Terceiro Dia por Diva: O que não era para ser

3908 Words
I need to know, when I will fall into decay Eu preciso saber quando irei cair em decadência Something wrong, with every plan of my life Algo errado com todos planos de minha vida [...] Set me free, your heaven's a lie Me liberte, seu paraíso é uma mentira Heaven's a Lie — Lacuna Coil Meu coração deu uma batida vacilante. Tentei falar algo, mas da minha boca saia apenas sons bizarros e quase insignificantes. Forcei minha mente a pronunciar palavras coerentes, pelo menos algo que não pareça estar a ponto de ter um ataque. O rosto de Dante mostrou apreensão e sua testa formou um vinco. Ele andou até mim, e pegou-me quando percebeu que minhas pernas cederam molengas como gelatina. O toque dele era do mesmo modo que lembrava; quente, acolhedor e protetor. Com ele podia sentir que nada no mundo poderia me machucar. A felicidade transbordou desenfreada no meu peito e sensação doce e harmoniosa de estar em casa invadiu e entorpeceu todos os meus sentidos. Dante me apertou, aconchegando-me em seus braços e beijou o topo da minha cabeça. Minha mente estava a mil, muitos pensamentos chegaram arrebatando com força esmagadora e assombrosa que m*l conseguia assimilar com total clareza e distinção. No entanto, de uma coisa tinha certeza tudo aquilo era um paraíso a minha maneira. Estar novamente com Dante. Ainda meio zonza e afogada em incríveis emoções, perdi o equilíbrio assim que me soltei de seus braços, Dante por sua vez, apenas me firmou com facilidade. Frente a frente com ele, pude ver que vestia calças e um casaco preto e a única coisa que ainda tinha sua marca registrada — que era a cor vermelha — era a camisa, também vi um colar de identificação do exército e o que parecia o amuleto perfeito. Isso era bem estranho, até por que onde saiba esse amuleto se perdeu... Não é? Encarar aqueles olhos azuis tão intensos fora demais para minha sanidade. Meu coração disparou e um fogo — não naquele sentido — surgiu dentro de mim subiu pelo meu corpo, irradiando como o sol, algo que a um bom tempo não sentia. Em um gesto rápido, enlacei meus braços no pescoço de Dante que ficou enrijeceu de surpresa e o beijei. Queria transmitir tudo que sentia com um beijo cheio de paixão desnorteada e vivacidade, e ele retribuiu com muito mais intensidade enquanto sua língua explorava cada canto da minha boca. Separamo-nos por escassez de ar e mantemos o contato visual para não quebrar a conexão. — Esse sim é o tipo de boas vindas que um homem gosta de receber — ele brincou, lambendo os lábios maliciosamente — Acho que deveríamos tentar mais vezes, doçura. Descansei a cabeça em seu peito, inalando o doce e inebriante perfume. — Es... tou tão... Feliz — me atrapalhei nas frases, depois respirei fundo e controlei meu nervosismo. — Estou tão feliz em vê-lo! — Não ficamos tanto tempo separados e já sentiu minha falta? — Dante debochou, passando as mãos pelos cabelos claros. — Podem para com essa ceninha? Ugh, deu até vontade de “vomitar arco íris” — Lyana irrompeu, torcendo o nariz. — Se quiserem subam para um quarto! — Nunca faria essas coisas... Pelo menos não na casa dos meus sogros — a ultima parte da frase foi quase sussurradas, com um risinho cínico. — Não seja estraga prazeres Lily Uma coisa é certa, Lyana odiava apelidos estranhos, enquanto Dante parecia bem contente em aborrecê-la. — Você vai ver o Lily com os tabefes que vou dar na tua cara, velhote! — Tenho muito medo de uma garota que nem dá metade de mim — Dante zombou, levantando as mãos em falso rendimento. Lyana despachou a bolsa no chão e posicionou-se para atacar, era visível que eles estavam brincando como velhos conhecidos e também que realmente ia mata-lo se ninguém impedisse. — Ei, podem parar, Ok! — me coloquei