capitulo 9

1820 Words

CAPÍTULO — A SANTINHA E O DEMÔNIO Domingo na favela amanheceu torto. O céu tava cinza, pesado, parecendo tampa de caixão. Eu nem tinha dormido. Tava na mesma cadeira de plástico, no mesmo miolo da boca, com a pistola pesando na cintura e o gosto amargo da "Cegueira de Anjo" travado na garganta. A droga não tinha saído do sangue. Ela tava lá, arranhando, me deixando ligado no 220, com a paranoia batendo na porta da mente. A favela acordava lenta, ressaca de sábado. Mas minha cabeça tava a milhão. O barulho da noite passada não saía do meu ouvido: o metal da tesoura mastigando cabelo, a Marla berrando igual porco no abate, e, pior que tudo... A cara do Juninho. Aquela expressão de dó. Aquele olho de peixe morto, com pena de p**a. Isso eu não engulo. Isso é veneno na minha tropa.

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