Capítulo 5

1336 Words
Dylan Respiro fundo ao entrar na sala de jantar. Harper e Matteo já estão sentados à mesa. Ava Bonanno, minha noiva, e seu pai, Dimitri, estão diante deles. Os olhos verdes e penetrantes de Ava se fixam nos meus. Ela está feliz com esse casamento? Ou está com medo? Posso ser um homem brutal e insensível, mas geralmente não sou assim... com as mulheres. Ofereço-lhe um sorriso — breve, contido —, torcendo para que a deixe à vontade. Caminho até a cabeceira da longa mesa e me sento, com Ava à minha esquerda. A sala luxuosa está envolta em uma tensão densa, sufocante. Algo me inquieta, o que é incomum. Jantares diplomáticos como esse são parte da minha rotina há anos. Já negociei dezenas de vezes com Dimitri Bonanno. Conheço suas manobras, seus jogos, seus limites. Então, por que essa inquietação? A resposta é clara como o cristal de Murano à minha frente: Scarlett. Meu encontro com ela hoje abalou minhas certezas. Depois de todos esses anos, revê-la no banco me deixou abalado. Ainda me pergunto se foi real. — Espero que esteja com fome. Teremos uma refeição italiana completa... sete pratos — comento, acenando para Bartolomeu, um dos garçons. Ava sorri com educação. — Ouvi falar dos seus famosos jantares, senhor Torello. — É bom saber que falam bem da minha família — respondo, com um tom leve. Harper revira os olhos diante da minha tentativa de humor. Quando os criados começam a servir a entrada, me forço a focar na função: parecer um noivo comprometido, apesar da minha mente estar a mil, girando em torno da mulher que um dia foi tudo para mim. Achei que tinha superado Scarlett. Me enganei. Seu reaparecimento abriu feridas que eu achava cicatrizadas. A saudade me consome. As perguntas me sufocam. Por que ela desapareceu? Foi mesmo culpa dos pais dela? Ou eles apenas queriam afastá-la de mim? A ausência total de contato sugere desaprovação. E, honestamente, quem os culparia? O mundo em que vivo é feito de sombras e sangue. A voz de Dimitri corta o silêncio e me puxa de volta. — Então, Dylan... dizem que o Caruso anda elogiando você. O encaro, avaliando se está impressionado ou enciumado. A maioria ignora como o crime em Chicago funciona: diferente de Nova York. Aqui, desde os tempos de Capone, temos a The Outfit — uma estrutura centralizada, com um chefe, um subchefe e chefes de rua, como eu e Bonanno. E embora a máfia tenha perdido força, em Chicago aprendemos a operar com inteligência: menos mortes, mais lucro. Discrição é o segredo. Mas ainda matamos. Só somos melhores nisso. Tomo um gole de vinho. — É bom ser notado. — Ainda sou jovem, mas meu pai já esteve na fila para comandar a The Outfit... antes de morrer com minha mãe em um acidente de carro suspeito. Tenho um legado a honrar, e um nome a elevar. — Tenho certeza de que seu pai estaria orgulhoso — diz Dimitri, com um olhar mais calculado do que cordial. Tento entender: está me testando? Quer que eu o leve comigo quando subir? Ou teme que eu avance rápido demais? — Trabalhei duro para estar aqui. É uma honra dar continuidade ao legado dele. E, claro — acrescento, fazendo uma pausa estratégica —, estou ansioso pelo casamento. Essa união fortalecerá ambos os lados. — Tenho certeza disso. Ava será uma boa esposa. Foi criada para servir ao marido... e à Família — diz ele, com ênfase desnecessária. Harper esconde o desgosto atrás de uma taça de vinho. Tento suavizar. — Com certeza, ela é mais do que isso — retruco, arrancando um sorriso cúmplice de Harper. — Tem algum interesse? Hobbies? Ava hesita. Olha para o pai, como se pedisse permissão. Um gesto sutil, mas revelador. Dimitri responde por ela: — Ela cozinha. — Claro — diz Harper, irônica, apontando para o prato de presunto e queijo. — Estamos no antepasto. Nenhuma panela envolvida. Ava então vira o jogo: — E você? Tem hobbies? Minha mente