Duas semanas depois. Um salão de bailes opulento, de piso de porcelanato líquido escuro como um espelho n***o. As paredes vermelhas com pinturas douradas, vários espelhos e janelas… fitas coloridas no mesmo padrão.
Havia um grandioso lustre que puxava boa parte da energia da mansão.
Estátuas pomposas gregas. Arranjos de flores frescas. Empregados transitando com comidas em bandeja de prata, mas não se aproximando da pista de dança. No espaço reservado a dança, casais ao som de uma valsa.
Uma mesa retangular repleta de comida também e frutas cortadas como enfeite.
Nas mesas distribuídas pelo salão, montes de taças em forma de pirâmide onde servos derramaram champanhes criando uma cascata e depois do “show” convidados tiravam as suas taças.
Música com orquestra com as influências de Beethoven, Mozart e Bach . Uma orquestra com melodias mais fúnebres, no entanto, uma das melhores de Essex.
O salão continha 100 convidados de famílias prestigiados cujos nomes Luna Essex teve que decorar.
Um baile fúnebre como aquele onde nenhum gasto foi poupado para honrar a imagem do seu marido, o prestigioso conde Crowley.
Prestigioso, é? Ela fechou a mão em punho e rangeu os dentes enquanto Hadria empurrava a cadeira de rodas dela em meio a multidão para passar para aqueles hipócritas um ar de fraqueza e fragilidade.
Eles não sabiam até onde ela iria. O inferno era só o destino final. Os meios para chegar até lá, não tinham mais importância.
Boa festa, comida deliciosa e um alto padrão de bebidas com aqueles malditos cujo alguns devem saber os segredos das paredes podres dessa mansão.
Luna era para a sociedade, uma pobre e jovem viúva que ficou cadeirante pelo ataque de ladrões que lhe deram pauladas na cabeça e quebraram a sua coluna vertebral impedindo que andasse. Mataram todos os criados e marido. Pobrezinha. Ainda teve que ver o marido ser morto na frente dela.
Era essa a intenção. Essa ilusão pare se forçar simpatia e vitimismo.
O que se pode esperar de uma indefesa cadeirante afinal?
Todos os aliados de Crowley no baile deveriam a considerar uma vítima das infelizes circunstâncias. Ótimo.
Se desconfiassem, que ela era a causadora de todo aqueles caos, quando conseguiu um pacto com o d***o que eles prendiam ia ser um problema.
Sabia que o demônio mentiu o seu nome, mas tudo bem. Desde que ele a ajudasse.
Agora na casa havia rampas como se fosse uma escada feita para si, para Luna se locomover como quisesse sozinha e ela fazia-o, treinando, treinando e treinando. Só na frente das pessoas, Hadria a guiava para aumentar essa imagem de fraca.
Então uma jovem dama da prestigiada família dos Coldwater, Daniela, se aproximou e fez Hadria parar de empurrar a cadeira de rodas.
Luna forjou a inocência perdida para a mulher.
— Viscondessa… — Cumprimentou Luna com a voz infantil que tinha.
— Lamento por tudo o que passou, vossa excelência. Deve ter sido horrível a invasão e aquelas mortes. Quem diria que o nosso benfeitor teria tantos inimigos. — A mulher disse com um tom m*****o, pouco perceptível para pessoas ingênuas
.
Luna apenas deixou algumas lágrimas escorrerem do rosto, surpreendendo até o demônio que empurrava a sua cadeira de rodas.
Luna usava vestido preto. Um coque severo. Nenhum pingo de maquiagem. Nenhuma jóia.
— Ah, foi horrível. Horrível. Eu só me lembro do que fizeram ao meu corpo, da dor e desmaiei. Eu tenho tantas responsabilidades como condessa de Essex agora e toda a criadagem também se foi ao tentar nos proteger naquela noite. — Luna embargou a voz e tentou falar.— Eu amava-o, sabe? O meu marido no cortejo era bom para mim e para minha família. Ajudou nas nossas dívidas. Deu-me presentes e tratava-me como uma princesa… um homem tão bonito mesmo com as nossas idades divergentes e nas nossas núpcias eu… — Luna fungou. — O assisto ser morto assim. Não quero casar-me nunca mais.
