A busca por respostas havia se tornado mais do que uma necessidade para Karen. Era uma obsessão.
Se alguém havia sabotado o carro de seus pais, ela precisava saber quem — e por quê.
Ela começou pelos registros antigos. Ligou para o advogado que cuidou da herança. Vasculhou arquivos empoeirados. Reviu notícias daquela época, pequenas colunas esquecidas nos jornais. Até que encontrou algo: um nome que não aparecia há anos — Roberto Vasconcellos.
Ele fora sócio do pai de Karen por quase uma década. Tinha sido afastado meses antes do acidente, após uma auditoria revelar inconsistências nas finanças da empresa. Ele sumira do mapa depois disso. Nenhum processo, nenhuma prisão. Apenas silêncio.
E agora, anos depois, ele ressurgia como aliado de Thomas Grey.
— Não pode ser coincidência — murmurou Karen enquanto girava na tela as imagens de câmeras antigas que Heitor recuperara. Roberto estava lá, ao lado de Thomas, no galpão de cargas desviadas.
Ela fechou o notebook e pegou o telefone.
— Preciso falar com Dona Iolanda. Agora.
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A casa onde a avó dela morou nos últimos anos antes de falecer ainda pertencia à família. Era cuidada por uma antiga empregada, Marta, que a recebeu com lágrimas nos olhos.
— Minha menina… Você tem o mesmo olhar da sua mãe. Forte. Inquieto.
Karen sorriu, apertando as mãos da senhora.
— Preciso da sua ajuda, Marta. Preciso saber o que a vovó guardava sobre o passado. Papéis, cartas, qualquer coisa.
— Tem uma caixa… uma só. Ela me pediu que nunca entregasse a ninguém. A menos que um dia você voltasse procurando por respostas.
O coração de Karen acelerou.
Marta subiu as escadas e voltou minutos depois com uma caixa de madeira pequena, trancada com um cadeado antigo. Ela entregou também uma chave envolta em um pedaço de tecido bordado.
— Sua avó disse que essa chave era seu direito de saber.
Karen destrancou a caixa e, ao abrir, encontrou documentos, cartas e um diário antigo. Começou a folhear. Em uma das páginas do diário, encontrou o que mais temia:
> “Roberto ameaçou Henrique. Disse que se ele denunciasse o esquema de lavagem de dinheiro, ele não viveria para ver a filha crescer.”
A letra da avó era trêmula, mas clara.
> “Henrique decidiu entregar os documentos mesmo assim. E dois dias depois… o acidente.”
Karen sentiu os olhos arderem. Uma mistura de dor, raiva e impotência tomou conta de seu peito.
Seu pai não morrera por acaso. Ele morrera por fazer a coisa certa.
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Enquanto isso, David recebia uma ligação de seu advogado em Orlando.
— Você precisa voltar com urgência. Thomas está tentando tomar posse de um terreno registrado em seu nome. Está usando brechas legais. Se você não estiver aqui para assinar uma contestação, ele consegue liminar.
— Isso é uma armadilha — David murmurou. — Ele quer me tirar do Brasil.
— Talvez. Mas se você não vier, ele consegue tomar o controle do prédio onde funciona toda a logística da sua empresa.
David suspirou. Precisava agir. E rápido.
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— Não acho que você deva ir sozinho — disse Karen assim que David lhe contou o que estava acontecendo.
— Não tenho escolha. Se eu perder esse terreno, a estrutura da holding desmorona. Tudo o que construímos…
— Eu vou com você.
David arqueou uma sobrancelha.
— Tem certeza? E a investigação dos seus pais?
Karen apertou os lábios.
— Já descobri o suficiente. Agora, preciso ir até o fim. E estar ao seu lado faz parte disso. Não deixarei você enfrentar Thomas sozinho.
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A viagem para Orlando foi silenciosa e tensa. Karen passou a maior parte do voo relendo o diário da avó, catalogando cada informação. David, por outro lado, organizava os documentos da empresa.
Ao aterrissarem, uma Mercedes preta já os esperava. Pertencia ao advogado, que os levou direto ao cartório.
Tudo parecia correr bem. A assinatura da contestação foi aceita, a liminar bloqueada. Mas algo estava errado.
No caminho de volta, o carro que os seguia forçou uma ultrapassagem e bateu violentamente na lateral.
— Abaixem-se! — gritou o motorista.
Tiros começaram a atingir a lataria. David puxou Karen para o chão do banco de trás, cobrindo-a com o próprio corpo.
Foram segundos eternos.
O carro deles conseguiu despistar os perseguidores graças a uma manobra arriscada no viaduto da 417.
Quando chegaram ao hotel, estavam em choque.
— Isso não foi uma tentativa de intimidação — disse Karen, ainda com a respiração descompassada. — Foi uma tentativa de execução.
David assentiu.
— Ele quer que eu desapareça. Que você perca as forças. Que tudo desabe.
Karen se levantou, os olhos tomados por uma raiva fria.
— Ele quer guerra? Então vai ter.
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Naquela mesma noite, Karen convocou uma reunião emergencial por videoconferência com seus advogados e investigadores particulares. Também acionou contatos antigos de seu pai — nomes que ela encontrou nos papéis da caixa.
Entre eles, um sócio discreto e aposentado que morava na Califórnia: José Albuquerque.
— Seu pai era um homem justo — disse José. — E eu devia isso a ele. Vou lhe passar os arquivos originais do esquema de corrupção. Inclusive as cópias que provam a fraude do Roberto. Vai precisar deles se quiser virar esse jogo.
Karen o agradeceu com a voz embargada.
Agora ela tinha o que precisava.
Provas. Nomeações. Ligação direta entre Roberto, Thomas e os contratos que culminaram na morte de seus pais.
— Vamos colocar esses canalhas contra a parede — disse ela a David. — E vamos fazer isso com classe. Com estratégia. E com justiça.
David pegou sua mão, apertando-a com firmeza.
— Com você… até o fim.