Sexto Dia por Diva: Conselhos do Céu

2576 Words
I'm not giving in Não estou desistindo I want you back Eu quero você de volta Holding together by the shards of our past Continuando unidos pelas ruínas do nosso passado Stole my heart away Você roubou meu coração I can't let you go Eu não posso deixar você ir Break these chains and let me fly to you Quebre essas correntes e me deixe voar até você High above the world below Bem acima do mundo inferior [...] Counting the days to meet you on the other side Contando os dias para te encontrar do outro lado I will always be waiting Eu sempre estarei esperando Until the day that I see you on the other side Até o dia em que eu verei você do outro lado The Other Side — Evanescence O azul celeste fluía por todo céu e por um momento acreditei estar sonhando com o paraíso. A inércia e a gentil brisa fez parecer que estava flutuando. O sol brilhava tão intensamente que não pude enxergar. Havia doces misturas de perfumes frescos e naturais enchendo o ar; lavanda, gardênias, frésias, murtas, dama-da-noite e outras que não pude identificar. Era tão inebriante e tranquilizador. Rolei no chão, arrastando terras, folhas e até pétalas de algumas flores. Permaneci deitada, encolhendo-me em posição fetal abraçando meu próprio joelho. Apesar de sentir que tudo estava bem, ao mesmo tempo, parecia que nada estava certo. Quando recobrei meus sentidos esperava dar de cara com o céu vermelho sangue do Inferno, porém foi uma grande surpresa ver o azul primoroso. Era óbvio que não estava mais no Inferno, mas onde estava? A ultima coisa que podia me lembrar claramente era de Dante ter rompido a minha Ponte do Coração, depois disso, nada mais. E agora estou nesse lugar que nem faço ideia de que ou de onde seja. A melhor maneira de descobrir é investigando, e ficar deitada refletindo sobre isso não me ajudaria em nada. Um pouco tonta, levantei e forcei minhas pernas para ficarem firmes. Estabilizada em pé, andei sem rumo pelo extenso e belo jardim. Tantas nuances de cores que fiquei maravilhada. De onde estava, vi árvores frondosas de variados tipos bem distantes e alguns animais pastando preguiçosamente, sem se preocuparem com minha presença. Continuei meu percurso até chegar a o que pareceram ruínas do Domus Aurea — o da Roma Antiga —, na entrada onde muitos pilares que estavam enroscados por trepadeiras e pequenas flores que cintilavam como diamante, havia uma enorme fonte de águas puras e cristalinas. Hesitante e cautelosa, adentrei o local vasculhando cada ponto. Eu não sabia o que exatamente procurava, mas esperava ao menos encontrar alguém para me ajudar. Os corredores e salas eram revestidos com mármore branco perfeitamente polido, as paredes tinha um acabamento de desenhos que não formavam uma figura especifica e também eram formadas pedras coloridas e flores. Pelas enormes janelas luz do dia iluminava. Existiam fontes que jorravam nos corredores. Cheguei a um salão a céu aberto. Paralisei quando percebi que tinha pessoas, duas mulheres. Uma com longos cabelos vermelhos de olhos astutos e interrogativos, enquanto a outra tinha cabelos castanhos ondulados e os olhos eram de um verde intenso. Ambas possuíam asas emplumadas; a morena tinha asas com tons de arco íris e delicadas como nuvens e a ruiva possuía as prateadas com traços esverdeados. Seriam elas anjos? Minha súbita invasão deixou uma tensão estranha no ar. E ficou ainda pior quando surgiu uma terceira presença, mas essa era diferente. O ar tornou-se leve e acolhedor. E pude ver com riqueza de detalhes cada um dos gestos delicado e passos decididos, a mulher andou até mim. Seu vestido rosa claro contrastando com a pele clara e