Quinto Dia por Diva: Destino e Memórias de um Demônio

2214 Words
How can you find a heaven in this hell? Como você pode encontrar um paraíso nesse inferno? [...] Angels have faith Anjos tem fé I don't want to be a part of his sin Eu não quero ser parte desse seu pecado I don't want to get lost in his world Eu não quero me perder em seu mundo When the shadows remain Quando as sombras permanecem in the light of day na luz do dia On the wings of darkness Nas asas da escuridão [...] From the ashes of hate Das cinzas do ódio It's a c***l demon's fate É o destino c***l de um demônio On the wings of darkness Nas asas da escuridão He's returned to stay Ele voltou para ficar There will be no escape Não haverá escapatória, 'Cause he's fallen far from Grace Pois ele está caído longe da graça A Demon's Fate — Within Temptation Dante se sentia um grande monte merda. Na verdade, se sentia um enorme e estressado monte de merda — realmente péssimo, em todo sentido da palavra. Ele tinha passado pela temível e quase inevitável “luz no fim do túnel”, a mesma que leva as almas para o além e toda essa baboseira que todos conhecem bem. Esse era o ponto. No entanto, nunca se sentira assim antes e já passou por episódios terríveis, muito piores que simplesmente a morte e todo sentido que nela se aplica. Esse tipo de circunstância parecia influenciar diretamente seu humor. Dante até mesmo sentiu aquela agitação familiar, aquela que o fazia querer eliminar qualquer demônio que aparecesse para aliviar um pouco o estresse. Era realmente o inferno não saber onde tinha ido parar. Isso soa um pouco irônico. Dante nunca havia se deparado com ninguém que o fizesse se sentir tão inutilmente ferrado, pelo menos não depois de Vergil — que se mostrou um verdadeiro desafio na época. Agora, tudo indicava que encontrara alguém a altura, o problema era o fato de que ele subestimou o desgraçado Ace e o resultado; a morte. Talvez, a única coisa que o fizesse forte era o tal Santo Graal a arma mortal para destruição de todos os demônios. Agora nada disso importa mais. Quando acordou — quando, na verdade, percebera que tinha morrido — se encontrou em uma passagem deserta, em meio a um amplo bosque. O céu sobre sua cabeça não estava azul, mas cinza sem graça e opaco. Um farfalhar das árvores e Dante se virou repentinamente por reflexo. Um pássaro agitou a copa e as folhas e se elevou aos céus. Ele continuou seguindo pelo caminho. Imerso no bosque, embaixo de antigos carvalhos, a luz do sol penetrava por entre as folhas e batia em seus cabelos grisalhos. Estava cansado de vagar sem direção, mas quanto mais adentrava pelos antigos carvalhos percebera que o lugar era bastante familiar. Movendo-se quase em total silêncio em meio às folhas mortas e galhos secos, ele finalmente chegara à beira do bosque. Havia uma casinha distante, pequena e destruída. A mesma que ele morou na infância com sua mãe e irmão. Dante apertou o passo, atravessando uma vegetação descuidada e sem vida. Por um segundo fugaz, as lembranças o dominaram com força. Lembrou-se da mãe, doce e gentil. Lembrou também das brincadeiras com Vergil, uma das favoritas de ambos era lutar com galhos fingindo serem espadas. Era estranho que depois de tanto tempo, ele ainda tinha essas memórias bem vivas em sua mente. Ele alcançou a porta, porém antes de toca-la a porta se abriu. Dante parou surpreso. Foi como voltar no tempo. O sorriso terno e maternal fez todas as sensações esquecidas e camufladas em seu interior tomarem-no. Naquele momento, ele sentiu-se uma criança — voltou aos seus oito anos. Eva estendeu os braços para acolher o filho amado. Dante aceitou de bom grado o aconchego de sua progenitora, ele nunca admitira para ninguém além da própria Eva, que sentia falta daquele carinho e do seu amor. Perder a mãe fora uma das coisas... Não, fora a pior de todas as coisas que lhe aconteceram. Ele não teve oportunidade de estar com ela, e não cresceu sob seu olhar como qualquer filho tem direito. O calor dela era tão reconfortante, tão sereno. O ar que a envolvia era calmo e harmonioso. Por um momento, houve silencio. Eva estava olhando. Seus olhos castanhos iluminados por um brilho de alegria, e ela