O mundo é realmente um lugar muito louco de se viver. Tudo podia mudar num minuto, num único segundo, num momento de decisão ou até mesmo de indecisão. E acredite, pois tudo realmente mudava. Seja quanto a uma dor, um amor, um desejo ou um segredo. Um piscar de olhos e nada mais fazia sentido.
Em nosso caso, foram apenas cinco minutos. Esse foi o tempo que impediu Valentin de alcançar Laura e declarar-se. Esse também foi o tempo que ele levou para entender o que havia acontecido. Ela pensava que ele havia se arrependido do beijo e por isso não tocara no assunto. Ele estava bêbado demais quando aquele beijo aconteceu e sempre tivera um problema em lembrar-se do que falava ou fazia quando bebia demais.
Talvez, isso não deveria acontecer, seja pelo beijo, ou pela bebida, ou pelo simples fato de que Valentin e Laura eram amigos acima de tudo. Era uma amizade de fazer inveja, eles compartilhavam de uma conexão ímpar e tinha sido assim desde que tinham por volta de doze anos.
Aos quinze, ambos perceberam que sentiam mais do que amizade, no entanto o medo os impediu de irem adiante. O que era nítido e explícito para todos, ficou obscuro e implícito para eles.
“Será?” — era o que Laura pensava.
“São coisas da minha cabeça”. — era o que Valentim imaginava.
Foi por conta disso que nove anos depois, eles continuavam amigos. A paixão que sentiam um pelo outro queimava em silêncio. Porém, assim como uma pequena fagulha no meio do incêndio, pouco a pouco as chamas tomavam proporções dantescas, os ameaçando afastá-los e se queimarem para sempre. Seja pelo fato de tentarem e acabarem com a forte amizade que sentem, ou pelo fato de jamais tentarem algo e esse sentimento insistir em percorrer seus pensamentos para sempre.
Era difícil conviver com o ciúme diário e suportar os papos sobre garotos e garotas que entravam e saíam das suas vidas. Castanhari e Renata são coadjuvantes nessa trama. Os verdadeiros antagonistas dos nossos protagonistas são eles mesmos. As consciências e as atitudes que tomam. Ninguém joga mais contra os dois, do que eles mesmos. E nenhum dos dois queria admitir o quanto estava sofrendo.
E, por não aguentar manter-se nessa situação, Laura decidiu ser a hora de percorrer o seu sonho de viajar para Londres. Valentin foi o primeiro a saber que iria embora. Ela contou, desejando que ele pedisse para ficar. Mas Valentin, mesmo arrasado, pouco falou.
Os dois trocaram abraços e sorrisos sem graça. Muito diferentes daqueles beijos e amassos de carinho e t***o da noite passada. Afinal, como bem disse, o orgulho era o carcereiro dessa paixão.
Na festa de despedida, a dupla estava triste. Ambos buscaram refugio na bebida. Mas quando todos haviam ido embora e se encontravam sozinhos, o álcool, inevitavelmente agiu refreando as suas inibições e revelando as mais ocultas ambições perante o outro.
Ele afagou-se no rosto dela. Os seus dedos deslizaram sobre os lábios da amiga. Laura deixou que seu amigo percorresse seu corpo com a língua, apenas para ela abrir um largo sorriso quando seus olhos se encontrassem. Naquele instante, Laura era a garota mais linda do mundo aos olhos de Valentim e vise versa. E para Valentim, algo impossível tinha acontecido, Laura ficara ainda mais linda. A cerveja, inevitavelmente, abriu os olhos deles e os fez, não só falar, mais agir.
Ela estava cada vez mais irresistível para Valentim, que abria um sorriso tão grande que deixava a Laura louca para tocá-lo. Ele era dono de uma arcada dentária alvíssima e perfeitamente alinhada. E, ao menos para a protagonista, o sorriso dele revirava o estômago e a desejava fazê-lo sorrir.