translucida, os cabelos dourados como ouro, tremeluziam. Meus olhos se arregalaram e quase engasguei. — Eva? — balbuciei estupefata. Ao me ouvir dizer seu nome, Eva abriu um sorriso afetuoso e materno. Fui envolvida por uma energia luminosa e cheia de amor. Um amor de mãe, sincero e sem limite. Tudo sumiu ao meu redor, não via nada além da linda e angelical mulher a minha frente. Eva parecia um verdadeiro anjo. Não só na aparência, mas na aura que transmitia. Brilhante e quente como o sol. — A destinada do meu filho — ela sussurrou melodiosamente. O calor subiu em ondas pelo meu rosto, fazendo-me ruborizar. — Ah! — chiei. Finalmente encontrara a pessoa certa que me dará todas as respostas para as inúmeras questões que rodeavam minha mente confusa. — Mas essa não é a sua... — A ruiva começou, mas a outra imediatamente tampou a boca dela, impedindo-a de continuar. — Vamos deixar que conversem em paz A morena puxou a ruiva. Quando ficou poucos centímetros próxima de mim, a mulher me encarou fixamente. Um misto de sentimentos passou pelo rosto dela, e os que pude distinguir foram; reconhecimento e alegria. Ela lançou um sorriso cúmplice e mecanicamente o retribui. Com isso, elas foram embora com o protesto da ruiva. — Minha pequena flor, — Eva pegou delicadamente minhas mãos, afagando-as — Tenho tanto a lhe dizer em tão pouco tempo! — Bem, — minha voz saiu rouca e rascante — estou morta, então o tempo é irrelevante! — É disso que queria falar... Disso e de Dante! O flash foi imediato. Lembrei-me do que aconteceu nos derradeiros instantes; o doloroso reencontro com a alma de Dante, a luta com sua versão sombria, o rompimento da minha ligação com o mundo dos vivos e a escuridão. Instintivamente, coloquei a mão sob meu peito no lugar onde a Ponte do Coração deveria estar e não havia nada ali. Nenhum cordão. — Ele me matou — murmurei desolada. — E mesmo tendo feito isso, de algum modo, não o odeio e nem sinto raiva... Eu estranhamente me senti feliz. Fiquei meio absorta em meu próprio raciocínio, embora ainda tagarelasse sem parar. O leve aperto de Eva me alertou. Voltei rapidamente minha atenção a ela. Demorou menos de um segundo para que minha mente me acompanhasse adequadamente, meus pensamentos pareciam lentos e obscuros. — É compreensivo, mas existe um motivo para ele ter feito isso. E você tem direito de saber! Assenti. — Antes quero que me diga onde estamos — pedi. — Existem muitos nomes para descrever esse lugar; Ante-Paraíso, Ante-Céu, Infra mundo, Outro mundo, Summerland, Eternidade, Ala branca, Purgatório e o eventual Limbo. Era um pouco estranho. Eu nunca fui do tipo religiosa e não era nenhum exemplo — claro, que nunca fiz nada de muito errado —, mas não esperava vir parar nas portas do Paraíso depois da morte. — Como vim parar aqui? — Lumina te trouxe; a mulher de cabelos castanhos que estava aqui conosco. — Acho que isso se explica bastante coisa — aproveitei para erguer a cabeça para ver ao redor. O sol ofuscou momentaneamente minha visão — Mesmo que ainda esteja um pouco confusa, não acho que é algo de grande importância no momento. — Vou lhe contar a verdadeira razão da sua morte e o porquê de estar aqui. Ouça bem o que direi e tente ser forte. — Eva informou firme. Engoli em seco, e fixei meus olhos nos de Eva para ouvi-la atentamente. Eva respirou fundo, buscando coragem. — A alma de Dante foi corrompida! — despejou, abatida. Meu peito se apertou com a constatação. — C-como? — foi a única coisa que saiu de minha boca seca. — É uma longa historia, mas o importante é que saiba que ele não estava totalmente ciente do que fazia quando te matou. — Eva pausou, estudando minha reação chocada. Eu tentei assimilar