ao ponto de encontro nem se atirassem em mim.

Marcamos de nos encontrar na praça de alimentação,e como é do meu costume,já estava atrasada a cinco minutos, aposto qualquer coisa que o Sávio vai encher a minha paciência,como em todas as vezes,parece que ele faz só pra me irritar,já que sabe que não vai adiantar em merda nenhuma.

Chegando ao meu destino,já avistei ele de longe, então desci do carro já pagando a corrida ao taxista e fui até ele,em passos mais do que lentos,de forma que o mesmo não se desse conta da minha presença,já que estava de costas pra mim. Assim que me aproximei o suficiente,ergui os dedos na forma de uma arma e encostei nas costas do mesmo e fiz a minha brincadeira.

-- Passa tudo o que tiver de valor__falei forçando a voz e me segurando pra não rir quando ele levantou as mãos__ Não vou pedir uma segunda vez__continuei apertando mais os dedos nas costas dele.

-- Por favor,eu não tenho nada aqui comigo__disse com a voz um pouco trêmula e isso foi o suficiente pra que eu caísse na gargalhada.

-- Mano,tu tinha que ver a sua cara__falei quando ele se virou pra mim com os braços cruzados e cara de poucos amigos__ Foi impagável,eu devia ter gravado a cena.

-- i****a,isso não teve graça__falou me dando um tapa na cabeça__ Pensei que realmente era um assalto. Não tem nem dois dias direito que eu tô aqui,e já sou assaltado__sorriu__ Mesmo que de mentira.

-- Da próxima vez tenta ao menos se virar e diferenciar o cano de uma arma das pontas dos dedos de alguém__falei ainda rindo dele.

-- Pensei que você tinha morrido por causa da demora__tava demorando__ Já que dizem que a coisa mais fácil daquele morro é levar um tiro,ao menos no seu caso__riu e apenas o encarei__ Basta bater de frente com a dona de tudo.

-- Não tenho medo de nada nem de ninguém Sávio__falei firme me sentando ao lado dele__ Não vai ser a dona daquele morro que vai mudar a minha convicção.

-- Nem se ela for extremamente gata?__sorriu todo travesso, desgraçado sabe como me tirar do sério.

-- Não me vem com essa né? Acha que eu vou aceitar que mandem em mim?__apenas abriu um sorriso maior do que o que já tinha__ Nem fudendo isso vai acontecer. Ela pode colocar a arma na minha cabeça que não vou me abaixar pra ela.

-- Vaz,você é muito maluca mesmo__se levantou e me puxou junto dele__ Mas agora temos coisas mais importantes pra serem resolvidas,as matrículas não serão efetuadas por conta própria.

-- Bem que poderiam né? Assim eu estaria desmaiada sobre minha cama.

-- Só se for pra morrer, já são mais de meio dia, ninguém fica na cama até uma hora dessas.

-- Até parece que não me conhece__falei e ele revirou os olhos me fazendo rir.

Já no colégio,falamos e resolvemos tudo o que era necessário com o diretor,que se mostrou mais do que satisfeito em nos atender, talvez pelo fato da família do Sávio ser uma das mais ricas da cidade. Mas isso não me importa muito,só quero voltar a cair em cima da cama,preciso repor todas as noites de sono perdidas por causa dos meus pais,os quais eu não fui e não pretendo ir visitar,a menos que eles peçam,que mandem o advogado deles me procurar.

Depois de tudo resolvido,decidimos dar uma volta pela cidade,aproveitar o resto da tarde,nos divertir como fazíamos quando adolescentes idiotas, sem as confusões dos dias atuais que são sempre culpa minha,devo confessar.

-- Vai dormir lá em casa?__perguntou enquanto andávamos aleatoriamente,já era noite.

-- Não__falei olhando pro chão,presa ao braço dele__ Quero morrer na minha cama hoje__o filho da mãe apenas riu__ Outro dia talvez, preciso me acostumar com tudo isso antes.

-- Tudo bem__me deu um selinho e seguiu caminho oposto ao meu__ Tenta não se meter em encrenca.

-- Algo difícil de prometer__avisei já pedindo um táxi.

Não demorei a chegar no morro,onde já paguei o taxista e subi sob vários olhares nada discretos sobre mim. Parece nunca terem visto gente nova na área. m*l cheguei em casa e já fui quase arrombando a porta.

-- Se quebrar você vai pagar!__ouvi Lia gritar, provavelmente da cozinha.

-- Não fiz nada...__parei de falar ao perceber um par de oceanos sobre mim__ De mais__saiu como um sussurro devido a intensidade com que me olhavam.