O caminho.

2220 Palavras
Ana Seja quem for que está contratando os serviços do meu pai, tem pressa que cheguemos logo na Romênia. Isso mesmo, Romênia o país dos vampiros, berço dos sugadores de sangue que teve início por causa de Vlad o empalador. Quando digo berço é por causa do grande sucesso do famigerado Conde Dracula, mas não foi bem na Valaquia ,que hoje faz parte da Romênia, que surgiu a primeira estória sobre essa espécie que foi se desenvolvendo até conquistar os corações das mulheres. Quem resistiria ao sujeito lindo, galanteador, de olhos irônicos e penetrantes e gestos cavalheirescos? O que é uma mordidinha e alguns goles de sangue, perto do prazer de ter um vampiro louco e apaixonado por você? Logicamente nada! Você o alimenta e ganhará o seu amor, por seguinte a vida eterna e, ai sim, viverão o felizes para sempre porque nunca morreram acometidos por alguma doença ou causas naturais. Quanta balela não é mesmo? A ficção mexe com nossas cabeças e anseios. Faz- nos acreditar que esses seres são reais assim como : as sereias, fadas, bruxas, lobisomens, mula-sem cabeça etc... Retornando ao assunto em questão; primeiro surgiu a lenda sobre os vampiros e depois os bonitões em questão. Em tempos recuados quanto a pré-história, foi registrado em várias culturas atividades de entidades vampiricas; entretanto o termo vamipiro só se tornou popular no início do século XIX após um influxo de superstições vampíricas na Europa Ocidental, vindas de áreas onde lendas sobre vampiros eram frequentes, como os Balcãs e a Europa Oriental, embora variantes locais sejam também conhecidas por outras designações, como vrykolakas na Grécia e strigoi na Roménia. Em 1819, foi o tempo que se estabeleceu o arquétipo do vampiro carismático e sofisticado, porque antes sua aparência física variava entre quase humanos até corpos em avançado estado de decomposição, nesse caso eles seriam zumbis, mas se pararmos para fazer uma análise detalhada vampiros são zumbis uma vez que tem algo similar com a vida sendo que já estão mortos. Louco, não! Esse detalhe ninguém percebe. No entanto, um dos primeiros registros de atividade vampírica ocorreu em 1672, na região da Ístria, na atual Croácia. Somente em 1819 foi que surgiu o primeiro conto de vampiro romântico; porém o marco na concepção moderna de vampiro só veio em 1897 com o famoso Dracula. Ainda bem que esses seres não passam de fantasias das mentes brilhantas de muitos escritores. É valido por no papel uma estória romântica cheia de pinceladas de um mundo sobrenatural que é misturado ao real. E quem é que não gosta de um livro regado em mistério e romance? Eu mesma já li alguns. Pena que não pude trazê-los comigo. Eram cerca de trezentos livros; m*l trouxemos nossas roupas! Fiz doação de algo que eu tive durante por muito tempo um apego muito forte. Essa situação de mudar de país é r**m por causa disso, temos que deixar tudo para trás e arriscar no novo. É similar a entrar num lago durante a noite sem saber o que há por baixo daquelas águas; você arrisca, pode ser que não tenha nada, mas pode ser que tenha e daí a coisa toda muda completamente de figura. Nós tivemos que nos desfazer dos móveis, louças, eletrodoméstico, eletroeletrônicos, roupas de cama e mesa, nosso cachorro e o nosso carro. Jujuba ficou com uma tia por parte de mãe; prometi que irei buscá-lo assim que eu conseguir um emprego e puder alugar um cantinho para mim. Infelizmente uma das cláusulas do imenso contrato há bem salientado e grifado para dar mais ênfase : Não é permitido termos animais de estimação tais como cachorro, gatos, pássaros, furão etc... Me perguntei que tipo de pessoas são essas que não admitem que o funcionário tenha um bichinho de estimação. Há também uma regra rígida sobre os horários, como se fosse um toque de recolher, depois das vinte e duas horas, ninguém pode deixar suas casas. Oi?? Como é?? Eu não acreditei que estava lendo semelhante coisa. E se a pessoa tivesse um m*l estar? E se precisasse sair urgentemente nesse horário? E se tivesse uma festa e precisasse chegar mais tarde, por exemplo, as duas da manhã? No contrato também falava sobre discrição e tinha uma lista de proibição. Não podiamos falar sobre