Capítulo 02

1459 Words
Alemão Já vi muita coisa acontecer aqui no Rio de Janeiro, já encontrei muita gente, tanto inimigo quanto amigo. A vida aqui no morro é intensa, tudo é muito rápido, tem que estar sempre alerta, tem que estar sempre pronto para agir. É um mundo que atrai muita gente, mas poucos conseguem aguentar a pressão. Aqui a coisa é bruta, não tem espaço para fraqueza. Já vi muitos irmãos caindo, seja nas mãos da polícia ou dos inimigos. Mas é como dizem, quem tá na chuva é pra se molhar. Se você escolheu esse caminho, tem que estar preparado para o que vier pela frente. E não são só os inimigos que a gente tem que se preocupar. Tem sempre alguém querendo puxar o seu tapete, alguém querendo roubar a sua posição, alguém querendo tirar uma lasquinha do seu sucesso. É difícil confiar em alguém aqui no morro, mas tem que ter uma equipe forte, unida, que esteja disposta a lutar junto com você. Mas, apesar de tudo, tem também o outro lado. Tem as minas, as festas, o poder, a adrenalina. É difícil explicar para quem não vive isso, mas é uma sensação única, uma emoção que não se encontra em nenhum outro lugar. É claro que não estou dizendo que o que fazemos é certo, longe disso. Mas é o que é. É o que temos. E enquanto a gente estiver vivo, vamos continuar lutando, continuando tentando se dar bem nesse jogo maluco. O jogo delas é me distrair, mas não caio mais nessa, já tive minha cota de mulheres e agora o foco é outro. Observo a movimentação ao meu redor, os olhares desconfiados de alguns, as risadas de outros, todos tentando mostrar que são mais espertos que os demais. Mas eu sei que isso é só fachada, porque aqui dentro todo mundo é igual: cada um buscando a sua fatia do bolo, sua parte do lucro. Enquanto isso, lá fora, a polícia faz as suas rondas, tentando pegar alguém de surpresa, mas eles já conhecem as nossas rotinas, sabem onde estamos e o que estamos fazendo. Ainda assim, a tensão é constante, porque nunca se sabe quando um tiroteio pode começar, quando uma invasão pode acontecer, quando um dos nossos pode ser preso ou morto. Eu sempre gostei de viver na adrenalina. Olhando agora, vejo as mulheres se exibindo, balançando a raba ao som do funk que invade a favela. Aquele barulho, misturado com a fumaça de maconha* e cigarro, já não me incomoda mais. Eu já me acostumei com esse ambiente, já fazem muitos anos. Mas a verdade é que eu preciso sempre checar a qualidade do produto. Tudo precisa estar na linha, caso contrário, as consequências podem ser graves. Cheiro mais uma carreira e sinto aquele formigamento no corpo, como se estivesse pronto para enfrentar qualquer coisa. É nesse mundo de oferta e demanda que eu vivo, onde tudo tem um preço e todos têm um objetivo. As duas loiras se aproximam, sabendo o que eu quero e eu sabendo o que elas querem. É assim que funciona. Vejo minha irmã Fernanda se exibindo pros cria dos outros morros, muitos deles com fiel, mas nem dou mais papo, só dor de cabeça. Ela já é maior e vacinada, nascer no berço de ouro mesmo que seja da criminalidade, não era para alguns e a minha irmã Nanda era a prova disso. Em seus plenos 19 anos só não havia ido para a vala porque os caras com quem ela saía eram mais jaguaras do que ela. A verdade é que eu não gosto muito de me envolver com a vida pessoal de ninguém. Eu já lavei as minhas mãos há muito tempo e só tenho que me preocupar comigo mesmo e com a minha quebrada. Não é fácil viver no morro, mas é isso que a gente tem, essa é a nossa realidade. Às vezes eu sinto saudade da época em que as coisas eram mais simples, em que eu podia me divertir sem me preocupar com nada. Mas a vida mudou, eu mudei. Hoje eu sou um traficante de 35 anos e tenho que lidar com as consequências das minhas escolhas. Mas eu não sou o****o, já vi muita coisa nessa vida. Aprendi a me defender e a proteger quem é importante para mim, como a minha irmã Nanda. É duro admitir, mas a criminalidade é um jogo de interesses. Cada um tem o seu preço, cada um tem o seu valor. E eu, Alemão, tenho o meu