A Triste Melodia do Fim

2410 Words
Dante As densas e arroxeadas nuvens cobriam o céu, engolindo tudo com sua escuridão. A chuva caia sem parar fria e impiedosa, lavando aquilo que se encontrava desprotegido, trazendo o vento frio e o cheiro de terra úmida e mato. A enorme construção fora envolvida por uma luz, ela brilhava intensamente e de alguma forma prendia tudo que estava dentro do local. Dante saltou pela janela do terceiro andar, pedaços de concreto e vidro cortaram levemente suas roupas — algo que não grande problema para ele. Atrás de si, uma enorme massa de energia destruía os demônios que Dante não eliminara, ele não queria perder tempo com inimigos que não valiam a pena — que seria apenas um passatempo. A altura não era relevante. Se ele tivesse demorado um minuto a mais, a poderosa mágica do lugar teria feito um estrago bem maior. O real problema da situação que se encontrava era ter permitido que levassem Diva. Um grave erro que não podia se perdoar. Ele falhou. Ele tinha prometido nunca permitir que nada machucasse Diva, mas não conseguiu livra-la do maldito sequestrador. E nem ao menos sabia o que poderiam fazer com ela. Diva não pertencia a esse mundo, e, no entanto era mais caçada que ele próprio e até onde sabia era apenas uma humana — tinha habilidades estranhas, ainda assim não passava de uma garota comum. Seus pés bateram no chão lamacento, respingando água e barro por suas calças. A chuva se intensificou gradativamente. A construção se consumia em meio à poeira. Por sorte, tinha tirado a tempo os livros que poderiam ajudar Diva. Por um breve momento, Dante permitiu-se sentir raiva e o familiar sentimento de impotência. Um forte soco foi dado na parede recém-ruída. Ele jurou para si que se Ace — ou seja, lá o nome daquele maldito filho da p**a — tocar num fio de cabelo da jovem, ele iria mata-lo. Uma morte lenta e muito dolorosa — seria comparado com uma tortura de mil anos. "Dante me perdoe" a voz de Diva pediu na mente dele. Ele sentiu um estanho sentimento de culpa e dor. — Feioso? — uma voz tremula e familiar chamou. O fato de tê-lo chamado de "feioso" já evidenciou quem era. A garota surgiu em meio à sombras da noite, seu vestido n***o de lolita camuflado quase como se fosse parte da escuridão. — O que você quer? — perguntou rispidamente — Não tenho tempo para perder. — O que houve aqui? Onde esta Diva-nee-sama? — ela indagou visivelmente abismada. — Uma festa m*l planejada e um penetra. E a Diva se foi. — ele disse, tentando soar o mais despreocupado possível. — Como assim se foi? — Dante viu uma careta se formando no rosto da garota. — Como permitiu isso? Dante bufou. — Eu sabia que era um inútil! Por isso que odiava dar uma de baba, crianças como Maya o irritavam. Dante caminhou até seu carro sem se importar em deixar Maya para trás. — Ei, espera! — ela gritou, mas Dante continuou seguindo — Minha irmã quer falar com você! — Entra. — foi à única coisa que ele disse antes de entrar no veiculo. Maya correu para entrar no veículo, sua roupa molhada a incomodava. — O que sua irmã quer falar comigo? — Dante perguntou acelerando o carro na estrada deserta. — Não faço ideia, mas é algo importante. E Maya tinha razão. Eryna tinha algo de importante para dizer. Embora tenha passado a noite em claro apenas dirigindo e encontrar a sabia mulher o encarando pesarosamente por baixo das inúmeras faixas que cobriam seu corpo magro, o assunto parecia realmente valer a pena. — Ace levou Diva, não é? — a mulher perguntou, mesmo que nenhuma resposta fosse dita ela sabia. Eryna sempre sabia. — Sabe onde ela esta? Eryna assentiu suavemente. Mas, não estava tão certa. — Ace esta encobrindo o rastro dela. Dante jogou os livros para Maya, esta os pegou desajeitadamente. — Esses são os tais livros que tem informações sobre a Diva. Maya entregou-os para Eryna. — Eu irei estuda-los, enquanto isso durma um pouco. Dormir? Dante não podia dormir sem encontrar Diva, pensar em todo tipo de atrocidade que podiam infligir a ela. A doce e impulsiva Diva — a única mulher que deitou na mesma cama que ele sem nenhum tipo de relações. Era algo estranho para ele ter todo esse sentimento de proteção e afeto. O primeiro contato de ambos fora estranho. Por que pensar nisso agora? — Sei que esta preocupado com Diva... mas cansado não ajudara em nada. Eryna tinha razão. Ele precisava descansar, mas sua taxa de adrenalina estava alta demais para que sequer pudesse dormir. — Venha feioso, vou te mostrar um lugar para dormir! — Tsc... — gemeu. Dormir nunca tinha sido trabalhoso na sua vida. No quarto, Dante deitou pesadamente no macio colchão que afundou com o peso e encarou o baixo teto