Os pequenos raios solares começaram a surgir quando Naomi finalmente decidiu se levantar do chão do cemitério onde o clã Uchiha foi enterrado para falar com Mikoto. Sayuri saiu de trás da árvore e se aproximou da filha prestes a toca-la no ombro quando foi impedida pela própria Naomi.
- O que está fazendo?
- Tentando conversar com a minha filha. – A Hatake segurou o manto da Akatsuki nas mãos e o apertou levemente antes de vesti-lo. – O que vai fazer quanto a guerra que se aproxima?
- Ajudar Amegakure. – Ela se afastou da mãe seguindo para fora do cemitério, onde deu de cara com o pai.
- Sua casa é aqui... Então saiba que poderá voltar, não importa o que aconteça. – Naomi se aproximou e beijou a bochecha do pai carinhosamente.
- Faça um ótimo trabalho como Rokudaime. – A menina se afastou e sumiu da visão dos pais, que se olharam.
- Ela é como você. Difícil de lidar mas não impossível. – Sayuri se aproximou do marido e encostou a cabeça no peito dele.
- Dezessete anos entre nós pode ser recuperado, mas e com ela? – A Uchiha fechou os olhos e foi abraçada carinhosamente pelo maior. – Ela me odeia.
- Ela precisa de um tempo, tudo ficará bem.
Meses depois
Shisui sentou ao lado de Naomi que comia o ramen com calma e ele a olhou, desta vez sem sorrir. A garota continuou a comer e quando terminou ela o olhou por alguns segundos antes de se sentir confiante o bastante para falar sem gaguejar.
- Boa tarde, Shisui-san. — Ela saudou e voltou a olhar para a tigela de ramen. — Posso ajudar com alguma coisa?
- Podemos conversar a sós? — Naomi deixou o dinheiro no balcão e se levantou com o Uchiha, ambos seguindo para longe da multidão.
O silêncio entre eles não era algo confortável, Naomi demonstrava tristeza e haviam olheiras embaixo de seus olhos, ela também estava mais magra e seus olhos haviam perdido o brilho.
- Eu soube do ataque, sinto muito pela sua perda. — Shisui falou olhando para o chão de terra que logo se tornou gramado.
- Pelo menos eu pude segurar ele por uns minutos, ele era lindo. — Naomi sorriu minimamente.
- Aqui. — Shisui sentou embaixo de uma das árvores de cerejeira e Naomi sentou em sua frente ainda sem olhá-lo. — Eu tive que te deixar e forjar minha morte, eu estava ajudando sua mãe. Tentando impedir metade das coisas que seu tio faria e conseguimos, evitamos que a guerra acontecesse mais cedo e felizmente recuperei meu olho então não vai demorar para eu conseguir usar o Kotoamatsukami nele.
- Que bom. — Shisui segurou a mão de Naomi que o olhou e com a mão livre, ele tocou sua bochecha lhe fazendo carinho.
- Mas eu sempre a observei, mesmo de longe, eu sempre cuidei de você e justo no único dia em que eu não estava por perto... Você foi tirada de mim. — Shisui falou baixo e beijou a mão da garota. — Eu sinto muito por isso, Nao-chan.
- Eu não sou sua responsabilidade. — Ela se afastou e olhou para o pequeno lago próximo a eles. — Eu sempre tive que me virar sozinha.
- Eu sei que talvez seja tarde demais, que outro homem está presente em seu coração mas... — Shisui corou abaixando o olhar e Naomi o olhou de canto. — Eu vou lutar por você, pelo seu amor.
- Quem mais teve que forjar a própria morte para tudo dar correr conforme o plano da Sayuri?
- Seu tio, Itachi, Jiraiya-sama....