— Não tome uma atitude tão drástica, minha senhora. — Aconselhou a viscondessa, parecendo um pouco incomodada ao dar tapinhas de consolo no ombro de Luna.
O marido da senhora que a abordava chegou à cena e estendeu o elegante lenço à Luna. Era branco, com as iniciais A.C. Ela aceitou-o e enxugou as lágrimas de crocodilo.
— Quem é o seu novo mordomo? — Indagou Alister Coldwater, com um olhar atento ao bonito rapaz.
O visconde era um bonito e forte homem loiro ao lado da esposa ruiva. Foi ele quem cedeu um dos seus lenços a uma viúva chorosa. Luna viu de relance a marca da serpente brasão de Essex no pulso dele, quando pelo gesto a manga da casaca dele subiu. Era um deles, daquela seita maldita. Ela gelou.
— Este é Hadria. — Respondeu Luna ao casal sobre o seu mordomo. — Um primo distante de uma tia. Eu precisava de ajuda e a minha tia o cedeu para cuidar de mim.
— Viscondessa, visconde… — Cumprimentou Hadria aos dois e os fez uma elegante reverência.
— Entendi, senhora. Lamento a sua perda. — Soltou Alister sombrio. — O banquete fúnebre que ofertou faz jus ao meu amigo e foi tudo bem ornamentado para alguém tão jovem e abalada. — Continuou o gracejo… Mas a expressão dele ficou afiada ao semicerrar os olhos. — Na noite de núpcias, algo mais estranho aconteceu? — Insistiu Alister.
— Não sei bem..— Começou Luna mais analítica,mas ainda chorosa..— Bem, deixe-me ver, os bandidos vendaram os meus olhos, me levaram a algum lugar que cheirava a rosas e abusaram de mim de forma hedionda. — soltou um pouco calculista mirando Alister. — Eu desmaiei pela dor de ter sido estuprada várias vezes, mas quando despertei aos gritos, estava livre e vi só o corpo do meu marido no chão sangrando como um porco, perdoe a comparação rude, mas foi assim que me pareceu. Acho que foi só isso. Não lembro mais. — A voz de Luna agora era trêmula e como a de um cachorrinho que quando apanha muito se esconde num canto.
O demônio deu um sorriso de lado pela dissimulação dela.
— Deve ter sido horrível. Peço perdão por fazê-la lembrar desse incidente horrível. — Acatou o Alister, forjando empatia e trouxe a mão ao cabelo de Luna.
Luna soube que era um teste dele. Se ela soubesse a verdade, jamais deixaria um amigo de Crowley a tocar e recusaria. Era um toque ousado de um homem a uma mulher, ainda mais na frente da esposa dele.
Ela fincou os dedos nos braços da cadeira de forma impercetível quando a mão de Alister afagou o seu cabelo e se forçou a sorrir-lhe como um flerte e como se encantada por ele.
Alister correspondeu o sorriso como se agora acreditasse na inocência dela e Luna sustentou o olhar dele, sedutora, mesmo que mantendo a inocência.
O demônio soltou um suspiro e fechou as mãos mais profundamente nos puxadores da cadeira de rodas.
Alister ao notar o olhar da sua esposa, tirou a mão rapidamente para não ser considerado uma indelicadeza, Alister pareceu convencido da inocência de Luna. Avaliou a esposa que também estudava Luna com menos desconfiança e até certa gentileza, mas um ligeiro rancor.
— Caso precise de nós para qualquer coisa, nos avise, condessa. — Se prontificou Alister.
Luna sorriu adoravelmente.
— Sou-lhes grata.
...
No fim do baile, Luna na cadeira, ergueu a cabeça e encontrou os olhos de Hadria.
Deu a ordem:
— Lave o meu cabelo hoje até ficar em carne viva para ver se sai a impureza nojenta daquele maldito em me tocar.
— Achei que tivesse gostado do toque. — Resmungou o demônio, desviando o olhar do dela.
— Só o seu toque não me causa asco, Hadria. Agora, deixe os outros que contratamos arrumarem o fim do baile e me dê um banho para eu brincar com a minha boneca.