de madeira. Normalmente ele dormiria sem problema, e mesmo que seu corpo tivesse cansado por causa da batalha e estranha mágica que destruiu a biblioteca e toda sua evidencia — obviamente era um ultimo recurso para quaisquer ataques de demônios —, ela deu-lhe letargia e, entretanto o sono simplesmente não veio. Mesmo com os olhos fechados. Então sua mente vagou novamente para uma só pessoa: Diva. De alguma forma, a garota que saiu de outro mundo — e que o chamou de personagem de jogo —, despertou seu instinto protetor. Ele tentava não pensar muito nisso, mas não conseguia parar de pensar nela — a garota que de alguma forma o tentara com seu calor, com sua vida — na delicadeza de feições e a leveza e maciez do seu corpo quase tão frágil quanto um artefato de porcelana. Dante se negara a aceitar que tinha algum sentimento em relação à Diva. Ele mesmo nunca se apaixonaria. O amor era algo que nunca sentiria e se orgulhava disso. No entanto, era Diva que sondava sua mente desde o dia que se encontrou com ela, seu espírito se destacava de qualquer outro — a energia brilhante e ondulosa. Era ela que ele verdadeiramente desejava. Que ridículo, realmente ele não estava apaixonado. Definitivamente não. "Não é amor, apenas algo carnal", pensou. O céu estava tomado por um vermelho rubro, tão denso quanto sangue. Diva olhava fixamente para ele. Dante sabia, mesmo que ela tivesse de costas para ele. Seu vestido n***o como a noite contrastando com a delicada pele lívida. O curto cabelo castanho dela sendo jogado para o lado com os ventos outonais. "Por que Dante?", ela sussurrou sua voz fraca. "Por que não me protegeu?" Ele quis responder, mas sua boca não abriu. “Você não pode proteger sua mãe, seu irmão e agora a mim..." Ela virou, seus olhos toldados em lágrimas e o rosto levemente corado. Uma figura se formou ao lado da garota, era Ace. Este sorrindo, segurou o corpo da garota possessivamente. Diva grunhiu e logo cuspiu sangue quando o um braço atravessou seu peito. A mão molhada pelo liquido vermelho segurava o órgão pulsante: o coração que ainda batia tão fortemente que esguichava sangue. Dante correu até eles — a raiva transbordava por seus poros —, mas não estavam mais lá. No lugar, o cadáver de Eva, Vergil e... Diva. Não. Dante gemeu, ele acordou de sobressalto — a respiração pesada e as pálpebras arregaladas. O sonho era um m*l pressagio. Este seria um longo dia, pensou ironicamente. Eryna passou a noite estudando o grande livro, nele continha preciosas informações — que muitos matariam para ter. Dante apareceu repentinamente, sempre com uma atitude presunçosa e relaxada. Ela sabia que por trás daquela couraça que ele mantinha tinha uma ponta de preocupação. Dante acomodou-se na cadeira de frente a Eryna. Na mesa tinha um copo d'água. — Dante! — O que foi? Alguma pista? — Já tenho uma ideia do que Diva seja. — ela respondeu atenta ao mestiço. Dante ergueu uma sobrancelha. — Então? — As habilidades da Diva pertencem a um antigo clã, denominados Peregrinos. — Peregrinos? Não parece ser grande coisa. — ele disse, tão empolgado quanto um grão de areia. Pelo que ele sabia a definição do termo Peregrino era bem esdrúxula. Ele olhou para o conteúdo do copo, Eryna balançou a cabeça. — Aí é que se engana. Os Peregrinos são muito poderosos. Além de poderem se mover livremente entre dimensões, coisa que basicamente nem o mais poderoso ser poderia fazer, incluindo seu pai e até mesmo Mundus, — Dante arqueou uma sobrancelha, a conversa já despertara seu interesse. — Eles têm uma grande reserva de energia que podem dar ou focar em si.— Dante lembrou-se de quando Diva tocou a mão dele, dando-lhe poder. — Habilidades psíquicas e espirituais. — Isso explica o porquê ela disse que conversou com um homem morto em seus sonhos, Dante refletiu. — Aparentemente Diva é a encarnação mais recente e talvez até a ultima do clã. O registro também marca que um dos Peregrinos mais poderoso que nasceram neste mundo, Alexander Lockhard. Esse era o mesmo cara que Diva e Alban conversavam, o que se encontrara com Diva num sonho. — Uou, baby. Julguei m*l as habilidades da Diva, aquele rostinho lindo e inocência escondem bastante coisa. — E tem mais, no caso da Diva que não tem controle sobre seus poderes, sua energia pode atrair ou até mesmo despertar demônios. — Ou seja, ela é um ímã para demônios. Eryna assentiu. Dante sorriu. Ele percebeu que eram iguais nesses quesitos. No entanto, ele ainda não podia confiar muito, Diva tinha poderes algo que não podia ser contestado, mas ela não sabia como lidar com eles e muito menos de modo que pudesse ajuda-la a se defender. Diva, em outras palavras, estava indefesa. Ela