entre os dois. — Então manda o seu Tonyzinho para de me provocar... A menos que queira levar uma voadora com as duas pernas — Lyana cruzou os braços, dando a língua. Dante a imitou, mas com charme que somente ele conseguia. — Lyana! Dante! Parem! — Ok, eu paro só porque você... Espera... O que? Você me chamou de Dante? — a expressão de brincadeira sumiu de seu rosto, logo em seguida endureceu. — Caso você tenha esquecido meu nome é Tony Redgrave, não Dante. — Liga não que hoje ela não esta batendo muito bem das ideias. Digamos que ela esta mais confusa que o normal! Dante/Tony gargalhou. — Ah, isso esclarece muita coisa. Bem, doçura você sabe que não consigo ficar puto com você — Dante/Tony deu um selinho casto na minha bochecha. Varias questões rodeavam minha mente, uma mais confusa e intrigante que as outras. De duas a uma; Ou Dante tinha uma nova identidade ou era uma pessoa irrefutável e inegavelmente parecido com ele, uma copia exata até na personalidade. O famoso Anthony Redgrave era nada mais nada menos que uma versão humana de Dante, que era meu noivo. Agora a ideia de casamento não parece tão r**m. Depois do que pareceu uma eternidade, percebi que meus pais ouviam a conversa como se fosse à coisa mais normal do mundo. Mamãe bebia um copo de suco tranquilamente meio alheia enquanto meu pai não se mostrava ser discreto em relação à conversa. Parecia que assistiam a uma novela muito interessante, tanto é que nem interromperam. Normalmente, meus pais iriam enxotar todos — inclusive eu, mesmo que não tivesse nada a ver com a situação — pela algazarra. Foi muito estranho, muito estranho mesmo. — Alias o que faz aqui? — perguntei ligeiramente curiosa. Usei todo meu poder teatral para não pareceu que estava boiando com tudo aquilo. — Quer dizer, não que não goste da sua companhia, mas você deve ter algo melhor para fazer... — Vim te convidar para um almoço com meu amigo e parceiro — Tony deslizou provocantemente pelos meus ombros — E então? — Ah, claro — respondi de imediato. Poderia usar essa oportunidade para saber mais sobre tudo que ocorria. Não era nem um pouco normal que tivesse um noivo de uma hora para outra, mesmo que parecesse muito atraente. — Seria ótimo! — Perfeito! — Tony me rodopiou — Vamos agora? — Agora? Agorinha? Tony assentiu. — Então tá bom. Até mais mamãe e papai! Dei um sinal de despedida com as mãos para meus pais. — Até mais sogros e Lily Tony me arrastou para porta, deixando para trás os distantes protestos de Lyana. Podia jurar que ela utilizou toda a cota existente de palavrões. Tanto é que ela era poliglota e podia dizer sem problemas palavrões em português, inglês, espanhol e árabe. Em outras palavras Lyana tinha mestrado e doutorado em “palavrologia”. Tony rodou as chaves do carro nos dedos e me encarou maliciosamente, mesmo desconfiada entrei no carro tão vermelho e chamativo quanto à camisa que usava. Um lembrete para mim mesma: ter cuidado quando ficar sozinha com Dante, independente de ser uma "versão humana" dele. Tony ligou o rádio e a musica "All I Wanted" do Kansas. A viagem prosseguiu com silencio irritante entre nós, eu não tentei puxar assunto e muito menos Tony. Algumas vezes o olhava de soslaio, mas toda vez que era quase pega, olhava para outro ponto e fingia que nada acontecia. Até agora nada de anormal aconteceu, não que eu esperasse que acontecesse. Sem demônios perseguidores, humanos com poderes e nem nada semelhante. Era tudo tão estranho e confuso. Acho que depois de tudo isso, meio que me acostumei a tanta caçada. Deixei um suspiro de frustração escapar. — Algo errado doçura? — Unh, nada — dei um sorriso amarelo. — Só estava pensando. — Qualquer problema é só falar — Não se preocupe, eu falarei. O motor deu um ronco suave antes de parar em frente