cada uma de suas palavras, mas somente ecoava em minha mente a parte da alma de Dante estar corrompida. E pelo pouco que sei sobre o assunto é que apenas o "corrompida" já era um mau sinal — um péssimo sinal. — Na concepção dele, te matar seria uma forma de proteção. Um bolo subiu pela minha garganta e um torpor me entorpeceu. Lágrimas arderam em meus olhos, os fechei rapidamente respirando profunda e pausadamente para impedir o choro. Soltei um soluço alto e meu corpo estremeceu de angustia. — Me proteger de que? — meu tom era quase um engasgo rouco e atravessado. — Dele mesmo. Naquele momento, algo se agitou tão violentamente em meu interior. Ah, Dante. Lamentei por todo o sofrimento que deve tê-lo afligido. As descontroladas lágrimas agora corriam pelas minhas bochechas e desfocaram minha visão, e em meu peito o forte amor que sentia por ele transbordou. Como se fosse possível ama-lo ainda mais, porém Dante conseguia esse feito. — Conte tudo — exigi lentamente, a dor tremulava em minha voz. — Sei que foi ao Inferno para salva-lo. — Sim, salvar a alma dele — expliquei. — Apesar da sua atitude nobre, mesmo que a alma de Dante não estivesse corrompida seria impossível salva-lo do Inferno, — Arfei incrédula, e Eva concluiu: — Ele precisaria sair por vontade própria o que não pode ser, ou... — Ou? — instiguei Eva a continuar. — Apenas se alguém o ajudar usando o Poder de Anjo — ela anunciou. — O que é Poder de Anjo? — São habilidades que Anjos possuem para purificar e salvar almas. Avaliei. Anjos? Tudo que sabia sobre anjos era baseados em livros, filmes e historia verídicas. Nada muito concreto. As poucas semelhanças entre elas eram o fato de que anjos ajudam e protegem os seres humanos e tinham asas. Lumina e a ruiva dava para notar que eram anjos, mas e Eva? Algo me dizia que sim. Era um pouco absurdo em me basear no que via ou sentia — pressentia, no caso —, mas tinha certeza que Eva teria poder para isso, ela definitivamente parecia um anjo. Até a radiante aura dela dava essa impressão. Além disso, quantas vezes minha intuição acertou? Tantas, que não teria duvidas em segui-la. — Mas você é um anjo, — desabafei incerta — será que não conseguiria ajudar Dante com seus poderes? A expressão de Eva mudou. Só então vi as aveludadas asas douradas — mais dourados que seus cabelos, quase transparente de tão radiante — com detalhes prateados. Bingo, eu acertei. — Eu... — Eva parou, e as primeiras lágrimas desceram pelo seu rosto pálido — Eu tentei, mas não pude! Não pude ajudar meu filho! Eva se inquietou repentinamente, andando de um lado para outro. Ela passou as mãos nervosamente pelos cabelos dourados. Agora ela parecia apenas uma mãe aflita com o triste destino do filho. — E existe algo que possa fazer para ajudar? — indaguei agarrando com firmeza todas as esperanças possíveis. Não podia desistir. — Não posso ser tão inútil para não poder fazer nada, ou tudo que fiz foi em vão... Eva me encarou, franzindo o cenho. — Existe, uma maneira. — Eu quero saber. Por favor! — É preciso que se torne um anjo Ok, acho que essa opção é tão improvável que nem sei se realmente vale a pena seguir com isso. No entanto, se o plano A não funciona sempre terá um plano B: de estepe e emergência. — Não existe outra maneira? Eva ponderou. — Essa tem muitos riscos, porém é a mais rápida possível. — apertei os punhos, Eva viu isso como um sinal de determinação e prosseguiu: — Eu posso lhe abençoar com alguns Poderes de Anjo. Não será provisório, apenas no limite de tempo que precisar usa-lo. É como um empréstimo. — Entendi, quais são essas habilidades? — Olhar de Redenção e Salvação. Com o Olhar de Redenção podem redimir os pecados. Olhar de