Ouça o Pedido do Outro Lado

2106 Words
Nero nunca tinha visto nada minimamente parecido com aquilo. Era como se ele tivesse vendo uma boneca, a pele de uma palidez mórbida e os olhos tão vagos e sem o brilho que normalmente teriam. Independente de ela ser uma garota humana, fora ela que tinha trazido àqueles demônios. Ele precisava apenas mata-la para por um fim nesse caos, que já tomara proporções altas demais. Com Yamato ainda próxima ao pescoço dela, apenas um movimento e acabou. Não! , Uma voz gritara na mente de Nero. Ace levantou levemente a cabeça o suficiente para que conseguisse ver por baixo do chapéu, sentado na área nobre da casa de opera ele tinha uma ótima visão do palco. Ele queria ver até onde o garoto iria — se ele realmente mataria a jovem. Caso chegasse a esse ponto ele teria de interferir. Ace tinha um mau pressentimento, mas nada o impediria de concluir seus planos. Absolutamente nada. — Nero? — chamou Kyrie, um pouco hesitante tocou o braço do jovem. Nero sentiu como se outro par de mãos tocassem seu Devil Bringer, algo quente e reconfortante. "Não faça isso!", pedi segurando a Devil Bringer de Nero. A nossa volta tudo estava parado. Era como se o tempo estivesse parado. Nero olhou surpreso para mim. "Quem é você?", perguntou, sua voz estava rouca. "Não tenho tempo para explicar, apenas peço que me ajude!" “Você causou tudo isso”, sua voz era de um tom acusador e nervoso. “Não, sou tão vitima nisso quanto qualquer um... Estou sendo controlada. Ajude-me só assim posso parar essa destruição.” Ele deu um suspiro de resignação. “O que eu devo fazer?” Nem eu sabia ao certo o que faria para voltar ao meu corpo. De fato, eu tinha consciência que uma entidade o controlava superficialmente, como se fosse um daqueles bonequinhos de corda. Quem sabe se o tirando, faria com que minha alma voltasse automaticamente para meu corpo. Acima de mim, podia ver claramente a esfera vermelha escarlate. Demorou um tempo para que eu fosse reparar nela — nunca fui muito de reparar em certos detalhes. “Destrua aquilo”, apontei para a esfera. Nero olhou na mesma direção, porém ele parecia não estar vendo. Concentrei minha energia focando-a no objeto assim tornando-o visível, como não tinha tanta maestria com esse tipo de poder não podia mantê-lo por muito tempo. Posicionando-se, Nero num veloz e certeiro golpeou a esfera e partindo em pedaços. Nesse mesmo momento, todos os demônios do local entraram em combustão. Sorri com a cena. Finalmente podia voltar a mim. Uma imensa pressão puxou-me de volta, ao mesmo tempo em que outra força me impelia para fora. Eu me sentia sensível e dolorida, mas também podia sentir a influencia saindo de mim. Sem a entidade, minha alma voltou restaurando-se ao corpo, minhas memórias pareciam ao mesmo tempo distantes e tortuosamente próximas, enquanto me atingiam com tudo. A escuridão me chamava e cedi a ela. Aos poucos, tudo foi clareando e consegui abrir meus olhos embaçados e pisquei varias vezes tentando me acostumar com a claridade do local. Respirei fundo puxando o máximo de ar para meus pulmões. O ar entrou queimando. Naquele momento era como se eu tivesse acordado de um pesadelo. Tentei me lembrar de quando e como tinha chegado ali e sentia que tinha esquecido algo realmente importante. Acima de mim tinha uma fraca iluminação. O que não ajudou em nada, já que fez com que meus olhos doessem. Focalizei para as duas pessoas que me encaravam, Nero e Kyrie. Eu pularia e euforia se todo meu corpo não tivesse terrivelmente fraco e dolorido. — Hey, consegue se levantar? — Nero indagou, eu tentei assenti mas minha cabeça latejava muito. — Sim! — minha voz saiu quase como um murmúrio. Senti braços fortes me tirarem do cão. Era Nero que estava me carregando. Apesar de estar me sentindo um lixo, aproveitei a oportunidade a pousei minha cabeça nos ombros de Nero. Ele começou a andar mas parou. Virei-me, e encontrei Ace imóvel em nosso caminho. Ele parecia estar com uma aura mais sombria e perigosa que o costumeiro. Eu me agarrei fortemente a