A tensão só aumentou.
Os amigos olharam de um para o outro, percebendo que a conversa estava ultrapassando o nível da fofoca e entrando no território da terapia de casal não resolvida. Ainda assim, ninguém ousou interromper.
Eleonora respirou fundo, o peito subindo e descendo rápido.
Adrian apertou os dedos contra o joelho, tentando parecer calmo mas não estava.
— Sabe o que realmente me irrita? — Eleonora começou, a voz mais baixa, porém firme. — Você fala como se eu tivesse simplesmente decidido desaparecer da sua vida. Mas você nem sequer teve coragem de me avisar que viria pro internato! Eu descobri dias depois pela minha mãe, Adrian. Que tipo de amigo faz isso?
Ele piscou, pego completamente de surpresa pelo tom vulnerável dela.
— Eleonora…
— Não, eu tô falando sério. — Ela o encarou. — Você só sumiu. Sumiu. E me deixou ali, fingindo que não tinha problema nenhum. Eu era sua melhor amiga e você não disse nada.
Os amigos se entreolharam. A expressão de Adrian finalmente cedeu, o sarcasmo derretendo.
— Você acha que foi fácil pra mim? — Ele respondeu, a voz mais baixa. — Acha que eu queria vir pra cá? Me enfiar num lugar cheio de estranhos, longe de tudo o que eu conhecia? De você?
Ela hesitou por um segundo.
Ele continuou:
— Eu não te contei porque… — respirou fundo — …porque eu sabia que você ia tentar me convencer a ficar. E eu não tinha escolha, Eleonora. Meu pai já tinha decidido. Eu tinha quinze anos.
Eleonora abriu a boca, mas não saiu som.
— E você falar que eu me afastei? — Adrian riu sem humor, balançando a cabeça. — Toda festa… você ficava com aquele grupo de amigos da escola. E quando eu ia falar com você, você dizia “só um minuto, já volto”, e nunca voltava.
Os olhos de Eleonora se arregalaram.
— Isso não é verdade — ela rebateu, mas a voz já não tinha tanta firmeza.
— Não é? — Adrian inclinou a cabeça. — Na festa de Ano Novo de 2019, por exemplo. Você passou a noite inteira com aquele garoto, como era o nome dele mesmo? Rafael? E eu fiquei lá, sozinho, olhando os fogos.
Eleonora franziu o cenho, parecendo verdadeiramente afetada.
— Adrian… não.
— É sim. — Ele suspirou. — Você só não se importava.
Ela abriu a boca para responder, mas o som morreu na garganta.
Era como se o mundo tivesse diminuído até restar apenas os dois, sentados lado a lado no gramado, revelando feridas que nunca tinham sido curadas.
— Eu sempre me importei com você— ela disse, finalmente. — Muito mais do que você acha.
O grupo de amigos estava paralisado.
Miles sussurrou para a menina ao lado:
— Eu deveria… ir buscar pipoca?
Ela deu um tapa no braço dele.
Adrian e Eleonora nem notaram a plateia.
Não notaram os olhos arregalados, os sussurros ou as expressões chocadas.
Ali, por alguns segundos, pareciam estar de volta à infância só eles dois, brigando porque se importavam demais.
E percebendo que, talvez, o que houve entre eles…
Nunca foi simples mesmo.
A tensão estava tão densa que parecia que o ar ao redor deles tinha parado.
E foi justamente por isso que a voz surgiu alta demais, quebrando o momento como vidro caindo no chão.
— GENTE! — Uma garota do time de volei, Sofia, apareceu correndo. — Vocês viram? A diretora tá vindo pra cá, parece que vai anunciar alguma coisa sobre o interclasse!
Todos levaram um susto.
Os amigos de Adrian e Eleonora piscaram, quase agradecidos pela interrupção o clima estava pesado demais.
Adrian virou instintivamente para Eleonora, mas ela já estava se levantando.
Sem pressa.
Sem olhar para ninguém.
Sem dizer nada.
Ela se levantou como se cada movimento do corpo estivesse sendo segurado por um fio de autocontrole muito frágil. O vestido lilás balançou com o vento leve, o coque bagunçado revelando o pescoço claro.
— Eleonora… — Adrian chamou, ainda sentado, a voz baixa, hesitante.
Mas ela não respondeu.
Nem desacelerou.
Ela apenas virou as costas para o grupo e começou a caminhar em direção à entrada do prédio principal passos firmes, porém apressados, como se estivesse fugindo de algo.
Ou de alguém.
Adrian ficou ali, imóvel por alguns segundos, sem saber se ia atrás dela ou não. O peito apertado, o estômago tenso.
Miles colocou uma mão no ombro dele.
— Cara… vocês precisam conversar de verdade um dia desses — murmurou.
Adrian não respondeu.
Apenas observou Eleonora se afastar, cada vez menor na distância, até desaparecer pelos corredores.