Aquela manhã começou no susto. Tava no melhor do meu sono, enrolada no lençol, sonhando sei lá com o quê, quando minha mãe abriu a porta do quarto num rompante. — Milena, acorda! Filha, acorda logo! — a voz dela parecia aflita, e eu só resmunguei, virando pro outro lado. — Me deixa, mãe... Já tô de férias... Nem tinha clareado direito o dia, eu tava com os olhos colando de tanto sono, mas aí veio a frase que me arrancou da cama feito um tiro. — O José tá na sala com o seu pai. E seu pai tá armado. Na hora pulei da cama, coração acelerado, um frio na barriga que nem sei explicar. Passei a mão no rosto, nem escovei os dentes, nem lavei o rosto. Fui direto pra sala, descalça, descabelada, ainda com o pijama de alcinha todo torto no corpo. — O quê?! — perguntei, com a voz já desesperada.

