Capítulo 25. Duelo velado

834 Words
A música suave dos violinos preenchia o salão, enquanto os pais conversavam animadamente sobre a noite histórica. O vinho caro fluía, as risadas ecoavam… e, no meio desse cenário luxuoso, Adrian e Eleonora tentavam sobreviver. Sentados lado a lado, tão próximos que conseguiam sentir o calor um do outro, mas emocionalmente a quilômetros de distância. A conversa seguia tranquila até que a mãe de Eleonora, sorrindo radiante, perguntou: — Então, queridos… como está sendo a convivência de vocês no internato? Estão se dando bem? Eleonora quase engasgou com o ar. Adrian fechou os olhos por meio segundo, respirando fundo. Mas ambos sorriam. Sorrisos falsos, educados. Perfeitos. E a guerra começou. — Muito bem, mãe. — Eleonora respondeu com suavidade exagerada. — O Adrian é… extremamente responsável.Até demais, na verdade. Vive corrigindo todo mundo. É admirável. Adrian virou o rosto devagar, mirando-a com um olhar mortal. — Obrigado, Eleonora. — ele disse, fingindo charme. — E você é… consistente. Em tudo.Sempre chega atrasada com o mesmo entusiasmo. Uma verdadeira… marca registrada. Ela sorriu tão doce que dava até medo. — Algumas pessoas têm carisma natural, Adrian. Nem todos precisam domir com a cara no livro pra se destacar. Ele levantou uma sobrancelha, mantendo a voz baixa e educada: — Realmente. Uns chamam isso de carisma. Eu chamaria de… necessidade de atenção.Mas é questão de interpretação. Ela encostou o cotovelo na mesa, inclinando-se levemente para ele, ainda sorrindo para os pais: — Uns chamam de foco. Eu chamaria de personalidade zero. Mas, né… interpretação. Sob a mesa, os joelhos quase se tocaram. Acima da mesa, os sorrisos ecoavam como porcelana prestes a rachar. Os pais, completamente cegos à carnificina elegante, continuavam achando tudo maravilhoso. O pai de Adrian riu, orgulhoso: — Vocês dois sempre foram muito diferentes, mas se completam. Vocês se ajudam no internato? Adrian respondeu antes que Eleonora pudesse abrir a boca: — Claro.— virou para ela. — Eu ajudo bastante.Principalmente nos momentos em que ela… não entende a matéria. O que é comum. Eleonora apertou a taça com tanta força que quase quebrou. — Eu agradeço o esforço dele. — ela rebateu. — Apesar de ele explicar as coisas como se estivesse falando com um robô. Ou com um espelho. Porque ele parece se adorar. Adrian virou a taça de vinho, controlando a respiração. — Se eu me adorasse, Eleonora, estaria cego ao seu brilho constante, não? Ela piscou, surpresa com a sutileza. E respondeu à altura: — Meu brilho machuca seus olhos, Adrian? É isso? Ele sorriu, de canto. — Machuca quando você tenta demais, o que é...sempre . A mãe deles suspirou — Eles são tão… intensos, não acha? — Completamente. — concordou o pai de Eleonora.— Vão longe. Juntos. Os dois herdeiros quase se engasgaram. Eleonora e Adrian trocaram um olhar rápido um olhar carregado de irritação, orgulho ferido e algo mais profundo que nenhum deles ousava nomear. E, pela primeira vez naquela noite, concordaram internamente em algo: Estavam no limite. O pai de Eleonora, depois de um gole de vinho, brincou com naturalidade: — Adrian, espero que você fique de olho na minha menina lá no internato. Não quero nenhum garoto achando que pode chegar perto demais. Eleonora soltou um riso curto, elegante, mas cheio de veneno. — Ah, papai, não se preocupe.— Ela pousou o olhar sobre Adrian, com a doçura mais falsa já produzida em território nacional. — Ninguém chega perto demais de mim… até porque o Adrian afasta todos com aquele mau humor dele. A mesa riu, achando graça. Adrian sorriu, mas era daqueles sorrisos que poderiam cortar vidro. — Faço isso por pura consideração à sua segurança, Eleonora. — respondeu, cruzando os dedos sobre a mesa e inclinando-se levemente para ela. — Afinal, nunca se sabe quem pode se encantar demais com certas pessoas… especialmente quando elas acham que são irresistíveis. — Imagina! — Ela rebateu sem perder a postura. — Se alguém se encantasse comigo, seria por mérito próprio. Não por eu ficar anunciando meus feitos ou mostrando meus brinquedinhos novos para impressionar os outros. Ela dizia isso mirando diretamente o relógio de luxo que ele havia ostentado mais cedo enquanto falava com os aliados do pai. Adrian ergueu a taça, elegante como sempre. — No mínimo eu sei aproveitar o que tenho. Mas você… — Ele sorriu, suave, quase fraterno, mas com uma pontada de ironia. — Você prefere agir como se nada fosse suficiente nem as roupas, nem as notas, nem… a companhia. Eleonora enrijeceu um segundo só um mas respondeu com a mesma suavidade afiada: — Bom, Adrian… algumas companhias realmente não são suficientes. O pai de Adrian riu, sem captar a troca de lâminas que acontecia na frente dele. — Esses dois! — disse, orgulhoso, como se visse apenas dois jovens brincando. — Que bom ver que vocês se dão tão bem. Eleonora e Adrian ergueram simultaneamente as taças para um brinde automático, sincronizado apenas pelo desprezo. — Sempre. — responderam juntos, quase coreografados em sua farsa.
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