precisava dele. Diva Uma musica melancólica ecoava por toda mansão. Tão serena e triste que tocaria o coração do mais terrível assassino. Nina caminho pelos vazios e longos corredores para o quarto de Diva, a garotinha começou a gostar muito da hospede. Enquanto seus passos eram largos e conforme andava a canção ficava mais alta. Vagarosamente abriu a porta, encontrou Diva cantando sentada numa cadeira na varanda. A jovem a sua frente parecia ter saído de algum filme antigo, onde as mulheres usavam vestidos de alta costura e diversos modelitos. Tão belos e triunfantes. Diva tinha pescoço e os ombros nus pálidos em contraste por um leve rubor e o corpete apertado do vestido creme destacando suas curvas. As mangas longas eram recortadas aparecendo a seda branca por baixo, a saia comprida por cima do chemise roçando no chão a seu redor. Diva estava deslumbrante. Nina caminhou alegre para perto. Diva continuou cantando sem nenhuma interrupção. — Bom dia, Diva! — a saudou. Diva não respondeu. — Diva? A garotinha aproximou-se da jovem, encarando-a. — Bom dia, Diva! — repetiu, mas nenhuma resposta. — Olá? Diva olhava fixamente para o horizonte. Seus olhos outro hora castanhos chocolate, agora negros e sem brilho — sem vida. — Diva? A porta foi aberta, surgindo à figura magra e com um longo vestido, um avental branco enrolado na fina cintura. — Nina, não perturbe Diva! — repreendeu Nilin, os lábios de Nina tremeram como se fosse capaz de chorar. — A Diva esta estranha... — começou, puxando a barra do longo vestido da irmã. — Deve ser impressão sua. — afirmou Nilin, sorrindo na tentativa de acalmar a menina. — Agora o senhor Ace quer levar Diva. Diva levantou-se e juntamente com Nilin caminhou porta a fora. Nina olhou tristemente para a irmã e para uma Diva mecânica e distante. Ace Clockwell esperou presunçosamente pelas duas belas jovens descendo a longa escadaria. Hoje seria importante. Ace queria testar até onde poderia manipular Diva. E o principal, seria o dia que testaria o poder da jovem — o poder de uma Peregrina pura em ascensão, a energia dela transbordava como um cachoeira —, se o que suspeitava realmente funcionaria. O primeiro passo seria Riverside e logo depois a isolada ilha de Fortuna. Nilin acompanhou Diva até Ace. Pedindo licença, Nilin partiu, mas não sem antes olhar ambos por cima dos ombros. Algo estava errado, Nina tinha razão quando disse aquilo. Diva não parecia a Diva. Riverside é uma pequena cidade independente, localizada nas proximidades de Falls Glens. Tem grande integração de ambas as cidades. Riverside é conhecida por ter um clima bastante diverso e ao mesmo tempo ameno. Diziam que a cidade era envolvida por uma estranha magia, outros afirmavam que ela era uma cidade que abrigava um clã de bruxos. Tudo não passava de lenda, apenas lendas que faziam os visitantes se impressionarem. Passavam das quatro horas, quando chegaram ao Riverside Gran Theater. O Riverside Gran Theater era o ponto de encontro daqueles que queriam relaxar e apreciar um bom espetáculo; e para quem tem muito dinheiro para aproveitar. Era muito conhecido por ter uma bela e magnânima arquitetura: uma pequena escadaria, a entrada de piso cerâmico e a grande portão de madeira fina, as paredes de mármore branco com detalhe simples e suaves, janelas altas e de vidro escuro. O carro parou de frente a Riverside Gran Theater. Ace estendeu a mão para Diva, que a pegou imediatamente. — Vamos, minha querida. Seu publico a espera. A casa estava cheia. O publico ansioso pelo espetáculo principal. Um show de a******a estava no ato final. Quando os aplausos foram ouvidos, todo o palco escureceu. Passos no assoalho de madeira eram um dos poucos sons audíveis, as respirações e os comentários sem grande importância também eram ouvidos. A luz acendeu revelando uma figura feminina. Seu rosto encoberto por um véu escuro. A musica soou calma e suave, então a figura cantou. Let Us Burn (Within Temptation) "Que bela voz" disse uma das pessoas presentes. "Parece um anjo" outra afirmou. "Divina" Numa nota mais grave, uma serie de eventos estranhos ocorreram. Gritos estridentes e sons de algo partindo se sobressaíram em meio a musica. A plateia entrou em pânico. E quase como inesperadamente, demônios estavam por toda parte. As pessoas começaram a fugir. Sangue, vísceras e pedaços de membros humanos banhavam o palco e a plateia. Diva ergueu os braços. "Matem todos" ela sussurrou em meio a musica. A destruição e o m******e não se limitaram ao teatro, englobando totalmente a cidade. Naquela noite, Riverside City conheceu seu fim em meio a uma sombria canção.
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