E como dois ímpares de ímãs, o casal de amigos foi aproximando-se e, os poucos centímetros que os separavam, logo deixaram de existir. Eles podiam ouvir os seus corações trepidarem, bem como o estalar dos beijos intensos que davam. As mãos tremiam e uma corrente de ar pairava sobre suas almas.
Seria Deus, abençoando a primeira noite deles, ou o ar-condicionado, ligado no quinze? Não sabemos!
O fato é que o frio na barriga que os dois sentiam quando estavam perto, tinha triplicado. Eles se amaciavam entre os abraços e os seus olhos, refletiam toda a galáxia de emoções que traziam em si. O beijo até que foi tímido de início. Valentim e Laura começaram trocando selinhos. Estavam testando um ao outro, sabe?
E, por incrível que pareça, o medo que sentiam de perderem-se resistia ao efeito do álcool, porém, o desejo de se beijarem e de se entregarem ao desconhecido eram mais forte.
O s**o, o drama, o beijo e a cama, soavam como uma orquestra, muito bem arranjada. A começar pelas pontas dos dedos tocando-se sutilmente, tal como os lábios. Os movimentos pareciam ensaiados, os dois se conheciam bem, pareciam os casais que estão juntos há anos. Como um balé sincronizado, os dedos deslizaram, entrelaçando suas mãos. Os narizes resvalaram e os dentes, por vezes se chocavam. Mas como em toda orquestra, não eram erros de músicos de primeira viagem, mas de profissionais emocionados com o show.
As respirações soavam como murmúrios. Os suspiros arrepiavam até os mais íntimos pelos. Os lábios de Valentim aprisionaram o lábio superior da Laura. Ela recolheu o lábio inferior, derrapando sobre a textura suave da boca do amigo. O calor espalhou-se onde seus corpos se tocavam. As línguas encontraram-se e as mãos soltaram-se, somente para apalpar os corpos do outro.
Inevitavelmente, o m****o dele, ressoava e forçava cada vez mais intensamente nas regiões íntimas dela. Ainda bem que estamos num livro para maior de dezesseis e você sabe sobre o que estou falando.
Os seus pensamentos estavam desconexos, enquanto um pensava numa posição, o outro almejava outra. Mas ao mesmo tempo, o cérebro alertava que isso não parecia ser seguro, mesmo que o coração insistisse em dizer que aquilo era tudo o que eles precisavam. A paixão pulsava entre eles, recobrindo suas peles de suor.
Não irei narrar um s*******n, logo, vou pular a narrativa, porque afinal de contas, a madrugada passou num piscar de olhos.
Mas com aquele pequeno m*l entendido desarmoniozo, os dois passaram a pensar se aquilo realmente foi certo, pois, tudo o que Valentim disse antes de sair de perto dela, foi: — Quero você, mas quando acontecer quero que seja tudo sobre esse momento. Eu bebi demais e não quero estragar as coisas.
Ele selou a despedida com um beijo no pescoço, a fazendo arrepiar.
Valentim se retirou, trancou as coisas e jogou a chave para ela, pela janela aberta, junto de um bilhete.
Laura, que fingiu dormir, acompanhou tudo com os olhos cheios de água.
A morte do romance entre eles, poderia ter sido evitada com uma simples conversa, não é mesmo?
Laura não imploraria pelo amor do Valentim. Ela estava cansada de ser a amiga que assistia às suas conquistas e que morria de ciúmes de cada uma das garotas que ele levava para a cama. Valentim, por sua vez, bem que queria impedir que ela fosse embora, mas a amava demais e convenceu-se que o certo era ficar feliz por ela, a deixando partir para Londres.
Ele saiu do casarão e colocou-se em repouso, na cadeira de uma padaria enquanto desfrutava-se de um delicioso pingado, tenebroso de tão engordurado enquanto ela se vestia, num tom dramático o suficiente para fazê-la desistir de ficar no Brasil.
