o começo
kaan narrando
Minha vida começou com uma infância difícil. Brigas, agressões e nenhuma estabilidade emocional.
Minha mãe me deu à luz quando tinha apenas dezessete anos. Jovem e imatura, muitas vezes me castigava por erros bobos. Meu pai biológico a abandonou assim que soube da gravidez.
Pouco tempo depois, ela se casou com um homem bem mais velho e teve outro filho.
Quando completei dez anos, eu já entendia muita coisa. Via meu padrasto batendo na minha mãe, as discussões constantes, os gritos. Eu não podia fazer nada. Me sentia insignificante, fraco, inútil. Mas prometi a mim mesmo que, quando crescesse, colocaria um fim em tudo aquilo.
Aos quinze anos, sairíamos de férias em família. Estávamos na estrada quando meu padrasto tentou ultrapassar outro carro. Ele perdeu o controle e bateu de frente com um caminhão que vinha na contramão.
Minha mãe, meu irmão e meu padrasto morreram.
Naquele dia, perdi as duas pessoas que eu mais amava na vida. E, a partir daquele momento, nunca mais soube o que era amor.
A polícia me levou para um orfanato. Foi ali que minha vida mudou.
Conheci o senhor Ozan Demir.
Era um dia frio e triste. Eu estava encostado na janela do quarto quando ele apareceu. Fez perguntas sobre mim, sobre minha família, sobre tudo o que eu havia perdido. Depois de ouvir minhas respostas, ele me perguntou algo que nunca esqueci:
— Você quer vencer na vida?
Naquele instante, uma faísca de esperança acendeu dentro de mim.
Ele assinou os documentos necessários e me levou embora.
Ozan Demir não tinha filhos nem parentes próximos. Era apenas ele e sua esposa, Elisa Demir.
Ele me enviou para os Estados Unidos para estudar. Aprendi inglês, entrei na faculdade e me formei como o melhor da turma. Matemática.
Anos depois, voltei.
Já não era mais um garoto perdido.
Eu tinha vinte e oito anos… e havia me tornado um homem.