os patrões; não podiamos comentar sobre a rotina deles com terceiros; não podiamos surgir na casa dos mesmos sem ter-mos sido convocados - quem iria querer comparecer num local que não se conhece ninguém? - Não podiamos andar pelo espaço que compete a ala dos patrões; não podiamos mexer nas plantas do jardim da casa; não podiamos ouvir músicas em volume alto ou cantar quando estivessemos perto da casa dos patrões e por ai a lista se estendia com um monte de não pode! Eu sei que li tanto não que fiquei com dor de cabeça. Pessoas ricas tem muita frescura com muitas coisas e esses não são diferentes. Para ser sincera, não estou nenhum pouco interessada em conhecê-los . Pela quantidade absurda de exigências e regras, devem ser daqueles esnobes que seguram a respiração quando passam perto dos pobres por medo de respirar o mesmo ar e contrai uma bactéria. Seguro a minha medalhinha de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais e da natureza, pedindo calma e força nesse meu novo caminhar. Foi um presente da minha avó materna, dona Constança que era devota do Santo e sempre me levava nas missas no dia dedicado ao santo. Acabei me afeiçoando, me tornei uma fiel desse auxiliador. O dia 4 de outubro para mim é sagrado, sempre procuro ir numa das paróquias que tem na minha cidade; melhor, eu ia porque agora não tem como eu fazer isso. A oração de São Francisco de Assis é linda, sempre quando faço, não deixo de me emocionar. E nesse momento onde nada é certo e me vejo numa situação em que o futuro é incerto, procuro apoio na minha fé. Olho para minha mãe que dorme ao meu lado e depois meus olhos buscam por meu pai está lendo alguma coisa. Seguro a minha medalhinha entre minhas mãos e oro; oro pedindo luz e sabedoria ; oro pedindo que eu seja guiada pelo discernimento e saiba escolher os melhores caminhos. Oração de São Francisco de Assis: Senhor fazei de mim um instrumento de vossa Paz. Onde houver Ódio, que eu leve o Amor, Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão. Onde houver Discórdia, que eu leve a União. Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé. Onde houver Erro, que eu leve a Verdade. Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança. Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria. Onde houver Trevas, que eu leve a Luz! Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando, que se recebe. Perdoando, que se é perdoado e é morrendo, que se vive para a vida eterna! Amém Dou um beijo na minha medalha; por mais que eu seja noventa por cento de medo os meus outros dez porcento de esperança, faz com que, internamente ,diga para mim mesma que tudo vai dar certo. Levo um pequeno susto com a voz do comandante da aeronave; vamos aterrissar. Acho que algo acontece por que meu coração altera os seus batimentos e uma onda de frio percorre a minha coluna cervical. Seria um ataque de ansiedade? _ Mãe, acorda. Nós vamos aterrissar. - dou leve sacudidas na mulher que desperta assustada. _ Céus ! Dormi muito! - dormiu sim, mas não iria falar sobre isso agora. Nos pediam para afivelar o cinto de segurança e preprarar-mos. Faço tudo como ordenado. Agora, era só esperar. Depois de desembracarmos seguimos o painél na entrada da área de desembarque, indicando a esteira utilizada para o nosso vôo; chegou o momento de pegarmos as nossas malas. Cada um de nós trouxemos duas, não podíamos pagar por bagagem extra. _ E agora, Miguel, para onde vamos?- a aflição na voz da minha mãe é notável. Dona Nora não estava confortável com a nossa situação e para ser sincera, eu também não. _ O senhor Constantin, falou comigo que iria mandar alguém para nos buscar. O advogado dele. Eu vi o homem no dia em que assinei o contrato, mas com tantas pessoas vai ser difícil eu o encontrar assim...Ah! Lembrei! Um cartaz com o nosso sobrenome, ele vai estar portando um! - meus olhos varrem os locais. Depois de quinze horas de vôo, saindo do Brasil as sete da manhã, somos recebidos pela noite deste país. A única coisa que me consola é que a lua e as estrelas, são as mesmas em qualquer canto desse planeta. _ Não é aquele ali que tem o rosto " chupado"? Nossa que homem esquisito! - e é sim, o senhor incumbido de nos receber exibi um cartaz com o " Arruda" escrito em letras bastão, deixa bem claro que é o próprio. _ Ele mesmo, Nora. Agora, por favor, desfaz essa cara de espanto. O advogado pode perceber. - ainda tem o choque que teriamos que enfrentar; outra língua, outra cultura, outra forma de viver....ficar estupefata por causa das característica de uma pessoa é ínfimo perto do que nos aguarda. _ Como não ei de me espantar! O sujeito parece que saiu de um sarcófago! - segurei o riso, não queria acreditar que a minha mãe estava falando aquilo. _ Fica quieta mulher, que as múmias podem ficar ofendidas.