Conclusão: Destino&Retorno

4053 Words
Eu não tinha forças. O máximo que — talvez — poderia fazer era criar um escudo. Não seria muito forte e muito menos resistente suficiente para aguentar serie de ataques, mas seria eficaz para nos proteger por alguns minutos. Eu não conseguia cria-lo. O que me restava fazer era assistir Dante e Nero matando tranquilamente cada um das dezenas de demônios presentes. Meus olhos não doíam mais e agora conseguia enxergar completamente bem. Alexander ficou comigo para me proteger e curar alguns ferimentos que tinha e que nunca saberia como ganhei. Nada disso me importava, eu tinha conseguido salvar Dante. Mesmo um pouco dolorida, estava muito feliz. Poderia usar minha felicidade para conter minha aura que começara a repelir as pedras ao meu redor. Eu tentava suprimi-la, mas ela insistia em crescer. Tirei toda tensão do meu corpo e limpei a mente. Não podia me deixar levar por pela frustração ou qualquer outro sentimento que pudesse me tirar o foco. Com esforço puxei minha aura de volta e a mantive presa, tornando-me uma garota aparentemente normal. Agora não teria que me preocupar em atrair demônios. Eu estava extremamente exausta, e com o que sobrou das minhas forças utilizei para controlar com sucesso minha aura. Tudo que queria agora era uma longa noite de sono. Apoiei-me em Alexander, respirando pausadamente. — Como se sente? — Alexander indagou, preocupado. — Um pouco cansada — minhas pálpebras estavam pesadas, m*l conseguia mantê-las abertas. — Logo você poderá descansar! Tentei forçar um sorriso. Não havia mais nenhum demônio a vista, e Dante e Nero vieram até nós. Com minha insistência, Alexander me pôs de pé e colocou meu braço sobre seus ombros para me apoiar. Ele queria ter certeza que não cairia pela fraqueza. Eu, por outro lado, queria apressar as coisas e me jogar nos braços de Dante. Um passo de cada vez, Alexander me levou para perto dos garotos. — Dante — o chamei baixinho, temi que ele não me ouvisse. No entanto, senti seus braços quentes me tirando de perto de Alexander e me abraçando desajeitadamente. — Você esta horrível — Dante brincou, enterrando o rosto em meus cabelos. Eu devia estar mesmo horrível; meu rosto devia estar marcado pelas já secas lágrimas de sangue, meus cabelos estavam sujos e bagunçados e minhas roupas estavam cheias de sujeira e rasgadas. — Isso é o tipo de coisa que se diz a uma pessoa depois de reencontra-la? Você realmente não tem jeito com mulheres! — Talvez precise de algo melhor que simples palavras — O quê por... — antes que tivesse chance de terminar a pergunta, Dante me calou com um beijo. No começo fiquei sem reação, então enlacei meus braços em seu pescoço sentindo os sedosos cabelos entre meus dedos. Respondi todas as exigências dos seus lábios, e retribuindo com mais fome. Senti algo sólido e inquebrável se restituir. A forte ligação entre mim e Dante estava acendendo. Agora eu tinha certeza dos meus sentimentos e da força deles, estava ciente também da conexão existente entre nós. Meu coração bateu rápido, como se estivesse batendo no mesmo ritmo que o dele. Com um aperto no peito e nó na garganta, quebrei o beijo. Tinha que encarar a dura realidade. Eu estava morta e não poderia voltar com eles. — Precisam ir embora! — pedi, me afastando. — Como assim "precisam ir"? Você não vem conosco? — Nero indagou confuso. — Estou morta e não posso voltar Pela expressão de cada um, dava para saber que não gostaram nem um pouco do modo que minhas palavras soaram. Era como uma despedida permanente. — Ainda posso criar um portal para o mundo humano — sussurrei, dando um meio sorriso. Usei uma parcela do poder da aura para abrir um pequeno portal. Por um momento, minha mente encheu-se de pensamentos conflitantes e emoções confusas. Queria pular naquele véu luminoso e voltar ao plano terreno, mas simplesmente não