CAPÍTULO 42 RAFAELA NARRANDO: O pagode já tava naquele auge perfeito: luz quente, caixa de som estalando, gente cantando mais alto que o cantor, cheiro de churrasquinho misturado com perfume barato. Eu e Gringo estávamos encostados numa mesa alta, dividindo uma long neck, quando ele passa o braço atrás de mim com aquela folga irritante dele. — Cê tá muito bonita hoje, sabia? — ele fala como quem comenta o clima. — Eu sei — respondo, bebendo um gole e dando de ombros. — Mas obrigada pelo aviso. Ele ri, aquele riso exagerado que ele dá quando sabe que eu tô me achando. A gente tava ali, conversando besteira, rindo do povo dançando feio, quando vejo, pelo canto do olho, Magrão voltando do banheiro. Vinha andando com aquela postura de dono do morro, camisa colada no peito, cara fechada.