a uma casa. Duas longas horas de viagem, enfim tinha acabado. Olhei para a grande construção, nada muito extravagante; um jardim bem cuidado com grama aparada e florida, a pintura tinha aparência antiga e a coloração já estava desgastada. Tony pegou minha mão, permiti que ele me guiasse para frente da casa. O toque cálido dele me fez corar. Ele apertou a campainha. A porta abriu revelando uma jovem um pouco mais nova que eu — por volta dos dezesseis ou dezessete —, ela sorriu e seus olhos brilhavam em alegria. E eles olhavam diretamente para Tony. Eu descobri muitas coisas inéditas sobre mim enquanto convivi com Dante, uma delas era a minha possessividade e impetuosidade. E uma coisa que ainda era meio novo para mim e que não conseguia manter o devido controle era o ciúme. Principalmente com aquela garota praticamente o comendo com os olhos. Como Dante — que para mim eram a mesma pessoa —, Tony chamava atenção. Muita atenção, mais do que gostaria. Para todos os efeitos Tony é bonito, sexy e é meu. Se ele é meu prometido, não deixaria ninguém tira-lo de mim e muito menos uma garota qualquer que não me inspirava à mínima confiança. A raiva borbulhou dentro de mim, capaz de causar uma explosão. Tentei controlar antes que acabasse despertando minha aura — segundo Alexander, ela ficava sensível quando minhas emoções estão descontroladas. Apertei deliberadamente a mão de Tony e limpei a garganta. — Oh, entrem! — a garota sorriu sem graça e nos deu espaço para entrarmos. Observei a garota por cima dos ombros, fulminando-a. — Tio Tony! — duas vozes gritavam de euforia. Duas lindas meninas surgiram praticamente pulando em cima de Tony. — Que bom que veio tio Tony! — É bom ver vocês também, pirralhas! — Tony acariciou o topo da cabeça de ambas, bagunçando seus cabelos. — Essa é a Diva, minha garota — disse, apontando para mim. A expressão "Minha garota" que saiu dos lábios de Tony pareciam canção para meus ouvidos. — Nossa ela é mais bonita do que tinha falado tio. — a menor comentou sem tirar os olhos grandes e castanhos de mim. Fiquei um pouco sem graça, dei um risinho para camuflar meu constrangimento. — Oi! Sou Tiki e essa é minha irmã Nesty — ela apontou para a menor. — E a que atendeu a porta é a Jessica — Prazer em conhecer vocês — sorri carinhosamente. — Onde esta o coroa, meninas? — Tony perguntou, coçando a nuca despreocupadamente. — Ele esta no banho — Nesty respondeu saltando nos braços de Tony. — Sei — com uma mão livre Tony me conduziu para o sofá. Cai pesadamente no assento acolchoado. Tiki sentou ao meu lado. Reparando melhor, todas as garotas pareciam singularmente iguais; cabelos castanhos encaracolados e olhos igualmente castanhos. — Vou terminar de preparar o almoço — Jessica noticiou, partindo para a cozinha. — Tia Diva, quando é que você vai casar com o tio Tony? — Tiki indagou, curiosa. — Eu posso ser a dama de honra? — Casar? Ah, o Tony que decide — respondi, tentando soar cômica e disfarçando o pânico. — Ele pode decidir se ele quiser é claro. Tony deu um sorriso arteiro. — Então tio? — Semana que vem pode ser — O que? — levantei abruptamente. Meus olhos se arregalaram em incredulidade. Tony gargalhou impetuoso da minha reação. — Bom saber que te divirto — resmunguei, cruzando os braços. — Não precisa ficar bravinha, estou brincando — Tony me puxou novamente para sentar no sofá e aproximou nossos rostos. Senti a respiração quente dele batendo no meu rosto, dando-me arrepios. — Ei, não quero essas coisas na frente dos meus bebês! — levei um susto com seja lá quem for que atrapalhou o clima entre mim e Tony. — Ah, é você Tony... Seu imoral! Tony sorriu imperturbadamente, pegou Nesty e colocou-a delicadamente no lugar onde estava no sofá e foi cumprimentar o tal homem. — Imoral? Não fiz