Entre o Caos e o Coração

1327 Words
A madrugada era um manto silencioso e pesado que cobria a casa onde Karen passava mais uma noite inquieta. Sentada no sofá da sala, com o corpo curvado para frente e os olhos fixos no celular, ela sentia o peso da responsabilidade apertar seu peito. Cada notificação recebida parecia um lembrete c***l da guerra silenciosa que se desenrolava ao seu redor — uma guerra que não afetava apenas a empresa, mas a vida que ela e David estavam prestes a construir juntos. Os bebês, ainda tão pequenos, mexiam-se suavemente dentro dela, como se já pressentissem a tensão no ar. O toque delicado em sua barriga era o único refúgio que lhe restava naquela noite. Karen fechou os olhos por um instante, tentando organizar os pensamentos, mas a ansiedade se recusava a dar trégua. A casa ainda dormia, exceto pelo barulho insistente do teclado de seu notebook, que parecia ecoar pela casa vazia, lembrando-a de que o perigo não descansava. De repente, a porta do escritório se abriu silenciosamente, e David entrou. Seu rosto carregava os sinais do sono interrompido, o cabelo bagunçado e os olhos semicerrados de quem não conseguiu descansar direito. — Amor — sua voz saiu baixa, quase um sussurro, mas cheia de preocupação. — Você precisa descansar. Karen não desviou o olhar da tela. — Não posso — respondeu firme, a voz carregada de determinação. — Se alguém está tentando invadir nosso sistema, preciso entender como estão fazendo isso. Cada segundo conta. David se aproximou lentamente, como quem não queria assustá-la, e colocou as mãos nos ombros dela, girando a cadeira para que ela o encarasse. — Agora você carrega dois corações dentro de você — disse ele com suavidade, pousando a cabeça ao lado da dela. — Você precisa dormir, comer bem, respirar fundo. Eu prometo que vou cuidar disso. Ela hesitou, sentindo a força do amor dele tentando quebrar o muro de inquietação que a mantinha acordada. — Eu só queria descobrir logo quem está por trás disso — murmurou, o olhar finalmente se suavizando. David sorriu e, devagar, fechou o notebook. — Deixa comigo, só por hoje. Amanhã você assume tudo de novo, mas agora, vem comigo. Sem mais palavras, ele a conduziu até o quarto, deitou-se ao lado dela e passou os dedos pelos seus cabelos, num gesto de proteção e carinho que a fez finalmente relaxar. Karen fechou os olhos, permitindo-se fugir para um sono tranquilo, enquanto David permanecia acordado, em alerta máximo. Pegou o celular e discou um número que não usava havia anos. Após dois toques, uma voz grave respondeu do outro lado. — David? — Preciso de você. É urgente. --- Quando Karen acordou pela manhã, o sol já derramava seus raios dourados pela janela, iluminando a cama vazia ao seu lado. No travesseiro, um bilhete escrito pela mão firme de David repousava, com poucas palavras que carregavam uma promessa: “Confia em mim. Estou protegendo o que é nosso. Te amo — D.” Um misto de alívio e apreensão invadiu o coração de Karen naquele instante. Ela sabia que a luta ainda não tinha acabado. Mal terminara de ler o bilhete, Heitor entrou apressado, visivelmente agitado. — Karen, você não vai acreditar no que acabei de descobrir — disse ele, o rosto pálido. — O que foi? — ela perguntou, sentindo o corpo todo se preparar para o pior. — Os rastros da tentativa de invasão vieram de um servidor associado ao grupo Maxter Group. O nome soou como uma sentença. — Do grupo do Leonardo Maxter? — perguntou, quase sem acreditar. — Sim — confirmou Heitor. — E tem mais: ele esteve em Orlando há três meses, tentando comprar ações da antiga empresa do David. Coincidência? Karen sentiu o chão sumir sob seus pés. As peças começavam a se encaixar, revelando um jogo muito maior do que imaginava. — Não — murmurou, os olhos brilhando com determinação. — Isso é pessoal. E eles sabem que, se destruírem o David, atingem a mim, a nós, em