Nero, num apelo mudo de proteção. — Entregue a garota! — Ace exigiu, o tom de sua voz era assustador. — E porque eu faria isso? — Nero me colocou no chão colocando-se entre Ace e eu. Kyrie puxou-me para longe. — Saiam daqui. — Mas... — comecei olhando-o fixamente. — Temos que ir. — pediu Kyrie. Soltei-me das mãos de Kyrie e num gesto impensado e imprudente da minha parte — digamos que não sou a pessoa mais sensata do mundo — inverti os papeis, ficando de frente a Ace. Eu não tinha muitas opções; ou decidia lutar e por um fim nisso ou simplesmente deixava Nero lutar numa batalha que não era dele. Seria injusto e covarde da minha parte. Agora eu estava bem ciente que tinha poderes, mesmo que de certa forma, não soubesse como usar. Eu teria que tentar a sorte. Estendi a mão e concentrei em qualquer coisa que pudesse me ajudar. Foi então que pensei em algo semelhante a feixes de luz, fazendo-me lembrar da cena que eu gostei do jogo Devil May Cry 4, quando Dante joga lanças num dos portões até formar um coração. Um leve redemoinho de ar me envolveu trazendo um doce aroma de lavanda e sândalo, um agradável calor cresceu em minhas mãos e eu as apontei para Ace. De repente, varias estacas reluzentes atingiram Ace, fincando-o no chão. No entanto, não pareceu incomoda-lo como eu esperava que fosse acontecer. Pelo contrario, além de não ter o efeito desejado fez atiçar a obscuridão e a raiva de Ace. Eu não sabia como, mas pude sentir. A tensão fez o ar ficar pesado e rarefeito. E até este momento, eu sequer compreendi o que Ace era, muito menos considerei o que ele podia fazer. Depois que se livrou de cada um dos vários feixes, ele lançou-me um olhar quase que mortal mas diferente do que eu esperava ele não tentou fazer nada contra mim ou nada meramente parecido. Ace deu meia volta e simplesmente saiu, deixando-me confusa e atônita ao mesmo tempo. Com um profundo suspiro de alivio, permiti que meu corpo caísse pesadamente no piso frio. Eu ainda fiquei observando Ace sair pela porta, esperando que num breve descuido meu ele atacasse. Ele não o fez. Ele saiu, assim sem... Como se nada tivesse acontecido. Talvez isso tenha sido uma armadilha e com toda certeza ele voltara. — Agora preciso de uma boa explicação. — olhei para Nero por cima dos ombros. Essa seria uma longa noite. Tomei pequenos goles do chocolate quente que Kyrie tinha feito para mim. Sinceramente, não gostava muito dela no jogo porque eu a achava extremamente chata. Mudei completamente minha percepção sobre ela. Dizem que nunca devemos julgar ninguém sem realmente conhecer. Nero sentou de frente a mim com um olhar desconfiado mas vez ou outra o pegava olhando — rapidamente — constrangido para o enorme e apertado decote do vestido que eu usava. Apesar do longo e pomposo vestido n***o não mostrar tantas camadas de pele, ainda era incomodo logo a parte que eu não gostava nem um pouco de mostrar, ficasse tão visível. As circunstâncias por si já não estavam a meu favor, parecia que seria meu julgamento. Desde que fui trazida para o apê onde Nero e Kyrie viviam — eu até me perguntava se eles já tiveram relações sexuais, tudo bem que não era da minha conta, mas como uma fã minha curiosidade é maior (Correndo até risco de ser esfolada, sorte minha que eles não leem mente) —, eu tive a chance de contar um pouco sobre o que aconteceu — obviamente não contei tudo nos mínimos detalhes, como por exemplo, que eles eram personagens de um jogo e que na realidade era outro mundo — e também que eu havia conhecido Dante. Traduzindo; coloquei todos os pingos nos "is". Kyrie apareceu com uma muda de roupa e ofereceu-me. Eu não pretendia ficar com aquele vestido, não apenas por mostrar demais, mas por más lembranças. Peguei um pouco hesitante. Kyrie me acompanhou até o banheiro para que eu pudesse me trocar. — Obrigada! — dei meu melhor sorriso. — Não precisa agradecer. Se precisar de algo é só chamar. Assenti. O ritual de banho e troca de roupas foi tranquilizador e ajudou para que eu me livrasse da tensão. Vesti uma confortável