Ecos de Traição

936 Words
A madrugada caiu sobre a cidade como um véu pesado e silencioso. No alto do edifício empresarial, as luzes do último andar permaneciam acesas, lançando sombras longas sobre os corredores vazios. Lá dentro, Karen observava as imagens dos monitores em silêncio. Cada câmera de segurança, cada movimento gravado, cada registro de entrada e saída de funcionários — tudo era analisado com minúcia. Desde que Eduardo revelara a existência de um possível infiltrado na empresa, Karen não teve mais paz. As tentativas de invasão digital haviam sido apenas o início; agora, sabiam que o inimigo estava mais perto do que imaginavam. Alguém de dentro alimentava Leonardo Maxter com informações estratégicas. David entrou na sala com duas xícaras de café, os olhos cansados mas atentos. Estava há dias sem dormir direito, assim como ela. — Você precisa de um descanso — disse ele, estendendo uma das xícaras. — Só depois que soubermos quem está nos traindo — respondeu Karen, aceitando a bebida. — É alguém próximo. Alguém que conhece nossos passos. David sentou ao lado dela e passou a mão pelos cabelos, refletindo. — Se Maxter tem alguém infiltrado, não é só por dinheiro. É alguém com algum tipo de rancor… ou medo. Karen assentiu. — Eduardo já está cruzando os acessos aos servidores com os relatórios de comportamento. Até agora, temos três possíveis nomes. Ela virou o notebook em direção a David. Os rostos de três funcionários apareceram na tela: Lucas Ventura, gerente de TI há cinco anos; Flávia Barbosa, da equipe de finanças; e Júlio Prado, o assessor jurídico. — Lucas seria o mais provável — disse David. — Ele tem acesso aos servidores e um histórico questionável com empresas anteriores. Karen olhou para a imagem de Júlio com mais atenção. Havia algo em seu semblante que lhe despertava um alerta sutil, mas ela não disse nada por ora. — Vamos interrogar um de cada vez — disse ela. — Discretamente. David assentiu, mas antes que pudesse responder, o celular de Karen vibrou. Era uma notificação do sistema de rastreamento da equipe de segurança. — O carro do Lucas saiu da rota de costume. Ele estava indo para casa, mas fez um desvio estranho até um galpão em Guarulhos — informou. Ela rapidamente chamou Eduardo, que apareceu em menos de dez minutos. O ex-agente de inteligência não perdeu tempo. — Quero uma equipe no local. Discretos. Se for um ponto de encontro, não podemos espantar o rato da toca. — Enquanto isso, no galpão abandonado, Lucas se encontrava com um homem de aparência elegante, mas olhar predatório. Era Diogo Alencar, braço direito de Leonardo Maxter, responsável por manter os "colaboradores" em ordem. — Está demorando demais — disse Diogo, impaciente. — Maxter quer os arquivos completos sobre o novo projeto de segurança. Hoje. Lucas hesitou, suando frio. — Eles reforçaram as barreiras. E estão desconfiados. Se eu mexer mais, posso ser descoberto. Diogo o encarou com desprezo. — Você já foi pago, Lucas. E se for descoberto, será substituído… ou eliminado. A ameaça era clara como cristal. Lucas engoliu em seco e assentiu, vencido pelo medo. — De volta ao prédio da empresa, Eduardo recebeu as imagens do encontro. — Bingo — disse ele, exibindo o vídeo do galpão. — Está feito. Lucas é o traidor. Karen fechou os olhos por um momento, sentindo uma pontada de dor. Confiara nele. Havia dado oportunidades, investido em sua formação, acreditado em sua lealdade. Agora, via ali mais uma prova de que, em tempos de guerra, não há espaço para ingenuidade. — Tragam ele amanhã cedo — disse ela, fria. — Vamos confrontá-lo pessoalmente. — Na manhã seguinte, Lucas entrou na sala de reuniões sem saber que era observado. David estava ao lado de Karen, e Eduardo monitorava tudo de fora, pronto para agir. — Lucas — começou Karen com voz calma — precisamos conversar sobre uma movimentação estranha ontem à noite. Ele empalideceu na hora. — Eu... passei na casa de um amigo... — No galpão abandonado em Guarulhos? — rebateu David, firme. O silêncio caiu como um golpe seco. — A gente sabe tudo — continuou Karen. — Temos gravações, imagens, áudio. Só queremos uma coisa: por quê? Lucas vacilou, mas quando Eduardo entrou na sala com um dossiê de provas nas mãos, ele desabou. — Eles me ameaçaram. Disseram que se eu não passasse as informações, iriam atrás da minha irmã. Ela tem nove anos... Karen sentiu o estômago revirar. Maxter era mesmo capaz de tudo. — E você achou que nos trair era o único caminho? — Eu... eu não queria, mas... Eduardo o interrompeu. — Já sabemos o suficiente. Ele vai ser afastado imediatamente, e os dados entregues serão recuperados. Karen se levantou e olhou Lucas nos olhos. — Você podia ter confiado em nós. Mas escolheu o lado errado da guerra. — Mais tarde, a sós com David, Karen desabafou. — Até quando isso vai continuar? Essa sensação de que tudo pode desmoronar, de que ninguém é confiável… — Até vencermos — disse ele, abraçando-a. — E nós vamos vencer. Juntos. — Nos bastidores, Maxter também era informado da queda de seu infiltrado. — Lucas foi descoberto — anunciou Diogo. — Eles estão com a vantagem agora. Leonardo Maxter, sentado em uma sala escura com vista para o mar, apenas sorriu. — Eles podem ter vencido essa rodada. Mas ainda não descobriram meu trunfo final. Ele girou lentamente uma foto sobre a mesa. Nela, Karen sorria ao lado de David, com uma mão repousada sobre a barriga ainda discreta da gravidez. — Quando o coração estiver mais exposto... é aí que vamos atacar.
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