No prédio do hokage
- Bom, agora que está tudo correndo conforme o combinado... — A porta se abriu interrompendo Tsunade e os presentes olharam para a entrada. Seus cabelos brancos estavam cobrindo quase todo o seu rosto e seus olhos estavam cheios de lágrimas, lágrimas que ela deixou cair ao ver Asuma parado em frente a mesa. — Precisa de algo, Naomi?
- Você me deixou. — Ela falou e Asuma se aproximou abrindo os braços, Naomi correu até ele o abraçando com força e suas pernas rodearam a cintura do maior.
- E deixar as mulheres da minha vida sozinhas? — Ele falou baixo e sorriu a segurando. — Eu sinto muito por ter mentido.
- Acho que já me acostumei a estar cercada de mentiras.
Naomi Hatake
- Naomi, participar das reuniões fará bem a você. — Olho para Sayuri que está ao lado de Kakashi e em seguida olho para Asuma.
- Eu vou encontrar a tia, acho que vai demorar para ele largar do meu pé. — Me viro para sair quando meu pulso é segurado.
- Ele não quis te deixar, eu tive que obrigá-lo.
- Me solta. — Encaro Sayuri que me soltou aos poucos. — Tudo aconteceu porque você não soube fazer algo simples como matar alguém.
- É difícil matar a própria família, caso não saiba.
- Não quando sua família quase te mata. — Ela abaixou um pouco o olhar.
- Eu ainda sou a sua mãe, não fale comigo assim.
- Você é uma estranha e eu nunca vou te perdoar por ter acabado com a minha vida.
- Eu fiz para salvar você!
- E olha onde estamos! — Respondo no mesmo tom que ela e seus olhos se encheram de lágrimas. — Diferente de você, que pode segurar sua filha por mais de cinco minutos, eu não consegui isso! Eu segurei o meu bebê por menos que isso e ainda tive que ver ele parar de respirar e nunca mais voltar!
- Nagato não teria te protegido.
- O ponto não é esse, o ponto é que se você tivesse matado Obito anos atrás, meu bebê estaria em casa, comigo, com a minha família. — Falo um pouco mais baixo e puxo as mangas da blusa.
- Eu sou sua família também.
- Eu já disse, você é só uma estranha.
- Naomi, sua mãe... — Kakashi toca meu ombro mas me afastei dele e caminhei para fora da sala.
Seco as lágrimas que insistiram em cair e desci as escadas caminhando até a saída do prédio. Eu ainda lembro do desespero que senti quando ele parou de respirar, quando sua pele ficou cada vez mais pálida e sua boca ficou roxa. Meu filho era tão lindo, tão fofo e eu queria ter mostrado tanta coisa para ele.
- Você não precisa se afastar. — Ergo um pouco a cabeça e minha testa foi tocada por Itachi. — Você não vai conseguir carregar toda essa dor sozinha.
- Eu já tinha me acostumado, quando ouvi o coração dele bater eu... Eu finalmente senti que seria feliz e que nada poderia tirar isso de mim. — Falo baixo e o maior me puxou pela cintura fazendo minha cabeça encostar em seu peito. — Você me deixou também.
- Sentimos muito por ter que usar seu trauma assim, se tivéssemos nos revelado antes você não teria se fortalecido... Só não estava nos planos você engravidar do Nagato.
- Você me deixou. — Sussurro novamente e me encolhi. — Você me deixou... Sozinha... E então ele morreu, eu perdi meu bebê por causa do Obito... Por que eu sempre sou abandonada no fim?
- Me perdoe, Naomi. Não vamos fazer isso novamente, tentamos te proteger mas não foi do jeito certo. — Soluços começaram a sair de meus lábios e minhas lágrimas ficaram cada vez mais intensas.
Agora eu sei que preciso recomeçar, sozinha, como sempre. Eu preciso fazer meu próprio caminho depois que tudo isso acabar e quando eu finalmente fizer as pazes comigo mesma, eu posso deixar eles se aproximarem de mim. Tentar criar laços novamente. Eu posso deixar de sentir medo de ser abandonada.