Capítulo IV
Os soldados partiram e agora Andressa me acusava deliberadamente, como se eu tivesse tido a ideia estúpida de chamar o soldado. Era inacreditável que a caravana havia partido sem a gente.
- Parabéns pra vocês! agora todo mundo está aproveitando o passeio, enquanto nós iremos vigiar a casa! – Andressa reclama irritada.
- Não era um passeio, era o velório da irmã Piedade! – Helen fala chateada.
- Pra mim era um passeio! – Andressa pega um dos cavalos que ficou preso após o incêndio – Eu vou cavalgando, alguém mais vai querer me acompanhar? – Ela nos fitou decidida.
- Não sabemos o caminho! – Diana responde como se estivesse tentada a aceitar.
- As estradas são perigosas! – Clara se encolhe.
- Eu vou! – desamarro o outro animal e subo nele.
- Então eu também vou! – Diana me estende a mão pedindo ajuda para subir no animal. Helen também se adianta e ocupa a garupa do cavalo de Andressa.
- E eu? – Clara pergunta confusa.
Por fim, acabei tendo que levar as duas mais franzinas na minha garupa, enquanto Andressa e Helen seguiram no outro cavalo. Não sei se três garotas em um único animal era uma boa ideia, mas me partiu o coração ter que deixar Clara sozinha.
A aurora era o maior conforto que podíamos ter, pois isso significava que pelo menos não encontraríamos sangues amaldiçoados pelas estradas, afinal, eles não se mostravam na luz do dia.
Segundo Andressa, ela conhecia o caminho e garantiu que se nos apressássemos, conseguiríamos alcançar a caravana sem grandes problemas, no entanto, à medida que o tempo passava, comecei a me questionar, se ela realmente tinha certeza do caminho que estávamos seguindo. Eu nunca havia estado em Lapur, a capital dos comuns, mas já havia estado em Fiumena, um vilarejo na metade do caminho e por mais que eu forçasse minha cabeça, não conseguia lembrar de ter passado por florestas tão fechadas.
- Estamos perdidos! – Andressa anunciou parando o cavalo no meio da floresta.
Seria melhor ela ter dito que havíamos pegado o caminho para a cidade Baixa, ou o caminho para Malvane, ou simplesmente pegado o caminho errado, mas dizer que estávamos perdidas era algo tão vago e assombroso.
- Mas como, se estamos fazendo o caminho de volta para o monastério? – Clara perguntou tentando manter a calma.
- E estávamos, mas já deu tempo de entrarmos na estrada principal e mesmo assim, parece que estamos nos embrenhando mais ainda na floresta – Ela falou olhando para as arvores como se procurasse nelas algo familiar.
Definitivamente nunca gostei do verbo "embrenhar", ele soa tão medonho e inapropriado, principalmente em nossa situação. Olhei em volta, era difícil dizer quanto tempo ainda tínhamos de luz, a copa das arvores tornava a floresta pouco iluminada e úmida.
- Não quero assustar vocês, mas não acho que nos perdemos! – Andressa falou por fim. Eu não entendi o que ela queria dizer com isso.
- Acho que tem alguém manipulando o caminho para nos confundir!
- Bruxaria? - Diana pergunta quase chorando, fazendo com que todas nós ficássemos olhando para a floresta, esperando que dela brotasse alguém encapuzado soltando raios ou abrindo a terra ao meio.
- Talvez! – Andressa respondeu fitando a estrada que agora não passava de um caminho rudimentar, estreito e tortuoso, que parecia estar prestes a se desfazer a qualquer momento.
- e o que vamos fazer? – Diana perguntou apertando minha cintura com força.
- Vamos continuar ou retornar e pegar o outro cruzamento? – Pergunto sem bem saber se quero continuar seguindo as coordenadas de Andressa.
Um vento sinistro serpentei varrendo o chão, sem alcançar a copa das arvores. Um frio transpassa por minha barriga e todos os meus instintos me gritam para fugir.
- o que foi... – Antes que Clara termine de perguntar grito para corrermos dali. Não sei explicar o que está acontecendo, mas posso sentir o peso tenebroso de magia n***a naquele lugar.
Os sibilos de alguma coisa poderosa são trazidos pelo vento, consigo sentir o desespero e a urgência daquilo me encontrar. Esqueço-me das garotas na garupa do meu cavalo e começo a conjurar feitiços de p******o.
Sinto minha magia confrontar a magia que me persegue, em uma briga silenciosa. Sou uma vela frágil cercada por uma vasta escuridão. Os sentimentos ruins que emanam daquela energia ameaçam me sufocar. O cavalo corre com toda a velocidade que consegue, até o animal sente a ameaça que nos cerca.
Não sei se Andressa e Helen continuam nos seguindo, eu rezo para que estejam. O caminho a nossa frente parece ainda mais escuro, como se estivéssemos cercadas. O cavalo pula como se estivéssemos pulando duas rochas separadas por um abismo, deixando a energia maligna para trás. O animal de Andressa quase nos atropela.
Pulamos em uma área aberta, fora da floresta.
- O que diabos foi aquilo? – Andressa pergunta ofegante.
- Não sei e sinceramente espero nunca descobrir! – Falei puxando as rédeas do cavalo de forma abrupta, ao ver várias criaturas azuis, verdes e marrons, com flechas apontadas para nós, de forma pouco amigável.