O som contínuo do teclado ecoava pela madrugada silenciosa. Karen não conseguia dormir desde que Heitor confirmara que alguém havia tentado invadir o sistema da empresa. Seu olhar fixo na tela refletia uma mistura de cansaço e inquietação.
— Amor — David entrou no escritório, com o cabelo bagunçado e os olhos semicerrados. — Você precisa descansar.
— Não posso — respondeu ela sem tirar os olhos do monitor. — Se alguém está tentando nos atingir, preciso entender como. Cada segundo conta.
Ele se aproximou, colocou as mãos nos ombros dela e a fez virar a cadeira suavemente.
— Agora você carrega dois corações dentro de você, Karen. Você precisa dormir, comer bem, respirar. Eu prometo que vou cuidar disso.
Ela hesitou. Sabia que ele estava certo, mas seu instinto de proteção estava à flor da pele.
— Eu só queria descobrir logo quem está por trás disso.
David pegou o notebook e fechou a tampa devagar.
— Deixa isso comigo. Só por hoje. Amanhã você assume tudo de novo, mas agora… vem comigo.
Ela suspirou e cedeu. Ele a conduziu até o quarto, deitou ao seu lado e ficou acariciando seus cabelos até que ela adormecesse. Mas David não dormiu.
Pegou o celular, ligou para um número que não usava há anos. A voz do outro lado atendeu após o segundo toque.
— David?
— Preciso de você. É urgente.
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Na manhã seguinte, Karen acordou e David já não estava em casa. Encontrou apenas um bilhete na cabeceira: "Confia em mim. Estou protegendo o que é nosso. Te amo – D."
Ao mesmo tempo, Heitor entrou em sua casa, visivelmente agitado.
— Karen, você não vai acreditar. Os rastros da tentativa de invasão vieram de um servidor associado ao grupo Maxter Group.
Karen ficou pálida.
— Do grupo de Leonardo Maxter?
— Sim. E tem mais... Ele esteve em Orlando há três meses tentando comprar ações da antiga empresa do David. Coincidência?
Ela se levantou num salto, com o coração acelerado.
— Não. Isso é pessoal. E eles sabem que se destruírem o David, nos atingem por completo.
— E agora?
Ela olhou pela janela, sentindo o peso da responsabilidade apertar em seu peito.
— Agora a guerra começou.
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Enquanto isso, David estava em um galpão discreto, nos arredores de São Paulo. Lá dentro, um homem alto, de cabelos grisalhos e postura rígida o esperava: Eduardo Fraga, um especialista em cibersegurança e investigações corporativas, conhecido por resolver problemas que a polícia sequer ousava tocar.
— Não achei que voltaria a me procurar — disse Eduardo, cruzando os braços.
— Eu tenho uma família agora — respondeu David. — E estão tentando destruí-la. Preciso que descubra tudo sobre o Maxter Group. Hackers, aliados, movimentações suspeitas, ligações no exterior. Tudo.
— Vai sair caro.
— O que for preciso. Dinheiro nenhum vale mais do que eles.
Eduardo assentiu com um sorriso discreto. Estava dentro.
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Nos dias que seguiram, Karen retomou os compromissos com a empresa, tentando manter a normalidade. Mas em sua mente, uma pergunta girava em círculos: até onde Leonardo Maxter estaria disposto a ir?
A resposta não tardaria.
Na sexta-feira, ao sair de uma reunião com investidores em um hotel de luxo, Karen notou que o motorista não era o habitual. Ele usava óculos escuros, parecia nervoso, e sequer a cumprimentou.
— O senhor João está de folga? — perguntou, ao entrar no carro.
— Foi substituído — respondeu ele, seco.
Algo dentro dela se retesou. Quando percebeu que o carro não estava indo em direção à empresa nem para casa, seu corpo gelou.
— Onde está me levando?
Silêncio.
Karen puxou o celular, mas ele rapidamente pegou o aparelho de sua mão e o jogou no banco da frente.
— Fique quieta — disse o motorista. — Não vamos machucar você… a menos que seja necessário.
Karen olhou para fora e viu o carro entrando num bairro isolado. Sua mente trabalhava rápido. Respirou fundo e lembrou de algo.
Dentro de sua bolsa, havia um botão de emergência instalado por David semanas antes — ele o chamava de “plano B silencioso”. Embaixo do fecho de metal, havia um pequeno botão vermelho que, se pressionado, enviava um sinal para o celular de David e acionava a equipe de segurança mais próxima.
Com calma, sem fazer movimentos bruscos, ela deslizou a mão para dentro da bolsa.
O motorista não percebeu.
Ela apertou o botão.
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A mensagem chegou no exato instante em que David estava com Eduardo analisando os últimos relatórios. Ao ver o alerta em seu celular, ele se levantou de um salto.
— É a Karen. Ela acionou o plano B. Isso só acontece se estiver em perigo.
Eduardo já falava no rádio com os seguranças que estavam no perímetro. Um carro blindado foi acionado em segundos. David entrou no veículo sem pensar duas vezes.
— Encontrem ela. E rápido.
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Karen estava sendo levada para um galpão escuro, mas antes mesmo que pudessem tirá-la do carro, sirenes e carros pretos surgiram das sombras como predadores noturnos. Homens armados cercaram o veículo, gritando ordens.
O falso motorista sacou uma arma, mas antes que pudesse mirar, foi imobilizado por um dos agentes de Eduardo.
Karen foi retirada em segurança. David correu até ela, desesperado, e a envolveu num abraço protetor.
— Você está bem? E os bebês?
— Estamos bem. Eu... eu consegui usar o botão, como você ensinou.
Ele a apertou com mais força ainda, o coração disparado de medo e alívio.
— Nunca mais vou deixar isso acontecer. Eu juro.