podia. — Tsc! — Dante resmungou e ficou de frente comigo, com os braços cruzados — E por que você acha que vou te deixar aqui? Olhei para Dante, e não havia nenhum sorriso em seus lábios. A dor lancinante e indescritível tomou meu peito, fazendo meu rosto se retorcer de angustia. — Minha Ponte do Coração foi rompida, não posso voltar! — as primeiras lágrimas ameaçaram cair, respirei fundo e reprimi a vontade de chorar. Sabia que sem uma algo para me ligar a vida, estava condenada a partir. Não ir por um breve momento, mas ir para sempre. Sem retornar mais. Eu ia para um lugar onde só poderia observa-los, um lugar onde não podia alcança-lo. Dante ergueu o braço e pude ver que ainda havia um cordão vermelho enrolado nele, do mesmo modo de como estava na sua versão criança. — Sabe o que é isso? O fio brilho suavemente. E lembrei-me das palavras do pequeno Dante: "É de alguém muito importante para mim e minha mãe disse que tenho que segurar firme e não soltar" Aquilo era? Todo esse tempo? Engoli audivelmente, impressionada e pasma. — Isso não é possível... — Não sou do tipo de me limitar a algo que muitos consideram impossível — Dante desenrolou calmamente o cordão e o deixou livre para que voluntariamente se prendesse ao meu peito. Consegui sentir novamente a pulsação do outro lado, na ponta do cordão. — Temos que ir — Abruptamente fui pega e jogada por cima dos ombros por Dante — A festa acabou! Entrei em estado letárgico, no segundo seguinte estava com uma agitação implacável. Bateu-me um misto de alegria desenfreada, ansiedade e expectativa. E minha mente operou no automático. No fim, era isso, Dante que sempre me salvaria, nunca o contrario. Deixei que a exaustão tomasse conta do meu corpo, e de repente, tudo ao meu redor parecia um sonho que logo terminaria. Fechei os olhos, certa de quando despertasse estaria em um lugar seguro. Não ouvi mais nada. *** Antes de abri meus olhos, sabia que havia algo diferente. A brisa bateu levemente na cortina e podia senti-la tocar minha pele, fazendo-a se arrepiar com o contato. Acordei com a luz do sol batendo impetuosamente no meu rosto. A sala estava muito clara. A luminosidade forte cegou-me por um momento, pisquei algumas vezes para me acostumar com ela. Confusa e cansada, não fazia ideia de onde estava. Busquei algo que me ajudasse a identificar. Parecia um quarto; paredes brancas, uma comprida janela ao lado da cama, um guarda roupa simples de mogno e tinha alguns enfeites e um vasinho de flores no criado mudo. O doce cheiro que elas exalavam encheu o cômodo trazendo uma sensação de paz para todo meu corpo. Era o meu quarto no casarão que estava hospedada. Quase não o reconheci, logo que passava muito mais tempo no quarto de Dante que nele. Sentei na cama. Toquei em meu rosto, sentindo o calor e a textura da minha pele. Puxei o máximo de ar que meus pulmões podiam suportar, e em seguida soltei lentamente. Repetindo esse processo até minha mente estar convicta que estava viva. Um tremor percorreu meu corpo e observei as luzes entrando pela vidraça. Durante alguns minutos fiquei olhando a paisagem pela janela enorme que dava para varanda, desfrutando a visão mais incrível do mundo; o nascer de um novo dia. Contraste de rosa e laranja, que se misturavam em meio ao azul. O sol mostrava sua gloriosa luz no horizonte em tons de dourado e creme trazendo calor, lentamente formando uma luz de alaranjada, mudando todas as cores. Agora o azul celeste tomava o céu — o mesmo azul do céu no paraíso. Deixei um suspiro escapar. Meu coração batia em seu ritmo normal, minha pele tinha calor, meus pulmões tinha necessidade de ar e meu corpo doía. Todas as limitações de estar vivo. — Estou viva — murmurei deleitando-me com a felicidade. Ouvi sons de algo caindo no chão, tirando-me de minha meditação. Olhei para onde sairá o barulho e dei de cara com Rain completamente