nada de imoral — arquejou, dando uma risadinha dissimulada — Finalmente deu o ar de sua graça, coroa. — Preciso estar apresentável para receber visitas, então cadê a garota? Marchei até os dois homens um pouco incômoda. Tony pousou as mãos sobre meus ombros, afagando-os gentilmente. Relaxei um pouco. O homem me analisou de cima baixo, coçando a barba. Ele comprimiu os olhos, examinando minha expressão por uns minutos. Ficando um clima meio embaraçoso. — Grue esta é a Diva, minha futura esposa. — Ainda não da para acreditar que você finalmente sossegou. E de quebra arranjou uma linda garota como esposa — Grue debochou, estendendo a mão para mim e a apertei prontamente — Até me lembro de quando você saiu com minha Jessica. Voltei minha atenção para Tony, encarando-o estupefata. Ele fingiu-se de desentendido, como se o assunto não fosse com ele. — Você é uma visão, Diva! — Grue enalteceu. — Obrigada... Hãn... Grue! — Então Tony quando é que vai trazer suas próprias crianças para brincar com as minhas? — Grue brincou, falando diretamente para Tony. — Oba! Quero ter primos para brincar tio — Tiki irrompeu alegremente. — Eu também! — Nesty concordou. — Espero que em breve — Tony piscou para mim. A situação já estava extremamente constrangedora, e o comentário de Tony me deixou ainda mais acanhada. Usei minhas mãos para esconder meu rosto em chamas. Por favor, sem esse tipo especifico de conversa. — Vou aproveitar a chance e dizer todos os podres de Tony, se prepare Diva que será uma longa conversa. Aposto que depois dessa você será viúva muito antes de casar! — É tanto assim? — perguntei, pasma. — Posso lhe dizer em ordem de data, alfabética e aleatoriamente. Arquei a sobrancelha, deixando transparecer evidente interesse. — Preciso saber muitas coisas... — disparei, olhando diretamente para Tony. Ele deu de ombros. *** Dar um tempo no banheiro é algo que posso considerar uma desculpa plausível para deixar Tony conversando com Grue na sala, sem ficar me sentindo um peixe fora d’água. Entre eles, me sentia um pouco deslocada. Naturalmente, não demoraria demais no banheiro para não acabar pensando m*l de mim — que na verdade tinha fugido pela janela que ficava no corredor. Até que seria uma boa ideia. No entanto, seria muito desgastante e irresponsável. Não havia nada que pudesse temer, mesmo que meus sentidos me dissessem que parecia errado. O meu sentido psíquico se agitava e pulsava como uma ferida que devia ser notada — que queria ser notada, por isso latejava com força esmagadora. Dizia a mim mesma que estava tudo bem, não havia motivo nenhum para ficar complexada. Coloquei uma mecha para trás na orelha. Tudo parecia tão irrevogavelmente perfeito. Completo e primoroso, como um sonho. Nada de r**m e nem anormal tinha acontecido, mas sentia que as peças não se encaixavam mesmo quando tentava coloca-las no lugar. Uma parte faltava, podia perceber isso. Seria Dante? Não, agora tinha Tony. Seria o pesadelo do Inferno? Inferno? Mundo demoníaco... A simples menção dessa palavra fez com que as lembranças que fazia questão de deixar enterrada na parte mais fria e sombria de sua mente, voltassem com toda força fazendo-me ficar tonta. Eu não queria e não poderia lembrar. A escuridão e os caminhos feitos por mim no inferno, disso podia me lembrar perfeitamente. O ar podre, os lamentos e as breves batalhas também. A batalha com Ace... A semi morte de Dante... A ida ao Inferno... O cordão prateado... Meu real objetivo... Por que minha mente não parava de processar tantos padrões de pensamentos? Não conseguia captar nada e ao mesmo tempo não fazia o mínimo sentido. O grande espelho refletiu a imagem de uma garota não muito satisfeita e com a testa enrugada. E lá estava eu, me encarando fixamente no espelho tentando entender