Salvação pode ajudar a trazer a consciência dele, e como o nome já insinua salva-lo. — Hm! — E também, algo que precisa saber é que só é permitido que use uma vez cada um respectivamente. Caso tentar usar mais que o necessário poderá ficar permanentemente cega. Isso se seu corpo não rejeitar o poder e entrar em colapso. Tem coisas que não precisamos saber. Que nunca devemos saber e como toda certeza essa é uma delas. Deu muito receio, mas não desistiria. E tão certa como estava quando disse que iria ao Inferno, sorri arrogantemente e disse cheia de confiança: — Esta um pouco tarde para recuar. Vamos logo então. — Imprudente como Dante me falou. Ótimo, Dante falou de mim para a mãe. Mas aparentemente não foi tão bem. E gostaria de saber em que momento falaram de mim, será que foi no Inferno ou em uma transição, algo semelhante? Tantas coisas realmente importantes para pensar, e eu estou pensando justamente nisso. Sou muito estranha, penso demais e agora discuto com minha própria consciência. Sou a garota dos sonhos de qualquer homem, só que não. Eva afagou meus ombros, em um gesto breve assoprou cada um dos meus olhos. A principio eles queimaram e uma dor lancinante o atingiu, como se alguém os tivesse esmagando. Era tão estrema que fiquei desnorteada. Meu corpo tentava rejeitar a dor que crescia de maneira drástica. A escuridão tomou conta dos meus olhos, deixando uma cegueira espessa e dolorosa. Naquele momento, eu queria arranca-los para não ter que suportar mais aquilo. Senti um novo poder me encher, firme e potente. Nem mesmo o poder foi o suficiente para me fazer esquecer as dores que se arrastavam, agora, por todo meu rosto. Queimando, rasgando e destruindo. Nem o rompimento da Ponte do Coração me fez sofrer tanto. Gemi, cerrando os dentes. — Esta feito! Soltei todo o ar de uma vez. Minha visão estava nebulosa, o que me deixou muito assustada. Pisquei e esfreguei os olhos, aos poucos minha visão clareou até ficar nítida. A dor diminuirá gradativamente. — Como se sente? — Como se meus olhos tivesse prestes a explodir. Pegaria m*l se dissesse a ela que dor era uma grande merda insuportável. E não faria lógica que dissesse que a dor estava me matando. — Logo passa! Como esperado, a dor sumira e notei que conseguia ver mais do que qualquer um normalmente veria. Distinguindo as imagens com toda clareza, enxergando partículas diminutas de luz e os montes de poeira no ar que seriam impossíveis para um ser humano. Algo realmente incrível. Era como ver o paraíso através de olhos de anjo. — E agora? O que devo fazer? Como posso voltar para ajudar Dante? — Por hora, apenas se concentre e antes de partir quero te pedir algo muito importante... — Peça qualquer coisa Seria uma chance para agradar minha futura sogra. Eva pegou minhas mãos, aquecendo-as entre as suas. — Salve meu filho! Aquelas palavras não era um simples pedido, mas um apelo de uma mãe desesperada. — Pode confiar, eu o salvarei! Isso é uma promessa! — Meu filho teve sorte de encontrar uma boa moça como você — meu rosto estava pegando fogo, e me encolhi. Eva depositou um beijo em minha testa e me pressionou para baixo. O chão sumiu e fiquei flutuando no ar. O poder foi submergindo, tentando sair de mim, tentando se expandir e mover meu corpo para uma postura correta. — Não somente anjos caem do céu — Eva brincou. Arregalei os olhos. — O quê? Antes que pudesse adquirir uma resposta contundente, meu corpo pesou e a gravidade puxou-me violentamente para baixo. Quando dei por mim estava caindo numa imensa explosão de Poder. Agora entendi o que Eva quis dizer, e sério, ela tem o senso de humor n***o do filho.
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