desconcertada, e no chão alguns utensílios de primeiro socorros. — Oh! Meu Deus! — Rain balbuciou surpresa — Diva você esta viva! Por um momento, Rain estava paralisada e olhando para mim e eu para ela em uma curta distância. Parecia prestes a desmaiar. Então, com um movimento, jogou-se sobre mim. Seus dedos tocaram levemente meu rosto, como se estivesse procurando algo nele. Era um toque quase imperceptível, um roçar tão delicado quanto a brisa da manhã. Rain queria, através daquele contato, ter certeza que realmente era eu, que estava de volta. Em seguida, hesitante, colocou suas mãos entre meu rosto contemplado meu retorno com lágrimas de alegria. — Todos ficarão contentes em saber que esta bem! — anunciou, sorrindo abertamente — A ilha inteira se prontificou a rezar pelo seu retorno! E vejo que todas as preces deram certo! — Fico agradecida pela preocupação de todos — peguei as mãos de Rain e as apertei gentilmente entre as minhas — E Dante? Onde ele esta? — Sabia que seria a primeira coisa que iria perguntar — meu rosto esquentou — Ele já acordou e esta bem. Quer vê-lo? — Sim, mas antes preciso te pedir um favor. — Pode pedir! Aproxime uma mão à sedosa massa castanha que caia sem controle sobre meus ombros. — Gostaria que cortasse meu cabelo — Por quê? Algo errado como ele? — Hm, não! Apenas quero mudar um pouco. — Esta bem, vou pegar uma tesoura e volto já! — Rain saiu do quarto e não demorou muito para retornar com a tesoura. Levantei um pouco tremula, mas mantive-me firme para não acabar tombando. Rain me guiou até uma cadeira, e colocou uma manta sob meus ombros. Passei a mão novamente em meus cabelos. Não que eu não gostasse deles longos, mas com ele curto seria mais pratico. Rain escovou meus cabelos e consegui ouvir a tesoura cortar mecha por mecha. Pude visualizar os pequenos tufos caindo no chão. — É estranho que meu cabelo tenha crescido comigo desacordada — comentei. — Sim, um pouco — Rain deu uma risadinha, e começou a repicar as pontas já curtas — Mas deve ser por que seu corpo se adaptou a aparência de Arya, não? — Pode ser, mas mesmo sendo a reencarnação dela, somos muito diferentes. Não sou mais a Arya e não quero viver sobre a sombra dela. — suspirei entediada — Simplesmente aceitei quem era. — Eu já esperava que você dissesse algo assim — Sou tão transparente assim? — Transparente não, mas é como um espírito forte. Você é como fogo dentro do gelo Franzi o cenho. — Você compreende que isso não faz o menor sentido, né? — Um dia você vai entenderá o sentido disso. *** Não demorou muito para Rain terminar o corte. Agora meus cabelos estavam um pouco mais curtos que antes. Eles emitiam mais brilho e vida, e com visível clareamento nos tons de castanho. Depois que ela foi embora, me dizendo que precisava avisar a todos as boas noticias, fiquei um bom tempo olhando minha imagem no espelho. Analisei meu novo corte e notei que estava parecida com a Saya do anime Blood+. Ri internamente com a possibilidade de fazer um cosplay dela. Corri para fora do quarto, caminhando pelo corredor deserto até parar diante da porta do quarto onde Dante estava. Minha pele se arrepiou e meu coração bateu fortemente no peito. Eu não consegui descrever o que sentia. Não era só alegria... Era uma espécie de prazer por conseguir algo muito importante. Agora tinha Dante de volta, seguro e inteiro. Dei uma leve batida na porta. — Pode entrar — ouvi a voz dele do outro lado. Respirando profundamente, abri a porta. — Espero não estar atrapalhando — Não está — Dante sinalizou para que me aproximasse. — Eu não mordo, quer dizer, só se me pedir. Típico dele: se arrebenta todo, mas não perde a piada. — Como se sente? — Meio quebrado, mas acho que estou pronto para outra — brincou. Sentei na cama desarrumada. Dante parecia relaxado, e mesmo sem olha-lo diretamente eu sabia que ele estava me