imediatamente vai para Scarlett. Ela é meu único pensamento agora. Pigarreio, tentando afastá-la. — A empresa toma a maior parte do meu tempo, mas... também gosto de vinhos e arte. Matteo intervém: — Não se subestime, Dylan. Você tem um olho afiado para vinho e talento para escolher arte. Ava franze a testa. — Interessante... Nunca entendi muito disso. Mas gosto de museus. — Ela pode aprender — diz Dimitri. Outro comentário autoritário. Harper o olha de lado. A conversa avança, mas continua forçada. Cumpro meu papel. Ou tento. Meu coração não está na mesa, mas preso a uma lembrança que insiste em não morrer. — Então, Ava — digo, tentando dar-lhe espaço — fale mais sobre você. Quais são seus sonhos, aspirações? Ava olha para o pai, depois para mim. — Gosto de cozinhar. De visitar museus. Mas... ainda estou descobrindo o resto. Matteo observa o colar no pescoço dela. — Esse colar é simples. Escolha sua? Ela sorri e toca a peça. — Foi. — Sério? Pigarreio, desconfortável com o foco no colo dela. — Claro, não haverá tempo para isso depois do casamento — interrompe Dimitri. — A casa exige dedicação. — Tenho certeza de que encontraremos tempo para o que importa — diz Harper, olhando para mim. — Claro — repito. Dimitri toma a dianteira: — Devemos planejar o casamento. Com nossos contatos, podemos fazer isso em... duas semanas. Quase me engasgo. Duas semanas? Olho para Ava. Ela parece... neutra. Será que sente minha hesitação? Antes de hoje, eu estava convencido. Agora, não sei. — O que você acha, Ava? — pergunto. Ela sorri, surpresa pela pergunta. — Sempre sonhei com um casamento italiano tradicional... algo grandioso. — Também gosto disso — digo, tentando parecer entusiasmado. Planejar algo assim leva tempo. Meses, talvez um ano. Tempo que eu posso usar. — Bobagem — corta Dimitri. — Em duas semanas, tudo pode estar pronto. Harper sorri. — Os Torello sabem como dar uma festa. — Duas semanas — repete ele. Não rebato. Não agora. Só quero encerrar esse jantar. No saguão, enquanto nos despedimos, Dimitri me sonda: — Está tudo bem? Parece... distraído. — Só cansaço, Dimitri. — Essa aliança é importante. Distrações não podem atrapalhar. — Eu entendo. Meu foco está onde precisa estar. Ele me observa, olhos semicerrados. — Mantenha assim, Dylan. Fico tenso. Um aviso? Um desafio? Ele está na minha casa. Precisa lembrar disso. Matteo intervém com um olhar e balanço de cabeça. Eu mordo o lábio. Ainda não é hora. — Boa noite, Ava — digo, beijando sua bochecha. — Dimitri. Vou direto ao escritório e sirvo uma bebida. O futuro da família. O casamento. Ava. Tudo depende de eu esquecer Scarlett. Mas como? Ela assombra meus dias... e agora voltou. Matteo surge na porta. — Ele tem razão. Você parece... estranho. — Dia longo. — Fazendo o quê? — Ele conhece minha agenda. Sabe que estou mentindo. — A vida. Harper entra. — Não podemos nos dar ao luxo de errar — diz, direta. — Não precisamos deles — retruco. Matteo suspira. — Talvez não, mas é tolice ignorar o que essa aliança representa. E se você não casar com ela... ela será entregue aos Bianchi. E ela merece mais que aquele velho filho da p**a. — Você se importa com Ava Bonanno? — arqueio a sobrancelha. — Claro. Ela é uma boa garota. Harper interrompe: — Você não entendeu. Perdemos nossos pais. E o Henry. — Não sabemos se ele está morto — digo, embora no fundo saiba. — Famílias como a nossa sofrem perdas assim — murmura Matteo. — Exato — reforça Harper. — Estamos encolhendo. Precisamos de alianças. Precisamos de força. Talvez ela tenha razão. Mas não consigo dizer que estou pronto. Então prometo o que posso: — Eu vou cuidar dessa família. Não vou decepcioná-los. Essas palavras pesam mais do que qualquer brinde ou voto. Em duas semanas, estarei no altar. Com Ava. Mas minha mente estará... com Scarlett.
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