lugar no jogo. Não é fácil, não é bonito, mas é o que eu tenho. E é isso que eu vou defender com unhas e dentes, custe o que custar. — Mano, pega a visão! — gritou o meu sub Carioca enquanto acendia um cigarro. — Cola aqui, precisamos conversar. — ele disse com urgência na sua voz. Deixei o baile rolando ao fundo e segui ele para um lugar mais afastado. Os seus olhos estavam fixos na cocaína que ele mantinha em um pino. — Deu zebra no galpão do MT — ele soltou com um tom sério. Nós costumávamos usar fazendas e terrenos afastados para fabricar a nossa droga, transportar de fora era muito difícil e arriscado, sempre perdíamos o motorista e a carga, ou tínhamos que pagar uma grana alta para os malditos policiais. Mas agora a situação era diferente. — Colocaram fogo lá— disse o meu sub, — ninguém sabe de nada. — Ele explicou que os homens estavam cuidando da família responsável pelo terreno, ninguém escaparia. Eu sabia que isso era sério, a droga era nosso ganha-pão e o prejuízo foi milionário. — Essa família vai ter que pagar por isso, em dinheiro ou em vida. — Deixei o meu recado dado. — Sem erros. — ele disse com uma voz dura. Carioca era o meu homem de confiança, e sabia como eu gostava de trabalhar. Esse era um assunto resolvido, muitas terras eu havia conquistado por dividas, confesso que esta caiu de bandeja, e eu não iria recusar, agora era só fazer os caipiras assinar os papeis de transferencia. Deixei o meu sub encarregado de viajar, afinal a minha cabeça valia demais para entregar de bandeja. Enquanto isso, comecei a planejar como iria tirar o máximo proveito dessa situação. Eu já tinha em mente que queria mais uma fazenda, e agora, com essa oportunidade, estava decidido a consegui-la. Seria para algum negócio legalmente regularizado, para os meus negócios ilegais eu alugava, se a polícia batesse, não era minha responsabilidade. Eu sabia que essa família responsável pelo terreno não teria dinheiro para arcar com o meu prejuízo, então eu precisava encontrar uma forma de fazer com que eles pagassem de outra maneira. Era hora de agir, eu tinha muitos contatos e sabia que poderia encontrar uma solução lucrativa para o problema. Fui para o meu escritório e comecei a fazer ligações, contatar as pessoas certas, garantir que teria todo o apoio necessário para seguir em frente. E assim, comecei a traçar um plano que me levaria a ter a fazenda que eu tanto desejava. Não ia ser fácil, mas já estava acostumado com a vida de traficante. Sabia que precisava ser astuto e agir com cuidado para não chamar atenção da polícia. Mas estava determinado a conseguir o que queria, afinal, no mundo do crime, quem é fraco não sobrevive. Voltei pro baile acompanhado de duas gatas, tentando esquecer a minha mente que só pensava no prejuízo que tinha tomado. Me sentei no meu lugar reservado no camarote, as duas já estavam animadas e passando a mão pelo meu peito e todo resto. Deixei elas curtirem o meu corpo enquanto observava o fluxo da festa e degustava um uísque. — O único lugar que vocês vão beijar é o meu p*u. — disse com raiva para uma delas quando tentou beijar o meu pescoço. O problema das mulheres que querem se envolver com bandido, é que elas nunca vão passar disso. Uma sentada, i********e não rola. Eu sei que muitos podem ter uma visão equivocada das mulheres que se envolvem com bandidos, alguns as veem como coitadas, outros como interesseiras, mas para mim elas não passam disso. Interesseiras. É claro que muitas dessas mulheres foram privadas de educação e oportunidades, mas isso não as impede de levar uma vida honesta. Todos nós temos uma escolha, e elas escolheram o caminho errado. Por isso, elas são tratadas como lixo, nunca assumiram o posto de minha fiel. Para elas, sentar para um bandido é o suficiente, mas eu sei que isso nunca levará a uma i********e real. Eu vejo essas mulheres como descartáveis, sempre disponíveis para me satisfazer, mas nunca capazes de assumir um papel mais importante na minha vida. 
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