encarando, focando intensamente cada movimento meu. Um olhar fixo e penetrante, suficiente para me fazer corar todos os tons possíveis de vermelho. Podia sentir minhas bochechas queimavam e pulsavam ao mesmo tempo. Ficou um clima meio estranho no ar. — Posso ver seu ferimento? — essa tentativa para iniciar um assunto foi meio estranha. Dante segurou os lençóis e começa a tira-los. Ouvi um clique em minha cabeça, eu não tinha prestado atenção nisso e quase engasguei quando percebi. — Não espera... — o impedi de continuar. Dante arqueou as sobrancelhas, intrigado com minha estranha atitude. — Você está vestido? — Veja por si mesma — com um movimento ágil tirou o lençol e automaticamente usei minhas mãos para cobrir meus olhos, corando furiosamente. Dante deu uma leve risada e afastou minhas mãos. E percebi, para meu alivio, que ele estava de calças. — Por que não disse logo em vez de fazer drama? — Não teria tanta graça quanto ver você vermelha. Balancei a cabeça. Fitei o ferimento, tocando-o gentilmente. Eu já estava acostumada a cuidar da enorme — não tão grande, já que diminuirá bastante desde a última vez que virá — ferida de Dante. Antes de decidir ir ao Inferno, passei muitos dias cuidando dele. No entanto, isso nunca impediu que me sentisse envergonhada em toca-lo, e principalmente agora que esta totalmente consciente. O bom é que com ele vivo e desperto, o ferimento logo cicatrizaria. — Preciso de um banho — afirmou, olhando o sangue seco em volta do machucado. — Realmente! — concordei, rindo. — E você também — engasguei e o encarei perplexa. Dante olhou para mim, sua expressão mais serena, e diz: — Pode me ajudar a ir ao banheiro? — Sim — respondi mecanicamente, ainda absorta. Dante saiu da cama com um pouco de dificuldade e se apoiou em mim para caminhar, mas tentou não colocar todo o peso em meus ombros. Sem pressa caminhamos para dentro do banheiro. Dante encostou-se na parede e liguei a torneira para encher a banheira. Coloquei alguns sais de banho e verifiquei a temperatura. A água estava quente e cheirosa, um misto de alecrim, rosas e lavanda. — Acho que esta boa para tomar banho — comentei distraída — Vou aproveitar e tomar um banho também... No meu quarto — dei ênfase na ultima parte. — Já que esta aqui poderia me fazer companhia. — arfei, e meu coração bateu descompassadamente. — Isso pouparia seu trabalho. Fiquei tentada a aceitar, porém um lembrete mental em neon piscou repetitiva em alerta, praticamente gritando; Não faça isso! — Prometo não fazer nada, a não ser que peça. Uma coisa que em Dante que podia confiar plenamente era sua palavra. Quando ele prometia algo, sempre cumpria. Esse era uma de suas grandes qualidades. Com uma forte sensação que me arrependeria depois, decidi aceitar. Não havia um m*l real na situação. Podia facilitar meu trabalho de sair e preparar meu próprio banho. Se bem que mesmo tendo banheiras, ainda tinha chuveiros que eram mais rápidos. Esse banheiro tem coisas incomuns, mas nada muito bizarro. Fechei o registro, e me preparei psicologicamente. — Então esta bem — desabafei resignada. Eu estava nervosa — o coração quase saltando pela boca. Tremendo até o ultimo fio de cabelo. Ainda tentava entender a mim mesma e a razão para ter aceitado essa ideia maluca. Não podia dar para trás; o que está feito, está feito. O espaço dentro do banheiro parecia diminuir com nós dois juntos dentro dele. — Não precisa ficar nervosa. Parece que esta de frente a um predador; assustada e encurralada. O pior era que sentia dessa forma, como se Dante fosse realmente um terrível predador que estava pronto para me pegar a qualquer momento. Um caçador implacável e silencioso que espera pacientemente que sua presa se distraia para devora-la. Nesses tensos minutos, minha mente parecia processar pensamentos que me deixaram ainda mais preocupada. Estava ficando paranoica, sem