cheio. Heitor assentiu, reconhecendo a gravidade da situação. — E agora? Karen olhou pela janela, o sol já alto no céu. O peso da responsabilidade fazia seu coração acelerar. — Agora a guerra começou — disse, firme. --- Do outro lado da cidade, em um galpão discreto e isolado, David conversava com Eduardo Fraga, um homem alto, de cabelos grisalhos e postura rígida. Eduardo era especialista em cibersegurança e investigações corporativas — uma lenda conhecida por resolver casos que nem a polícia ousava tocar. — Não achei que você voltaria a me procurar — disse Eduardo, cruzando os braços. — Eu tenho uma família agora — respondeu David, a voz firme. — E estão tentando destruí-la. Preciso que descubra tudo sobre o Maxter Group. Hackers, aliados, movimentações suspeitas, ligações no exterior. Tudo. Eduardo sorriu discretamente. — Vai sair caro. — O que for preciso. Dinheiro nenhum vale mais do que eles. O acordo foi selado com um aperto de mãos. Eduardo estava dentro. --- Nos dias que seguiram, Karen retomou os compromissos com a empresa, tentando manter a normalidade, mesmo que o peso da ameaça pairasse no ar. Mas uma pergunta girava em sua mente como um disco arranhado: até onde Leonardo Maxter estaria disposto a ir? A resposta não tardaria. Na sexta-feira, após uma reunião tensa com investidores em um hotel de luxo, Karen sentiu algo errado. O motorista que a aguardava não era o habitual. Ele usava óculos escuros, parecia nervoso e sequer a cumprimentou. — O senhor João está de folga? — perguntou, desconfiada, ao entrar no carro. — Foi substituído — respondeu ele, seco. O corpo de Karen ficou tenso, um sinal de alerta disparou em sua mente. Quando percebeu que o carro não seguia para a empresa ou para casa, seu coração gelou. — Onde está me levando? — perguntou, com a voz firme. Silêncio. Tentando manter a calma, Karen puxou o celular, mas ele foi rapidamente tomado de sua mão e jogado no banco da frente. — Fique quieta — disse o motorista, com voz ameaçadora. — Não vamos machucar você, a menos que seja necessário. Karen olhou para fora e viu o carro entrando em um bairro isolado. Ela respirou fundo, tentando se controlar. Lembrou-se do botão de emergência que David havia instalado em sua bolsa — um “plano B silencioso” para situações extremas. Com cuidado, deslizou a mão até o local exato. O motorista não percebeu. Ela apertou o botão. --- No mesmo instante, David, que estava com Eduardo analisando relatórios, recebeu o alerta no celular. — É a Karen — disse ele, levantando-se de um salto. — Ela acionou o plano B. Isso só acontece se estiver em perigo. Eduardo falou rapidamente no rádio para sua equipe. Em segundos, um carro blindado foi acionado, e David entrou nele sem pensar duas vezes. — Encontrem ela. E rápido. --- Karen estava sendo levada para um galpão escuro, mas antes que o motorista pudesse sair do carro, as sirenes cortaram a noite, e vários carros pretos surgiram das sombras. Homens armados cercaram o veículo, gritando ordens. O motorista sacou uma arma, mas antes que pudesse mirar, um agente de Eduardo o imobilizou. Karen foi retirada em segurança. David correu até ela, o coração disparado, os olhos cheios de medo e alívio. — Você está bem? E os bebês? — perguntou, abraçando-a forte. — Estamos bem — respondeu ela, ainda trêmula. — Eu consegui usar o botão, como você ensinou. Ele apertou-a com mais força, prometendo silenciosamente que nunca mais deixaria que nada r**m acontecesse. --- Naquela manhã, enquanto o sol iluminava o céu, Karen sentiu a força do amor que os unia. O caos ainda estava longe de acabar, mas juntos, eles seriam capazes de enfrentar qualquer tempestade. Porque o que eles tinham era mais forte do que o medo. Mais forte do que a escuridão. Era o coração pulsando, batendo junto, por um futuro que ainda poderiam construir.
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