Vou te falar… tem dia que o clima fica estranho e a gente nem sabe explicar o motivo. Hoje foi um desses. Acordei meio atrasado como sempre, joguei a camiseta por cima, chinelo arrastando pelo chão e peguei a moto do velho na malandragem, igual faço todo santo dia. Aqui no morro me chamam de Cachorrão por um motivo — eu faço o que eu quero, pego quem eu quero e, se não quiser papo, sai da minha frente. Cheguei na escola daquele jeitão. Molecada toda me cumprimentando, as meninas secando, como sempre. Só que hoje… não sei explicar. Tava diferente. Era ela. Sophia Meyer Nogueira. A irmã do José Vicente. A filha do meu padrinho Falcão. A garotinha que corria atrás de mim quando a gente era pivete, pedindo pra subir na garupa da minha bicicleta, ou pra ser o pai das bonecas dela. Agora…