um motivo. — Não estou obrigando você a nada, se não quiser não precisa fazer isso. — Tem razão — respirei fundo, afugentando pensamentos desnecessários — Precisa de ajuda? — indaguei corajosamente, percebendo o esforço de Dante para retirar as calças. Cada movimento que fazia, sua expressão dava a entender que ainda sofria pela dor do ferimento. — Acho que posso fazer isso sozinho — ele sorriu, e seus olhos nublaram — Mesmo que seja bem excitante a simples ideia de você tira-las para mim. Meu rosto ficou em chamas. Dante começou a desafivelar o cinto. A cena não podia ser mais constrangedora e comprometedora. Para ele podia não ser nada de mais, porem para mim era vergonhoso demais. Virei e fiquei de costas, sob a risada de Dante. Olhei para a banheira cheia de espuma. Gelei assim que ouvi o som de tecido bater no chão. Aquilo significava que Dante estava nu. Uma parte minha estava me tentando, induzindo-me a virar e vê-lo exposto, mas bloqueei a voz jogando-a no abismo da minha mente. Houve outros sons distintos. O primeiro foram passos, que parecia se aproximar perigosamente de mim. Não sabia se aquilo era coisa da minha imaginação ou a realidade. Todos os pelos do meu braço se arrepiaram. Paralisei no lugar, aliviada escutei o suave som de alguém entrando na banheira. — O perigo já passou, pode olhar — debochou e completou: — Agora pode se juntar a mim. — Feche os olhos! — guinchei apreensiva. — Como? — Eu disse; Feche os olhos! — repeti mais alto. Sem protestar e deixando escapar um longo suspiro, ele fez o que pedi. — É bom que não esteja olhando, por que se tiver... Juro por tudo que é mais sagrado que corto seu... Amigo! — Fica tranquila que não o farei. Tirei o vestido branco de detalhes dourados, com todo cuidado possível. Deixei que ele deslizasse livremente pelo meu corpo, caindo no chão com um mudo tilintar. Engoli em seco, retirando as ultimas peça de roupas. Insegura, mergulhei os pés na água para sentir sua temperatura. Então, imergi e dobrei os joelhos, abraçando-o firme contra meu b***o. — Posso olhar? — Pode! — despreocupadamente, ele abriu os olhos e me encarou, com curiosidade. Diferente de mim, Dante mostrou-se estar à vontade e manteve os braços largados na beirada da banheira. Apertei mais forte meus joelhos, para evitar nos tocar diretamente. Deitei minha cabeça em minhas pernas e me deixei levar pelo delicioso calor da água e o misto doce de cheiro. — Ei, doçura — Dante me chamou, levantei a cabeça — Vem! — pediu, estendendo a mão. — O quê? — pisquei desconcertada. Meu corpo entrou em combustão por dentro, e um estranho sentimento borbulhou e ardeu em minhas veias, meus olhos se arregalaram. Minha expressão era tão aterrorizada quanto de um anime. — Não é nada disso que esta pensando, apenas quero lavar seus cabelos. Dante podia facilmente se aproveitar de mim, mas não o fez até agora. Por conta disso, eu podia confiar nele para fazer uma tarefa simples como essa. Era um exercício de confiança. Virei de costas para ele, tremula e agitada. Ele jogou um pouco de água sob minha cabeça e pegou um frasco de xampu cremoso. As pontas de seus dedos massagearam meu couro cabeludo. Dante parecia um especialista. — É um bom momento para conversar, não é? Hm, ele realmente quer falar sobre isso? — Conversar sobre o que exatamente? — fingi de desentendida. — Sobre minha ida ao Inferno... — Eu ficou agradecido por ter ido ao Inferno me ajudar. — ele me cortou antes que eu pudesse terminar — Mas não devia ter ido lá, foi muito perigoso. — Perigoso? — repeti, sem entender onde ele queria chegar com aquilo. — Eu não estava sozinha, Nero e Alexander estavam comigo! — Nero, huh — ele sussurrou descontente. — O que foi? — rebati impassível. Dante enxaguou minhas curtas madeixas. Uma vozinha em mim gritava de euforia e me dizia que a mudança de comportamento dele era ciúme. E se