a razão do meu descontentamento. Joguei água no meu rosto para ver se despertava, a temperatura era ideal para me dar um choque de realidade. Estava tão empolgada com todo esse novo mundo que m*l tinha parado para cogitar a possível ideia de que isso não seria algo criado pela minha mente. O que seria deveras estranho. Não acho que tinha poder e muito menos capacidade de criar algo assim. Não tinha razão para pensar nisso. Hoje será um lindo dia cheio de promessas. Joguei novamente água no meu rosto, apenas para dar uma descarga de adrenalina e coragem. Vamos lá Diva, você consegue! Desci devagar as escadas. A partir de agora vou aproveitar verdadeiramente a segunda chance de ter de voltar à normalidade que me foi tirada. Eu tinha tudo para ser feliz; estava com minha família, amigos, o homem que amava e era uma garota normal. Nada de ser procurada por todo o inferno, sendo a ultima Unchant do universo. Tony brincava animadamente com as duas meninas. Vendo como ele interagia com ambas, dava para perceber que tinha jeito para ser pai. E até ousei imaginar... Como seria meu futuro com Tony, quando tivermos nossa família. Minha mente percorreu uma parte perigosa, que tentava empurrar para a parte mais profunda e escura. Senti meu rosto esquentar só de pensar na possibilidade de termos... Filhos. — Diva — escutei Grue apodar, tirando-me dos meus devaneios. Ele se aproximou de mim e contemplou orgulhoso as duas garotas. Seus olhos brilhavam em admiração paternal. — Estou contente que Tony tenha encontrado uma moça como você — Un, obrigada — sorri, emocionada. — Sabe, desde que te conheceu Tony mostrou um genuíno sorriso de felicidade. Nunca o vi dessa forma, ele sempre se mantinha reservado e em uma distancia segura em relação ao seu passado e principalmente com a morte de Gilver, o irmão dele — a expressão de Grue mudou, surgindo uma seriedade incomoda, ele continuou e abriu um afetuoso sorriso quando Tony ergueu Nesty e a menina soltava uma gostosa gargalhada: — Todas as vezes que falava de você era com tanto encantamento e adoração. Algo que não via a muito tempo de convivência. Espero que sejam muito felizes! — Também espero. — Grue afagou meus ombros amistosamente. Ele deu tapinhas condescendentes nas minhas costas. — Alias, amanha é aniversario do Tony e pensei que poderíamos dar uma festa surpresa. O que acha? — Por mim esta ótimo! — pisquei em travessura. — O que está conversando tanto com minha garota, coroa? — Tony caçoou, me puxando para seu peito. — Vendo se ela não se arrependeu. Aproveite a chance Diva para dar para trás — Acho que aguento o tranco. O almoço seguiu, mas não fora tranquilo como planejado. Tony uma hora brincava com Tiki e Nesty outra devorava continuamente o sétimo prato que repetia. Impressionava-me com o apetite voraz que possuía. Grue estava horrorizado. E a mesa virava um verdadeiro caos. Jessica alegrava-se cada vez que Tony repetia e a elogiava por ter feito uma boa comida. Irritava-me um pouco com isso, mas tinha que admitir que ela cozinhava bem. Tentei não deixar transparecer minha raiva e Jessica evitava me olhar, ela parecia receosa. Depois do almoço, passei um bom tempo conversando com Grue e planejando o que fazer na festa. Abreviadamente, pensamos em algo simples e familiar. Decidimos que resolveríamos melhor em outro momento, sem Tony por perto. Tony me levou ao apartamento onde vivia e explicou que eu poderia dormir ali, já que ele pediu a permissão dos meus pais para tal — como se eu precisasse. Mas Tony queria ficar bem com meus pais e pagar de bom moço. m*l eles sabem que tipos de coisas perversas passavam pela mente dele. O lugar não era grandioso, havia uma pequena sala com uma televisão grande, sofás claros e uma mesinha de centro com um vasinho de