Tudo aquilo que um sentia, refletia no outro.
Valentim, não estava mentindo e Laura sabia que era o melhor para ambos, assim não poderiam culpar o álcool pelo que viesse a ocorrer. Laura assentiu e eles retomaram com suas vidas pacatas. Não houve um bom dia caloroso, tão pouco, aquela troca de beijos e carícias. Ela adormeceu o seu amor por Valentim, enquanto ele tracejava o seu rosto na memória, para eternizar aqueles momentos em seu cérebro.
Incerta sobre como se comportar ou o que dizer quando se encontrassem novamente após decidir fingir que ainda dormia. Ela recolheu sua roupa numa mochila que tinha deixado por lá, se vestiu melhor de se deitou.
Passou o braço em volta do seu corpo, prendendo-se e se amarrando naquele sentimento quente.
Laura ficou quieta, pensando que talvez, se tivesse falado algo, Valentim ainda estaria por ali. Mas agora, ficara com essa eterna dúvida.
As poucas coisas após a noite de bebedeira e de cama com sua amiga, estão um pouco mais nubladas para ele. Contudo, sabe que ao abrir os olhos, a primeira coisa que viu foi o ventilador de mesa ligado, deixando o clima ainda mais frio.
Nosso protagonista, ainda praguejou em pensamentos por ter bebido tanto. Estava com uma ressaca infernal e não lembrava como tinha terminado no tapete, após dormir com sua melhor amiga.
O seu eu bêbado, é capaz de coisas perigosíssimas.
Ele fechou os olhos e inspirou profundamente, lutando para resgatar qualquer memória, mas não adiantava. Como eles acabaram daquele jeito, era um mistério.
No princípio, ele não fazia ideia de quem era a garota, se ficaram nos amassos ou se fizeram s**o. Esperava que ela não ficasse chateada quando lhe perguntasse. Mas quando finalmente mirou para garota de lingerie preta, com aquela cabeleira e sentiu aquele perfume que predominava no ar, sabia que conhecia e almejava aquilo há muito tempo.
O que havia de fato em sua memória foi a fatídica cena em que deslizou para longe da garota e levou os braços à cabeça, pressionando a têmpora. Antes de volta a olhar a sua companhia, convenceu-se que era a ressaca pregando-lhe uma peça. O coração quase parou quando constatou que era Laura deitada ao seu lado, semi nua enquanto ele usava uma boxer que ela mesmo comprou.
Na mesma hora em que ele lada uma golada no café, ela bebia outro copo de água gelada. Ambos estavam ressecados por dentro, e pôr em ordem os pensamentos dessa maneira, era difícil demais.
Os dois puderam concluir que ficaram conversando depois que todos se foram, perderam a noção do tempo.
Uma coisa levou a outra e bem... Os dois são adultos, não são?
E como bons adultos, vão lidar com a vida adulta, pós uma noite de prazer com o melhor amigo.
Está bem óbvio que isso só aconteceu porque tinha mais álcool circulando no seu sangue do que o seu corpo dava conta de processar. Porque está bem claro que se estivessem raciocinando, todos nós sabemos que o jogo não sairia do zero a zero. E os times concordariam em dividir o prêmio, ao invés de um desempate por penalidades máximas.
Ambos estavam um tanto aborrecidos com a situação em si, mas ainda assim, não tiravam da cabeça o calor da pele do próximo, bem como o cheiro e o desejo.
Valentim ficava duro só de pensar, enquanto Laura se molhava, por lembrar-se das cenas.
Mas a vida adulta é uma pessoa ingrata que os obriga a seguir em frente.
Valentim deveria lidar com o fato de que ela irá se mudar e que precisa ir para o trabalho, enquanto Laura precisa ir para casa, explicar o sumiço para se concentrar nos próximos projetos em Londres.
Mas... Como fariam isso daqui pra frente?