A madrugada era um manto silencioso e pesado que cobria a casa onde Karen passava mais uma noite inquieta. Sentada no sofá da sala, com o corpo curvado para frente e os olhos fixos no celular, ela sentia o peso da responsabilidade apertar seu peito. Cada notificação recebida parecia um lembrete c***l da guerra silenciosa que se desenrolava ao seu redor — uma guerra que não afetava apenas a empresa, mas a vida que ela e David estavam prestes a construir juntos.
Os bebês, ainda tão pequenos, mexiam-se suavemente dentro dela, como se já pressentissem a tensão no ar. O toque delicado em sua barriga era o único refúgio que lhe restava naquela noite. Karen fechou os olhos por um instante, tentando organizar os pensamentos, mas a ansiedade se recusava a dar trégua.
A casa ainda dormia, exceto pelo barulho insistente do teclado de seu notebook, que parecia ecoar pela casa vazia, lembrando-a de que o perigo não descansava.
De repente, a porta do escritório se abriu silenciosamente, e David entrou. Seu rosto carregava os sinais do sono interrompido, o cabelo bagunçado e os olhos semicerrados de quem não conseguiu descansar direito.
— Amor — sua voz saiu baixa, quase um sussurro, mas cheia de preocupação. — Você precisa descansar.
Karen não desviou o olhar da tela.
— Não posso — respondeu firme, a voz carregada de determinação. — Se alguém está tentando invadir nosso sistema, preciso entender como estão fazendo isso. Cada segundo conta.
David se aproximou lentamente, como quem não queria assustá-la, e colocou as mãos nos ombros dela, girando a cadeira para que ela o encarasse.
— Agora você carrega dois corações dentro de você — disse ele com suavidade, pousando a cabeça ao lado da dela. — Você precisa dormir, comer bem, respirar fundo. Eu prometo que vou cuidar disso.
Ela hesitou, sentindo a força do amor dele tentando quebrar o muro de inquietação que a mantinha acordada.
— Eu só queria descobrir logo quem está por trás disso — murmurou, o olhar finalmente se suavizando.
David sorriu e, devagar, fechou o notebook.
— Deixa comigo, só por hoje. Amanhã você assume tudo de novo, mas agora, vem comigo.
Sem mais palavras, ele a conduziu até o quarto, deitou-se ao lado dela e passou os dedos pelos seus cabelos, num gesto de proteção e carinho que a fez finalmente relaxar. Karen fechou os olhos, permitindo-se fugir para um sono tranquilo, enquanto David permanecia acordado, em alerta máximo.
Pegou o celular e discou um número que não usava havia anos. Após dois toques, uma voz grave respondeu do outro lado.
— David?
— Preciso de você. É urgente.
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Quando Karen acordou pela manhã, o sol já derramava seus raios dourados pela janela, iluminando a cama vazia ao seu lado. No travesseiro, um bilhete escrito pela mão firme de David repousava, com poucas palavras que carregavam uma promessa:
“Confia em mim. Estou protegendo o que é nosso. Te amo — D.”
Um misto de alívio e apreensão invadiu o coração de Karen naquele instante. Ela sabia que a luta ainda não tinha acabado.
Mal terminara de ler o bilhete, Heitor entrou apressado, visivelmente agitado.
— Karen, você não vai acreditar no que acabei de descobrir — disse ele, o rosto pálido.
— O que foi? — ela perguntou, sentindo o corpo todo se preparar para o pior.
— Os rastros da tentativa de invasão vieram de um servidor associado ao grupo Maxter Group.
O nome soou como uma sentença.
— Do grupo do Leonardo Maxter? — perguntou, quase sem acreditar.
— Sim — confirmou Heitor. — E tem mais: ele esteve em Orlando há três meses, tentando comprar ações da antiga empresa do David. Coincidência?
Karen sentiu o chão sumir sob seus pés. As peças começavam a se encaixar, revelando um jogo muito maior do que imaginava.
— Não — murmurou, os olhos brilhando com determinação. — Isso é pessoal. E eles sabem que, se destruírem o David, atingem a mim, a nós, em cheio.