sorria solenemente. Lágrimas começaram a transbordar pelo rosto pálido. Dante tocou docemente o rosto de Eva, enxugando as preciosas lágrimas como se fossem joias inestimáveis. — Meu pequeno Dante — ela acariciou o rosto do filho — Meu filho querido! Pela primeira vez, Dante ficou sem fala. — Por que esta aqui, meu filho? — a angustia tremia em sua voz — Não era para estar aqui! — Foi um pequeno erro nos planos, mãe — Dante tentou soar cômico, mas a seriedade em seu tom o denunciou. Lentamente, sem cortar a ligação de seus olhares Eva conduziu Dante. Era do mesma maneira que fazia quando seus filhos ainda pequenos precisavam de atenção e conforto. Logo, sentou-se em uma cadeira e Dante se ajoelhou perante a ela e deitou a cabeça em seu colo. Foi revigorante para ele sentir os dedos e o calor das mãos macias de sua mãe afagarem gentilmente seus cabelos. — Mãe sinto muito por não ter conseguido te proteger — Dante sussurrou, o som de sua voz abafado pelos tecidos do vestido branco que Eva usava. — Mesmo de tanto tempo. Ainda sinto sua falta. — Não se preocupe — cantarolou docentemente. — Você continua lindo, esta parecido com seu pai! Posso até dizer que esta ainda mais bonito Dante riu. — Lembra quando tinha pesadelos? — Sim, e eu acabava correndo para dormir com você. Às vezes fingia que tinha pesadelos somente para ficar com você — Dante confessou. Dessa vez, Eva que riu. Uma risada melodiosa, do modo como Dante se lembrava. — Estive cuidando de você meu filho. — No céu? Eva assentiu. É, não havia outro lugar para sua amorosa mãe estar, pensou ele. — Agora me conte a razão de estar aqui? — Uma longa historia... Longa e dispensável demais para contar. Eva suspirou. — Fico feliz em poder estarmos juntos, Dante! — Eva suspirou — Mas não era para você estar aqui! — Entendi, sei que tem um lugar reservado especialmente para mim no Inferno — Dante bocejou teatralmente — m*l vejo a hora de ver. — Não filho, você não entendeu! Sua vida não acabou! — E Eva falou como se estivesse fazendo uma revelação. — Sua vida ainda tem propósito... Não, muito além disso, tem alguém que precisa muito de você! A primeira imagem que veio a sua mente foi Diva. Diva esta bem? Como ela estaria agora? Ela esta sabendo lidar com tudo que aconteceu? Uma perturbação tomou conta de Dante, ele sentia a tristeza de Diva mesmo que pareça distante como se estivesse dimensão que não podia alcançar, bem longe de onde estava agora. Apesar de morto, ainda permanecia unido a Diva. Uma ligação que ia muito além de tudo que abrangia um relacionamento normal. E que ainda era algo que ele não sabia lidar muito bem. Isto é, nada que envolvia esse tipo de conexão intima. — Ah, Diva! — ele sussurrou. — Sua destinada esta arriscando tudo para te salvar. — É bem a cara dela, agindo como uma garota imprudente. — Você tem que voltar! Volte por que não chegou seu momento! Ele queria realmente voltar?, ele refletiu por um momento. Querer, obviamente queria, mas poderia? Os olhos castanhos de Eva brilhavam marejados, ver a mãe chorar lhe cortava o coração e quebrando-o em pequenos pedaços. — Dante... Não! — a voz doce de Eva mudou, tornando-se feia, grossa e definitivamente masculina — Dante, não deixe que te corrompam... Seja forte, meu filho! Dante ergueu as sobrancelhas. Não tinha a mínima ideia do que Eva falava, e se sentiu como se tivesse em uma corda bamba, sem saber o que responder. Conforme as palavras de Eva se afastaram, Dante viu uma agitação, um borrão escuro passando no limite de sua visão. Ela pareceu tomar uma forma acentuada, uma forma quase... Idêntica a ele. A luz de Eva tentava lutar fortemente contra a escuridão que se formara ali. Pesada e funesta. O ar não era mais cálido e gentil, no lugar uma doentia aura de obscuridade. A escuridão, Dante sabia que vinha de si mesmo. E, se confirmou vendo a figura finalmente em sua forma plena, a copia perfeita de si mesmo com pequenas diferenças, como a cor das roupas e os cabelos que eram negros e os olhos vermelhos. Um doppelgänger, o sinônimo de morte e o que havia de negativo em todo ser. Não. Que havia de negativo nele, dentro de si mesmo. — Dante! — Eva gritou desesperada. Ela não conseguia avançá-lo — Ouça minha voz! As palavras de Eva ecoaram ao redor dele. Ele tentou se concentrar apenas nisso — lutando para ignorar a confusão que estava em sua mente. Não parecia o suficiente. A voz de Eva parecia cada vez mais distante até por fim desaparecer. Então, Dante percebeu que não estava mais com a mãe em sua casa, e o cenário em sua volta mudara. O céu toldado em vermelho tão escuro quanto sangue e carregado de um odor pungente de morte. O doppelgänger sorriu um sorriso cheio de arrogância e sadismo. Ele ergueu as mãos que portava uma copia exata do Santo Graal. Era o momento de lutar. Finalmente um pouco de ação nesse lugar, pensou cinicamente. *** * Ost * Às vezes nossas emoções mais sombrias tem controle sobre nós. Dante segurou a garota firmemente nos braços. Seus olhares se encontraram. Nos dela estavam um misto de medo e felicidade. Nos dele, duvida e pesar. Por que tinha matado ela? Estava errado! Independente do que fosse, ele não queria. No entanto, ele fez... Tirou a vida dela. — Dante! — o fascínio em apenas uma palavra, um fraco som saindo dos lábios de Diva. Ela estava tremula quando o tocou, as pequenas mãos deslizam suavemente pelo rosto confuso de seu carrasco. Aquele gesto fez seu peito doer rasgando sua alma, sua verdadeira alma — algo que nunca sentira antes, não fora o mesmo quando perdera a mãe e o irmão. Com um suspiro intenso a alma dela fora abstraída do corpo e estava morta. Não havia mais calor, a mesma vivacidade que emanava dela quando se conheceram. Na época, Diva ainda não estava ligada ao mundo que ele, um Devil Hunter, estava acostumado. Em um tempo, que ela tinha a energia dourada, calorosa e inocente que agora estava corrompida. Dante sabia que o principal responsável por isso, fora exatamente ele. Em sua mente não havia tempo para lamento e hesitação. Por esse motivo que criou essa forma sombria de si mesmo, a responsabilidade o corroía demais para que somente um carregasse o peso. Esta nova versão e escura de si, não sentia nada além de remorso, fúria e fome. E, em seus braços, a pessoa que depositou todas as esperanças nele, fazendo-a ir para um lugar que ninguém como ela não deveria. O Inferno. Nada podia mudar, não podia voltar atrás e consertar. Tudo que podia fazer por ela naquele momento era aperta-la contra seus braços e continuar segurando-a. Ele nunca quis machuca-la, mas isso não parecia ter importância enquanto segurava a alma desprendida da jovem em seus braços. Algo gritou dentro dele. Ele tinha que protegê-la. Tinha. Tinha e não conseguiu... Não! Ele conseguiu e Diva não precisava sofrer agora que está morta e logo os anjos iriam leva-la aos céus que é o lugar de uma pessoa como ela poderá encontrar a paz... Longe de todos que queria machuca-la, rouba-la, viola-la e corrompê-la... Longe de um demônio. Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto dele. Estava dentro dele, brigando com a dor que germinava e se fixava em seu interior. Dante queria ter dito a ela tudo que não podia. As palavras engasgadas na garganta, presas atrás de uma língua orgulhosa. As palavras que nunca aprendeu a pronunciar. Como ele poderia dizer “Amo você”, se as palavras simplesmente não saiam? Demônios como ele não devem chorar. As coisas saíram do controle, e nada justificaria o que fizera. No entanto, ele não se permitiria sentir. Tal como era a regra que impôs para si, nunca se deixe sentir mais do que necessário. Delicadamente, ele agachou ainda segurando Diva, depositando-a no chão. A sua frente, duas figuras que se posicionavam em uma atitude protetora e a cólera feroz. E o olhar em ambos os rostos era o mesmo: determinação mortal. Estava na hora de pagar pelo seu crime. Como Dante preverá. Atrás dele, surgiu uma mulher. Ela encarou Diva por segundo e com um veloz movimento a pegou nos braços. Ninguém percebera a presença — e de fato não era para perceberem —, que levaria a alma da garota. Os rapazes estavam tão ocupados lutando entre si, que nada tirava a atenção deles. O anjo abriu as Asas emplumadas e aveludadas com tons de arco íris e delicadas como nuvens. Elas se estenderam e pegaram impulso para alcançar o céu.
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