- meus olhos arregalaram ao constatar que meu pai compartilhava do mesmo pensamento que a minha mãe. _ E agora, não sei romeno e nem húngaro!- sibilei com medo de passar a impressão errada de uma menina sem educação por não saber retribuir uma simples saudação . _ Pratique o seu inglês, minha filha. - está ai algo que terei que me virar; faz tempo que não prático uma conversação nessa língua. Meu pai andou até o cidadão e nós o seguimos. Reparo que o homem magrelo demora olhando a cor do meu cabelo. Sua expressão denonta espanto e estranheza. _ Boa noite, senhor Rickesclu. - Miguel abre um sorriso para o sujeito que mantém o semblante frio. _ Noapte bună ( boa noite).- meu pai estreita os olhos; evidente que não entendeu bulhufas e muito menos eu. - goodnight( boa noite). - em inglês a conversa seca tem início - O senhor Constantin, me enviou. Essa é a sua família? - precisava perguntar, não é evidente, uma vez que estamos em sua companhia?! Acredito que não, mas vamos as apresentações. _ Sim. Essa é a minha esposa Nora e a minha filha Ana.- os olhos de cor ambar do homem comprido e magrelo alternou entre minha mãe e eu. _ Senhora, senhorita, sejam bem-vindas a Romênia. Acredito que apreciaram esse país. - os olhos argutos, pousaram em meu pai- Por favor, tenha a bondade de me seguir.- O sujeito girou os calcanhares, tendo seus braços cruzados nas costas e em suas mãos a cartolina era apenas um tubo de papel. Ao passar pela primeira lixeira o homem dispensou o cartaz. Seguimos emudecidos e muito apreensivos. No lado de fora do aeroporto, somos acomodados num Jaguar Type o carro me remete aos filmes de... melhor não dá asas a minha imaginação, é só um veículo. Fico impressionada porque o inteiror do veículo possui detalhes em madeira e eu nunca tive o prazer de ver algo semelhante em outro carro. O advogado assume o volante, enquanto a minha língua está coçando para saber para onde ele está nos levando. _ Os senhores já ouviram falar dos Cárpatos? - a voz rouca do senhor Rickesclu teve minha total atenção. _ A Cordilheira da Europa?- pareço uma tola, respondendo uma pergunta com outra pergunta, mas não deixo de pensar que por lá é montanhas! _ Sim, senhorita. Teremos uma longa viagem . Espero que gostem da natureza. - pisquei ficando em estado catatônico; estamos indo nos embrenhar no meio dos matos?! Meu pai olhou por cima do ombro em nossa direção, uma vez que ele vai sentado no banco do carona ao lado do motorista. Olho de soslaio para a minha mãe que tem um olhar de descrença estampada na face; dona Nora tem aversão a lugares quietos e sem muita movimentação de pessoas. Abaixo o meu rosto. Não queria que meu pai tivesse qualquer vislumbre do meu descontentamento. Afinal, sou jovem e tinha no Brasil, uma rotina gostosa para alguém da minha idade; passeio no Shopping com as minhas amigas; no final de semana uma pizzaria ou sorveteria, às vezes um cinema. Quando não, faziamos a noite das meninas, onde falávamos sobre os garotos e fofocavamos sobre quem estava dando uns beijos em quem; quem estava grávida; quem foi traída; quem largou o namorado; quem reatou. Era algo inócuo e pode ser visto como bobo, mas era a minha vidinha que eu gostava de ter. Depois de duas horas de estradas, onde a civilização foi ficando para trás; as casas deram lugar para as árvores e as montanhas. Passamos por um vilarejo que parece parado no tempo. Seguimos por uma pista sinuosa, onde não avistamos uma viva alma. O céu deu lugar aos tons claros e nós fomos acompanhando o dia nascer. Parece que iremos não chegaremos nunca.
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