fosse? Fiz um milagre? Cadê sua arrogância agora? Não me provoque, Dante rosnou na minha mente. Eu esqueci que ele podia ler meus pensamentos. Acho que o irritei — isso prova que acertei em um ponto que quase ninguém chegou, fui capaz de ferir o ego dele. No entanto, tinha algo diferente na minha interação com Dante, pode ter sido por que conheci a fundo a alma e os sentimentos dele. Era como se eu conseguisse ver algo que nunca, ninguém, jamais poderia ver. Eu me senti privilegiada por isso. Opsie, foi m*l! Você sabe que é o único, não é... Dante roçou o nariz em minha nuca e inspirou profundamente, e minha pele se arrepiou. — Eu sei, sei também o quanto você me quer. — Calado! — esbravejei. Dante divertir-se com minha reação. Tomei a frente. — Agora deixe eu fazer isso para você. Dante prontamente virou-se, e assumi seu lugar como lavadora de cabelos. — Você não devia se preocupar tanto comigo, fique o senhor sabendo que sou a reencarnação da famosa Unchant que lutou ao lado do seu pai na guerra que houve a mais de dois mil anos atrás — passei um pouco de água em sua cabeça, imitando o processo que ele fizera no meu — Sou mais forte do que pensa, Ok! — Esta falando da tal Arya? — Sim, ela mesma. — Isso explica o porquê de serem tão parecidas — murmurou reflexivo — E também essa estranha marca nas suas costas, era a mesma que havia na estátua do templo. — Marca? Que marca? Orion já havia comentado comigo sobre uma suposta marca, mas acreditava que fosse uma bobagem e que ele estava ficando louco. Tudo indica que há mesmo uma marca. — Como ela é? — Parece Ômega virado para baixo com uma espada no meio. — Que estranho. Terminado meu trabalho voltei a minha posição, mas não pude desviar meus olhos de Dante que estava com a cabeça inclinada para trás, apoiando-se na borda. Seus braços pendiam para fora da banheira. Respinguei água no meu rosto para me acalmar. De súbito, meu campo de visão se encheu de bolhas. Olhei confusa e percebi que Dante estava soprando a espuma em minha direção. Formando salpicos de espuma e bolhas. Parecia neve brilhante e pura. Não pude deixar de sorrir, ele estava tentando fazer meu desconforto sumir. E posso garantir que deu certo, por que já havia me juntado a ele nessa brincadeira. *** Dante saiu e me deixou sozinha no banheiro. Dei-me um tapa mental quando percebi que não tinha trazido roupas extras e meu vertido estava molhado. Não dava para sair de toalha pelos corredores até meu quarto. — Dante você tem alguma roupa para me emprestar? — gritei. Ele atirou uma camisa dentro do banheiro. — Obrigada — peguei a camisa, que mais parecia um vestido para mim. Quando sai, Dante já estava coberto com uma calça e secava o cabelo com uma toalha. Eu também precisava disso, meu cabelo também estava um pouco molhado. — Diva! — Rain irrompeu pelo quarto. Ela travou quando nos viu. — Eu... Espero não ter atrapalhado nada... O rosto de Rain adquiriu um leve rubor. Ela deve ter achado que tínhamos... Bem, não importa. Entretanto, tinha que admitir que a situação favorecia esse tipo de pensamento; Dante seminu e meio molhado e eu usando uma camisa dele, igualmente molhada como a óbvia aparência de que acabamos de sair de um banho — o que tinha mesmo acontecido — e estarmos sozinhos dentro de um quarto. — Ah — dei uma risada nervosa — Ah... O que foi? — Talvez fosse melhor dizer outra hora — Não! — gritei. Sabia que tinha sido abrupta e até um pouco rude, mas não podia evitar me sentir nervosa — Pode falar! — Todos querem ver e falar com vocês! — Esta bem, diga que já estamos indo... Rain praticamente correu feito um jato para fora do quarto. Essa vai para minha lista de momentos vergonhosos. Balancei a cabeça, afastando o constrangimento. Chegou a hora de encarar a realidade e agradecer a todos que oraram pelo nosso retorno.
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