camisa de algodão com mangas longas que batia no meio da minha coxa e uma calça de moletom rosa claro. As roupas serviram perfeitamente em mim. Sai do banheiro totalmente relaxada. Encontrei apenas Nero sentado no sofá da sala. Pigarreei numa tentativa de chamar atenção dele. — Ahn, onde a Kyrie está? — perguntei meio que iniciando um assunto. Engraçado que quando vi Dante pela primeira vez não fora de longe tão constrangedora e nem estranho como esta sendo com Nero. Talvez seja o fato que não me dava muito bem com pessoas na mesma faixa etária que eu — entre eu e Nero não parecia terem grandes diferenças de idades, ate onde eu saiba ele tinha uns dezoito e eu tenho dezoito também, simplificando temos a mesma idade. Era bem difícil me adaptar com pessoas que tinham objetivos estupidamente infantis — não considero pessoas insanas, sendo que eu poderia me enquadrar nessa categoria. Eu lembro que quando cursava o ensino médio era péssima em lidar com outras pessoas. De qualquer forma, ainda consegui fazer amizades preciosas. No entanto, eu tive o primeiro contato com Nero de uma maneira que poderia considerar lamentável e muito estranha. Contudo, a palavra estranha é eufemismo, bizarro e insano combina melhor. Imaginem a situação desagradável e para piorar Nero me encarava com uma expressão indecifrável. — Ela esta arrumando um lugar para você dormir no quarto dela. — Vocês não dormem juntos...? — soltei sem querer. Se existisse um tom mais intenso e ao mesmo tempo claro de vermelho se encaixaria perfeitamente no rosto de Nero. — Anh, desculpe. Eu corei. — Esta tudo pronto! — Kyrie apareceu sorrindo, mas vendo nossas expressões ela ergueu a sobrancelha confusa. — Perdi alguma coisa? — Não! — respondemos em uníssono. E sem mais explicações fomos para os quartos. Ajeitei-me no colchão macio, sentindo a fofura do travesseiro. Não demorei muito a pegar no sono. Naquela noite, tive um sonho. A princípio, as imagens que surgiam pareciam desconexas e sem foco. Eu estava de frente a uma versão minha mais jovem — beirando aos seis ou sete anos. Chovia muito, no entanto não parecia que ela/eu se importava muito. Ela/eu estávamos olhando uma sombra que se erguia a nossa frente. Outra imagem, agora dessa vez era de mim atualmente cantando para uma plateia. Então, lembrei-me do que ocorrerá naquela cidade. Riverside City fora condenada. As pessoas corriam e gritavam desesperadas. Sangue jorrando para todos os cantos e demônios se deleitando no sofrimento de suas vitimas. Uma imagem seguinte: Alexander segurando um embrulho rosa que estava bastante agitado e logo percebi que era um bebê, ainda dava para ver a pulseirinha de identificação no bracinho gorduchinho no meio aquele emaranhado de panos. Me aproximei com o máximo de cuidado que podia e foquei meus olhos na pulseira, então pude ver com total nitidez o nome: Ivy Valentine. Congelei no lugar. Aquele bebê era eu. Acordei de sobressalto — arfante e o coração descompassado —, eu estava suada e descoberta. Olhei para o relógio em cima do criado mudo, eram três da manhã. Levantei e olhei o céu escuro da noite. Em momentos como esse, normalmente eu subiria no telhado para olhar as estrelas. Verifiquei a janela para ver se encontrava uma forma de subir. Eu até me senti como uma ninja. Depois de um longo esforço — muito longo mesmo —, subi no telhado e tomei um susto ao encontrar Nero lá. — Uh, olá! — disse constrangida e assustada. — Oi — ele respondeu, olhando para mim. — Não conseguiu dormir? — perguntei amigavelmente. — Não e você também, não é? — Mais ou menos, tive um sonho r**m. — Abracei minhas pernas tentando aquecê-las. — Eu adoro olhar as estrelas quando não consigo dormir, me deixa mais calma. O suficiente para clarear minha mente. — Eu também. O vento rugia entre nós, mas nem isso pareceu importar para Nero. Estava tudo tão calmo e em pleno silencio. No entanto, uma forma n***a atravessou os céus e vinha em nossa direção. Agora sim a noite fechara com chave de ouro.
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