Elena
Eu não sabia o que esperar, mas o que vi naquela noite superou todos os meus piores pesadelos. O leilão, o lugar, os homens — tudo me fez sentir como se fosse um pedaço de carne à venda, uma mercadoria exposta para o prazer de homens que não tinham nem ao menos o mínimo respeito por mim, mas viam algo apenas no valor de minha aparência.
Fui levada para uma sala escura e luxuosa, onde luzes suaves e lustres dourados iluminavam o espaço de maneira quase surreal. Havia tapetes vermelhos e cadeiras estofadas em veludo, como se estivessem preparando o palco para uma apresentação. Mas a única coisa que eu podia ver claramente era a bancada onde eu deveria me posicionar, e todos os olhares que me observavam, prontos para me avaliar como se fosse um objeto qualquer.
Meu corpo estava exposto em calcinha e sutiã, e me sentia envergonhada. Eu queria encolher, desaparecer. O tecido fino da lingerie não cobria o suficiente para me dar qualquer conforto, e eu sabia que estava ali para ser leiloada. Eu era o prêmio, o objeto desejado. Uma propriedade que alguém pagaria um preço absurdo para ter. E era isso que eu era agora: uma mercadoria.
Os homens estavam reunidos em grandes poltronas ao redor da sala, sussurrando entre si, todos com os olhos fixos em mim. Alguns sorrisos eram cruéis, outros eram quase insaciáveis, como se já estivessem imaginando o que fariam comigo, caso me comprassem. Eram homens de todas as idades, mas havia uma grande concentração de velhos com os olhos brilhando de ganância.
O leilão começou. O mestre de cerimônias, um homem de terno preto impecável, deu as boas-vindas aos convidados e explicou, em termos frios, que o leilão estava prestes a começar. As apostas seriam altas, e quem quisesse garantir a "mercadoria rara" deveria estar disposto a pagar. Cada palavra dele me fazia sentir mais e mais pequena, mais insignificante, como se estivesse em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
Eu fiquei parada ali, o coração batendo forte, o corpo tremendo, e uma sensação de vergonha me consumindo. Havia momentos em que fechava os olhos, tentando bloquear as risadas e os olhares invasivos. Mas quando os olhos de um dos homens mais velhos encontraram os meus, uma onda de pavor percorreu meu corpo. Ele não estava disfarçando o desejo, e isso me fez sentir ainda mais vulnerável.
O leilão começou com uma oferta baixa, de um homem na faixa dos cinquenta anos, e a cada nova proposta, meu medo crescia. Cada aumento no valor parecia um passo mais perto de perder o controle sobre minha vida. Eles não se importavam com quem eu era, o que eu sentia ou o que estava perdendo. Eles viam apenas um prêmio, algo que poderia ser comprado, possuído, usado como quisessem.
A disputa começou a esquentar. A cada lance, os homens ficavam mais animados. Alguns gritavam os valores como se fosse algo trivial. Eles estavam competindo, cada um tentando ser o vencedor, o dono de algo que parecia ser só deles, sem qualquer empatia por mim. Mas o pior não era só a disputa em si. Era o que ela significava. Eu era a troca. Eu era o objeto. A cada grito de lance, uma parte de mim morria um pouco mais.
“Quinhentos mil!” gritou um homem alto, de cabelo grisalho, em um terno caro. Eu não sabia quem ele era, mas a maneira como ele me olhou me fez sentir como se fosse um pedaço de carne crua, pronta para ser devorada.
"Seiscentos mil!" Outro homem, um pouco mais jovem, provavelmente na faixa dos quarenta, e o olhar dele me fez perceber que ele também queria muito me ter.
Era uma guerra silenciosa. Uma guerra em que eu era a moeda de troca. Eu queria gritar, implorar para que me deixassem ir, mas a sensação de impotência era insuportável. Não havia mais espaço para palavras, nem para qualquer tipo de resistência. Eu estava ali para ser comprada.
Foi então que, de repente, a sala ficou em silêncio. Uma presença dominadora entrou pela porta. Eu não sabia de onde ele tinha vindo, mas seu olhar imponente preencheu o espaço. Ele não disse uma palavra, mas foi o suficiente. Todos os olhares se voltaram para ele, e o leilão parecia pausar por um momento, como se ele tivesse o poder de controlar tudo com a sua mera presença.
Ele estava vestido impecavelmente, em um terno escuro que se ajustava perfeitamente ao seu corpo. Sua postura era ereta, e sua expressão era intransigente, como se fosse um homem acostumado a ter o que quisesse, quando quisesse. Ele observou a sala com um olhar calculista, e seus olhos, quando pousaram sobre mim, foram como uma lâmina. Não havia emoção neles. Não havia nada além de... domínio.
"Um milhão", ele disse, com uma voz profunda e autoritária.
O silêncio que se seguiu foi palpável. A disputa instantaneamente se transformou em algo secundário. Todos os outros homens estavam tentando decidir o que fazer. Alguns ainda tentaram oferecer lances, mas ninguém ousou subir o valor. Ele havia sido claro: ele queria o que estava na sua mira. E eu era o alvo.
Ele me comprou, e, naquele instante, meu destino foi selado. Eu não sabia o que ele queria de mim, o que ele faria comigo, mas sabia que agora era dele. E, de alguma forma, aquele lance, aquele valor absurdo, me fez entender que ele não era como os outros. Ele não me via como uma mulher, mas como algo que ele poderia controlar. E, de algum jeito, isso me assustava ainda mais.
Eu queria sair dali, correr para longe daquele lugar. Mas, no fundo, eu sabia que isso não seria possível. O preço que ele pagou por mim significava que ele me teria, de uma maneira ou de outra.
O leilão estava terminado, e eu já sabia que minha vida não seria mais a mesma.