flor de plástico — pois Tony não tinha capacidade de cuidar de uma de verdade —, um único quarto com uma grande cama de casal e um armário, a cozinha e o pequeno banheiro. Na sala encontrei um amontoado de papeis, aparentemente todos do trabalho dele. Com muita insistência de Tony, resolvi passar a noite com ele. No entanto, se quisesse ficar cômoda e me sentir bem era necessário arrumar a zona que estava. Arregacei as mangas e peguei tudo que precisava e comecei a faxina. Terminei, deixando cada cômodo impecável. A convivência entre mim e Tony não parecia tão diferente da que tinha com Dante. Não era de se espantar que sejam a mesma pessoa em aspectos. Ambos eram iguais em absolutamente tudo; além de péssimos hábitos alimentares, eram desorganizados e bagunceiros, e ainda, de quebra gostavam de me provocar a ponto de ficar acuada. Onde já se viu andar pelo apê todo só de toalha? Minha mente traiçoeira maquinava ideias mirabolantes para revidar essas provocações, mas a minha parte sã e sensata, que agradeço por estar intacta me impediu. Tony fez questão de me acompanhar até o único quarto que tinha. E o cretino passeava de toalha como se fosse à coisa mais normal do mundo. Não pude evitar olhar para aquela visão tentadora. Depois de escovar os dentes e vestir uma roupa mais confortável no banheiro, encontrei Tony deitado preguiçosamente na cama, vestido unicamente uma calça que se acomodava perigosamente um pouco abaixo da cintura. Podia ver detalhadamente cada ponto do peito definido. Fiquei alguns minutos apenas encarando sem tomar uma atitude decente, e meus olhos sempre paravam onde não deviam. Merda, quando foi que fiquei tão pervertida? Dei meia volta e entrei no banheiro, trancando a porta por precaução. Joguei água fria da torneira no meu rosto e tentei me acalmar. Qual é o meu problema? Tony é meu noivo - pelo menos é isso que todo mundo diz -, não devia ficar nervosa por dormimos juntos. Mas porque esse maldito tinha que ser tão gostoso. Não, não serei manipulada. Vou entrar naquele quarto e o ignorarei. Eu posso... Eu consigo! Sai do banheiro confiante e dizendo a mim mesma que eu podia qualquer coisa. Inclusive dormir com um lindo e sexy na mesma cama. Entrei no quarto como quem não quer nada e fingi que a atitude provocativa não me afetava. Sorri descaradamente para a reação surpresa de Tony. Não satisfeito pegou meu braço e me puxou violentamente contra seu peito. A pancada doeu, mas foi logo esquecida quando ele me aconchegou em seus braços. Pois é, essa ele venceu. Tony caiu no sono antes de mim. Fechei meus olhos esperando a sonolência chegar. Mas estava difícil. Velei pelo sono de Tony, vendo dormir tranquilamente. Fiquei assim até enfim dormir. Eu estava sonhando, obviamente. Estava presa em uma arvore e envolta por galhos e plantas. As ramificações afiadas dos galhos pressionavam minha garganta, algumas apertavam fortemente meus braços e pernas deixando minúsculos cortes, dilacerando a pele. Elas se mexeram, pressionando-me ainda mais forte. Abaixo de onde estava, havia dois pares de olhos muito familiares e gritavam continuamente meu nome. Tentei me mover e dizer a eles que estava bem, porém não pude mesmo com todo esforço que fazia. Em meio a isso, tive uma diferente impressão de que algo tentava alcançar minha consciência através de dimensões distantes e inimagináveis. Ouvi frases e palavras entrecortadas e cheias de preocupação. Uma estranha dor atingiu minha nuca e penetrou por ela, causando ardência incomoda. A escuridão parecia tão acolhedora e confortável. E não resisti quando ela me dominou. Acordei num rompante e pouco tensa, por sorte não acordara Tony no processo. Voltei a adormecer como se nunca tivesse tido pesadelo.
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