Heitor assentiu, reconhecendo a gravidade da situação.
— E agora?
Karen olhou pela janela, o sol já alto no céu. O peso da responsabilidade fazia seu coração acelerar.
— Agora a guerra começou — disse, firme.
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Do outro lado da cidade, em um galpão discreto e isolado, David conversava com Eduardo Fraga, um homem alto, de cabelos grisalhos e postura rígida. Eduardo era especialista em cibersegurança e investigações corporativas — uma lenda conhecida por resolver casos que nem a polícia ousava tocar.
— Não achei que você voltaria a me procurar — disse Eduardo, cruzando os braços.
— Eu tenho uma família agora — respondeu David, a voz firme. — E estão tentando destruí-la. Preciso que descubra tudo sobre o Maxter Group. Hackers, aliados, movimentações suspeitas, ligações no exterior. Tudo.
Eduardo sorriu discretamente.
— Vai sair caro.
— O que for preciso. Dinheiro nenhum vale mais do que eles.
O acordo foi selado com um aperto de mãos. Eduardo estava dentro.
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Nos dias que seguiram, Karen retomou os compromissos com a empresa, tentando manter a normalidade, mesmo que o peso da ameaça pairasse no ar.
Mas uma pergunta girava em sua mente como um disco arranhado: até onde Leonardo Maxter estaria disposto a ir?
A resposta não tardaria.
Na sexta-feira, após uma reunião tensa com investidores em um hotel de luxo, Karen sentiu algo errado. O motorista que a aguardava não era o habitual. Ele usava óculos escuros, parecia nervoso e sequer a cumprimentou.
— O senhor João está de folga? — perguntou, desconfiada, ao entrar no carro.
— Foi substituído — respondeu ele, seco.
O corpo de Karen ficou tenso, um sinal de alerta disparou em sua mente.
Quando percebeu que o carro não seguia para a empresa ou para casa, seu coração gelou.
— Onde está me levando? — perguntou, com a voz firme.
Silêncio.
Tentando manter a calma, Karen puxou o celular, mas ele foi rapidamente tomado de sua mão e jogado no banco da frente.
— Fique quieta — disse o motorista, com voz ameaçadora. — Não vamos machucar você, a menos que seja necessário.
Karen olhou para fora e viu o carro entrando em um bairro isolado. Ela respirou fundo, tentando se controlar. Lembrou-se do botão de emergência que David havia instalado em sua bolsa — um “plano B silencioso” para situações extremas.
Com cuidado, deslizou a mão até o local exato.
O motorista não percebeu.
Ela apertou o botão.
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No mesmo instante, David, que estava com Eduardo analisando relatórios, recebeu o alerta no celular.
— É a Karen — disse ele, levantando-se de um salto. — Ela acionou o plano B. Isso só acontece se estiver em perigo.
Eduardo falou rapidamente no rádio para sua equipe.
Em segundos, um carro blindado foi acionado, e David entrou nele sem pensar duas vezes.
— Encontrem ela. E rápido.
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Karen estava sendo levada para um galpão escuro, mas antes que o motorista pudesse sair do carro, as sirenes cortaram a noite, e vários carros pretos surgiram das sombras.
Homens armados cercaram o veículo, gritando ordens.
O motorista sacou uma arma, mas antes que pudesse mirar, um agente de Eduardo o imobilizou.
Karen foi retirada em segurança.
David correu até ela, o coração disparado, os olhos cheios de medo e alívio.
— Você está bem? E os bebês? — perguntou, abraçando-a forte.
— Estamos bem — respondeu ela, ainda trêmula. — Eu consegui usar o botão, como você ensinou.
Ele apertou-a com mais força, prometendo silenciosamente que nunca mais deixaria que nada r**m acontecesse.
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Naquela manhã, enquanto o sol iluminava o céu, Karen sentiu a força do amor que os unia.
O caos ainda estava longe de acabar, mas juntos, eles seriam capazes de enfrentar qualquer tempestade.
Porque o que eles tinham era mais forte do que o medo.
Mais forte do que a escuridão.
Era o coração pulsando, batendo junto, por um futuro que ainda poderiam construir.